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6. Sesc: Pode entrar

6.2 O Sesc São Paulo

No ano de 1946(ALMEIDA,1997, p.33-34), no dia 30 de outubro, foi criada a primeira sede do Conselho Regional do Sesc São Paulo. Seus objetivos incluíam: “principalmente a assistência médica, odontológica, sanitária e hospitalar” bem como apoio jurídico aos comerciários e seus dependentes.

Em uma primeira avaliação das atividades do Sesc SP de novembro de 1946 a dezembro de 1947 contidos em um relatório, vemos que novos caminhos de ações para a instituição foram sugeridos

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O aperfeiçoamento moral e cívico da coletividade; a solução dos problemas domésticos decorrentes de dificuldades de vida ou de relação de convivência; a solução dos problemas de saúde, alimentação e higiene; a defesa do salário real do comerciário; a melhoria das condições de habitação e transporte; o conhecimento dos preços de custo de artigos e consumo generalizado, a fim de julgar da conveniência da instalação de núcleos- padrão para a produção, a baixo preço, de tipos populares daqueles artigos; o desenvolvimento cívico e social da coletividade pela educação e instituição adequadas; a prestação aos comerciários de serviços do seu interesse no sentido da facilitar o desenvolvimento da sua atividade profissional e social, inclusive na regularização de documentos e formalidades indispensáveis á vida dos mesmos e suas famílias”(ALMEIDA, 1997, p.35-36).

Os objetivos eram amplos e abrangiam muitas esferas de ações. E assim, segundo Almeida (1997, p.37), vários Centros Sociais foram criados para atuar de maneira “esclarecedora, orientadora, condutora, persuasiva e, sobretudo educacional”.

As primeiras unidades do interior inauguradas foram em Ribeirão Preto, Campinas e Santos. O caráter das ações realizadas pela instituição nos primeiros anos são basicamente de atendimentos à educação para a saúde . Almeida (1997, p.43) explica que “até o final da década de quarenta, o trabalho do Sesc tem um cunho nitidamente médico–assistencial, correspondendo à carência de recursos da sociedade brasileira em relação à saúde pública e a proteção da saúde do trabalhador no comércio”. Os Centros Sociais do Sesc fundamentavam suas ações basicamente em “ assistência médico- sanitária, assistência hospitalar, assistência maternal, assistência odontológica, assistência recreativa, assistência educacional, assistência moral e espiritual, assistência domiciliar e assistência legal” (ALMEIDA, 1997, p.44). Além de Atendimentos médicos realizando acompanhamento pré-natal, pediátrico, clínica médica geral.

Paralelamente ao atendimento de saúde, segundo o autor (ALMEIDA, 1997,p.63) outras atividades eram desenvolvidas como atividades de “esportes, festivais de arte, festas, reuniões, encontros, cursos, programas de recreação infantil, comemorações cívicas, teatro e outras atividades associativas” No início dos anos 50, o Sesc já havia ampliado suas ações para várias cidades do interior. Em 1951, acontece a Convenção dos Técnicos do Sesc em Bertioga, Unidade de Turismo, e uma orientação encaminha o Sesc para o que viria a

63 ser sua ação principal em que “a educação e a recreação fossem atividades prioritárias para os anos seguintes”(portal Sesc SP).

As Convenções Nacionais de Técnicos passaram a ser fundamentais para avaliar a ação do Sesc e planejar novos rumos. Nesta década foi construída uma rede de Centros de Atividades destinadas à educação, cultura, lazer e assistência. Foram também criadas restaurantes, bibliotecas fixas e móveis (uma novidade na época). Preocupado com a qualificação de seus técnicos, o Sesc deu início a um plano de desenvolvimento, estruturando centros de treinamento e cursos, instituindo bolsas de estudo para seus funcionários (portal do Sesc SP).

Novos rumos levaram a instituição a desenvolver atividades de educação chamadas “sociais”, com cursos e treinamentos ao comerciário e suas famílias.

As ações com crianças realizadas pelo Sesc SP, iniciada com serviços médicos, passou a incluir “a realização de atividades recreativas”. E em seguida criaram os centros infantis que visavam a um “atendimento mais formal e sistemático” e atendiam crianças de 3 a 6 anos.

Já em 1962, o programa de centros infantis “abrangeu intensivamente: desenho e pintura, recorte e colagem, trabalhos manuais, carimbos, decalques, modelagens, jogos, teatro de fantoches, sombra e máscara, literatura, música [...] cinema, horticultura e jardinagem, playgroud, atividades de higiene e atividades sociais”. Em 1967, embora o trabalho continuasse essencialmente o mesmo, já se falava pré- escolares”, e em 1974 em “ recreação infantil” (ALMEIDA, 1997, p.207).

