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Rupturas, feminismo e seus desdobramentos

No documento Flavia Renata Stawski.pdf (páginas 48-50)

4. A IMAGEM DA MULHER

4.2. Rupturas, feminismo e seus desdobramentos

No início da década de 1960 o enquanto mundo fervia, tanto nos costumes quanto nas descobertas cientificas e tecnológicas, vemos a mulher mais participativa na sociedade e reivindicando seus direitos; seja defendendo maior acesso aos métodos contraceptivos, seja se inserindo ativamente no mercado de trabalho. Este período é considerado como começo do movimento feminista contemporâneo, que reapareceu nos Estados Unidos na segunda metade da década de 1960 e seguiu para diversos países entre 1968 e 1977.

Seu mote foi a luta pela libertação feminina, por liberdade entendia-se a busca de novos valores que norteassem as transformações nas relações sociais, bem como na maneira que a sociedade enxergava essa nova mulher – denunciando a existência de uma opressão constante ao feminino – com raízes profundas, e que atingiria todas as mulheres independente da cultura, classe social, do sistema econômico e/ou politico em que estivessem inseridas. E ia além, afirmando que essa opressão persistiria, apesar da conquista dos direitos jurídicos, políticos e econômicos de igualdade. O que se buscava então era superar a “inferioridade natural” disseminada nos séculos anteriores, onde – como já abordado, a mulher era vista sempre como um ser incompleto, numa perspectiva de superar realmente a diferença entre os gêneros.

Desse período, como fator positivo de mudança e avanço nas politicas sociais e educativas, surge uma geração de intelectuais e líderes do sexo feminino, que agora tinham base para expressar e desenvolver pensamentos voltados ao feminismo, entre elas podemos citar além da própria Simone Beauvoir já mencionada, Kate Millet que escreveu o livro “Politica Sexual”, em que questionava o patriarcado dos séculos XIX e XX e a maneira de controle da sexualidade feminina a partir dele, analisando o papel da mulher nesse período através da arte e da literatura; e também Betty Friedan (1921-2006), que publicou em 1963 o livro “A Mística Feminina”, que abordava o papel da mulher no capitalismo: tanto na função de trabalhadora da indústria, como também no desempenho de dona de casa – bem como as implicações desses papéis para a sociedade como um todo.

É fato que as mulheres vêm sofrendo opressão na sociedade há muitos anos e a mídia, como difusora de cultura pode criar conceitos e recria-los, e foi isso que aconteceu com a mulher e o movimento feminista. Na história, as mulheres sempre foram simbolizadas pela sua sexualidade e sensualidade “naturais”, assim como nas ciências biológicas se afirmou que a mulher era naturalmente inferior ao homem, como dito; e que a mídia fez questão de divulgar ao máximo. Nas artes visuais com os nus, a mulher foi retratada como inalcançável, pura, virgem e sensual – as vanguardas

artísticas trouxeram a revelação sexual do corpo, que começa a ser erotizado. No cinema, na dança, no teatro e na moda dos anos 20 e 30 surge a mulher ousada, a sensualidade nas coreografias, nas roupas, a novidade dos desfiles de moda e as modelos profissionais. Nos anos 20, juntamente com a industrialização, a simbologia do erotismo nas propagandas estimulou o consumidor a comprar produtos. Nos anos 30, 40 e 50 a imagem que se fazia da mulher era a da dona de casa: mãe e esposa, mais conservadora e discreta – mas sempre sensual, seja no corte da roupa, na maquiagem ou no gesto. Como há pouco abordado, nos anos 60 com o movimento hippie pregando a liberdade feminina, o amor livre e o uso de contraceptivos, muda-se a visão conservadora dos anúncios e revistas e o nível de sexualidade explicita nas propagandas aumenta. No fim dos anos 60 a mídia começa a ignorar o movimento feminista, dizia-se que as mulheres já tinham conquistado seu espaço e que não havia mais motivos para continuarem a protestar, segundo a escritora Susan Faludi (1991) em seu livro Backlash: O contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres, diz:

“em meados dos anos 70, a mídia e a publicidade traçaram uma linha de ação para neutralizar e ao mesmo tempo comercializar o feminismo” (FALUDI,1991, pag. 31)

O movimento feminista contemporâneo teve declínio no inicio dos anos 1980, em razão também das transformações sociais, politicas e econômicas que o mundo passava, mas não só em função delas – como citado pela autora. Mas é fato que, o surgimento do narcotráfico, a violência em grande escala, bem como o surgimento do terrorismo, que ameaçam especialmente a coesão social, foram temas que ganharam maior atenção da sociedade, da mídia e das politicas públicas, diluindo a atenção dada ao feminismo. É preciso citar uma mulher importante na política desse período, a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, que ficou no poder durante 11 anos, entre 1979 e 1990, e foi considerada a precursora das políticas liberais que se firmaram mundialmente nos anos 80. Lembrada como a “dama de ferro”, muito mais por suas atitudes duras e assertivas, do que por sua luta pelo feminismo, ou pelas questões de gênero.

Ainda assim, o movimento feminista avançou e avança, tendo sido retomado na metade década de 1990 em parte como marketing – era bonito e muito lucrativo apoiar as questões de gênero, quem não se lembra do Girl Power capitalizado pelas Spice Girls? Mas, apesar de utilizado como bandeira, era vazio na sua concepção, serviu no entanto como ponto de partida para uma reflexão maior, sobretudo sexual.

Além da alienação cosmética, o feminismo foi retomado nessa época com base em novas demandas sociais, como politicas públicas contra violência, equiparação de salários na mesma função, e também maior ocupação nos cargos estratégicos em empresas – muitas vezes com o apoio e participação significativa dos homens. O feminismo deste novo século queria além de igualdade, reconhecimento e equilíbrio nas relações; as mulheres dessa nova geração têm como bandeira a liberdade, a diversidade, e o direito das minorias, numa postura que mescla ousadia e irreverência. No entanto, é importante sempre ressaltar que não existe apenas um enfoque feminista, há diversidade quanto às posições ideológicas, abordagens e perspectivas adotadas, assim como há grupos diversos, com posturas e ações diferentes.

No documento Flavia Renata Stawski.pdf (páginas 48-50)