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1º 65 24 36,92 63 28 44,44

2º 61 14 22,95 54 11 20,37

3º 39 8 20,51 92 17 18,47

TOTAL 165 46 27,87 209 56 26,79

ANO 2010 2011

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º 65 17 26,15 84 47 55,95

2º 61 4 6.55 68 20 29.41

3º 39 22 56,41 92 12 13,04

TOTAL 165 43 26,06 244 79 32,37

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados da pesquisa realizada no período de 2014/2015

No ano de 2013, na Escola A, apesar de se perceber um número de matrículas superior (244) em relação aos anos de 2010 (165), 2011 (209), e 2012 (165) a evasão (32,37%), nesse ano de 2013, superou todos os outros anos, sendo em 2010 (27,87%), em 2011 (26,79%) e em 2012 (26,06%).

Percebe-se que houve um declínio no percentual de evasão nos anos de 2010 (27,87), 2011 (26,79) e 2012 (26,06) e um crescimento grande em 2013 (32,37). Percebe-se nesse recorte de tempo que o índice de evasão é grande, mesmo que tenha acontecido um declínio de 2010 a 2012. Segundo a supervisora pedagógica55, a principal causa desse aumento no índice da evasão dos alunos no ano de 2013 é o fato de serem

54 Depois de encontradas e listadas, as escolas foram escolhidas aleatoriamente. Selecionaram-se 5 escolas, obedecendo ao critério de escolas por região periférica que tivessem oferecido o Ensino Médio regular noturno no período de 2010 a 2013, e que ainda estivessem ofertando essa etapa no noturno, entendendo que investigar uma etapa que ainda está em funcionamento proporcionaria uma maior abertura com relação ao acesso aos dados.

55 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a supervisora pedagógica da escola A em 2016.

adolescentes, ou seja, são novos para estudarem no noturno. Então, falta interesse, falta entendimento sobre a importância dos estudos. De acordo com a supervisora, em “comparação com a EJA, que são alunos fora da faixa etária, eles já têm uma maturidade maior e consciência do valor do estudo, então o índice de evasão nessa modalidade é bem menor” (SUPERVISORA ESCOLA A, 2016)56.

No que concerne à falta de interesse e entendimento sobre a importância dos estudos, Teixeira (2014 p. 33) apresenta argumentos contrários à afirmação da supervisora, pois, para ele, motivar os alunos faz parte do trabalho do professor, de forma que esses se interessem pelo conhecimento e, “ao mesmotempo, fazer com que eles se insiram na cultura e nas regras da sala de aula e da escola”. Por isso, a escola poderia repensar as práticas desenvolvidas pelos professores com os alunos do Ensino Médio noturno, de forma a dar sentido e significado às suas experiências escolares.

Para justificar o crescimento nos índices de 2013, a supervisora pedagógica fala de outro fato que é a insistência dos pais para que os filhos estudem. Portanto, eles vão à escola por causa da insistência desses responsáveis. Como eles já fazem algum tipo de trabalho informal, aparecem o cansaço e o desinteresse, e, acontece o problema do foco desses alunos estarem em: namorar, sair, ir a shows. Nessa perspectiva, os estudos ficam em segundo plano. (CADERNO DE CAMPO)

Conforme Dayrell e Carrano (2014, p. 115), essa atitude relatada pela supervisora da escola A, demonstra o que eles chamam de “nova forma de visibilidade dos jovens, em que a dimensão simbólica e expressiva tem sido cada vez mais utilizada por eles e elas como forma de comunicação, expressas nos comportamentos e atitudes pelos quais se posicionam diante de si mesmos e da sociedade”.

