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I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 16


2. SEXUALIDADE RESPONSÁVEL 51


2.2. Saúde sexual 58


Segundo o Grupo de Trabalho de Promoção da Saúde (2002), uma sexualidade sã inclui três conceitos básicos: “la aptitud para disfrutar de la adividad sexual y reproductora y para regularla de conformidad a una ética personal y social; La ausência de temores, sentimentos de vergüenza y culpabilidad, de creencias infundadas y de otros factores psicológicos que inhiban la vivencia de la sexualidad o perturben las relaciones sexuales; La ausencia de trastomos orgânicos Y de enfermedades Y deficiências que entorpezcan la actividad sexual y reproductora.”

Nos últimos anos, a saúde sexual e reprodutiva dos jovens tem sido objecto de medidas legislativas e políticas, específicas – Lei 13/84 “Direito à Educação Sexual e ao Planea- mento familiar”, Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei 120/99 e o DL 259/2000 – reforçam as garantias do direito à saúde sexual e reprodutiva dos jovens e contempla os pressupostos para a implementação de projectos na área da promoção da educação sexual e do acesso dos jovens a cuidados de saúde no âmbito da sexualidade e do planeamento familiar (Dias, 2009).

Nodin (2001) faz referência a vários factores que explicam o aparecimento da Saúde Sexual e Reprodutiva. De acordo com Ogden (1999), citado por Nodin (2001) a sexuali- dade foi concebida enquanto função biológica tendo como objectivo a reprodução, posteriormente tendo como objectivo o prazer e acabou, nas últimas duas décadas, por ser concebida como um potencial risco para a saúde, ou seja, como uma maneira através da qual os indivíduos podem pôr em causa o seu bem-estar e integridade física.

O conceito de Saúde Sexual procura, então, ter uma abordagem multidimensional da sexualidade humana, não limitada apenas aos seus aspectos biológicos e fisiológicos.

São integradas as facetas emocionais, afectivas e relacionais da sexualidade, abordam-se questões tais como a autodeterminação sexual, a comunicação entre parceiros, a atracção e o amor, as normas e valores, o comportamento sexual e a vivência da sexualidade, entre outras.

O conhecimento acerca dos aspectos da sexualidade e dos comportamentos sexuais, é por vezes limitado para o desenvolvimento e a implementação de programas de intervenção efectivos, oportunos e direccionados a investigação no âmbito dos seus conhecimentos, atitudes e comportamentos sexuais e da infecção. Os estudos têm demonstrado que as intervenções preventivas não se podem centrar somente na diminuição ou na eliminação das variáveis ligadas ao risco, devendo, também, desenvolver processos que estimulem as potencialidades e os factores protectores de modo a promover a saúde. Muitos estudos focam predominantemente os factores individuais que podem contribuir para a adopção de comportamentos sexuais de risco. Tendo em conta a complexidade do fenómeno, a investigação centrada nos factores individuais limita a compreensão das associações a todos os factores envolvidos. Por outro lado, as avaliações das intervenções centradas no individuo parecem demonstrar que estas, na sua maioria, apenas produzem mudanças comportamentais de curta duração. Em Portugal, a saúde sexual e reprodutiva tem merecido uma crescente atenção reconhecendo-se que os jovens constituem um dos grupos sujeitos a maiores riscos nesta área. Os aspectos relacionados com a saúde e aos estilos de vida são complexos, uma vez que os comportamentos relacionados com a saúde são resultado de várias influências e, por outro lado, constituem um dos principais factores determinantes dos estados de saúde/doença (Dias, 2009).

A sexualidade é uma dimensão da vida pessoal, das relações interpessoais e da vida em sociedade e, neste contexto, é também área privilegiada de intervenções profissionais diversas e um objecto de estudo científico. Várias foram as motivações que despertaram este interesse profissional e científico pela sexualidade humana: de um lado, a saúde mental que relacionou a vivência da sexualidade como fonte de bem-estar ou de mal-estar pessoal e relacional; de outro lado, a saúde pública que teve de confrontar-se com problemas importantes relacionados com a sexualidade, nomeadamente, o problema das gravidezes não desejadas e do recurso ao aborto, as IST e, em particular, nas últimas duas décadas a emergência do VIH/Sida, e o problema da gravidez e maternidade precoces em jovens e adolescentes (Vilar, 2008).

A consciencialização generalizada da incapacidade até ao momento, de eliminar o vírus do VIH/Sida suscitou, já no final do século XX, consideráveis esforços por parte da comunidade científica. O posicionamento social face ao Sida afectou a forma como se desenvolveram as investigações ao longo do tempo. Nas sociedades modernas, a saúde tornou-se um indicador do equilíbrio de bem-estar geral e de desenvolvimento social, económico e cultural. A problemática do Sida fez transparecer as vulnerabilidades e fragilidades dos países mais desenvolvidos e distanciou, ainda mais, os países pobres no que respeita aos indicadores de saúde (ONUSIDA, 2000 citado por Vieira, sd).

