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Síntese dos Resultados da Amostra e Discussões Preliminares

Inicialmente, os estudantes com TGM Justificado por Motivo de Saúde foram distribuídos em quatro grupos, de acordo com a justificativa apresentada. Porém, após as entrevistas e análise dos dados, para uma melhor compreensão sobre as experiências de vida desses estudantes e até para que seja possível organizar alguma forma de intervenção com eles, foi necessário conceber uma nova organização da amostra. Nas discussões dos casos com justificativa por transtorno mental, a vivencia de crise na vida dessas pessoas foi clara. Já nas outras formas de solicitação, as justificativas apresentadas encobriram questões ou problemas psicológicos significativos, como por

exemplo, a presença de crises emocionais relacionadas ao TGM. O exame dos casos com as outras justificativas sem transtorno mental apontou que alguns estudantes apresentaram quadros psicopatológicos e vários deles apresentaram crise ou situações psicológicas com sofrimento significativo que necessitavam de um acompanhamento especializado, mesmo não havendo transtorno mental configurado. Portanto, após as entrevistas e análise dos resultados, a amostra passou a ser classificada dentro de três Grupos: (I) presença de dificuldade emocional significativa com transtorno mental; (II) presença de dificuldade emocional significativa sem transtorno mental; (III) ausência de dificuldade emocional significativa (dificuldades pontuais sem indicação psicoterápica), conforme a Tabela 13.

A Dificuldade Emocional Significativa (DES) esteve presente em 82,5% dos estudantes da amostra. Foi constituída pelos Grupos I e II, sendo que a maioria deles apresentou quadro psicopatológico (Grupo I). A falta de atendimento especializado para os estudantes com DES e o risco de suicídio foi fator de preocupação. Apenas 21 dos 33 estudantes com DES estão em algum tipo de atendimento especializado. Apenas onze recebem atendimento adequado (psiquiátrico e psicológico) de acordo com a necessidade. Oito recebem apenas atendimento psiquiátrico, por mais que houvesse indicação para atendimento psicológico. Dois recebem apenas atendimento psicológico mesmo havendo necessidade de acompanhamento psiquiátrico. A falta de recursos financeiros foi o fator preponderante para a maioria dos estudantes em acompanhamento deficitário optarem por apenas um tipo de atendimento. O acompanhamento deficiente contribui para maior permanência da DES. O resultado não é satisfatório e a situação de vulnerabilidade permanece por maior tempo.

Sobre o risco de suicídio, treze estudantes (32,5%) afirmaram já haver planejado se matar anteriormente e cinco deles (12,5%) relataram haver praticado tentativa de

suicídio. Durante a entrevista, quatro estudantes (10%) afirmaram espontaneamente ter planejamento e acesso ao método, e dois deles apresentaram história de tentativa anterior o que torna o risco de suicídio maior. Apenas um destes quatro estudantes em risco estava em atendimento psiquiátrico, porém, sem atendimento psicoterápico por dificuldades financeiras. Os outros três não recebiam nenhum tipo de atendimento especializado e foram encaminhados para o Serviço de Apoio Psicológico (SAP). A seguir, serão apresentadas algumas características inerentes a cada um desses três grupos.

Tabela 13. Dificuldade Emocional Significativa (DES) em estudantes com pedido de TGM por motivo de saúde.

Grupos Classificação Tipo de Dificuldade n DES (%)

Grupo I: DES com Transtorno Mental (n=26; 65,0 %) Transtornos de Humor Depressão 14 19 (47,5) Transtorno Bipolar 5 Transtornos Ansiosos

Transtorno de Estresse Pós-Traumático 1

4 (10,0) Transtornos Ansiosos 1

Transtorno do Controle dos Impulsos 1 Transtorno de Pânico com Agorafobia 1 Outros

Surto Psicótico 2

3 (7,5) Transtorno Mental e Comportamental

Devido ao Uso de Múltiplas Drogas e Outras Substâncias Psicoativas

1 Grupo II: DES sem Transtorno Mental (n=7; 17,5%) Crise Crise 7 7 (17,5) Grupo III: Ausência de DES (n=7; 17,5%) - - 7 - Totais 40 33 (82,5)

