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Síntese dos problemas identificados no diagnóstico da situação social

No documento Recordar é viver (páginas 118-123)

1. O diagnóstico da situação social: 1ª etapa da metodologia de projecto

1.4. Síntese dos problemas identificados no diagnóstico da situação social

Em suma, os principais problemas identificados no diagnóstico da situação social foram os seguintes:

Problemas identificados Causas prováveis Potencialidades presentes

(recursos)

Processos individuais das residentes não continham qualquer informação sobre

a sua situação social,

informação a nível gostos, interesses, objectivos de vida, sobre necessidades específicas dos clientes. Nos processos individuais

apenas constam informações a nível da identificação pessoal (nome, morada, nº de identificação, nº de identificação fiscal, nº de beneficiário da segurança social, nº do serviço

nacional de saúde, estado civil), a nível do estado de saúde (relatório médico relativo à situação clínica

do cliente, nível de

dependência do residente –

testes administrados) e

informações de ordem

financeira (comprovativo dos rendimentos do cliente

A direcção, assim como a equipa de profissionais não tem em conta interesses,

gostos, experiências de

vida passada, não valoriza a formação ao longo da vida. Valoriza sim valores de reforma, pensões entre outras.

Procurar junto dos

residentes reunir o máximo de informação a nível da situação social. Procurar junto das idosas reunir informação acerca do seu

nível de instrução,

condição predominante

perante o trabalho,

principais actividades de

interesse ao nível da

ocupação de tempos livres, entre outras.

119 e do agregado familiar).

Plano de actividades anual

desadequado às

características das idosas, às suas necessidades e problemas; limitado no tipo de actividades propostas (pouco diversificadas para potenciar o acesso a novas

experiências, a novas

aprendizagens, gerar

sentido para a vida das

idosas e potenciar

interacções sociais) e

sobretudo na sua

implementação

Plano de actividades

realizado sem ter em conta

as características

socioculturais e os estados

de saúde/graus de

dependência dos idosos. Tanto para o lar como para o centro de dia, o plano anual de actividades é o

mesmo, mesmo com

populações tão distintas; A organização não cria condições (ao nível dos

recursos humanos,

materiais e financeiros) para que o plano de actividades seja mais rico e diversificado.

Redefinição do plano de actividades pela estagiária para e com as idosas, procurando ir de encontro

aos seus desejos,

motivações e interesses e envolvendo-as na definição de outras actividades.

A instituição não promove

o desenvolvimento da

curiosidade e interesse, ou

seja, não promove

actividades que sejam

socialmente úteis e

geradoras de bem-estar e

elevação cultural das

idosas.

Existência de uma cultura

organizacional que não

valoriza o interesse de planos de actividades que permitam satisfazer outras necessidades básicas que não sejam as que permitem manter a vida biológica.

Escassez de recursos

humanos que pudessem

estar envolvidos na

dinamização do plano de actividades.

Interesse dos idosos em participar em actividades que não sejam rotineiras e desenvolvidas apenas para ocupar os tempos mortos

que existem entre a

realização das actividades básicas de vida diária.

120 Inexistência de uma sala

para o desenvolvimento

das actividades de

animação sociocultural A decoração do espaço da residência torna-a pouco acolhedora para as idosas.

Falta de interesse, de dedicação por parte da direcção, por parte da equipa técnica e dos outros profissionais em tornar o

espaço mais acolhedor,

através da sua decoração, envolvendo as idosas nesse processo.

Aproveitar ideias, trabalhos realizados nos ateliês de cortiça pelas utentes para decoração da residência, tornando a mesma mais acolhedora e tornando-a num espaço em que as idosas se sintam bem e valorizadas.

Tanto a equipa técnica como as auxiliares de

acção directa dedicam

pouco tempo aos

residentes, estando as

últimas apenas encarregues

de assegurar cuidados básicos - de higiene e alimentação. Os profissionais consideram quase desnecessárias as actividades de animação sociocultural - porque identificam como

necessidades das idosas

apenas aquelas que

permitem manter a vida biológica.

A direcção técnica acaba por privilegiar a função de vigilância do cumprimento

das regras de

funcionamento estabelecidas,

independentemente do seu impacto no bem-estar dos idosos residentes.

A direcção, assim como a equipa técnica, não vêm as

auxiliares como

informadoras privilegiadas

(que melhor conhecem

anseios, medos, hábitos) da situação em que as idosas se encontram, das suas

necessidades, dos seus

gostos e das suas fontes de sofrimento.

Reconhecer os auxiliares de acção directa como informadoras privilegiadas no que concerne aos gostos das idosas e às suas fontes de sofrimento e tentar que as mesmas, em momentos “mortos” do trabalho se impliquem nas actividades de animação, auxiliando também elas as idosas no

desenvolvimento destas

121 Problemas nas relações

entre idosas. Os residentes criticam-se muito umas às outras, são intolerantes umas com os outras.

