• Nenhum resultado encontrado

Síntese da caracterização do cenário e dos atores sociais

No documento Download/Open (páginas 56-58)

CAPÍTULO III – CARACTERIZAÇÃO DO CENÁRIO E ATORES SOCIAIS (PRODUTORES)

3.5 Síntese da caracterização do cenário e dos atores sociais

A evolução histórica de Rio das Flores retrata um município em um processo de transformação de sua dinâmica social, política e econômica, cujas características agrárias que representaram o sustentáculo para a base de sua formação, perdem terreno para as atividades urbanas, representando no ano de 2003, segundo o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, 14% da produção de capital e geração de receita da cidade, contra 86% da produção de capital urbano, gerado através das atividades dos setores secundários e terciários, apresentando atualmente, uma maior concentração demográfica no meio urbano.

Como a atividade rural predominante deste município é caracterizada pela pecuária leiteira, marcada nos últimos quinze anos por uma política de mercado extremamente fragilizada pelas constantes variações de preço e sujeita a intervenções estratégicas igualmente constantes dos laticínios com a finalidade de regulação deste mercado e, aliado a uma progressiva elevação dos custos de produção, falta de ações intersetoriais em apoio aos produtores e de mobilização política dos mesmos, o que será discutido no próximo capítulo, é notória a redução da rentabilidade neste segmento, tornando-se cada vez mais difícil a sustentabilidade das unidades produtivas em base familiar envolvidas neste segmento, bem como a geração de receita por parte do setor primário da economia do município em questão.

Outro fator importante a ser considerado, está relacionado às políticas públicas de gestão municipal, que nos últimos sete anos investiu a maior parte de seus recursos em saneamento básico urbano, construção de casas populares, programa bolsa família, educação e saúde, constituindo-se em forte atrativo para a migração da população no sentido campo-cidade, visto que no meio rural não se observou investimentos semelhantes, estando o campesinato praticamente à margem deste processo. Apesar da retração do segmento da pecuária de leite, o município de Rio das Flores, aumentou a sua área de pastagens, representando no ano de 2001, 83% da área total do município, sendo estas áreas ocupadas pela pecuária de corte, caracterizadas por grandes extensões, quando comparadas às propriedades leiteiras, cujo título da terra pertence a políticos e empresários de variados segmentos de mercado de outros municípios.

Com relação aos produtores de leite entrevistados, são caracterizados em sua maioria (60,0%) pela idade avançada, estando em faixa etária superior aos 50 anos de idade, por um baixo nível de escolaridade, pois nenhum produtor entrevistado apresentou nível superior de escolaridade, apenas 20,0% concluíram o ensino médio, 6,7% não haviam concluído o ensino fundamental e a grande maioria, 73,3%, interrompeu os seus estudos após conclusão do nível fundamental.

A maioria (86,7%) reside na propriedade e declarou (56,6%) possuir outra fonte de renda para complementação do orçamento familiar, contudo, 2 produtores (6,7%) não responderam a esta pergunta e apenas 36,7% declararam sobreviver unicamente da atividade rural, cujo tamanho médio das propriedades é de 24ha sendo a pecuária leiteira explorada em uma área de 17,3ha de tamanho médio.

O tamanho médio dos rebanhos estudados foi de 45 animais com taxa de lotação de pastagem de 2,60 animais/ha17. A produtividade por área esteve na casa dos 886,7 litros/ha/ano e a produtividade diária nestas propriedades foi de 48,7 litros de leite com produtividade diária animal de 3,8 litros.

_____________

17 – Com relação à taxa de lotação das pastagens na produção familiar, segundo Rosemberg (1986) é característica da população animal, valores altos de densidade bovina, sendo habitual recorrerem ao uso de capineira, à compra, doação e busca de forragem em áreas públicas, assim como o uso do pastoreio à beira de estradas, áreas públicas e abandonadas para suprirem a sua demanda em alimentação do rebanho.

A produtividade média anual da propriedade foi de 23.940 litros de leite para vinte fêmeas em produção anual, estando bem aquém daquela observada por Gehlen (2000) para os produtores familiares tipo tradicional, que produziram 18.000 litros com média de lactação por vaca de 3000 litros/ano com 5 fêmeas em produção anual. As instalações de uma forma geral são rústicas e precárias, não atendendo basicamente a normas técnicas para um bom manejo (nutricional, sanitário e de conforto ambiental).

Os produtores visitados estão muito próximos ao produtor tradicional segundo os tipos construídos por Gehlen (2000) para produtores familiares de leite no Estado do Rio Grande do Sul, sendo este tipo, caracterizado por um produtor consolidado, que identifica-se como tradicional e tem uma racionalidade compatível com a identidade de produtor tradicional, ou seja, sua produtividade está de acordo com o padrão tradicional na sua região. A produção de leite não é uma atividade estratégica dentro da propriedade, utilizando-se da força de trabalho secundária apenas o tempo necessário, não sendo esta qualificada.

Segundo esta tipologia, na organização sistêmica da propriedade, o produtor tradicional não prioriza a produção de leite, sendo que o reinvestimento da receita raramente se dá na atividade leiteira. No aspecto tecnológico, as instalações e equipamentos, quando existem, são precários, os animais não são especializados, a alimentação não é balanceada e na maior parte do tempo é precária.

A diferença dos produtores entrevistados em Rio das Flores, para o tipo descrito por Gehlen no Rio Grande do Sul, reside no uso da mão de obra da atividade, sendo ela 70,0% familiar, 26,7% familiar e terceirizada, 3,3% terceirizada, diferindo também na produção de leite, que é uma atividade estratégica dentro da propriedade, sendo a principal atividade na maioria das propriedades visitadas (66,7%).

Outra característica que diferencia o produtor familiar tradicional descrito por Gehlen no Rio Grande do Sul e Sant’Ana e Costa na mesoregião de São José do Rio Preto, São Paulo, é o pluralismo na atividade que vem permitindo aos mesmos, permanecerem na atividade após tantos desafios mercadológicos, característica esta não observada na amostra estudada em Rio das Flores, cuja ocupação do solo e seu aproveitamento econômico, encontra-se, historicamente, marcado pela monocultura, iniciado pelo café e substituído pela pecuária ao longo da trajetória deste município.

No documento Download/Open (páginas 56-58)

Documentos relacionados