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Síntese dos resultados para a restrição do Pronaf 91 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 42 

4.2. O Pronaf como política de crédito: desempenho frente a outros tipos de financiamentos.

4.3.3. Síntese dos resultados para a restrição do Pronaf 91 

O destaque nos resultados apresentados pela análise da restrição do programa do Pronaf na agricultura familiar é a de que em nenhuma das grandes regiões o acesso ao crédito foi efetivo para os participantes do Pronaf (Tabela 36). Na região Nordeste, o crédito do Pronaf tornava a produtividade da terra dos estabelecimentos beneficiados menor que a dos não beneficiados pela política.

Tabela 36: dos Resultados do indicadores de produtividade entre as regiões. SOMENTE OS ESTABELECIMENTOS DA AGRIC. FAMILIAR

Variável BRA NO NE SE SU CO

Produtividade da terra menor sem

diferença menor menor

sem diferença sem diferença Produtividade do Trabalho menor sem

diferença menor menor menor menor

Produtividade da terra (FAO) menor sem diferença sem diferença sem diferença sem diferença menor Produtividade do

Trabalho (FAO) menor

sem diferença sem diferença sem diferença sem diferença sem diferença

Renda Familiar menor sem

diferença menor menor sem diferença

sem diferença Fonte: Resultados da pesquisa.

92 Os resultados dos indicadores ajustados pela FAO/Incra não foram significativos para as regiões Norte e Sudeste, sendo a produtividade da terra não significativa para a região Nordeste. O Indicador ajustado para essas regiões, portanto, sinaliza que o Pronaf não teve efeito como política pública, pois, como era de se esperar, não melhorou o nível de produtividade dos atendidos por ele.

As regiões Sul e Centro-Oeste, bem como o Brasil como um todo, tiveram os estabelecimentos não beneficiados pela política pública em melhor situação comparada aos estabelecimentos que não tiveram restrição à política. A hipótese levantada para explicar esse fenômeno é que o aumento dos custos dos insumos e a queda nos preços dos produtos gerados no estabelecimento atingiram mais os estabelecimentos que possuíam o crédito do Pronaf que os “descompromissados” em ter que pagar o financiamento obtido.

O nível de renda familiar foi negativo e significativo para o Brasil e para as regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Como verificado no relatório CNA (2007), o fato de o conjunto da agricultura e da pecuária ter perdido renda dentro da fazenda da ordem de 3% afetou principalmente as três regiões citadas, enquanto para o Norte e a região Centro-Oeste não se constatou uma diferença de médias significativa para a renda familiar.

Os resultados indicando que estabelecimentos que não receberam o crédito terem desempenho superior aos estabelecimentos que receberam o Pronaf tem algumas razões que podem ser observadas em Guanziroli (2007). Segundo o autor, alguns fatores observados influenciaram negativamente a renda dos agricultores que receberam o Pronaf, entre esses fatores destacam-se: 1) Falta ou baixa qualidade da assistência técnica: os rendimentos previstos nos projetos são calculados a partir de coeficientes técnicos distantes da realidade do pequeno agricultor. Este, depois da safra, geralmente verifica que a maioria das atividades em que foram aplicados os recursos do crédito na região não acompanhou a previsão, gerando dificuldades aos agricultores no pagamento do empréstimo. 2) Dificuldades no gerenciamento do recurso do crédito: Em alguns casos, os recursos não são aplicados integralmente na atividade programada, muitas das vezes o agricultor tira parte dos recursos para sustento familiar, o que diminui a capacidade de pagamento do crédito, aumentando por sua vez a inadimplência. 3) Falta de integração de mercado e estrutura de comercialização e agregação de valor: os produtores muitas das vezes não sabem o momento certo de plantar determinada cultura, não verificam os preços da atual safra, como consequência os rendimentos provenientes do plantio acabam sendo menores que o esperado.

93 Além desses aspectos, muitos agricultores reclamam do atraso na liberação dos recursos do Pronaf. Nos anos de 2004 a 2006, as mudanças ocorridas nas regras de contratação do custeio, extinção do Rural Rápido, elevação de tetos e obrigatoriedade de contratação do Proagro Mais, respectivamente, impediram a renovação automática das operações do Pronaf, o que ocasionou a necessidade de contratação de novas propostas, atrasando a aplicação do crédito em tempo hábil. O grande problema é que a demora na liberalização do financiamento ocasiona a perda de lavoura, diminuindo o valor da produção dos estabelecimentos.

Essa demora é tão grave que, segundo Olalde, Santos e Santos (2007), alguns agricultores no ano de 2006 sofreram com atrasos de três a quatro meses no repasse do crédito. Segundo Leite et al. (2004), o atraso na concessão do crédito é uma das principais dificuldades pelas quais os produtores passam, ocorrendo após o período de plantio, comprometendo significativamente a produção agropecuária.

Assim como foi observado anteriormente para o crédito rural, a política do Pronaf apresentou algumas semelhanças com relação às variáveis mais importantes para a demanda do programa para os estabelecimentos rurais brasileiros. Entre os fatores que aumentam a razão de chances de o estabelecimento obter crédito do Pronaf, destacam-se cinco. Assim como apresentado no cenário em que se analisou o crédito em geral, o valor da produção foi uma importante componente na probabilidade de obter o crédito, visto que estabelecimentos que detinham maior valor da produção tinham mais chances de fazer parte do Pronaf. Essa componente apresentou a mesma relação positiva tanto para o Brasil como para todas as cinco regiões analisadas na pesquisa. Estabelecimentos que possuíam maiores gastos com insumos também tiveram esse comportamento, não sendo significativo apenas no Centro-Oeste.

O responsável pelo estabelecimento rural possuir nível superior se mostrou um dos determinantes na obtenção do Pronaf, em todas as regiões e no Brasil, diante dos estabelecimentos que se enquadram na Agricultura Familiar. Praticar irrigação também teve comportamento semelhante às três variáveis antes observadas, porém esse comportamento não foi significativo apenas para a região Norte do país. A mesma conclusão pode ser atribuída ao fato de o estabelecimento rural praticar irrigação. Observa-se, portanto, que essas cinco variáveis foram determinantes no geral para a probabilidade de obter o crédito rural. Outras duas variáveis, tamanho da área produtiva e número de pessoas residentes no estabelecimento, foram positivas e significativas em três regiões, sendo a primeira relevante nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste e a segunda no Brasil, Nordeste e Sudeste.

94 Assim, pode-se afirmar que as sete variáveis apresentadas acima são as componentes importantes para explicar a probabilidade de o Pronaf ser direcionado para a Agricultura Familiar.

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