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4 ASPECTOS REFERENTES À NOÇÃO DO EU DE PACIENTES EM SITUAÇÃO DE PRÓTESE OCULAR.

4.6 Síntese geral

A Noção do Eu dos participantes, exceto em uma criança, apresentou-se desorganizada no que diz respeito aos aspectos referentes à aparência física e sentimento de desconsideração, influenciando o comportamento da criança no sentido de retrair-se. Ana, Bruno e Cristina apresentaram uma Noção do Eu que inclui a aparência física como um aspecto negativo, sendo que o segundo incluiu ainda, em sua Noção do Eu, sentimentos de desconsideração e aspectos negativos referentes ao seu comportamento ao encontrar-se em situação de ausência do globo ocular. Posteriormente à colocação da prótese, Ana e Bruno exerceram a sua tendência à atualização do Eu conseguindo, assim, reorganizar sua Noção do Eu devido à simbolização correta das experiências vivenciadas. Daniele não apresentou aspectos negativos em sua Noção do Eu no que diz respeito à ausência do globo ocular, entretanto, Cristina, mesmo após a reabilitação com a prótese não exerceu sua tendência atualizante, encontrando-se fechada para novas experiências.

Considerando as limitações encontradas no decorrer do processo de pesquisa como o número limitado de participantes, este trabalho aponta que a experiência de anoftalmia ocular contribui, em muitos casos, para a inclusão de aspectos negativos na Noção do Eu de crianças, no que diz respeito à aparência física, diferença comportamental e sentimento de desconsideração. Percebe-se, também, que a prótese ocular em si funciona, muitas vezes, como um aliado para a reorganização da Noção do Eu de pacientes anoftálmicos.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho visa incluir a prática da Psicologia Humanista, no contexto dos pacientes anoftálmicos em situação de prótese ocular frente à demanda de afeto e consideração apresentada por eles, paralelamente ao desejo de reconstruir sua estética facial com a prótese. Inicia-se aqui uma parceria entre a psicologia e o campo da prótese ocular para se trabalhar em prol do paciente mutilado, buscando recuperar não só a estética perfeita, mas principalmente a “pessoa” que se perde frente à situação de ausência do globo ocular.

A escolha de desenvolver um trabalho com criança pode ser pensada como uma metáfora em relação a algo novo, que ainda tão imaturo, já apresenta um potencial para crescer e construir o seu Eu através das vivências experienciadas no decorrer de sua vida. Eis aqui um trabalho que representa o primeiro passo de um longo caminho, como uma criança que está descobrindo o seu mundo e buscando desenvolver-se nele.

Nesta primeira jornada, procurou-se verificar a maneira como a criança representa em sua Noção de Eu a experiência de ausência do globo ocular. Constatando-se que a maioria delas representa esta situação de maneira incongruente, incluindo aspectos negativos em sua Noção do Eu devido à ausência do globo ocular. A desorganização da Noção do Eu ocorre, no maior número de casos, durante o processo de reabilitação estética, sendo que após a colocação da prótese ocular, a criança vivencia novas experiências que a permite reconstruir sua Noção do Eu de forma positiva.

Neste contexto, a atuação do psicólogo se faz pertinente no decorrer do processo de colocação da prótese ocular, propiciando à criança um espaço terapêutico para que possa expressar suas angústias, dificuldade, medos, ou qualquer outro sentimento que ela esteja experienciando naquele momento. Ao simbolizar corretamente suas experiências referentes à ausência do globo ocular em sua Noção do Eu, a criança construirá uma maior autonomia, passando a aceitar-se melhor e, também, acreditar em suas próprias experiências, guiando-se por elas. Nesta perspectiva, as dificuldades observadas no processo de reabilitação estética enfrentadas pelos pacientes anoftálmicos poderiam, assim, amenizar-se ou mesmo tornarem-se inexistentes.

Para além da contribuição teórica apresentada que este trabalho, a experiência de escutar o depoimento dessas crianças me proporcionou vivenciar que a compreensão empatia, consideração positiva e congruência quando presentes no terapeuta e captadas pelo cliente, possibilitam estabelecer uma relação de confiança e afeto, produzindo um efeito terapêutico em apenas uma única entrevista. É esta capacidade de construir uma relação de pessoa para pessoa que me fascina e motiva a trabalhar em prol do desenvolvimento do outro.

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7. ANEXO

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