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4 FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO JORNALISTA

4.2 Saberes da formação do jornalista

As DCN para o curso de Jornalismo no Brasil estabelecem que o desenvolvimento das competências listadas na seção anterior deve ser feito por meio de eixos de formação curricular. São eles: de fundamentação humanística; eixo de fundamentação específica; eixo de fundamentação contextual; de fundamentação profissional; de fundamentação processual; e eixo de prática laboratorial. Estes eixos deverão estar contemplados no projeto pedagógico dos cursos e se fazer presentes no currículo por meio de disciplinas (BRASIL, 2013).

O eixo de fundamentação humanística é definido como aquele que tem como objetivo capacitar o jornalista para exercer a função intelectual de produtor e difusor de informações. Para que se alcance este objetivo, a Resolução nº 1 do CNE/CES/2013 (BRASIL, 2013), propõe em seu artigo 6º que seja privilegiada na formação do jornalista a realidade brasileira, a partir da sua formação histórica; sua estrutura jurídica; sua geografia e economia política; suas raízes étnicas, crenças e tradições; sua arte, literatura e ciência; suas políticas públicas, desenvolvimento sustentável, oportunidades de esportes, lazer e entretenimento e acesso aos bens culturais. Há destaque, ainda, para a necessidade de compreensão dos processos de globalização, de regionalização e singularidades locais, comunitárias e da vida cotidiana.

Percebe-se neste eixo a preocupação com a formação global do profissional, incluindo as diversas áreas que permeiam a vida em sociedade. Nota-se, no entanto, que, embora o seu foco esteja na realidade local, há espaço para a reflexão sobre como essa realidade interage com eventos que extrapolam as fronteiras do país, por meio da globalização.

O eixo de fundamentação específica é definido como aquele que busca proporcionar ao jornalista clareza conceitual e visão crítica sobre sua profissão. Para tanto, ele deve abordar os fundamentos históricos, taxonômicos, éticos e epistemológicos da atividade, além de itens como ordenamento jurídico e deontológico; pensadores; manifestações públicas; instrumentos de autorregulação; análise crítica e comparada; e revisão de pesquisas (BRASIL, 2013).

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Neste eixo, nota-se a busca por uma visão crítica sobre a atividade jornalística. Há o direcionamento para o resgate histórico, ético e epistemológico como forma de proporcionar ao profissional a reflexão sobre a atividade a qual desempenhará.

O eixo de fundamentação contextual busca dar embasamento, ou seja, contextualizar o conhecimento das teorias da comunicação, informação e cibercultura em suas dimensões filosóficas, políticas, psicológicas e socioculturais. Conforme as DCN, esse eixo deve incluir as rotinas de produção e os processos de recepção, assim como a regulamentação dos sistemas midiáticos, em função do mercado potencial e princípios de áreas conexas (BRASIL, 2013).

Observa-se que os eixos seguem uma sequência gradativa de complexidade e que buscam delimitar o conhecimento paulatinamente. No eixo de fundamentação contextual, por exemplo, há a utilização de conhecimentos adquiridos nos dois eixos anteriores, promovendo desta forma uma interlocução entre as estruturas de conhecimento propostas.

O eixo de formação profissional busca fundamentar o conhecimento teórico e prático. Este eixo tem como proposta inserir os estudantes em processos de gestão, produção, métodos e técnicas de apuração, redação e edição jornalística. A proposta, conforme as DCN, é que eles sejam capazes de investigar os acontecimentos relatados, exercendo a prática redacional, de acordo com os gêneros e formatos instituídos e as inovações existentes (BRASIL, 2013).

Percebe-se, neste eixo, a busca por introduzir os estudantes em uma realidade próxima àquela que eles encontrarão no mercado de trabalho. Para que isso ocorra, no entanto, há a necessidade de desenvolvimento dos eixos de conhecimento anteriores.