Problemas nas relações dos profissionais com os idosos

O ócio, a falta de

actividades de animação sociocultural, com real interesse para as idosas,

que as ocupem e

entretenham não existem, o que contribui fortemente para o mau humor, para o aborrecimento das utentes, o que contribui para que se

gerem conflitos com

pessoas que se encontram 24 sob 24horas no mesmo espaço.

A falta de formação dos

profissionais para

atenderem ao facto de que a construção da relação com as idosas é uma função fundamental na sua actividade profissional.

Aproveitar histórias de

vida em comum entre as

utentes, ligadas

principalmente à vida

profissional (cortiça) e

organizar debates,

conversas onde haja

partilha de opiniões,

partilha de acontecimentos,

geradores de conversas

saudáveis, harmoniosas. Envolver as funcionárias neste processo de forma a que lhes seja possível conhecer a história de vida das idosas e a situação em que elas se encontram no momento presente. Investir

no relacionamento

interpessoal para assim as funcionárias perceberem os modos de agir, pensar e sentir das idosas.

As residentes não têm privacidade – ausência de espaços de refúgio.

A direcção, equipa técnica justifica tal acontecimento com a falta de espaço que

existe nas instalações

temporárias onde se

encontra a funcionar a estrutura residencial, não se envolvendo na criação

de condições que

promovam uma maior

Os espaços de refúgio são

necessários. As utentes

necessitam de ter o seu espaço, para mergulhar no

seu íntimo, para se

refugiarem nos seus

pensamentos, nas suas

angústias: tentar criar um

pequeno espaço na

122

privacidade. mesmo fim.

Processo de tomada de decisão centralizada na

direcção e na equipa

técnica, excluindo

totalmente a participação e a opinião pessoal das utilizadoras – acentuando

desta forma um

funcionamento

institucional rotinizado a

partir do cumprimento

estrito das actividades

básicas de vida diária.

Os horários (dormir,

refeições, visitas), assim como as ementas, assim

como o plano de

actividades de animação sociocultural são definidos unicamente pela direcção e pela equipa técnica. Tal deve-se ao facto de facilitar

o trabalho da equipa

técnica que não tem que se envolver em processos de decisão participados. Tudo que fuja à rotina é visto por

parte dos actores da

instituição (direcção e equipa técnica) como um acto que vem destabilizar o normal funcionamento.

Em termos de horários, tentar flexibilizar o mais possível, em termos de ementas tentar uma vez entre outra construir a ementa diária, ainda que pontualmente, juntamente com as utentes procurando que as mesmas refiram

seus gostos e

principalmente no campo do plano de actividades socioculturais procurar que

se redefinam, que se

reajustem juntamente com

as idosas algumas

actividades de acordo com os gostos e interesses.

É importante referir, que os problemas identificados são a base de todo o projecto de intervenção. Contudo, e na impossibilidade deste projecto responder a todos eles, privilegiamos aqueles que impedem o desenvolvimento de um plano de animação sociocultural (porque identificam como necessidades das idosas apenas aquelas que permitem manter a vida biológica) fazendo com que as idosas estejam alienados e passivas, não participando na implementação do plano de actividades. Não podemos deixar de lembrar que a nossa hipótese teórica que orienta este trabalho acaba por ser confirmada pela informação apresentada ao longo deste diagnóstico. Efectivamente as actividades propostas no plano de actividades institucional não mobilizam as idosos para participar e tal acontece também porque os dirigentes e profissionais não as consideram fundamentais no quotidiano de vida dos idosos.

Em seguida serão definidas as finalidades, os objectivos gerais e específicos e ainda as estratégias do presente projecto.

123 Consideramos ser de extrema importância a formulação de uma hipótese de acção, como sugere Isabel Guerra (2000), na condução deste projecto. Não podemos também deixar de referenciar que a hipótese de acção assenta na hipótese teórica que formulamos e comporta em si a identificação das estratégias de intervenção que conduzirão este projecto.

A nossa hipótese de acção é: a passividade e alienação dos idosos face às actividades de animação sociocultural propostas nos planos de actividades das estruturas residenciais são combatidas se as actividades a realizar estiverem centradas nas suas experiências anteriores de vida, em particular nas suas experiências profissionais, e estiverem de acordo com os seus interesses existenciais.

Neste sentido, negociamos com a direcção da instituição e com a sua directora técnica a criação de um atelier de cortiça para desenvolver um plano de actividades com as idosas. Sendo certo que esta negociação ainda não foi suficientemente capaz de fazer com que os gestores e profissionais da instituição percebam a pertinência desta proposta de trabalho, é um primeiro passo num longo processo de mudança de representações e práticas institucionais e profissionais.

2. A planificação, execução e avaliação de um projecto de intervenção focado

No documento Recordar é viver (páginas 118-123)