1. O diagnóstico da situação social: 1ª etapa da metodologia de projecto
1.4. Síntese dos problemas identificados no diagnóstico da situação social
Em suma, os principais problemas identificados no diagnóstico da situação social foram os seguintes:
Problemas identificados Causas prováveis Potencialidades presentes
(recursos)
Processos individuais das residentes não continham qualquer informação sobre
a sua situação social,
informação a nível gostos, interesses, objectivos de vida, sobre necessidades específicas dos clientes. Nos processos individuais
apenas constam informações a nível da identificação pessoal (nome, morada, nº de identificação, nº de identificação fiscal, nº de beneficiário da segurança social, nº do serviço
nacional de saúde, estado civil), a nível do estado de saúde (relatório médico relativo à situação clínica
do cliente, nível de
dependência do residente –
testes administrados) e
informações de ordem
financeira (comprovativo dos rendimentos do cliente
A direcção, assim como a equipa de profissionais não tem em conta interesses,
gostos, experiências de
vida passada, não valoriza a formação ao longo da vida. Valoriza sim valores de reforma, pensões entre outras.
Procurar junto dos
residentes reunir o máximo de informação a nível da situação social. Procurar junto das idosas reunir informação acerca do seu
nível de instrução,
condição predominante
perante o trabalho,
principais actividades de
interesse ao nível da
ocupação de tempos livres, entre outras.
119 e do agregado familiar).
Plano de actividades anual
desadequado às
características das idosas, às suas necessidades e problemas; limitado no tipo de actividades propostas (pouco diversificadas para potenciar o acesso a novas
experiências, a novas
aprendizagens, gerar
sentido para a vida das
idosas e potenciar
interacções sociais) e
sobretudo na sua
implementação
Plano de actividades
realizado sem ter em conta
as características
socioculturais e os estados
de saúde/graus de
dependência dos idosos. Tanto para o lar como para o centro de dia, o plano anual de actividades é o
mesmo, mesmo com
populações tão distintas; A organização não cria condições (ao nível dos
recursos humanos,
materiais e financeiros) para que o plano de actividades seja mais rico e diversificado.
Redefinição do plano de actividades pela estagiária para e com as idosas, procurando ir de encontro
aos seus desejos,
motivações e interesses e envolvendo-as na definição de outras actividades.
A instituição não promove
o desenvolvimento da
curiosidade e interesse, ou
seja, não promove
actividades que sejam
socialmente úteis e
geradoras de bem-estar e
elevação cultural das
idosas.
Existência de uma cultura
organizacional que não
valoriza o interesse de planos de actividades que permitam satisfazer outras necessidades básicas que não sejam as que permitem manter a vida biológica.
Escassez de recursos
humanos que pudessem
estar envolvidos na
dinamização do plano de actividades.
Interesse dos idosos em participar em actividades que não sejam rotineiras e desenvolvidas apenas para ocupar os tempos mortos
que existem entre a
realização das actividades básicas de vida diária.
120 Inexistência de uma sala
para o desenvolvimento
das actividades de
animação sociocultural A decoração do espaço da residência torna-a pouco acolhedora para as idosas.
Falta de interesse, de dedicação por parte da direcção, por parte da equipa técnica e dos outros profissionais em tornar o
espaço mais acolhedor,
através da sua decoração, envolvendo as idosas nesse processo.
Aproveitar ideias, trabalhos realizados nos ateliês de cortiça pelas utentes para decoração da residência, tornando a mesma mais acolhedora e tornando-a num espaço em que as idosas se sintam bem e valorizadas.
Tanto a equipa técnica como as auxiliares de
acção directa dedicam
pouco tempo aos
residentes, estando as
últimas apenas encarregues
de assegurar cuidados básicos - de higiene e alimentação. Os profissionais consideram quase desnecessárias as actividades de animação sociocultural - porque identificam como
necessidades das idosas
apenas aquelas que
permitem manter a vida biológica.
A direcção técnica acaba por privilegiar a função de vigilância do cumprimento
das regras de
funcionamento estabelecidas,
independentemente do seu impacto no bem-estar dos idosos residentes.
A direcção, assim como a equipa técnica, não vêm as
auxiliares como
informadoras privilegiadas
(que melhor conhecem
anseios, medos, hábitos) da situação em que as idosas se encontram, das suas
necessidades, dos seus
gostos e das suas fontes de sofrimento.
Reconhecer os auxiliares de acção directa como informadoras privilegiadas no que concerne aos gostos das idosas e às suas fontes de sofrimento e tentar que as mesmas, em momentos “mortos” do trabalho se impliquem nas actividades de animação, auxiliando também elas as idosas no
desenvolvimento destas
121 Problemas nas relações
entre idosas. Os residentes criticam-se muito umas às outras, são intolerantes umas com os outras.
