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Os saberes mobilizados pela prática do professor alfabetizador: uma breve revisão

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1.1 Os saberes mobilizados pela prática do professor alfabetizador: uma breve revisão

No Brasil encontramos, em várias universidades, pesquisas que tratam do tema abordado neste trabalho, focando variados pontos específicos. Em 2008, para verificar a quantidade de pesquisas sobre a temática central deste trabalho, verifiquei no portal da CAPES9

9 A busca foi realizada apenas no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) e, portanto, não compreende a totalidade de trabalhos realizados sobre o tema.

algumas palavras chaves, com busca por todas as palavras, conforme o quadro abaixo:

QUADRO 1

Quantidade de teses e dissertações sobre o tema saberes práticos e teóricos do alfabetizador

PALAVRAS - CHAVE ENTRE TESES E DISSERTAÇÕES QUANTIDADE DE RESULTADOS

Formação de professores 9464

Práticas docentes 4384

Alfabetização 1929

Saberes docentes 1569

Formação de professores alfabetizadores 424 Relação teoria e prática no processo de alfabetização 50

Numa busca não exaustiva sobre o tema: “saberes mobilizados pela prática do professor alfabetizador”, foram encontradas as pesquisas abaixo:

QUADRO 2

Teses e dissertações sobre os saberes mobilizados pela prática do professor alfabetizador

TÍTULO ANO INSTITUIÇÃO TIPO

Imagens concepções e práticas de leitura e escrita em sala de aula: memórias de professores de Carandaí, MG nas décadas de 1940 a 1970

2006 PUC MG Dissertação

Um assunto puxa o outro: a representação da

coerência textual na formação do alfabetizador. 2005

Universidade Estadual de

Campinas Tese

Saberes docentes na prática de uma alfabetizadora:

um estudo etnográfico 2005 USP Tese

Interpretação e letramento: os pilares de sustentação

da autoria 2003 USP – Ribeirão Preto Tese

Das quatro pesquisas acima, a que mais se identifica com o meu objeto de pesquisa é a que se intitula “Saberes docentes na prática de uma alfabetizadora: um estudo etnográfico”, de autoria de Marli Lúcia Tonatto Zibetti, orientada por Marilene Proença Rebello de Souza, da USP, na área da Psicologia do Desenvolvimento Humano. A tese tem

como objetivo10 “compreender os processos de apropriação/objetivação e criação de saberes na prática pedagógica de uma alfabetizadora, por meio de uma abordagem etnográfica que se utiliza de observação participante, entrevistas, análise documental e fotografias”, e busca responder a perguntas, tais como:11 “que saberes são mobilizados pela professora durante seu trabalho com as crianças? Que elementos contribuem ou influenciam na constituição dos saberes da professora? Como ela lida com situações que a defrontam com o não-saber?” (ZIBETTI, 2005, p. [S. n.]). E, como resultado, a pesquisa aponta

que há duas dimensões importantes na constituição desses saberes. Uma dimensão histórico/dialógica que evidencia como os saberes são apropriados e objetivados ao longo da história de formação e de atuação profissional, por meio de diálogo com: a) as diferentes experiências vividas pela docente; b) as formadoras e parceiras profissionais com quem a professora tem a oportunidade de estabelecer trocas; c) as crianças com as quais trabalha; d) os materiais teóricos e pedagógicos consultados na preparação das aulas. Ouvindo as solicitações, necessidades e possibilidades de seus alunos a professora vai dando sentido à tarefa de ensinar a ler e a escrever a todos eles. A segunda dimensão dos saberes docentes é a dimensão criadora, pois mesmo submetida às determinações de um trabalho realizado no cotidiano, este não se caracteriza apenas como reprodução12 (ZIBETTI, 2005, p. [S. n.]).

A segunda pesquisa, que também se identifica em menor grau com o meu objeto de estudo, é a dissertação “Imagens concepções e práticas de leitura e escrita em sala de aula: memórias de professores de Carandaí, MG, nas décadas de 1940 a 1970”, com autoria de Vivian Cristina Matos da Trindade, sob a orientação de Ana Maria Casasanta Peixoto, na PUC-MG, na área da Educação.

O objetivo da pesquisa foi13

recuperar práticas de alfabetização desenvolvidas por professoras que obtiveram sucesso nessa área, lecionando em classes de 1º ano do antigo Curso Primário, na cidade de Carandaí, Minas Gerais, entre 1940 e 1970, período visto pelo senso comum como um momento em que a escola e os professores eram melhores e os alunos aprendiam mais (TRINDADE, 2006, p. [S. n.]).

