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2 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DE MONTENEGRO/rs

2.1 aS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS EM MONTENEGRO/RS – HISTÓRICO E

2.1.4 Sítio Arqueológico RS-TQ-56 – Otílio de Matos

Trata-se de um abrigo sob rocha, isento de arte rupestre, situado na localidade de Bom Jardim, 5º distrito montenegrino, denominado Costa da Serra, cadastrado apenas no CEPA/UNISC. Conforme pesquisas anteriores realizadas por Ribeiro, entre os anos de 1981 e 1983, que geraram publicação a respeito (RIBEIRO; KLAMT; BUCHAIM; TORRANO RIBEIRO, 1989), neste sítio arqueológico foram encontrados dois fragmentos líticos (pedra polida), material lítico atribuído à Tradição Umbu, compostos por 122 lascas e 33 microlascas, nos vários níveis da escavação, além de 36 pedras de fogão132 (RIBEIRO, 1989, p. 90). Suas dimensões aproximadas são 50 X 10 X 6 m (comprimento X altura X profundidade).

Figura 26: Vista panorâmica obtida na localidade de Bom Jardim, indicando a proximidade do RS-TQ-56 com alguns sítios arqueológicos

Fonte: Acervo próprio

132 Estas eram acomodadas de modo que pudessem sustentar um pote cerâmico, no cozimento de alimentos. No

entanto, segundo descrições de Ribeiro, não foi mencionada presença de cerâmica no local.

Morro dos Azeredo, onde está localizado o RS-TQ-71

RS-TQ-56 Morro do Iê-Iê

Figura 27: Sítio Arqueológico RS-TQ-56, ano de 2007 Fonte: Acervo próprio

Em visita ao sítio arqueológico, em 01/07/07, verificamos que se encontrava bem preservado. Segundo o vizinho e o irmão da proprietária das terras, Sra. Marcina de Matos133, respectivamente Srs. Darmiro Lopes de Souza e José Ismael da Silva, que nos guiaram até o local, não há trânsito de pessoas para visita e uso do abrigo há anos.

Havia plantação de acácias e eucaliptos na propriedade, mas o entorno do sítio arqueológico, por estar localizado na encosta de um pequeno morro, preserva espécies de mata nativa, formando uma pequena floresta fechada, como um invólucro que ocultava sua área.

Apesar dos moradores locais desconhecerem, até aquela data, que o abrigo sob rocha tratava-se de um sítio arqueológico, o Sr. Darmiro relatou que esteve presente no processo de escavação, colaborando na retirada dos achados e que, desde então, a área não foi mais procurada para pesquisas. Segundo ele, da época da retirada do material encontrado, até então, não era do seu entendimento o propósito da pesquisa e inclusive pensava ser muito curioso “tanto trabalho e interesse” por “pedras” e “lesmas”134. Tais colocações reforçam a idéia de que é necessário o envolvimento da população local com os trabalhos, não só a título de

133 O Sr. Otílio de Matos, nome de identificação do sítio, quando de nossa visita, já estava falecido há alguns

anos. Hoje a proprietária e residente no mesmo endereço é a viúva, Sr. Marcina de Matos.

curiosidade e prestação de serviços, mas como parte consciente de um contexto que engloba, além das propriedades e plantações, um patrimônio arqueológico que mantenha vínculos com a identidade local.

Com o intuito de revisitar o sítio arqueológico135, entramos em contato novamente com o Sr. José Ismael e Sra. Neide da Silva, que então gentilmente nos receberam e concordaram com nosso pedido.

Acompanhados pelo Sr. José, constatamos que o abrigo, encontrava-se sem maiores alterações, porém bastante danificado nas paredes de arenito, evidenciando também um provável intemperismo136 (SUERTEGARAY; ROSSATO, BELLANCA, FACHINELLO, CÂNDIDO, SILVA, 2008, p. 65) ou possível corrasão137, visto que verificamos, respectivamente, vários deslocamentos de lâminas e/ou blocos de arenito da parte mais alta, que se esfarelam a ponto de formar um fino revestimento rosado, de pó de granito na superfície, bem como linhas horizontais, paralelas e contínuas de desgaste.

Figura 28:- RS-TQ-56 - Detalhes do “desgaste” do arenito Fonte: Acervo próprio

Também contatamos que o abrigo sofre interferências pelo constante trânsito da fauna local, já que observamos vários rastros de animais de pequeno porte e escavações recentes feitas por tatus. No entorno do sítio arqueológico permanece a silvicutura, mas sem afetar o abrigo, que se encontra na área de mata nativa mantida na encosta do pequeno morro.

135 A leitura das coordenadas nos forneceu os seguintes dados: 22 J 0440317 UTM 6722963, Altitude: 196 m. 136 Esta não é uma afirmativa, mas sim uma possibilidade a ser estudada, inclusive porque tal fenômeno tem sido

percebido em outros sítios arqueológicos e em alguns casos comprometendo a integridade de gravuras rupestres.

137 A

corrasão ou abrasão eólica constitui o desgaste mecânico das rochas pelo impacto das partículas de areia e pó arrastadas pelo vento (SUERTEGARAY; ROSSATO, BELLANCA, FACHINELLO, CÂNDIDO, SILVA, 2008, p. 87). Para comprovação da presença deste fenômeno no abrigo sob rocha é necessário estudo sobre as correntes eólicas da região, entre outros fatores, o que demanda uma outra etapa de pesquisa, envolvendo especialistas nesta área.

Importante mencionar que foram constatados dois tipos de marcas nas paredes, o que não significa que sejam antrópicas. Uma delas é circular (diâmetro aproximado de 10 cm), aparentando ser resultado natural, e outra, com linhas verticais paralelas (aproximadamente 13 X 10 cm), bastante semelhantes a alguns traços encontrados no petróglifo do Morro do Sobrado, nos sítios arqueológicos Virador I, II e III (Capela de Santana), RS-TQ-70 e RS-TQ- 54 (Vale do Caí). Certamente poderão, em outra oportunidade, ser avaliadas dentro de técnicas apropriadas138 para o estudo destes registros, o que então poderá nos fornecer informações mais plausíveis, comprovando ou descartando esta hipótese.

Figura 29: RS-TQ-56 - Marca circular encontrada próximo ao chão Fonte: Acervo próprio

Figura 30: RS-TQ-56 – Linhas verticais paralelas encontradas na parede do abrigo Fonte: Acervo próprio

Figura 31: O sítio arqueológico RS-TQ-56 em 23/10/2010 Fonte: Acervo próprio

A visita ao abrigo sob rocha foi terminada com a divulgação, por parte do Sr. José e Sra. Neide, de vários relatos sobre outros locais de interesse arqueológico, inclusive o conhecido por “cemitério dos índios”, pelos pais e avós de Neide. Os mesmos se

prontificaram em nos mostrar tal lugar, pois demonstraram grande interesse em aprender mais sobre “os índios do Bom Jardim”, entusiasmo também apresentado pela jovem filha, que sugeriu completar o roteiro da próxima pesquisa com a visita a uma cachoeira próxima, que pela descrição, parece estar relacionada a outro abrigo sob rocha.

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