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5.1. Ensino presencial versus EaD

5.1.1. Saída do ensino presencial e entrada no EaD

Tratando-se o público da Instituição de jovens, que se encontravam em situação de exclusão social, e em que a relação com a escola estava completamente desgastada, no GDF, os/as jovens mencionam os motivos em comum que levaram os pais a pedir ajuda à Instituição. Todos mencionam que se influenciavam pelos/as colegas da escola, tal como podemos constatar nestas duas citações:

na escola tinha uns amigos e eu influenciava-me por eles. Se eles não fizessem nada, eu não fazia nada e isso fez com que as minhas notas descessem muito e arranjava muitas confusões. Era quase todos os dias a ir para a direção da escola por causa das confusões que arranjávamos. Era só porrada e foi por isso que vim para aqui, porque aqui tem menos pessoas, é EaD e se houver confusões, tem sempre pessoas presentes para parar a confusão e falarmos sobre o que aconteceu. (GDF, rapaz, 13 anos, p.2)

tinha muito a influência das outras pessoas e as minhas notas começaram a cair.

Começava a estar desatento nas aulas, desrespeitava os colegas e essas coisas por causa dos amigos que tinha. Por isso, a minha mãe decidiu que aqui são menos colegas, há mais pessoas para nos ajudar, porque sendo poucos, vai haver menos confusão e mais

71 organização então é quase impossível aqui dentro andarmos à porrada porque as pessoas também têm muita cabeça e dá para controlar tudo. (GDF, rapaz, 12 anos, p.2)

É notório que os/as jovens se encontravam numa situação muito vulnerável, dado que, para as famílias já não apresentarem grandes laços de ligação com a escola, os/as jovens ainda se deixavam influenciar pelos/as colegas, por isso faltavam às aulas, estavam sempre em confusões, havia desrespeito pelos colegas e isso tudo se traduzia no mau aproveitamento escolar através das descidas das notas nas disciplinas. Como os pais já conheciam a forma de atuação da Instituição, pediram-lhe ajuda. Apesar da existência destes pedidos das famílias, como todas as escolas da zona da IPSS conhecem o trabalho que realizam, os/as profissionais referem que “nós vamos ver o que podemos aceitar, para também não tornarmos isto numa coisa insuportável.” (Entrevista com os/as profissionais, p.7) dado que

Às vezes são pessoas que já foram sinalizadas pela escola, pela CPCJ, pelo CAFAP, pelo Tribunal de Menores, já foram miúdos que vieram da escola. Mas isso não quer dizer que fiquem garantidamente aqui. Nós temos de assegurar que tenham um determinado perfil para ficar cá, senão, não dá. (Entrevista com os/as profissionais, p.7)

Quando afirmam isto, os/as profissionais tentam perceber qual o histórico das crianças e jovens para compreender se têm capacidade de ajudá-las/los. A prova disso, foi uma situação que acompanhei durante o estágio com um jovem que se encontrava institucionalizado devido a denúncias de agressão à progenitora e a alguns comportamentos desajustados quando frequentava a ensino presencial. Como o elo de ligação com a escola estava muito desgastado, quando ingressou na Instituição

“apresentou-se como sendo um aluno que não gosta de frequentar a escola” (Nota de terreno 9, p.15). A Instituição era uma alternativa para ele se conseguir voltar a integrar, contudo, nem houve tempo para intervir, uma vez que foi um jovem que apenas frequentou a Instituição durante um dia. Esteve desaparecido do local em que se encontrava institucionalizado, durante dois dias e o meu supervisor local explicou-me que

“a situação dele é muito complicada e que, por isso, a Instituição não o ia conseguir ajudar” (nota de terreno 12, p.20). Por isso é que os/as profissionais referem que têm de assegurar que as crianças e jovens têm um determinado perfil para frequentar a Instituição. Em situações como esta, é necessário um apoio maior do que aquele que a Instituição oferece.

72 5.1.1.1.A adaptação dos/as jovens

Estas crianças e jovens passaram por um momento de mudança em que tiveram de se adaptar a uma modalidade de ensino diferente e a uma Instituição com colegas e profissionais novos/as. Dessa forma, todos/as referem terem enfrentado uma difícil adaptação. Um jovem refere que “(…) tinha muito receio por vir para aqui, mas com o tempo fiquei mais à vontade e com a ajuda do [nome do responsável pelo grupo], porque com ele sentimo-nos sempre à vontade” (GDF, rapaz, 13 anos, p.7). Já outro, com uma história um pouco diferente, menciona que:

a minha adaptação foi muito mais complicada porque entrei mais no fim do primeiro período (…) e não tinha vaga na turma dos meus colegas. Por mais que eu continuasse a assistir às aulas deles sem estar inscrito, eu não podia falar, mesmo sabendo as coisas.

Não podia comunicar com os professores do EaD e com os meu colegas de turma. (GDF, rapaz, 12 anos, p.7)

Todos/as os/as jovens do grupo do sétimo ano ingressaram na Instituição no ano letivo de 2021/22, dessa forma, o facto de todos/as estarem a passar pela mesma experiência em conjunto, facilitou o processo de criação de laços entre os/as colegas.

Além disso, é necessário ter em conta que na modalidade de EaD que é adotada pela Instituição, tem-se a particularidade de contar com o apoio dos/as profissionais que se tornam determinantes em todo o processo, para o seu sucesso.

De forma a ajudar nesta adaptação, também a ESFB, prepara uma formação inicial para que as crianças e jovens aprendam a mexer nas plataformas online que vão utilizar nas aulas do EaD (Entrevista com os/as profissionais).

Apesar de mencionarem a dificuldade na adaptação, referem que: “conseguimos superar isso.” (GDF, rapariga, 12 anos, p.7)

Os/as profissionais referem outro olhar relativo à adaptação destes/as jovens à modalidade de EaD. Embora agora se encontrarem ambientados/as,

começam a sentir esta necessidade de se relacionarem com os outros, apesar de se sentirem muito mais seguros aqui, mas depois também têm essa necessidade que todos nós temos com a idade deles, começar com os namoriscos, relacionarem-se com outras pessoas. No início eles ficam entusiasmados, mas por força da idade vai-se notando mais essa necessidade. Os mais pequenos satisfazem-se com pouco e com poucas relações, os outros já é um bocadinho mais complicado. (Entrevista com os/as profissionais, p.5)

73 Verifica-se uma necessidade de se relacionarem com outros/as colegas. Apesar de estarem em contacto com os/as colegas que frequentam a Instituição, trata-se de um grupo pequeno, até vinte crianças e jovens com diferentes idades. Além destes/as colegas da Instituição, interagem com os/as colegas de turma do EaD, contudo, a interação não passa das mensagens privadas em grupos de chat que criam ou as videochamadas que realizam entre eles/as.