10 Dados retirados do Portal da CAPES. 11 Dados retirados do Portal da CAPES. 12 Dados retirados do Portal da CAPES. 13

Como resultado, a pesquisa mostrou que

[...] a recuperação das práticas desenvolvidas pelas professoras, bem como a análise das concepções e dos saberes a elas subjacentes, enfatizam o importante papel desempenhado pelas professoras no processo de alfabetização e reforçam a necessidade de se considerar a alfabetização como um processo dinâmico que envolve a mobilização, a construção e a reconstrução de saberes, ao longo da vida profissional dos docentes (TRINDADE, 2006, p. [S. n.]).14

Embora esta pesquisa tenha trabalhado com práticas de professoras alfabetizadoras, o foco central é o sucesso e não os saberes mobilizados pelas práticas.

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) existe uma tese de dourado que também muito se aproxima do meu objeto de pesquisa, intitulada “Apropriações de propostas oficiais de ensino de leitura por professores: (O caso do Recife)”, de autoria de Eliana Borges Correia de Albuquerque, orientada por Maria das Graças Rodrigues Paulino. Essa tese possui um suporte teórico em dois modelos: o da transposição didática e o da construção/produção de saberes escolares, e tem como objetivo: “analisar o processo de apropriação dos professores dos saberes atualmente prescritos nos textos oficias que normatizam o que deve ser ensinado.” (ALBUQUERQUE, 2002, p. 11). O autor discute a apropriação de conhecimentos e construção/produção de saberes da ação por professores do Recife num curso de formação.

Em 2005, foi defendida na UFMG, por orientação da professora Marildes Marinho, uma dissertação intitulada: “A construção da alfabetização na 1ª série”, por Rosimeire Reis Ribeiro da Costa, com o objetivo de compreender por que umas crianças avançam na compreensão do sistema alfabético de escrita e outras não. Rosimeire concluiu que os motivos estão ligados à formação docente e que, por isso, há a necessidade de repensar a formação dos alfabetizadores a partir de sua própria concepção de alfabetização, pois, segundo suas análises, a concepção das professoras diluiu a especificidade do processo de alfabetização. Embora Rosimeire tenha concluído que a formação das alfabetizadoras é ineficiente, seu foco foi centrado nas crianças em suas produções.

Em fevereiro de 2009, foi defendida uma tese de dourado que discute alguns aspectos da formação docente. A tese tem como tema: “As concepções de alfabetização e

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letramento nas concepções e nas práticas de professoras alfabetizadoras: um estudo de caso numa escola municipal de Belo Horizonte”, por Kely Cristina Nogueira Souto, também orientada pela professora Marildes Marinho. O objetivo da tese foi compreender que pressupostos teóricos e metodológicos sustentam as práticas das professoras alfabetizadoras. Kely concluiu que a construção das práticas alfabetizadoras se dá mais pela troca de experiência entre colegas de trabalho e também pela intuição realçada nos discursos das professoras.

Com essa busca, foi possível constatar que existem muitas pesquisas na área de formação de professores, mas o número se reduz consideravelmente quando o foco passa a ser a relação teoria e prática na formação específica de professores alfabetizadores.

Encontram-se muitos trabalhos sobre os saberes docentes, mas poucos sobre como a prática mobiliza esses saberes na hora de propor metodologias e ações para alfabetizar. Fala- se muito do fracasso ou sucesso no processo de alfabetização, mas pouco sobre como os professores têm lidado com a mudança dos paradigmas teóricos no campo da alfabetização e em nenhuma delas ocorre o processo de pesquisa atrelado à formação. Encontra-se, neste aspecto, o diferencial da minha proposta metodológica. Além de constatar as origens e condicionantes dos saberes das professoras para alfabetizar, eu proponho a mudança tanto de concepções quanto de práticas que conduziram ao resultado de não finalizar o ano letivo com crianças que não avançaram na compreensão do sistema alfabético de escrita.

Enfim, o objetivo desta pesquisa foi ampliar as descobertas sobre estas questões que têm inquietado alguns pesquisadores como os aqui citados e somar esforços na tentativa de compreender os conflitos presentes na atualidade em relação aos processos concernentes à alfabetização.