Assim, os jovens juntam-se em grupos para ouvirem um som, para dançar, divertirem-se e vivenciar formas próprias de lazer; inserindo-se, segundo os autores, em um circuito cultural alternativo. Sobre a produção cultural nos grupos a que os jovens pertencem, Dayrell e Carrano (2014) afirmam que:

Muitos deles recriam as possibilidades de entrada no mundo cultural além da figura do espectador passivo, ou seja, como criadores ativos. Por meio da música ou da dança que criam, dos shows que fazem ou dos eventos culturais que promovem, eles colocam em pauta, no cenário social, o lugar do jovem, principalmente no caso dos mais empobrecidos. Para esses jovens, muitas

56 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a supervisora pedagógica da escola A em 2016.

vezes, destituídos por experiências sociais que lhes impõem uma identidade subalterna, o grupo cultural é um dos poucos espaços de construção da auto- estima, possibilitando-lhes identidades positivas (DAYRELL; CARRANO, 2014, p. 116).

Entende-se, dessa maneira, que os jovens querem visibilidade, querem ser reconhecidos, querem uma auto-estima positiva; logo, a escola tem de estar atenta a essa questão, isso para não se esconder atrás do discurso da falta de interesse dos alunos, mas enxergar essa situação ou esse comportamento como uma forma de expressão desses adolescentes e jovens; nesse viés poderiam ser realizadas pela escola, por meio de estratégias pedagógicas, algumas atividades como shows musicais, campeonatos, gincanas, concursos, teatros, dentre outros, que envolvessem os alunos de forma que desperte o interesse, que promova a aprendizagem e a permanência destes na escola.

Nesse âmbito, a supervisora constata que no 1º ano há uma maior incidência de evasão, pois os alunos saem do Ensino Fundamental, começam a estudar e desistem, visto que consideram a escola ultrapassada. Isso porque os alunos assimilam a tecnologia de forma mais rápida que os professores. Portanto, a escola não consegue acompanhá-los, os profissionais não estão capacitados, então eles param de frequentar, perdem o interesse. A supervisora, da escola A, afirma que:

Como atendemos muitos alunos da geração Y e X que para o desenvolvimento de qualquer atividade precisa de um motivo, um objetivo que tenha valor no conceito dele, e, como muitas vezes, a escola não está preparada para atender o interesse do aluno, esse deixa de frequentar as aulas (SUPERVISORA ESCOLA A, 2016).

Segundo Amorim et. al (2016), as expressões geração X e Y foram usadas para expressar um perfil de jovens e crianças que utilizam da tecnologia. A expressão geração X é caracterizada pelo uso da televisão e a geração Y para os jovens e crianças que estão imersos em um ambiente virtual que “cresceram à frente do videogame, conviveram com a internet, o computador doméstico, o celular e com outros dispositivos tecnológicos” (AMORIM et. al. 2016, p. 99). O que caracteriza bem os alunos do Ensino Médio nas escolas públicas, fato confirmado nas entrevistas realizadas para esta tese em 2015/2016, nas quais os entrevistados confirmaram possuir celular e fazer uso constante da internet através desse aparelho.

Sales (2014) afirma que uma variedade de artefatos tecnológicos como: computadores, laboratórios de informática, data shows, net books, pendrives,

smartphones, laptops, Mp3, Mp4, celulares, câmeras digitais, orkut, facebook, dentre muitos outros, estão presentes na escola de hoje e no cotidiano dos alunos e professores, mas afirma-se que “elas não estão igualmente distribuídas na sociedade. A inclusão digital ainda é um enorme desafio especialmente em países marcados por uma histórica e arraigada desigualdade social como o Brasil” (SALES, 2014, p. 230).

Conforme o autor, a tecnologia tem desafiado os docentes e as escolas de modo geral e tem modificado, também, o currículo escolar. Sendo este ocupado por diferentes tecnologias, “tal presença pode ser percebida tanto nos currículos formais (propostas e planejamentos curriculares), quanto nos currículos em ação, ou seja, nas práticas em sala de aula, nas escolas brasileiras” (SALES, 2014, p. 231, grifo do autor).