O texto acima explicita como era entendido esse trabalho com crianças nos anos 60 e indica a criação de uma educação pré – escolar e não somente educação não formal. O que nos anos 70 passou a ser entendido como recreação infantil, percebemos como o conceito e, portanto, os objetivos das ações com crianças foi mudando ao longo do tempo na instituição. Eu mesma, frequentei, nos anos 70, a educação pré-escolar no Sesc Catanduva. Nós tínhamos uniformes e salas especificas para as atividades pedagógicas.

Quando inaugurou a unidade de Campo de Interlagos, em 1975, com muita área verde preservada, criaram projetos voltados para crianças em idade escolar. O primeiro projeto instaurado foi o “Cemeio” e depois o “Viva o Verde”

64 que se tornou “Curumim Viva o Verde”. Todos com atividades educativas voltadas para alunos de escolas da capital.

No início dos anos 80 desenvolveu-se o Programa Curumim que Almeida(1997, p.213) acredita que “ consagra a experiência da entidade no trabalho sociocultural, agora voltado para uma população infantil em idade escolar- dos sete aos doze anos- não mais pré-escolar, característica dos antigos Centros Infantis.

Neste momento percebemos que o Sesc SP mudou o foco de suas ações com as crianças, de educação informal e recreativas para uma educação não formal estruturada e processual. As justificativas para a criação de um programa de educação não formal e processual, no caso o Programa Curumim, se baseavam, segundo o próprio documento de criação do Programa (PIDI), em fatores sociais e mudanças que apontavam para a necessidade de um espaço com ações que complementassem as da escola e da família.

As transformações sociais que a última década haviam provocado no âmbito familiar- em particular com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, e o consequente afastamento do acompanhamento dos filhos na vida escolar, com as mudanças de valores que tornava a escola tradicional pouco atraente e produtiva; e no cotidiano das grandes cidades, expondo as crianças à violência e à roga, tudo isso apontava para o Sesc a necessidade de uma ação mais organizada e permanente que contribuísse para atenuar esses efeitos junto aos filhos de comerciários. Através de atividades culturais, lúdicas e educativas, as crianças do Curumim passam a encontrar no Sesc todas as condições de seu pleno desenvolvimento físico, emocional, social e cultural, complementando o papel da família e da escola(ALMEIDA, 1997, p.213).

Nesta justificativa acima, podemos perceber os argumentos mais utilizados na defesa da necessidade da criação de ações de educação não formal apontadas por Jaume Trilla(2008) quando explica as origens de programas de educação não formal no mundo, que discutiremos mais adiante. São elas, as mudanças na sociedade, uma visão de escola ineficiente fazendo com que seja necessária alguma ação não formal para “complementar” o desenvolvimento da criança.

E assim em 1986 foi criado o Programa Curumim que foi instaurado em 1987 e acontece hoje em todas as unidades do Sesc São Paulo. Hoje o Programa não pensa em “complementaridade”, mas em uma comunidade que

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O Sesc São Paulo cresceu muito e são hoje 40 unidades( 23 na capital e 17 no interior e litoral) espalhadas pelo estado de São Paulo e segundo o portal do Sesc SP a intuição é “Mantido pelos empresários do comércio de bens, turismo e serviços, o Sesc - Serviço Social do Comércio é uma entidade privada que tem como objetivo proporcionar o bem-estar e a qualidade de vida aos trabalhadores deste setor e sua família”.

A presença da instituição no estado de São Paulo se expande, ainda, para além das cidades nas quais estão instalados seus equipamentos socioculturais. Ruas, praças, parques e outros espaços são ocupados com atividades culturais e esportivas, e toneladas de alimentos, fornecidos por empresas doadoras, são distribuídas a instituições sociais, por meio de projetos como Circuito Sesc de Artes, Dia do Desafio e Mesa Brasil, realizados em parceria com prefeituras e sindicatos do comércio locais Além disso, para ampliar o acesso a suas programações e aos bens culturais que produz, o Sesc conta ainda com o Portal SescSP, o SescTV, as Edições Sesc, o Selo Sesc e diversas revistas, como Em Cartaz, Mais 60 e Revista E (Portal do Sescsp).

Dentre as 40 unidades está o Sesc São Carlos que é o local onde trabalham os educadores que participaram desta pesquisa. A cidade de São Carlos é uma cidade universitária com três grandes universidades, duas das quais públicas, dois campus da USP- Universidade do Estado de São Paulo e outro da Universidade Federal de São Carlos e uma instituição particular a Unicep- Centro Universitário Central Paulista. A cidade têm aproximadamente 280 mil habitantes.

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