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A Saúde da Mulher no Contexto Brasileiro

2. SAÚDE DA MULHER, SAÚDE MATERNA E SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA

2.4 A Saúde da Mulher no Contexto Brasileiro

Ao nos reportarmos para o Brasil, compreendemos que qualquer discussão que se faça sobre a saúde da mulher, saúde materna e saúde reprodutiva não poderá deixar de ter como ponto de partida o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM), do Ministério da Saúde lançado em 1984. Este programa foi uma importante política pública na área da saúde, que estabeleceu suas linhas de ação em um modelo assistencial onde se incluíam integralidade e eqüidade. Foi concebido no início dos anos 80, rompendo com a práxis de todas as políticas governamentais até então desenvolvidas e restritas ao ciclo gravídico-puerperal. O PAISM representou um momento histórico e seu conceito foi se construindo na acumulação de experiências dos vários programas desenvolvidos pelo Ministério da Saúde e todas as organizações que ofereciam serviços de atenção à mulher, com destaque para algumas universidades brasileiras, onde incluímos a de Campinas - São Paulo e a Universidade Federal do Ceará.

Foram os programas verticais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como por exemplo, o Programa de Controle do Câncer de Colo Uterino e de Mama, o Programa de Prevenção da Gestação de Alto Risco, Planejamento Familiar e Aleitamento Materno, que contribuíram com dados importantes para a construção do conceito de atenção integral à saúde da mulher nos anos 80 (Pinotti, 1990). O mesmo podemos dizer do Programa

de Atenção Primária de Saúde da Maternidade Escola Assis Chateuaubriand – Universidade Federal do Ceará (1975 – 1991), que testou e validou um modelo humanizado de assistência ao parto e nascimento com tecnologias apropriadas, também muito contributivas a essa construção e que esteve participando dos intercâmbios de experiências a nível nacional e internacional no período de sua vigência (Araújo, 1983). O PAISM foi oficializado em 1984 pelo Ministério da Saúde e deste espaço participaram muitos profissionais das várias áreas da saúde e outras instituições, incluindo cientistas sociais e membros da rede de movimento de mulheres.

Essa oficialização é uma das referências que fundamenta e expressa a institucionalização da agenda feminista no Brasil e que também associou o feminismo brasileiro à saúde e aos direitos reprodutivos. De acordo com Osis (1998), não se pode deixar de reconhecer que esse fato antecipou entre nós, brasileiros, as discussões conceituais ocorridas posteriormente no Cairo.

O PAISM propunha um modelo de atenção da mulher ao longo do seu ciclo vital, sendo assim, tentava incluir a população adolescente e as mulheres após a menopausa. Como foi dito anteriormente, sua oficialização se deu em 1984, mas somente em 1985, o documento “Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher: Bases da Ação Programática” foi lançado, marcando o início das atividades de execução e coordenação entre todos os setores envolvidos no processo. Em maio/1986 o extinto Instituto Nacional de Assistência e Previdência Social (INAMPS) publicou a resolução 123/86, que normatizava o financiamento dos procedimentos médicos pertinentes a assistência à saúde da mulher. Em 1990, a lei 8080/90, dispôs sobre as condições para proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços e continha as bases regimentais do PAISM dentro do SUS – MS (Brasil, 1985 – 1997).

Nos dias atuais, há todo um conjunto de normas, portarias, protocolos e outros documentos que dispõe sobre a assistência e persegue a construção de serviços com visão de integralidade e eqüidade, acontecendo em um sistema descentralizado e regionalizado, enfatizando todas as ações: promoção, prevenção e recuperação, tal como requer o capítulo da assistência a saúde da mulher, conforme Norma Operacional da Assistência a Saúde (NOAS- SUS, 01/2001 e NOAS 01/2002). Um dos pontos mais marcantes do PAISM foi à ênfase na atenção preventiva e curativa, nas questões de informação sobre saúde e corpo da mulher, também antecipando, entre nós, brasileiros, o que depois foi chamado de empoderamento ou

emporwerment.

prática no nosso país, devido às grandes diferenças regionais, além das enormes dificuldades vivenciadas pelo sistema público de saúde, que também foram muito influenciadas por fatores políticos, econômicos e sociais. Apesar da sua não efetivação a nível nacional, as experiências demonstram que o maior sucesso deste programa nos diversos locais do Brasil esteve sempre ligado ao efetivo controle social, sério compromisso político e participação ativa das mulheres.

No Brasil, parece-nos que a conseqüência mais imediata de todo o processo foi se chegar ao fortalecimento das organizações da sociedade civil, tendo como resultado romper com a divisão entre o público, entendido como estatal, e o privado, compreendido como empresa.

A delegação brasileira que foi a Pequim, bem como o relatório preparado, foi cuidadosamente construído com a participação do governo brasileiro, de várias universidades, organizações não governamentais e das redes do movimento de mulheres.

Em Pequim, o grupo brasileiro sustentou e defendeu as seguintes prioridades: combate à pobreza e à violência, busca de melhoria dos aspectos concernentes a saúde, educação e comunicação. Depois da conferência de Pequim, o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM) – Ministério da Justiça, encampou a plataforma de ação e saiu a negociar com outros ministérios brasileiros a transformação dos compromissos em políticas públicas.

Na área da saúde, a primeira grande demanda negociada foi o planejamento familiar, já institucionalizado na constituição de 1988, que vinha seguindo ao ritmo das burocracias sem pressa e muito na informalidade. A segunda demanda, foi a execução do programa de Prevenção e Controle do Câncer de Colo Uterino e de Mama, priorizando as mulheres na faixa etária de 35 a 49 anos, que tiveram seu início através das campanhas de 1998 e, a partir desse primeiro momento, vem se fortalecendo.

O Ministério da Educação também negociou e se comprometeu a trabalhar nas escolas, preparando professores, alunos e pais, na tentativa de construir uma nova cultura baseada nas relações sociais e de gênero, à luz dos pressupostos da conferência.

O Ministério do Trabalho também respondeu com programas de capacitação e apoio a adolescentes vítimas de exploração sexual e a mulheres chefes de família. O Ministério da Justiça lançou o programa de combate de violência contra a mulher com estratégias específicas para vários ministérios.

Finalmente, o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM) desenvolveu grandes esforços de socialização e interiorização da plataforma de ação, que foi feito através dos conselhos estaduais de direitos da mulher, a exemplo do Ceará, ou similares, o que em

curto prazo de tempo alcançou vários estados da federação. Como era previsível, o trabalho foi reiniciado fortalecendo a assistência à saúde materna por ser um débito sanitário reconhecidamente importante para com a população feminina e por se ter sobre a situação alguns diagnósticos.

3. ORGANIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA AO ÓBITO