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Prancha 17: Afloramento de couraça na margem da lagoa Mandacaru

3.3 Análise da Lagoa Mandacaru

3.3.5 Síntese da Depressão Mandacaru

Os resultados obtidos com o estudo da cobertura pedológica da Mandacaru indicam os solos das duas topossequências apresentam diferenças que não se restringem à cor.

Os solos da vertente Mandacaru são mais ricos em bases, sílica, ferro e argila que os solos da Grevílea. Essa diferença de solos confere características diferenciadas na forma das vertentes, enquanto a Mandacaru é mais alta e convexa, a Grevílea é mais longa e retilínea.

Pudemos observar que as topossequências são diferentes, a começar pelo horizonte C, que na Mandacaru possui mais argila, grande parte dispersa, apresenta maior concentração de elementos químicos e uma mineralogia composta basicamente por quartzo, caulinita e goethita, abaixo deste horizonte é encontrado basalto pouco alterado que possui feldspatos, olivinas, etc., além de esmectitas. Um metro acima já passa a apresentar a predominância de quartzo e caulinita.

No horizonte C da vertente da Grevílea não foi avaliada a mineralogia, mas os dados químicos mostram certa uniformidade no perfil da T17, exceto pelos valores de Al (Al3+ e Al3O2) que são bem maiores em profundidade, e pelos valores de areia fina, que se destacam entre todas as amostras observadas nas topossequências. Estes valores de areia fina indicam que o material do horizonte C seria diferente do horizonte C encontrado na topossequência oposta, além de ser diferente de todas as outras amostras analisadas.

Acima do horizonte C, nas duas topossequências, ocorre um horizonte de acumulação ferruginosa que na Mandacaru é uma couraça e que na Grevílea é composto apenas por fragmentos que se dividem em muito duros e macios, que são encontrados principalmente na baixa vertente.

O horizonte Bw nas duas topossequências é cortado pela evolução da vertente e dá lugar ao Bt nas áreas que possuem influência do nível freático. Na Mandacaru o Bw acompanha a vertente da alta à baixa vertente, diminuído de espessura ao ser truncado pela couraça, neste trecho observamos que o Bw se forma em detrimento da couraça, por fragmentação e dissolução do ferro cimentante, gerando primeiro blocos de couraça que desaparecem em direção a superfície deixando primeiro uma areia mais grossa (de material ferruginoso) que se torna siltosa e depois mais argilosa em direção a superfície. Essa degradação da couraça em direção a superfície implica em aumento da quantidade de sílica e alumina, diminuição do ferro, em todas as formas, de acordo com as observações efetuadas no P1.

A couraça apresenta diferentes características, na parte mais alta que fica mais próxima a superfície, a couraça é mais dura e possui um limite irregular gerado pela presença de fraturas que condicionam os fluxos de água, controlando as frentes de

degradação. A couraça presente no ressalto (C2) possui maior quantidade de ferro e menores quantidades de sílica e alumina que as demais amostras de couraça que são menos resistentes e estão mais próximas a base da trincheira. A diminuição de SiO2 no C2 está associada a evolução da couraça que leva aumento do Fe2O3 a degradação da Sílica, assim como apontado por Tardy e Nahon (1985). Este resultado está associado com os resultados de mineralogia que indicaram uma diminuição dos valores de quartzo e caulinita, e aumento de óxidos de ferro diferenciando essa amostra das demais. Além disso, essa é a única amostra que possui mais de 20% de Feo, tido como valor mínimo para a caracterizar couraças (TARDY, 1993), indicando que o restante da couraça embora se mantenha endurecida já está bastante desferruginizada, apresentando sinais de hidromorfia que acabam levando ao amolecimento.

Após o trecho mais endurecido a couraça é mais amolecida tanto na base, quanto à jusante, dando origem ao horizonte Bt em direção a lagoa, esse processo é favorecido pela maior umidade existente na base da trincheira ocasionada pela proximidade com o nível de água que aflorou na base da trincheira, após o P4.

No horizonte Bt se forma tanto a partir do Bw, quanto a partir da couraça. Neste horizonte ainda podem ser encontrados vestígios de couraça, que inclui fragmentos de couraça e morfologia dos blocos de solo. À medida que se distância da couraça os vestígios diminuem, assim como as quantidades de ferro, de bases e o pH. Concomitante com o aparecimento do Bt ocorre à diminuição mais intensa da argila presente no horizonte A, levando a uma acumulação relativa de areia e formação de um horizonte E, associado às menores quantidades de argila, maiores valores de argila dispersa, indicando uma movimentação de argila maior neste trecho, sugerindo que ao mesmo tempo em que há um aumento de argila em direção a base da trincheira, há uma

maior degradação do topo do Bt, considerando os valores menores de bases e ferro, e aumento da saturação em Al exatamente na transição E/Bt (P44).

Na topossequência Grevílea o nível do freático sobrepôs o nível de acumulação ferruginosa, permitindo a formação de um horizonte maciço com volumes hidromórficos, ao qual denominamos Bt. Este horizonte de acumulação ferruginosa é vermelho na média vertente e se torna amarelado na baixa vertente, apresentando grande quantidade de nódulos endurecidos. O nível freático também atua degradando este horizonte de acumulação ferruginosa.

No trecho mais vermelho deste horizonte (T11) ocorrem os maiores valores de Ferro da topossequência, valores comparados aos encontrados nos volumes vermelhos existentes nos limites da couraça na topossequência Mandacaru. A maior parte do ferro encontra-se bem cristalizado e com baixa quantidade de ferro de silicatos, quando comparado aos horizontes vermelhos limítrofes da couraça.

A topossequência Grevílea possui maiores quantidades de areia na alta vertente (+-30%) que a Mandacaru. Essa diferença diminui em direção a baixa vertente e cai pela metade no horizonte B. No horizonte A é a topossequência Mandacaru que apresenta maiores valores de areia, sugerindo que a maior quantidade de argila na Mandacaru contribuiria para a degradação do horizonte A, por limitar a infiltração da água.

De modo geral, notamos uma generalizada perda de elementos no sentido vertical e lateral nos horizontes A, E e B, que é maior quanto mais próximo a lagoa, sobretudo nos horizontes A e E. Os horizontes descritos nas topossequências como horizontes de acumulação de ferro, realmente possuem maiores quantidades de Fe, que por hidromorfia estão sendo desferrificados, originando horizontes mais acinzentados à

jusante. Os horizontes C são diferentes dos horizontes acima, devido a textura e características químicas.

As observações morfológicas e de laboratório realizadas nas topossequências possibilitaram uma caracterização geral, suscitando a necessidade de uma caracterização mais detalhada das transformações para podermos entender melhor as diferenciações que ocorrem nestas sequências.

O desfecho deste trabalho apontou falhas na amostragem, que acreditamos terem sido insuficientes na topossequência Grevílea, fato que dificultou seu entendimento. O principal delas é a falta de dados para a camada de acumulação ferruginosa da Grevílea que foi percebida na etapa final deste trabalho, conseguimos ainda acrescentar algumas análises, mas ainda assim insuficientes, não possibilitando uma avaliação lateral dessa camada. Além disso, o horizonte C das duas topossequências deveria ter sido mais detalhado, com maior quantidade de amostras.

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