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I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 16


1. O COMPORTAMENTO SEXUAL NOS JOVENS ADULTOS 16


1.4. Sexualidade e contexto social 32


Freud (1962) apresenta a sexualidade humana dependente de instintos e impulsos. Erikson (1982) postula que os seres humanos podem controlar os instintos e os impulsos através da socialização. Gagnon e Simon (1973) consideram que o comportamento sexual humano é determinado, também, pela sociedade. Money e Ehrhardt (1982) consideram que a vida sexual depende das hormonas e Bancroft (1989) chama a atenção para o importante e óbvio papel que os pais podem ter na modelação dos comportamentos e atitudes dos seus filhos, relativamente à adequação aos papéis sexuais; ser ele ou ela, não só no corpo, mas também na expressão emocional e na responsabilidade nas relações interpessoais (Roque, 2001).

O comportamento sexual dos jovens é, actualmente, uma das principais preocupações da saúde pública internacional e nacional pela sua associação a várias consequências indesejáveis que, directa ou indirectamente, afectam a saúde e o bem-estar dos adoles- centes, nomeadamente pelo VIH/Sida, IST e gravidez indesejada (Dias, 2009).

Vários autores, nomeadamente Dias (2009), salientam a necessidade de dar mais atenção ao carácter contextual e interactivo do comportamento sexual de forma a aprofundar a compreensão acerca da adopção de comportamentos sexuais. Dados recentes indicam que os jovens se tornam sexualmente activos em idades cada vez mais precoces (WHO, 2006). Para além dos riscos físicos que os adolescentes podem experimentar em resultado da actividade sexual, parece existir uma consistente evidência de que a actividade sexual precoce está associada a menores níveis educacionais e a maiores desvantagens económicas, trazendo consequências com implicações quer ao nível do indivíduo, quer ao nível social e económico das sociedades em que estes fenómenos ocorrem (UNESCO, 2004).

Crescer e amadurecer evolutivamente, tanto no nível somático como no psíquico, não pode ser separado das condições sociais e culturais integradoras, num determinado espaço (Ravagni, 2007).

Alferes (2002) é de opinião que, a eficácia das encenações culturais, tal como a das normas, sanções e avaliações correlativas, na regulação dos comportamentos sexuais dependem, da eficácia das estratégias de socialização e educação que lhes asseguram a reprodução e manutenção através das gerações. Nas sociedades ocidentais contempo- râneas, uma das formas ou processos privilegiados de controlo social da sexualidade traduz-se na escolarização da educação sexual, tida como prolongamento ou complemento da educação familiar.

Efectivamente, não se é adolescente num dia e adulto no dia seguinte. Em sociedades como a nossa, esta passagem decorre lentamente, e traz consigo mudanças e ajustamentos importantes nas áreas do desenvolvimento psicossocial, cognitivo, papéis sexuais e profissionais, sendo qualquer jovem adulto um indivíduo que se afasta cada vez mais das suas experiências adolescentes, para passar a viver um estilo de vida cada vez mais, mas não totalmente, adulto (Pinheiro, 2003).

Razões de tipo cultural têm vindo a retardar, na nossa sociedade, a entrada dos jovens na vida adulta. Se por um lado se considera que a partir dos 18 anos são responsáveis pelos seus actos, nomeadamente do ponto de vista jurídico, por outro lado não lhes são assegu- rados os recursos necessários, negando-se as suas capacidades, para uma vida em completa autonomia face à família de origem (Roque, 2001).

Os comportamentos e as práticas sexuais são determinados pelas instituições sociais, desde o modo de organização dos grupos familiares e sociais aos tipos de assimetrias materiais e simbólicas que os separam. Os factores demográficos, como por exemplo, o ratio homens/mulheres existentes numa dada formação social, constituem, também, determi- nantes estruturais dos comportamentos sexuais (Guttentag & Secord, 1983 citado por Alferes, 2002).

Em cada ambiente social prima um ideal de ser humano e por meio dele, estabelecem-se pautas de vida. É a herança histórico-cultural que se propaga, impondo situações específicas dentro de um espaço social e cultural determinado. Dessa forma, a unidade sexuada, que cada ser humano é ou representa, na tentativa de poder chegar a definir-se um ser humano sexuado, emerge como uma dinâmica de desenvolvimento, constituindo a linha central desse processo (Ravagni, 2007).

As culturas sofrem alterações ao longo do tempo tal como a sua abordagem da sexuali- dade. A sociedade ocidental fez na primeira metade deste século uma transição, bem sucedida, de uma cultura sexual repressiva para uma cultura sexual restritiva. Nas últimas décadas assiste-se a outra transição: as regras restritivas estão a ceder perante uma maré de permissividade sexual (Roque, 2001).

