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A SAÚDE DO OPERADOR EM TURNOS DE REVEZAMENTO EM FURNAS

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3 O TRABALHO EM TURNOS DE REVEZAMENTO EM UMA EMPRESA

3.4 A SAÚDE DO OPERADOR EM TURNOS DE REVEZAMENTO EM FURNAS

no período compreendido de 2010 a 2015.

Tabela 2 - Perfil nosológico dos operadores de subestação em turnos de revezamento na unidade – 2010 a 2015

Fonte: dados dos exames ocupacionais dos operadores em turnos de revezamento, elaborados pelo médico do trabalho de FURNAS da unidade pesquisada (2016).

A partir de uma análise preliminar dos dados, fazem-se necessárias algumas ponderações:

1. Entre 2010 e 2011, o grupo de operadores da unidade onde a pesquisa foi realizada (subestação de Furnas no Centro-Oeste) era composto por 20 empregados; em 2012, por 23; em 2013, os operadores eram 19; em 2014, 12, e em 2015, por 13 empregados. Em 2016, ano de realização do trabalho de campo da pesquisa, o grupo de operadores da subestação era de 12 pessoas9. Nos anos de 2010 e 2011, três empregados não realizaram os exames médicos ocupacionais.

2. A partir de 2013, o quadro de trabalhadores foi reduzido por motivo de adesão voluntária de alguns empregados ao Programa de Desligamento Voluntário (PDV), oferecido pela empresa a empregados aposentados pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). 3. Com a redução do número de trabalhadores, o quadro de operadores ficou comprometido,

aumentando, consequentemente, as suas horas extras para atender à demanda da empresa, de forma a não trazer prejuízos ao setor elétrico brasileiro; porém, o grupo com número de operadores reduzidos pode sofrer prejuízos nas esferas física, social e familiar.

9 O perfil nosológico referente ao ano de 2016, apesar de solicitado à área de Saúde Ocupacional da empresa, não havia sido disponibilizado até o momento da finalização desta dissertação.

Ano Nº de func. Obesidade Hipercoleste- rolemia Hipertrigli- ceridemia Dislipidemia mista Diabetes HAS Hiperuri- cemia Taba- gismo imc > que 30% ldl-colesterol > que 132mg/dl Triglicérides > que 200mg/dl ldl e triglicérides altos Ácido úrico > que 7,2mg/dl 2010 20 03 / 15% 05 / 25% 06 / 30% 03 / 15% 0 / 0% 03 /15% 04 / 20% 0 / 0% 2011 20 03 / 15% 03 / 15% 06 / 30% 02 / 10% 0 / 0% 03 / 15% 04 / 20% 0 / 0% 2012 23 04/17,4% 04 / 17,4% 05 / 21,8% 02 / 8,7% 0 / 0% 04/17,4% 06 / 26% 0 / 0% 2013 19 03/15,8% 03 / 15,8% 04 / 21% 01 / 5,3% 0 / 0% 02/10,5% 03 / 15,8% 0 / 0% 2014 12 04/33,3% 04 / 33,3% 0 / 0% 0 / 0% 0 / 0% 03 / 25% 02 / 16,6% 0 / 0% 2015 13 01 / 7,7 % 04 / 30,8% 02 /15,4% 0 / 0% 0 / 0% 03 / 23% 01 / 7,7% 0 / 0%

4. Em 2015, o quadro aumenta com um trabalhador, transferido de outra área da empresa para compor o quadro de operadores dessa unidade. Em 2016, quando foi realizada a pesquisa na unidade, o quadro estava completo – 12 trabalhadores –, contando com um operador reserva para substituição de férias e ausências dos trabalhadores, de forma a não sobrecarregar o grupo com excesso de dias e horas trabalhadas.

Pertinente ao estado de saúde do grupo de trabalhadores pesquisado, com base na tabela 2, é possível identificar que nos anos de 2010 e 2011, seis trabalhadores, que na ocasião correspondiam a 30% do grupo, apresentavam alterações nos índices de hipertrigliceridemia (triglicérides altas). Nos anos de 2012 e 2013, o grupo de trabalhadores não apresentou nenhuma alteração nos exames médicos ocupacionais. Ressalva-se que alguns trabalhadores saíram do grupo por motivo de aposentadoria, conforme informado anteriormente.

Em 2014, quatro operadores, correspondentes a 33% do grupo, estavam acima do peso, considerando o Índice de Massa Corporal (IMC)10. Nesse mesmo ano, também 33% dos operadores apresentaram alterações nos exames de hipercolesterolemia (colesterol alto). Em 2015, novamente 33% dos trabalhadores, o equivalente a quatro operadores, apresentaram alterações nos exames de hipercolesterolemia (colesterol alto), mesmo índice apresentado no ano de 2014. No entanto, em reunião com o médico do trabalho da instituição pesquisada, o qual nos forneceu os dados dos exames periódicos apresentados na tabela 2, o profissional ressaltou que o grupo de trabalhadores em regime de turnos de revezamento não apresentava sérios problemas de saúde que demandassem uma atenção especial da medicina ocupacional da empresa.

