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Esta dissertação propôs-se responder a uma série de objetivos, enumerados no capítulo introdutório, e a responder a duas questões base; 1) Qual a relação entre a arte e o design, no contexto das intervenções urbanas; 2) Porque é que o indivíduo se sente alienado em relação ao meio, e como é o design pode contribuir para que resolver o défice de sentimento de pertença.

Após o estudo teórico, é possível adiantar algumas respostas, embora com a consciência e salvaguarda, de que não podem ser consideradas decisivas ou irrefutáveis nem fora de debate.

O espaço que define a urbe não é tanto o espaço físico dos edifícios, mas sobretudo o espaço vivido, percecionado e sentido entre estes, onde se opera a socialização, as relações entre pessoas, e onde se constroem as realidades das comunidades. Sendo o território os seus habitantes, fará sentido que os habitantes sintam o território como seu. Aqui deparamo-nos com a identidade do lugar, relacionada com a continuidade do uso do território e do sentimento de

pertença. Sendo assim, é importante referir que o sentimento de não pertença se revela um dos

principais problemas da vida urbana contemporânea, e que se reflete na alienação do indivíduo em relação á cidade. Concluiu-se que este sentimento pode ser ultrapassado com a participação direta do habitante no planeamento da cidade, dentro das possibilidades que a vida em comunidade permite e potencia. O indivíduo deve poder sentir que pertence ao lugar, e que a sua contribuição é importante e que a sua existência fará diferença, para ultrapassar o sentimento de frustração. Quando tal não é possível forma-se um sentimento de perda de confiança e deceção, que mais cedo ou mais tarde levará ao comportamento marginal e violento.

A resposta passa por uma reestruturação social, com base na participação direta da comunidade, alterando o sentido de uma cultura baseada na dominação, competição e valor de troca, para uma cultura com base na reciprocidade, comunicação e incentivo à participação direta dos indivíduos dando-lhes o sentimento de responsabilidade, que lhes permita sentirem-se capazes de fazer a diferença, através de decisões reais. Uma das possibilidades de expressão no território, de apropriação da cidade, como coisa sua, pelo indivíduo, é a arte pública marginal (street

art). Se, como afirma José de Guimarães, a arte pública pode ser uma forma de atribuir

de linguagem e temas, pode ser, ela própria uma forma muito potente para ultrapassar a frustração da alienação em relação ao território.

Sendo assim, estas manifestações revelam-se de extrema importância para o desenvolvimento pessoal e comunitário urbano. Esta reflexão sobre o território urbano e o indivíduo é de extrema pertinência para o design, considerando o designer como um intérprete do

mundo. (Providência, 2003)

Como comprova a proposta de projecto em anexo, na minha opinião, a importância das intervenções urbanas é muito significativa para o design contemporâneo. O facto de haver um receio por parte dos artistas de rua na comercialização da street art, deve-se ao facto da apropriação por parte da publicidade de do mercado de consumo não assumir que as intervenções urbanas são de facto uma mais valia para a produção cultural atual. A articulação destas práticas com estratégias de comunicação, em conformidade com a lei e a vontade dos artistas, é uma oportunidade para o design de desenvolver projetos inovadores e criativos, ainda que esta importância ainda seja difícil de aceitar, devido principalmente ao caráter marginal e provocatório das intervenções. Não é apenas no sentido sociológico do sentimento de insatisfação do indivíduo em relação ao meio, que as intervenções urbanas têm uma contribuição importante. As características das intervenções fazem deste meio uma poderosa forma de comunicação. É notório este facto pelo crescente número de projetos envolvendo estratégias de design, para comunicar uma ideia, ou fazer publicidade. O caráter participativo e interativo das intervenções, aumenta o impacto do resultado, e potencia a aceitação do público, e consequente sucesso do projeto, como podemos verificar nos casos de estudo apresentados.

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No documento Da noite para o dia: intervenções urbanas (páginas 93-98)

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