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CAPÍTULO II – PANORAMA DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES NO BRASIL: 1992-2010

II. 2. F&A NO BRASIL: PARTICIPAÇÃO ESTRANGEIRA E DESNACIONALIZAÇÃO

II. 2.3. Síntese do movimento nos anos 2000

A comparação entre o movimento de F&A da década de 90 e dos anos 2000, no Brasil, considera diferenças administrativas, políticas e de enfoque entre governos distintos, e mesmo de influências ou causas externas. Assim, em 2001, ainda no governo FHC, segundo estudo da Ernst & Young, ocorreram 258 operações de F&A, uma queda de 34% em relação a 2000. Para essa consultoria, este era o pior resultado dos cinco anos anteriores, atribuídos principalmente “à crise energética, ao efeito Argentina e aos atentados terroristas nos EUA”. Entretanto, a tendência imaginada de F&A era de crescimento. Ainda de acordo com Ernst & Young, teriam ocorrido 392 operações em 2000.112

Os dados da KPMG, calculavam a diminuição nas F&A em 3,5% em relação a 2000. Em 2001 teriam ocorrido 340 transações no País: 146 negócios realizados entre empresas nacionais e 194 relacionados aos investimentos estrangeiros (no

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“Fusões e aquisições crescem 24% em 2000”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 21/02/2001.

110“Fusões e aquisições batem recorde na AL em 2000; Brasil volta a ser líder”. Folha de S. Paulo,

Dinheiro, 13/01/2001.

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“País supera México em venda de empresas”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 03/11/1994.

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68 ano anterior teriam ocorrido 353 operações, sendo “123 de capital doméstico e 230 aquisições e fusões com participação de empresas do exterior”.113 O setor mais atraente em 2001 para F&A foi o de petróleo: 40 F&A, sendo 31 delas – a maioria –, com a participação de empresas estrangeiras, em consequencia da quebra do monopólio da exploração (a rodada de licitações atraiu investimentos da ordem de R$ 594 milhões). Em segundo lugar, apareceram companhias elétricas e de tecnologia de informação, com 36 operações em cada um dos setores. O setor de alimentos restringiu-se a 32 negócios.114

Com relação à origem do capital, 41,5% dos negócios foram realizados por empresas americanas, em 81 transações, enquanto empresas espanholas participaram de 17 transações (8,7% do total).

No primeiro trimestre de 2003, portanto em meio ao advento do novo governo, as transações envolvendo F&A cresceram 35%, quando apenas quatro grandes transações envolveram US$ 3,38 bilhões: a compra do Sudameris pelo ABN Amro; a entrega da BCP para bancos credores; a compra do Banco Bilbao Viscaya pelo Bradesco e da TCO, companhia de telefonia móvel de capital nacional, vendida para a BrasilCel, holding da Telesp Celular e Telefonica Celular. De acordo com a KPMG, teriam ocorrido 58 F&A no primeiro trimestre de 2003, com o predomínio de transações domésticas nos setores financeiro, de alimentos, tecnologia da informação e telecomunicações: “instituições financeiras lideraram a movimentação com sete negócios realizados [em 2003] e seis grandes operações [em 2002]. Bancos de investimento e de varejo de capital estrangeiro foram comprados por instituições locais depois de sofrerem perdas (...) No setor de alimentos, onde ocorreram cinco fusões e aquisições (...), a tendência é de entrada de capital estrangeiro (...) Exemplo disso, foi o arrendamento com opção de compra [em abril de 2003] do frigorífico Chapecó pelo grupo francês Louis Dreyfus. Foi a saída encontrada para a crise financeira da empresa que era controlada pelo grupo argentino Macri”.115

113 Para Marcio Lutterbach, da KPMG, “A queda não foi tão significativa quanto se poderia prever

depois de um segundo semestre em que o Brasil sentiu o reflexo da crise da Argentina e da retração da economia mundial com os atentados de setembro. Sem mencionar a crise de energia, um problema que vinha se delineando desde o primeiro semestre”. (“Cai o total de fusões e aquisições no Brasil”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 24/01/2002).

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“Cai o total de fusões e aquisições no Brasil”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 24/01/2002.

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69 Os dados do último trimestre de 2003 mostravam recuperação sobre 2002, pois enquanto os negócios diminuíram 18% no ano, no 4º trimestre teria crescido 5% (informação da Price), em uma retomada diante das quedas apresentadas nos três primeiros trimestres.116

Esse movimento do início da década reflete um redirecionamento dos investimentos, pois a China teria recebido “58% do investimento dirigido aos emergentes da Ásia e 31% do total direcionado a países em desenvolvimento” enquanto na América Latina os investimentos teriam caído de US$ 108 bilhões em 1999 para US$ 42 bilhões em 2003.117

A participação do capital estrangeiro nas transações – majoritária em 2004, 2005 e 2006 –, só não foi maior por conta do incentivo às empresas brasileiras, resultantes de políticas realizadas no período 2002-2010, principalmente através das linhas de crédito criadas pelo BNDES. Tais incentivos foram importantes tanto no setor frigorífico como no setor sucroalcooleiro.

Em 2006, as transações mundiais atingiram US$ 3,8 trilhões, volume 38% superior na comparação com 2005. Um dos maiores negócios de 2007 foi a aquisição da Swift EUA pelo Friboi, por US$ 1,4 bilhão.118

Outro fato significativo refere-se ao primeiro leilão de energia da biomassa (bagaço de cana), realizado em maio de 2008.

Refere-se, no caso, à valorização de uma alternativa energética renovável, relacionada ao segmento sucroalcooleiro, diretamente associado ao aumento dos negócios de aquisição de usinas e construção de novos projetos119, e ao fornecimento de energia elétrica gerada por usinas produtoras de álcool e açúcar.

A tabela II. 1 e os gráficos aqui mostrados representam o movimento de acumulação de capital, através do processo de F&A ocorrido no Brasil, no período 1992-2010, e evidenciam diferenças de enfoque, de políticas e de governança entre períodos distintos. Não são meras ilustrações desprovidas de sentido: podem corroborar tanto o dinamismo da economia bem como a força do capital estrangeiro e de seu domínio nos diversos setores (como pode ser visto nos gráficos II.3 e II.4).

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“Recuperação”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 01/01/2004.

117“Queda dos investimentos”. Folha de S. Paulo, Dinheiro, 13/01/2004. 118

“A Friboi é líder mundial”. Carta Capital, Ano XIII, nº447, 06/06/2007.

119 ELETRICIDADE: leilão de energia de biomassa será em maio. Folha de S. Paulo, 05/12/2007.

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