Sales (2014) aprofunda a discussão, aborda sobre o currículo ciborgue ou a ciborguização57, ou seja, isso acontece em decorrência da:

complexificação e transformação dos planejamentos e das práticas curriculares por meio da intensiva e extensiva incorporação/fusão com as tecnologias digitais. A sensação provocada é de que não há escape:estamos inevitavelmente submetidos à presença das tecnologias digitais nos currículos escolares (SALES, 2014, p. 231).

Diante da afirmação da supervisora da escola A, sobre a necessidade de seus professores trabalharem com as tecnologias e a realidade da inserção dessa tecnologia em sala de aula, concorda-se com Sales (2014), quando aborda sobre a sensação de que não existe saída, pois a tecnologia chegou para ficar, ela atrai os jovens, torna as aulas mais atraentes e significativas e os professores não estão preparados para o trabalho com essa tecnologia. É preciso, então, que as escolas e seus educadores acompanhem esse avanço e tragam para suas aulas essa tecnologia, de forma que elas façam parte do cotidiano da sala de aula. Entende-se que, para isso, faz-se necessário um investimento em políticas públicas educacionais que visem à formação docente e que invistam em equipamentos tecnológicos para as escolas.

Percebe-se, na fala da supervisora citada, referente à evasão dos alunos no período de 2010 e 2013, uma culpabilização do aluno, ou seja, a evasão acontece em virtude da idade, da falta de interesse, mesmo com a insistência dos pais, eles desistem.

57 Segundo Sales (2014 p. 232) ciborguização significa a “Incorporação das tecnologias digitais em nossos modos de existência, em nossas práticas cotidianas, em nossas condutas, em nossas formas de pensar e de gerir a vida. A ciborguização altera nossa existência e acontece em diferentes graus de intensidade. Há práticas altamente ciborguizadas, que requerem elevado nível de conhecimentos cibernéticos, e outras nem tanto.

Quando questionada sobre os recursos, metodologias, relação professor/aluno, ela disse não acreditar que esses fatores tenham contribuído para a saída dos alunos, em outras palavras, para ela, a “culpa é do aluno”. Nesse sentido, percebe-se que não existe uma percepção, por parte dessa supervisora, de que os recursos, a inserção de tecnologias, ou a falta desses, reflete na prática dos professores, e, consequentemente, na motivação dos alunos.

TABELA 15 - Escola “B”

ANO 2010 2011

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º - - 57 23 40,35

2º - - 51 21 41,18

3º 39 2 51 08 15,69

TOTAL 39 2 159 52 32.70

ANO 2012 2013

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º 50 24 48 61 23 37,70

2º 51 15 29,41 45 4 8,88

3º 40 3 7,5 50 6 12

TOTAL 141 42 29,79 156 33 21,15

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados da pesquisa realizada no período de 2014/2015.

Na Escola B, no ano de 2011, houve um percentual maior de alunos evadidos (32,70%) em relação aos anos de 2012 (29,79%) e de 2013 (21,15%). Conforme a supervisora, essa evasão é consequência da desmotivação, das faltas, pois afirma que no noturno na sexta feira os alunos não comparecem à escola e diz que “param por causa da gravidez, trabalho que precisa deslocar para outra cidade, pois começam faltando, até largarem de vez o curso em decorrência do cansaço causado pela rotina do trabalho” (SUPERVISORA ESCOLA B, 2016)58.

Sobre o deslocamento como fator que causa a evasão, o discurso da supervisora é confirmado por Mendes (2013), quando esse aponta que:

Os docentes relacionaram este fenômeno às condições econômicas das famílias e dos estudantes, relatando que muitas destas são obrigadas a sair do município em busca de empregos. A migração implica, muitas vezes, o trabalho dos jovens estudantes do Ensino Médio, que acabam por ficar

58 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a supervisora pedagógica da escola B em 2016.

desestimulados a estudar e sem muitas perspectivas futuras (MENDES, 2013, p. 263).