O eixo de aplicação processual é definido pelas DCN como aquele que tem como proposta fornecer ferramentas técnicas e metodológicas ao jornalista. O objetivo deste eixo é possibilitar a atuação do profissional nos diversos suportes existentes: jornalismo impresso, radiojornalismo, telejornalismo, webjornalismo, assessorias de imprensa (BRASIL, 2013).

Por fim, o eixo de prática laboratorial busca desenvolver as habilidades a partir da aplicação de informações e valores. Conforme a Resolução do CNE, este eixo busca integrar os demais eixos, com base em projetos editoriais definidos e orientados a públicos reais, com publicação efetiva e periodicidade regular. São exemplos jornais, revistas, livros, radiojornais, telejornais, webjornais, agências de notícias e assessorias (BRASIL, 2013).

A proposta deste eixo é materializar, através de práticas laboratoriais, o conhecimento adquirido. O eixo busca proporcionar aos estudantes a experiência prática em atividades que eles desempenharão a partir da graduação, seja em meios impressos, sonoros, audiovisuais ou digitais. Sua função é integrar a teoria e a prática, a partir de modelos reais (BRASIL, 2013).

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Segundo Teixeira e Marinho (2016, p. 2), os eixos de formação propostos pelas DCN buscam adaptar o currículo a possibilidades de uma nova formação: “o objetivo é formar os acadêmicos com competência teórica, técnica, tecnológica, ética e estética, além de preparar os alunos para atuarem num contexto de mutações tecnológicas constantes”, ressaltam.

Esses eixos, porém, devem servir apenas como princípios norteadores. Conforme a Resolução CNE/CES nº 1/2013, as instituições de ensino superior têm liberdade para selecionar, propor, denominar e ordenar as disciplinas do currículo. Para tanto, devem considerar os conteúdos, o perfil do egresso e as competências listadas (BRASIL, 2013).

O documento prevê que a organização curricular, entretanto, deve buscar o equilíbrio e a integração entre teoria e prática durante a realização do curso, considerando aspectos como carga horária equilibrada dos eixos curriculares; distribuição de atividades laborais, a partir do primeiro semestre do curso, em sequência progressiva de complexidade e de aprendizagem; e garantia de conhecimento da realidade, nos âmbitos local, regional e nacional.

A resolução estabelece ainda que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e o estágio supervisionado são considerados como componentes curriculares obrigatórios, sendo o TCC desenvolvido individualmente e realizado sob a supervisão docente e o estágio supervisionado sendo realizado em instituições públicas, privadas ou do terceiro setor, como uma das formas de consolidar práticas de desempenho profissional (BRASIL, 2013).

Há a previsão de que o TCC pode ser materializado em um trabalho prático de cunho jornalístico ou de reflexão teórica sobre temas relacionados à atividade jornalística. O produto deve, conforme a resolução, vir, necessariamente, acompanhado por relatório, memorial ou monografia de reflexão crítica sobre sua execução, reunindo e consolidado a experiência do aluno com os diversos conteúdos estudados durante o curso.

Sobre as atividades do estágio curricular supervisionado, as DCN preveem que elas devem ser programadas para os períodos finais do curso, o que possibilita aos estudantes um teste dos conhecimentos assimilados nas aulas e nos laboratórios. Neste cenário, cabem aos profissionais responsáveis pelo acompanhamento, supervisão e avaliação do estágio curricular avaliar e aprovar o relatório final desenvolvido pelo estudante (BRASIL, 2013).

Estas atividades de estágio curricular supervisionado, conforme a resolução do CNE, devem ser incluídas nos PPC, de modo que cada IES possa a disciplinar (após aprovação dos colegiados de curso) os critérios, os procedimentos e os mecanismos de avaliação do estágio.

Por fim, as IES ficam autorizadas a adotar suas próprias regras de avaliação interna e externa, para que sejam sistemáticas e envolvam os recursos materiais e humanos participantes

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do curso desde que centradas no atendimento às DCN do curso de Jornalismo, aprovadas pelo MEC (BRASIL, 2013).