Para Costa (2004), a realização de exames médicos é de extrema importância para detectar sinais precoces de dificuldade no ajuste ou na tolerância ao trabalho em turnos e noturnos, o que pode requerer intervenções imediatas em nível organizacional e individual. Segundo o autor, os exames e intervenções devem enfocar, principalmente:

(...) problema de sono, problemas digestivos, queixas psicossomáticas, acidentes, função reprodutiva nas mulheres, consumo de drogas, e considerar também as condições de moradia, problemas de transporte, carga de trabalho e atividades alheia ao cargo” (COSTA, 2004, p. 96).

10 Atribui-se a um IMC “superior a 25 kg/m2, a maior incidência de mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e alterações da vesícula biliar, sendo mais evidentes em indivíduos com IMC maior que 30 kg/m2” (ASSIS; MORENO, 2004, p. 102).

Fischer (2004) ressalta a afirmação feita por Colquhoun e Rutenfranz sobre as causas e efeitos percebidos pelos trabalhadores em turnos:

O estresse objetivo resultante das modificações e dessincronização dos ritmos biológicos causado pelo trabalho em turnos e as dificuldades e lentidão de ressincronização destes ritmos às modificações do ciclo vigília-sono induzem a um estado de desgaste no trabalhador em turnos que pode afetar sua eficiência no trabalho, sua saúde física e psicológica, seu bem-estar, sua família e vida social (COLQUHOUN; RUTENFRAN, 1980 apud FISCHER, 2004, p. 65).

Costa (2004) afirma que existe uma variação interindividual na tolerância ao trabalho em turnos. O autor aponta que, segundo vários estudos, 15% a 20% dos trabalhadores são forçados a deixar o trabalho em turnos em pouco tempo devido a problemas de saúde, enquanto 5% a 10% não apresentam qualquer queixa durante sua vida produtiva. “A maioria tolera o trabalho em turnos com diferentes níveis de má-adaptação, mostrando, em diferentes épocas da vida, a severidade da manifestação em termos de problemas ou doenças” (COSTA, 2004, p. 86).

Nos estudos de Fischer (2004), o grande número de variáveis que interferem no processo de tolerância ao trabalho de turnos e noturnos “impede de dar uma receita sobre o que levam esses trabalhadores a conseguirem lançar mão de estratégias mais eficientes para fazer frente aos múltiplos agravos causados pela organização do trabalho” (FISCHER, 2004, p. 70).

Com base no Relatório Anual de Saúde da instituição pesquisada, considerando não apenas o grupo de trabalhadores em turnos, mas todos os trabalhadores da mesma unidade, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), as doenças que mais causam afastamentos do trabalho são as dos grupos: M (osteomusculares) e F (transtornos psiquiátricos), segundo informações fornecidas pela área de medicina ocupacional da unidade pesquisada.

Dejours (2015b) aborda as incidências dos métodos de organização e de gestão da saúde mental, do pessoal médico e, de forma mais ampliada, dos trabalhadores do setor público. Para ele, surgiram grandes debates no espaço público a respeito do agravamento das patologias mentais ligadas ao trabalho e, mais especificamente, dos suicídios no trabalho:

Desde os anos de 1980, sabe-se que a saúde física dos trabalhadores está diretamente ligada às condições de trabalho (área convencional da medicina do trabalho e ergonomia), ao posso que sua saúde mental está ligada à organização do trabalho (DEJOURS, 1980 apud DEJOURS, 2015b, p. 225).

Não abrange apenas o sofrimento e as doenças mentais descompensadas. Ela concerne também ao prazer no trabalho e à construção da saúde mental através do trabalho. Com efeito, o trabalho nunca é neutro do ponto de vista da saúde. Pode ser a causa pior, até o suicídio no local de trabalho, mas pode também produzir o melhor, a ponto que, para muitas pessoas, o trabalho constitui um elemento decisivo na conservação de sua saúde mental (DEJOURS, 2015b, p. 225).

Assim, para identificar as doenças mentais no trabalho, apenas o exame médico ocupacional não é suficiente, sendo necessário um trabalho em nível mais amplo. Em virtude disso, a presente pesquisa sugeriu a implantação da Clínica Psicodinâmica do Trabalho com o objetivo de levantar informações que usualmente não são apresentadas pelos exames médicos ocupacionais e estão em níveis subjetivos que só serão alcançadas mediante a fala dos trabalhadores em turnos e noturnos.

O próximo capítulo trata, assim, do método utilizado para a elaboração deste estudo com base na Clínica Psicodinâmica do Trabalho.

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