Nessa mesma linha, a supervisora da escola B, diz que alguns alunos pertencem às cidades vizinhas; assim:

Alguns vêm morar em Montes Claros em busca de trabalho, começam a estudar e quando não encontram trabalho, são forçados a retornarem à cidade de origem ou deslocam para cidades maiores que apresentam mais perspectivas relacionadas a indústrias, e Montes Claros ainda não é desenvolvida o bastante ao ponto de absorvê-los, sendo que além disso eles não têm formação para o trabalho industrial. Quando conseguem ser absorvidos, a empresa paga um salário menor por que não possuem o Ensino Médio completo. Então, diante dessa situação, eles sentem a necessidade de retornar à escola para obter o diploma (SUPERVISORA ESCOLA B, 2016).

O discurso da supervisora da escola B e confirmado por Krawczyk (2014), ao atestar que as mudanças provocadas pelas novas exigências do mercado de trabalho impulsionam o retorno desses alunos em busca do diploma, visto que:

A formação escolar acaba por estabelecer uma hierarquia entre os jovens de setores populares e, por isso, o diploma é um motivo importante para os alunos estudarem. É possível que muitos (talvez a maioria) dos jovens se mobilizem para ir à escola para obter o diploma, mas nem por isso podemos depreciar o esforço que isso significa para eles e para suas famílias. A assombração do desemprego obriga-os a continuarem estudando ou a buscarem outras estratégias para a obtenção da titulação. Ao mesmo tempo, a perspectiva de estudar na universidade aparece, ainda quando remota, como uma possibilidade interessante no horizonte futuro (KRAWCZYK, 2014, p. 87).

Nessa perspectiva, afirma-se que mesmo que essa situação de se retornar a escola aconteça por causa da necessidade do diploma do Ensino Médio, não se pode desvalorizar o retorno desse aluno, pois independentemente do motivo, houve um interesse. Portanto, cabe a escola e a seus professores propor metodologias que contribuam com a permanência com a aprendizagem significativa para o aluno, fato que acaba por lhe possibilitar a continuação dos estudos.

TABELA 16 - Escola “C”

ANO 2010 2011

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º - - 59 38 64,41

2º 29 11 37,93 53 24 45,28

3º 45 12 26,67 52 21 40,38

TOTAL 74 23 31,08 164 83 50,60

Continuação

ANO 2012 2013

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º 52 22 42,31 57 28 49,12

2º 37 6 16,22 36 12 33,33

3º 47 8 17,02 54 13 24,07

TOTAL 136 36 26,47 147 53 36,05

Fonte: Pesquisa realizada no período de 2014/2015

De forma geral, destaca-se que a evasão na escola C foi alta em todos os anos no período investigado, ou seja, de 31,08% em 2010, 50,60% em 2011, 26,47% em 2012 e de 36,05% em 2013.

Na escola C, evidencia-se o ano de 2011, com 50,60% de alunos evadidos, logo, a escola destaca-se em relação às demais quando se trata do mesmo ano, pois a escola A teve (26,79%) de alunos evadidos e a escola B (32,70%), a escola D (1,48), e a escola E não atendeu a essa série no ano de 2011.

De acordo com a supervisora pedagógica do turno noturno da escola C59, o

fato que justifica uma evasão de 50,60% no ano de 2011 foi o alto índice de violência nas imediações da escola, pois,

nas imediações da escola aconteceu um alto índice de violência, especificamente no ano de 2011 e os alunos ficaram com medo de frequentarem as aulas, isso gerou esse alto índice. Aconteceram, também, nesses anos entre 2010 e 2013 brigas frequentes na porta da escola. Que chamo de “período negro”, não foi com os alunos da escola diretamente, alguns casos sim. Porém, isso gerou insegurança nos pais, levando-os a tirar os filhos da escola (SUPERVISORA ESCOLA C, 2016).

