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Sobrecarga de trabalho

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5 RESULTADO E DISCUSSÃO DA AÇÃO EM PSICODINÂMICA DO

5.1 CATEGORIA 1 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

5.1.5 Sobrecarga de trabalho

A sobrecarga de trabalho no caso em estudo emerge em decorrência da característica da função do operador de subestação aliado ao regime em turnos de revezamento, visto que labora em constante estado de alerta em jornadas não habituais, esperando algo acontecer, conforme narrativa de um operador:

O.11: Muitas vezes o que a gente considera que sobrecarga é muito mais a tensão de esperar que vai acontecer alguma coisa. Essa tensão pra mim é a pior... Se eu tenho um piscar de luzes ali eu sei que o sistema balançou e aquilo ali pode me comprometer em algum momento no decorrer do meu turno. Se eu olho para o céu e vejo que está chovendo uma tempestade eu sei que aquilo ali vai comprometer. São cenários que (...) sempre vai aumentando mais a tensão do trabalho.

Segundo relato, este tipo de situação pode causar tensão e angústia nos operadores, pois trabalham à espera de que algo negativo aconteça (um distúrbio, uma anormalidade), e isso os deixam em constante estado de alerta. Corroborando com essa afirmativa, os participantes do estudo de Silva et al. (2012) também expuseram queixas semelhantes, em que ressaltaram que a expectativa de que algo aconteça os deixa tensos e nervosos.

Frisa-se, ainda, que além da tensão proporcionada pela expectativa mencionada, há a tensão propiciada pela “pressão do tempo de ação”, pois, no caso de suspensão do fornecimento de energia ou outra anormalidade, o sistema életrico tem que ser restabelecido o mais rapidamente possível, visto que a demora em restabelecê-lo, além de gerar o transtorno à sociedade, enseja o pagamento de multa pela empresa denominada parcela variável . Deste modo, os trabalhadores têm de dois a três minutos para reestabelecer alguma anormalidade,

caso contrário, o motivo do não cumprimento do prazo estipulado deve ser informado e devidamente justificado.

Foi observado pelas pesquisadoras, durante os encontros coletivos, que a sobrecarga do trabalho não se dá tão somente pela rotina do trabalho em turnos na subestação, mas também pelo excesso de dias trabalhados nos casos em que são convocados no período de folga, bem como a carga diferenciada de atividades no turno matutino, em especial, conforme narrativa do operador O.3:

O.8: Outra situação é as convocações imediatas.... Você está na sua folga, você planeja sua folga eu vou fazer isso, isso e isso. Aí no seu segundo dia de folga alguém te liga: vem aqui na subestação.

O.3: Essa sobrecarga que o O.1 colocou é uma sobrecarga do excesso de dias (...) A operação trabalha mais ali na retaguarda, mas há de se reconhecer que os turnos da manhã ele tem uma carga de trabalho muito maior do que os demais turnos. Então nós temos mais rotinas, mais envolvimentos com a manutenção, mais trabalho sendo executados, mais frentes de trabalhos acontecendo.

A sobrecarga no trabalho apareceu também nas falas dos trabalhadores quando explicaram a forma como as subestações atualmente trabalham, na modalidade de telecomando13. Observe-se:

O.11: Hoje a gente está vivendo uma nova realidade aqui na empresa, que é a realidade do Telecomando, ou seja, eu já não sou só responsável pela minha estação, sou responsável pela minha estação e outras estações próximas.... Se eu pego um dia que tenho ocorrências e isso pode acontecer em duas, ou três estações simultâneas, aí vai acontecer o que o O.3 falou, você... fica ofegante... Muitas vezes o que a gente considera que sobrecarga é muito mais a tensão de esperar que vai acontecer alguma coisa.

O.7: Só que alguns momentos têm o excesso de serviço no mesmo horário.... Às vezes fica meio complicado você organizar isso tudo...

O.2: Eu acho bem carregado o turno. É um turno que é mais simples que usina, mas tem tanta coisa para fazer... Então a conclusão das atividades do turno essa rotina que a gente faz é muita coisa.

De acordo com esses relatos, os trabalhadores sentem-se sobrecarregados quando ocorrem distúrbios em outras unidades por eles supervisionadas via telecomando e quando acontecem os picos de serviços, em momentos de instabilidade do setor elétrico. Um dos operadores comenta que, além das atividades prescritas da operação, eles também são responsáveis por atividades que acontecem dentro da própria subestação, conforme as falas a seguir:

O.9: O turno aqui, o turno de operação é o que toma conta da subestação; então, de tudo que acontece aqui dentro, não é só a questão da perturbação, não é só questão da supervisão das linhas, supervisão de equipamentos, não é só a inspeção que se faz dos equipamentos para ver se está na ordem e tudo. Além disso, o turno de operação é o responsável por tudo que acontece na subestação.

O.2: Essa variedade aí que leva a gente o tempo todo buscando informações e tentando resumir as informações (...).

O.11: Eu não tenho tempo, não tenho tempo de stand by, tempo de ficar ocioso na Subestação, devido à demanda de tarefas que eu tenho.

Observou-se, portanto, que o grupo de operadores, ao relatar as experiências do cotidiano de trabalho, aponta a sobrecarga de tarefas, conforme trechos das falas dos operadores O.9 e O.2. É imperioso ressaltar que os operadores são técnicos especializados e treinados (vide nota de rodapé 1) para operar máquinas, sistemas e equipamentos de alta tensão e acabam assumindo outras atividades, algumas de cunho administrativo, conforme a fala do operador O.9: “Além disso, o turno de operação é o responsável por tudo que acontece na subestação.”

Nesse contexto, Seligmann-Silva (2016), ao analisar os impactos da reestruturação produtiva sobre a saúde do trabalhador, afirma que as empresas instauraram mudanças contínuas para obter o máximo de lucratividade com o mínimo de custo; com isso, os trabalhadores passaram assumir funções de polivalência, as equipes de trabalho foram reduzidas, houve a extensão de jornada e aceleração de ritmos, tudo a contribuir para a sobrecarga e o aumento das tensões no trabalho.

A partir do próximo item, serão apresentadas as falas coletadas no grupo de operadores de turnos que demonstram como os trabalhadores utilizam a mobilização subjetiva na execução de sua atividade laboral.

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