Segundo Currier (1981) citado por Roque (2001) as culturas humanas variam de um extremo a outro relativamente à forma como encaram a sexualidade. O autor classifica-as em quatro categorias: culturas sexualmente repressivas, culturas sexualmente restritivas, culturas sexualmente permissivas e culturas sexualizadas.

As culturas sexualmente repressivas têm tendência para negar a sexualidade, uma vez que consideram o sexo uma área extremamente perigosa do comportamento e atribuem uma virtude, especial à inactividade sexual. É típico destas culturas proibirem todas as formas de sexo excepto as necessárias à procriação, o que requer a castidade pré-matrimonial, a disciplina sexual no matrimónio e a imposição da ignorância sexual aos jovens. O jogo sexual é estritamente proibido às crianças. A sexualidade adolescente e adulta, na medida em que existem, estão associados à culpa e ao medo, sendo o prazer sexual desvalorizado. As culturas sexualmente restritivas estão orientadas para a delimitação da sexualidade. As brincadeiras sexuais das crianças são fortemente desencorajadas. A castidade pré-matri- monial é requerida, pelo menos a um dos sexos, embora alguma tolerância seja garantida

ao outro. Em geral estas culturas são ambivalentes acerca da sexualidade. O sexo tende a ser temido, não, em si próprio mas nos problemas que pode desencadear.

As culturas sexualmente permissivas, orientam-se para a tolerância da sexualidade. Embora existam proibições formais, são pouco exigentes no controlo da sua observância. As brincadeiras sexuais das crianças podem ser permitidas, desde que se mantenham fora da vista dos adultos; estes ignoram-nas. Adolescentes de ambos os sexos têm uma considerável liberdade sexual e o sexo pré-matrimonial é considerado normal.

O comportamento sexual dos jovens adquire nesta sociedade um carácter praticamente clandestino. É simultaneamente permitido e negado, uma vez que, nem os pais, nem o sistema educativo, nem o sistema de saúde oferecem condições a estes jovens para que vivam uma sexualidade sem risco (implementando uma verdadeira educação sexual e oferecendo apoio técnico) (Oliveira, 2008).

López e Oroz (1999) citados por Roque (2001) consideram, pelo que foi referido, que a adolescência e a juventude se convertem em grupos de risco: pela possibilidade de terem experiências inadequadas sexual e relacionalmente; pelos riscos de uma gravidez não desejada e pelos riscos de contágio de IST. A representação da vida sexual nunca é de natureza simplesmente intelectual, dado que a sexualidade se encontra investida pela força pulsional. Na adolescência, as forças pulsionais são muito intensas e a maturação intelectual está ainda incompleta, sendo, portanto, um período mais propenso a comporta- mentos que facilitam gravidezes inoportunas e IST, incluindo o VIH/Sida (Oliveira, 2008). As culturas sexualizadas cultivam a sexualidade, sendo o sexo considerado indispensável à felicidade humana. A experiência sexual infantil é considerada uma componente essencial para um desenvolvimento biológico e social normal. Um conjunto de costumes e instituições fornecem informações e oportunidades sexuais aos jovens, independentemente da idade, encorajando-os a desenvolverem as suas competências sexuais. A existência de locais de encontro para a prática das actividades sexuais dos jovens é aceite e legitimada socialmente. O prazer sexual é valorizado e procurado por ambos os sexos, sendo a ausência de prazer sexual considerada intolerável e motivo suficiente para terminar uma relação ou um casamento (Roque, 2001).

A sociedade é cada vez mais permissiva com o comportamento sexual dos jovens e estes, de facto, iniciam as relações sexuais cada vez mais cedo. Mas a sociedade, o sistema

educativo e o sistema de saúde, não aceitam que os jovens possam ser sexualmente activos (Roque, 2001).

Parece ser claro assim, que o meio social e ambiente no qual o jovem se insere se vai reflectir a um nível muito específico do seu comportamento sexual e também, portanto, nos níveis de risco que ele irá correr. Vê-se aqui reforçada a ideia de que não é possível conceber o indivíduo fora do contexto que se constitui enquanto uma matriz interrelacional determinante, fundar a influência destes factores, nomeadamente no que respeita à influência que poderá ter a mobilidade característica das sociedades modernas, acentuada no grupo dos jovens adultos por motivos de estudo ou acesso facilitado a meios de transporte (Nodin, 2001).