A supervisora da escola C afirma que esse período entre 2011 a 2013 foi atípico, isto é,

aconteceram mortes por causa do tráfico, tudo no entorno da escola. Um aluno foi baleado na perna aqui bem perto da escola, ele morava numa roça próxima a Montes Claros, foi embora baleado, e nunca mais voltou à escola. Outro motivo é o mercado de trabalho, porque eles não conseguem conciliar a sobrecarga de atividades. Vão trabalhar, chegam atrasados na escola, não entram. Pegam muita recuperação paralela e de progressão e não conseguem avançar, então fazem a opção de deixar a escola (SUPERVISORA DA ESCOLA C, 2016)

59 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a supervisora pedagógica da escola C em 2016.

Ademais, a violência, os homicídios, o tráfico de drogas, dentre outros, são abordados por Dayrell e Carrano (2014, p. 106) como “fenômenos que contribuem para cristalizar a imagem de que a juventude é um tempo de vida problemático. Não que esses aspectos da realidade não sejam importantes e que não estejam demandando ações urgentes para serem equacionados”. Contudo, alertam para o cuidado de enxergar o aluno apenas pela ótica do problema e acabar reduzindo a complexidade do momento da vida desses jovens. E afirmam:

É preciso cuidar para não transformar a juventude em idade problemática, confundindo-a com as dificuldades que possam afligi-la. É preciso dizer que muitos dos problemas que consideramos próprios dessa fase, não foram produzidos por jovens. Esses já existiam antes mesmo de o indivíduo chegar

à idade da juventude (DAYRELL; CARRANO, 2014, p. 107).

Nesse viés, a supervisora explicou que, para atender o aluno do Ensino Médio regular noturno, eles têm uma carga horária presencial reduzida, e, uma carga horária complementar, justamente para completar o que falta na carga horária em sala de aula. Porém, justifica que eles não dão conta de fazer as atividades por causa do trabalho “às vezes, a sobrecarga de atividades causa a evasão até daqueles que não trabalham porque são muitas” (SUPERVISOR ESCOLA C, 2016)60.

Diante da afirmação da supervisora da escola C, Arroyo (2014) aponta que um ponto de partida para a discussão sobre essas questões que refletem o currículo estudado em sala de aula, seria quando as Diretrizes Curriculares do CNE (Conselho Nacional de Educação) em conjunto com as escolas e seus docentes fossem discutir o currículo para o Ensino Médio “perguntar-nos que práticas inovadoras estão acontecendo nas escolas, nas diversas áreas do conhecimento” (ARROYO, 2014, p. 54). Por conseguinte, se o conhecimento nas diversas áreas é dinâmico, o currículo que é composto de conhecimentos, não pode ser estático.

A supervisora da escola C menciona que as atividades no turno noturno, por causa da carga horária reduzida, são “para inlgês ver”61, pois os professores precisam

60 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a supervisora pedagógica da escola C em 2016.

61A expressão utilizada pela supervisora “para inglês ver” é comumente utilizada na Língua Portuguesa no sentido de algo que é aparente, mas não é válido ou real. Existem algumas teorias sobre o surgimento desse ditado, no entanto, a mais aceita diz que teria se originado por volta do começo do século XIX. A história conta que a Inglaterra, naquela época, pressionava o Brasil e o Império Português a criar leis que impedissem o tráfico de escravos para o país. O governo brasileiro, sabendo que tais regras nunca seriam cumpridas no país, criou leis falsas que, teoricamente, impediam o comércio da escravidão no Brasil. Porém, eram leis apenas para os ingleses verem e pararem de pressionar os líderes do país.Convencionou-

inventar atividades para lançar na caderneta, e, tudo que acontece na aula, o professor precisa usar como atividade avaliativa e registrar com nota no diário. Isso para dar conta de avançar no conteúdo, distribuir toda a nota, ou seja, segundo a supervisora “adaptar tudo dentro do plano de trabalho que seja significativo” (SUPERVISORA ESCOLA C, 2016).