Problemas nas relações dos profissionais com os idosos
O ócio, a falta de
actividades de animação sociocultural, com real interesse para as idosas,
que as ocupem e
entretenham não existem, o que contribui fortemente para o mau humor, para o aborrecimento das utentes, o que contribui para que se
gerem conflitos com
pessoas que se encontram 24 sob 24horas no mesmo espaço.
A falta de formação dos
profissionais para
atenderem ao facto de que a construção da relação com as idosas é uma função fundamental na sua actividade profissional.
Aproveitar histórias de
vida em comum entre as
utentes, ligadas
principalmente à vida
profissional (cortiça) e
organizar debates,
conversas onde haja
partilha de opiniões,
partilha de acontecimentos,
geradores de conversas
saudáveis, harmoniosas. Envolver as funcionárias neste processo de forma a que lhes seja possível conhecer a história de vida das idosas e a situação em que elas se encontram no momento presente. Investir
no relacionamento
interpessoal para assim as funcionárias perceberem os modos de agir, pensar e sentir das idosas.
As residentes não têm privacidade – ausência de espaços de refúgio.
A direcção, equipa técnica justifica tal acontecimento com a falta de espaço que
existe nas instalações
temporárias onde se
encontra a funcionar a estrutura residencial, não se envolvendo na criação
de condições que
promovam uma maior
Os espaços de refúgio são
necessários. As utentes
necessitam de ter o seu espaço, para mergulhar no
seu íntimo, para se
refugiarem nos seus
pensamentos, nas suas
angústias: tentar criar um
pequeno espaço na
122
privacidade. mesmo fim.
Processo de tomada de decisão centralizada na
direcção e na equipa
técnica, excluindo
totalmente a participação e a opinião pessoal das utilizadoras – acentuando
desta forma um
funcionamento
institucional rotinizado a
partir do cumprimento
estrito das actividades
básicas de vida diária.
Os horários (dormir,
refeições, visitas), assim como as ementas, assim
como o plano de
actividades de animação sociocultural são definidos unicamente pela direcção e pela equipa técnica. Tal deve-se ao facto de facilitar
o trabalho da equipa
técnica que não tem que se envolver em processos de decisão participados. Tudo que fuja à rotina é visto por
parte dos actores da
instituição (direcção e equipa técnica) como um acto que vem destabilizar o normal funcionamento.
Em termos de horários, tentar flexibilizar o mais possível, em termos de ementas tentar uma vez entre outra construir a ementa diária, ainda que pontualmente, juntamente com as utentes procurando que as mesmas refiram
seus gostos e
principalmente no campo do plano de actividades socioculturais procurar que
se redefinam, que se
reajustem juntamente com
as idosas algumas
actividades de acordo com os gostos e interesses.
É importante referir, que os problemas identificados são a base de todo o projecto de intervenção. Contudo, e na impossibilidade deste projecto responder a todos eles, privilegiamos aqueles que impedem o desenvolvimento de um plano de animação sociocultural (porque identificam como necessidades das idosas apenas aquelas que permitem manter a vida biológica) fazendo com que as idosas estejam alienados e passivas, não participando na implementação do plano de actividades. Não podemos deixar de lembrar que a nossa hipótese teórica que orienta este trabalho acaba por ser confirmada pela informação apresentada ao longo deste diagnóstico. Efectivamente as actividades propostas no plano de actividades institucional não mobilizam as idosos para participar e tal acontece também porque os dirigentes e profissionais não as consideram fundamentais no quotidiano de vida dos idosos.
Em seguida serão definidas as finalidades, os objectivos gerais e específicos e ainda as estratégias do presente projecto.
123 Consideramos ser de extrema importância a formulação de uma hipótese de acção, como sugere Isabel Guerra (2000), na condução deste projecto. Não podemos também deixar de referenciar que a hipótese de acção assenta na hipótese teórica que formulamos e comporta em si a identificação das estratégias de intervenção que conduzirão este projecto.
A nossa hipótese de acção é: a passividade e alienação dos idosos face às actividades de animação sociocultural propostas nos planos de actividades das estruturas residenciais são combatidas se as actividades a realizar estiverem centradas nas suas experiências anteriores de vida, em particular nas suas experiências profissionais, e estiverem de acordo com os seus interesses existenciais.
Neste sentido, negociamos com a direcção da instituição e com a sua directora técnica a criação de um atelier de cortiça para desenvolver um plano de actividades com as idosas. Sendo certo que esta negociação ainda não foi suficientemente capaz de fazer com que os gestores e profissionais da instituição percebam a pertinência desta proposta de trabalho, é um primeiro passo num longo processo de mudança de representações e práticas institucionais e profissionais.
2. A planificação, execução e avaliação de um projecto de intervenção focado