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4 OS CAMINHOS DA PESQUISA

4.2 ANÁLISE DOS DADOS

4.2.1 O que pensam e dizem os professores – análise dos questionários

4.2.1.4 Saberes docentes

Para caracterizar os cursos de formação continuada ofertados pela mantenedora com relação ao diálogo epistemológico entre a teoria e a prática dos professores, os participantes da pesquisa foram indagados se as estratégias didáticas utilizadas nos cursos de formação continuada e as concepções teóricas abordadas tem levado em consideração as suas experiências em sala de aula?

Verificou-se que 6 professores responderam que “não” tem levado em conta suas experiências e 2 professores responderam que “sim”.

As justificativas apresentadas pelos participantes que responderam “não” foram que os conteúdos (temas) são irrelevantes e fora do contexto de sala de aula e da escola; processo mecânico de leitura; as respostas a questões e discussões sem aprofundamento teórico; além de um participante (PF4) citar o fato de que nestes momentos de formação há a apresentação de vídeos institucionais que são, na sua visão, de caráter político e administrativo. Caracterizaram também como um trabalho repetitivo e de caráter estatístico que não reflete a realidade da escola. (APÊNDICE 5 – QUADRO 10).

De acordo com as análises das respostas dos participantes, a formação continuada deve partir do levantamento das necessidades de formação continuada dos professores e da realidade das escolas, para assim, ter sentido e significado para eles. Levar em conta as experiências dos professores para assim pensar um modelo de formação continuada que vá ao encontro dos anseios dos professores é o que afirma Pimenta (2005, p. 20) quando define que: “os saberes das experiências são também aqueles que os professores produzem no seu cotidiano docente, num processo permanente de reflexão sobre sua prática, mediatizada pela de outrem – seus colegas de trabalho, os textos produzidos por outros educadores”.

A autora identifica três tipos de saberes da docência: a) da experiência, que seria aquele aprendido pelo professor desde quando aluno, com os professores significativos etc., assim como o que é produzido na prática num processo de reflexão e troca com os colegas; b) do conhecimento, que abrange a revisão da função da escola na transmissão dos conhecimentos e as suas especialidades num contexto contemporâneo e c) dos saberes pedagógicos, aquele que abrange a questão do conhecimento juntamente com o saber da experiência e dos conteúdos específicos e que será construído a partir das necessidades pedagógicas reais.

Enquanto os saberes do conhecimento e os saberes pedagógicos podem facultar ao professor ser apenas um agente de transmissão ou objeto dos saberes, o saber da experiência resulta de escolhas, decisões e ações que envolvem intencionalidade, possibilitando-lhe construir saberes próprios, mediante a prática. Compreender a prática docente, no entanto, não significa simplesmente identificar tais saberes, mas evidenciar como eles se articulam, constituindo “o saber docente” no sentido amplo, como síntese das diferentes dimensões do saber, saber fazer e saber ser. (PIMENTA, 2005).

Nóvoa (1992, p. 29) afirma que a formação continuada acontece ao longo da vida do professor, por isso esta formação deve ser vista “como um processo permanente integrado no dia-a-dia dos professores e das escolas”. Imbernón (2009) afirma que a formação continuada deve incidir nas situações problemáticas dos professores; deve desenvolver a colaboração entres os professores; deve potencializar a identidade docente; deve criar comunidades formativas;

deve ser introduzida no desenvolvimento do pensamento da complexidade e, por fim, deve ter em conta o desenvolvimento emocional e atitudinal do professor.

Os 2 participantes que responderam “sim” justificaram que possibilitam momentos de trocas de experiências e novos aprendizados. Ressalta-se aqui a convergência entre as respostas das questões 9e 10do participante PF2 no que diz respeito à troca de experiências entre os professores; porém na questão 8 ele caracteriza os cursos de formação continuada ofertados pela mantenedora como “pouco interessantes”, mas não respondeu à justificativa a esta resposta o que leva a verificar que mesmo sendo pouco interessante os cursos tem contribuído para seu desenvolvimento profissional uma vez que possibilita a troca de experiências com outros professores e/ou outros profissionais. Verificou-se que a interação com os pares é um ponto relevante de formação continuada para este participante.

Nóvoa (1992) e Imbernón (2010) afirmam que a formação continuada de professores deve partir da prática, das experiências profissionais, para que possa ser relevante e ter significado para a atividade docente. Conceber a formação continuada de professores de forma descontextualizada pode vir a ser a principal responsável pela sua ineficácia ou desconexão com os anseios e necessidades dos mesmos, uma vez que desconsideram as práticas construídas pelos professores e não possibilitam a produção de novos saberes e práticas.

Compreende-se que a escola é um lócus privilegiado de formação continuada, mas vale destacar, que não deve ser o único espaço para que essa formação ocorra, o ideal é que aconteça num processo articulado na escola e fora dela. (TÚLIO, 2015, p. 139).

Para repensar o modelo de formação continuada historicamente instituído pela mantenedora, e que nesta pesquisa é discutido pelos participantes e definido como sendo: fora do contexto da escola e que não atende às expectativas teóricas e práticas dos professores é necessário realizar processos formativos “considerando a trajetória do docente, pois ela traz consigo as contradições da relação teoria-prática que, se realizadas atividades para compreendê- las, é desenvolvido um processo de formação”. (ALVORADO-PRADA; FREITAS; FREITAS, 2010, p. 369).

De acordo com Pimenta (2005, p. 26) “os saberes sobre a educação e sobre a pedagogia não geram os saberes pedagógicos. Estes só se constituem a partir da prática, que os confronta e os reelabora”. A autora reforça que na formação continuada dos professores há necessidade de uma “tessitura” entre a realidade existente nas escolas e a teoria para que se supere a fragmentação dos saberes da docência. Ressalta que os saberes pedagógicos não são previamente aprendidos para serem aplicados na prática, mas são construídos na própria prática.

A formação continuada deve favorecer o diálogo, estabelecer vínculos, promover a troca de experiências, haja vista que esse processo só é significativo se encarnado na realidade escolar. Deve favorecer trocas, reflexões coletivas e proximidade dos sujeitos envolvidos, pois “o saber docente revela uma dilapidação dos conhecimentos tidos como interiores ao professor, no encontro com a exteriorização desses saberes por meio da prática profissional”. (RADVANSKEI; HAGEMEYER, 2016, p. 282).