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2 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE MONTENEGRO/rs

2.1 aS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS EM MONTENEGRO/RS – HISTÓRICO E

2.1.5 Sítio Arqueológico RS-TQ-71 – Adão da Silva

Abrigo reconhecido e estudado pelo arqueólogo Pedro Augusto Mentz Ribeiro e equipe139, no ano de 1987. Está cadastrado até então apenas no CEPA/UNISC. Voltado para leste, suas dimensões são 50 X 4 X 10 m (comprimento X largura X altura). Sua parede é praticamente vertical, apresentando algumas inscrições que foram consideradas antigas pela equipe examinadora:

Possui muitos gravados recentes e alguns que consideramos antigos: gradeado oblíquo formando pequenos losangos, traços retos isolados, aproximadamente 20 pontos espalhados numa área de mais ou menos 1,0 X 1,0m, figura ovóide invertida (“vulva”?) e 5 depressões elipsóides alisadas. As dimensões variam entre 8 e 20 cm de comprimento, 0,5 e 1,0cm de largura e 0,7cm, em média, de profundidade; as perfurações possuem 1,0cm de diâmetro e as depressões, em média, 15,0 X 6,0 X 1,5cm. A parede é quase vertical (RIBEIRO; KLAMT; BUCHAIM; TORRANO RIBEIRO, 1989, p. 77).

Sua localização dentro do município de Montenegro ainda é contraditória, de acordo com alguns mapas e escrituras de propriedades da área em questão. No entanto, pela sua importância e pela grande probabilidade de estar efetivamente situado dentro dos limites montenegrinos, deve ser considerado.

139 Na equipe responsável pela pesquisa estavam Catarina Torrano, Joaquim Jorge Silveira Buchaim Ribeiro e

Figura 32: Aspecto frontal do sítio RS-TQ-71, ano de 2007 Fonte: Acervo próprio

O abrigo foi visitado em 2007, quando constatamos que as gravuras rupestres apresentavam muitas interferências por conta de marcas recentes, em alguns casos, inclusive, descaracterizando os desenhos originais. Algumas escritas contemporâneas já haviam sido detectadas por Ribeiro (1989).

Figura 33: Amostra parcial das inscrições nas paredes do abrigo sob rocha, em 2007 Foto: Acervo próprio

Figura 34: As intervenções recentes comprometeram as gravuras. Registro em 2007 Fonte: Acervo próprio

Figura 35: Detalhe da gravura rupestre em 11/11/2010 Fonte: Acervo próprio

Figura 36: Gravuras rupestres em 11/10/2010, com intervenções recentes em outros locais da parede Fonte: Acervo próprio

Outro aspecto a ser considerado era o de que o sítio arqueológico nesta época estava sendo utilizado como área de acampamento, sem nenhum cuidado quanto à preservação das inscrições rupestres, o que caracterizava o pouco ou nenhum entendimento acerca da importância do Patrimônio Arqueológico, o que, visto por outro ângulo, pode ser considerado como uma distância muito grande entre nossa pretensão arqueológica em preservar e os interesses pontuais de outras pessoas, com outros olhares sobre este local, que visavam recreação e registro de sua presença ali, com as mesmas técnicas (sem analogias entre mentalidades) que os nossos antepassados adotavam.

Este argumento pode ser explicado diante das colocações de Oliveira (2009), quando aplica o conceito de Umwel140 dentro dos estudos da arte rupestre, explicando que o Umwel sul-rio-grandense é o resultado da inter-relação de diferentes culturas que aqui chegaram em ondas migratórias diferentes, de acordo com o exemplo do município de Maquiné:

140 O Umwel depende, e corresponde, a um mapa cognitivo desenvolvido em cada indivíduo. Sugerimos que a

arte rupestre pode representar este mundo modelo, indicando, por exemplo, trajetos, fontes de água, flora, fauna, etc., ou seja, um mapa concreto de caminhos trilhados pelas sociedades passadas, como se verifica ainda hoje entre muitos indígenas brasileiros ou entre os aborígenes da Austrália.

No século XIX, o recém-criado Estado nacional brasileiro incentivou um processo de colonização com imigrantes europeus, que durou até o século XX. Nas encostas da serra encontramos, no município de Maquiné, inscrições realizadas por algum imigrante, gravadas sob rocha, indicando suas iniciais e uma data. Essa manifestação poderia ser considerada um exemplo de arte rupestre? Do mesmo modo, as inscrições que demarcaram o território das vacarias missioneiras, ou as pinturas dos aborígenes australianos que representam título de propriedade tratam- se de arte? Nos últimos quinhentos anos a arte rupestre continuou a ser produzida. Se considerarmos as inscrições ou pinturas em paredes, em vias públicas, notamos manifestações culturais do nosso tempo, em que tribos urbanas demarcaram seus territórios através de pichações e graffiti (OLIVEIRA, 2009, p. 423) [grifo do autor].

Figura 37: Área do RS-TQ-71 em 2007 Fonte: Acervo próprio

Vestígios de uso do local como acampamento.

Processo de intemperismo no arenito

Figura 38: Sítio arqueológico RS-TQ-71, ano de 2007 Fonte: Acervo próprio

Figura 39: RS-TQ-71 em 11/10/2010 Fonte: Acervo próprio

Em 10/10/2010 revisitamos o sítio arqueológico141 acompanhados de Daniel da Silva Becker, lindeiro das terras onde está localizado o abrigo sob rocha, visto que o proprietário das terras, Sr. Adão da Silva é bastante idoso e atualmente encontra-se enfermo. Segundo

Daniel, as terras estão sendo gerenciadas por seus filhos daquele, que atualmente destinam as terras do entorno do abrigo à silvicultura.

Figura 40: Área do entorno do RS-TQ-71, mostrando áreas de plantio de eucalipto Fonte: Acervo próprio

Quanto à conservação, observamos a grande quantidade de desabamentos, seja de blocos grandes, seja de blocos menores, fator já descrito por Ribeiro (1989). Outra observação relevante está relacionada com a decomposição do arenito, que desde 2007 apresentou grande diferença em termos de conservação. Como no caso de outros abrigos sob rocha mencionados neste capítulo, referenciamos o fenômeno geológico conhecido por intemperismo (SUERTEGARAY; ROSSATO, BELLANCA, FACHINELLO, CÂNDIDO, SILVA, 2008, p. 65; DARVILL, 2008, p. 495). .

O esfarelamento observado na rocha é tão intenso que o solo apresenta uma cobertura de pó de arenito, e as camadas superficiais da rocha se tornaram “macias”, o que tem estimulado ainda mais as intervenções nas paredes e a confecção de pequenas esculturas com os blocos descolados. Este tipo de procedimento já acontecia em 2007, conforme comentado anteriormente, bem como em séculos passados, visto que visualizamos muitas inscrições históricas.

Figura 41: Decomposição do arenito no RS-TQ-71, em 10/10/2010 Fonte: Acervo próprio

Figura 42: Inscrições históricas encontradas no RS-TQ-71 Fonte: Acervo próprio

Figura 43: Inscrições históricas encontradas no RS-TQ-71 Fonte: Acervo próprio

Figura 44: Inscrições recentes encontradas no RS-TQ-71 Fonte: Acervo próprio

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