O Grupo I, DES com Transtorno Mental, foi constituído pela maioria dos estudantes da amostra (n=26; 65,5%). Todos os vinte e um sujeitos em acompanhamento especializado, mesmo que deficitário, pertenceram a esse grupo. Os quatro estudantes em risco de suicídio atual, com planejamento e acesso ao método, também pertencem a este grupo, o que o torna de maior risco, comparado aos outros. Considerando as queixas apresentadas, 23 (57,5%) estudantes apresentaram transtorno

mental. Após a entrevista e nossa avaliação diagnóstica, o número passou para 26 casos (65%). Os transtornos de humor apresentaram aumento de 15, conforme a Tabela 13, para 19 casos comparando diagnóstico apresentado com diagnóstico observado e relatado. A depressão foi a responsável pelo acréscimo e permaneceu como o transtorno mental com maior proporção (n=14; 35%). Três estudantes que, a priori, apresentaram diagnóstico justificado por transtornos ansiosos, após a entrevista, foram inseridos dentro de transtornos de humor por apresentarem quadro depressivo preponderante, como ilustrado no 1o Caso. O mesmo ocorreu a um estudante com diagnóstico por dificuldade física. Após a entrevista, foi constatada sintomatologia para o quadro depressivo (10o Caso). Os Transtornos Ansiosos inicialmente com cinco casos, conforme Tabela 9, após entrevista, estiveram presentes em apenas quatro estudantes, 10% da amostra, sendo dois com diagnóstico inicial por transtorno mental e dois, com justificativa por problemas físicos.

O Grupo II, de DES sem transtorno mental, foi constituído por 17,5% da amostra (n=7) sendo que, inicialmente, as justificativas apresentadas foram outras: licença maternidade (três casos); acompanhante de parente de primeiro grau com doença grave (dois casos); problemas físicos (dois casos). Apesar de não haver transtorno mental, todos os estudantes desse grupo estão em crise significativa e, por isso, mais vulneráveis que os estudantes com ausência de DES. Nenhum deles recebe qualquer tipo de atendimento psicológico especializado e apenas dois casos apresentaram história de atendimento psicoterápico anterior, ambos com justificativa por licença maternidade, sendo que um deles também apresentou história de tentativa de suicídio anterior (15o Caso). Dependendo de como será o desfecho dessas crises, e da qualidade das respostas desses estudantes, eles podem passar a apresentar respostas menos eficazes e serem enquadrados no Grupo I. Todos apresentaram acúmulos de

eventos de vida, ou eventos de vida qualitativos que parecem estar minando as estratégias saudáveis de enfrentamento, diferente do Grupo III onde o evento de vida é bastante pontual e sem sofrimento emocional significativo. O Grupo II é considerado grupo de risco, pois a DES pode ocasionar respostas não eficazes, sintomas ou transtornos mentais. Deste modo, entendemos que o TGM sinalizou que os estudantes pertencentes ao Grupo II apresentam dificuldade em dar conta da demanda imposta a eles, pois os fatores de estresse parecem exceder a capacidade de enfrentamento deles. Conclui-se que existe a necessidade de acompanhamento mais sistemático de estudantes que solicitam TGM para prevenir possível transtorno mental.

O Grupo III, sem DES, foi composto por estudantes que apresentaram uma demanda pontual, dificuldade física preponderante para interromper as aulas (recuperação de acidente automobilístico, cirurgia e pós-operatório, pré-eclâmpsia, entre outros). Estes estudantes não apresentaram DES.

Portanto, por meio da análise dos processos de solicitação de TGM Justificado por Motivo de Saúde e entrevista, a maioria dos estudantes da amostra apresentou DES e os fatores de estresse pessoal, relacional, ambiental e acadêmico parecem contribuir não só para o desencadeamento de DES, mas também para o pedido de TGM, relacionado a DES. Os tópicos seguintes irão abarcar os estressores mais freqüentes em cada um desses fatores de estresse encontrados.