A compreensão de que muitos destes problemas são particularmente acentuados nos grupos socialmente mais desfavorecidos e que são um dos factores geradores de pobreza, colocou a sexualidade, a educação sexual e as políticas de saúde sexual e reprodutiva no contexto do desenvolvimento e das políticas de luta contra a pobreza (Vilar, 2008).

A Educação para a Saúde, na qual se integra a Educação Sexual, concentra-se na mudança de atitudes e crenças, julgados, como determinantes do comportamento, tendo em vista a promoção do melhor estado de saúde. Paralelamente a este movimento educativo, a promo- ção da saúde, com o objectivo de melhorar a saúde e prevenir a doença, estendeu-se a campos sociais e legislativos. Tal aconteceu com a Educação Sexual. O Estado, numa pers- pectiva de melhorar a saúde dos adolescentes e prevenir a doença, deu início a um processo legislativo e de implementação da Saúde Sexual e Reprodutiva nas escolas através do con- ceito Educação Sexual. A Educação Sexual tem como objectivo a integração harmoniosa das diversas facetas da sexualidade humana, promovendo a aquisição de uma postura res- ponsável, flexível e gratificante de crianças e jovens enquanto seres sexuados. Neste senti- do a Educação Sexual foi pensada através de uma abordagem transversal não reducionista, isto é, respeitando uma estrutura multifacetada da sexualidade humana, abordando relações interpessoais, responsabilidades, anatomia e fisiologia, etc. (Sentidos e Sensações, 2004). Sarjeant (1993) citado por Nodin (2001), defende que as dificuldades existentes na adesão a comportamentos sexuais e contraceptivos seguros se podem atribuir, em grande medida, ao desconforto dos técnicos de planeamento familiar em lidar com as questões do prazer sexual dos seus utentes. Esta autora afirma ainda que enquanto não se aceitar que o planeamento familiar tem a ver com sexo, saúde e prazer sexual, continuamos a emitir mensagens e a prestar serviços que não têm em consideração as necessidades dos nossos utentes.

A utilização de uma lógica meramente racionalista para efeitos de prevenção de, doenças ou de minimização de riscos é pouco motivadora para os jovens, pois, vivem em plena saúde e sob a influência de fortes pulsões (Oliveira, 2008).

Investigações na área da educação por pares sugerem que os educadores de pares têm, maior aceitabilidade e facilidade para alcançar as populações de mais difícil acesso, no sentido de traduzir mensagens de educação para a saúde para que sejam culturalmente adequadas e para comunicar essas mensagens aos jovens na medida em que têm uma influência importante nas normas, atitudes e comportamentos. A educação de pares parece ser também mais efectiva do que a educação tradicional quando ao lidar com a sexualidade e em que estão envolvidos valores pessoais, culturais e questões emocionais (Dias, 2009). Contudo, Nodin (2001) adverte para o facto de que falar com os amigos e colegas é uma das formas mais habituais de aquisição de informação de sexualidade junto dos jovens. É através dos amigos que o processo de socialização se efectua. Esta procura de informação tem as suas vantagens e as suas desvantagens. As desvantagens prendem-se com o facto de que muitas vezes, os conhecimentos que os jovens têm sobre sexualidade são incorrectos, fundamentados em crenças deturpadas ou falsas.

O GTES (2007) salienta que o espaço familiar é privilegiado para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos saudáveis na área da sexualidade. Os exemplos dos pais e irmãos, a forma como os familiares comunicam valores e crenças face à sexualidade, os comentários sobre notícias dos jornais, programas de televisão ou sítios da internet, constituem modelos e referências muito importantes para alguém que está a fazer o seu percurso pessoal, em busca da identidade e autonomia, só conseguidas no final da adolescência. Por isso, sempre se definiu como fundamental a participação dos encarre- gados de educação nas diversas fases dos programas de educação para a saúde em meio escolar e a cooperação entre a escola e a família como uma das vertentes nucleares dessas actividades. A escola também deve ser considerada como um contexto importante para possibilitar aos estudantes um aumento dos seus conhecimentos na área da sexualidade e para a promoção de atitudes e comportamentos adequados e com menores riscos. Nunca se deverá esquecer que compete à família a educação dos seus filhos, mas deverá organizar-se numa perspectiva de cooperação com os agregados familiares, de modo a conseguir não só potenciar a informação pertinente, mas também tentar promover um conjunto de comporta- mentos ajustados e sem riscos no campo sexual.