No discurso da supervisora, percebe-se que não dá para o professor, com carga horária reduzida, ficar inventando, floreando, procurar atividades diferentes, porque, senão, ele não dá conta de trabalhar o conteúdo e distribuir toda a nota. Como os alunos são bem faltosos, essa situação se agrava. Diz-se, então, que existe uma contradição nas afirmações dessa supervisora, pois a redução da carga horária deveria ser motivadora para o bom planejamento e seleção de atividades significativas pelos professores.

Quando a supervisora da escola C utiliza a expressão para “inglês ver”, ou seja, “um faz de conta”, que algo que não é real acontece em sala de aula, aponta-se que essa situação compromete diretamente a aprendizagem dos alunos. Portanto, esses fatores apresentados contribuíram para a evasão; como revelam os dados dessa escola nos anos de 2010 a 2013.

TABELA 17 - Escola “D”

ANO 2010 2011

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º 49 17 34,69 45 - -

2º 41 17 41,46 49 2 4,08

3º 42 10 23,80 41 - -

TOTAL 132 44 33,33 135 2 1,48

ANO 2012 2013

SÉRIE MATRIC. EVADIDOS % MATRIC. EVADIDOS %

1º 39 13 33,3 22 10 45,45

2º 33 8 24,24 27 2 7,40

3º 44 9 20.45 29 4 13,79

TOTAL 116 30 25,86 78 16 20,51

Fonte: Pesquisa realizada no período de 2014/2015

se, a partir desSe episódio, utilizar a expressão “para inglês ver” como forma de nomear as leis demagógicas, que não possuíam qualquer tipo de funcionalidade prática. Atualmente, “para inglês ver” é uma expressão que está relacionada tanto com a hipocrisia, quanto com a mentira, pois tem a finalidade de ludibriar as pessoas, ao pensarem que determinada coisa é ou funciona de um modo, quando na verdade não. Disponível em: https://www.significados.com.br/para-ingles-ver/. Acessado em: 17 Fev. 2017.

Das escolas pesquisadas e que estão com os dados completos referentes aos anos de 2010 a 2013, a escola D (1,48%) é a que demonstra o menor índice de alunos evadidos, principalmente no ano de 2011 em relação às demais escolas.

De acordo com a vice-diretora62 do turno noturno, o percentual pequeno de alunos evadidos no ano de 2011(1,48%), aconteceu por causa do remanejamento que ocorreu na escola entre o turno diurno e o noturno, pois os alunos do Ensino Médio começaram a trabalhar através do programa Menor Aprendiz63 e um dos critérios para se manterem no programa era estarem matriculados na escola, ou seja, estarem estudando e com frequência escolar satisfatória. Em contrapartida, para se matricularem no Ensino Médio regular noturno, seria necessária a apresentação de uma declaração do local de trabalho e de uma declaração de autorização dos pais.

Outro fator apontado pela vice-diretora que contribuiu para a permanência desses alunos na escola, no período investigado, foi o Programa Bolsa Família64, já que “ajudou a segurar bastante os alunos, pois é informada a frequência aleatoriamente. O programa cobra, no momento do recadastramento, um documento emitido pela escola, constando a frequência. Inclusive via SIMADE também é informado” (SUPERVISORA ESCOLA D, 2016)6562.

A existência dos programas, conforme o discurso da supervisora pedagógica, contribuíram para a permanência do aluno na escola, o que não significa que aconteceu aprendizagem significativa nesse período.

62 Dados retirados do caderno de campo em conversa informal com a vice-diretora da escola D em 2016. 63 O Jovem Aprendiz é um programa de governo que tem o objetivo “de valorizar o aspecto educacional do Brasil, isso porque para participar do jovem aprendiz é necessário estar estudando ou, então, já ter concluído a Educação Básica, o programa dá preferência aos jovens que estudam em escolas públicas e também aos jovens que mantêm uma boa frequência e boas notas dentro da sala de aula.