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sacralidade, exerceu o domínio, acumulou vastas riquezas e desenvolvimento financeiro.

No documento Nilda da Silva Pereira (páginas 88-177)

Na Idade Média a religião católica era o credo dominante que influenciava o modo de pensar e as atitudes dos/as cidadãos/ãs. A igreja defensora do feudalismo e com bom desempenho financeiro investiu na instituição jurídica. O direito canônico tornouCse referência de direito para toda Roma. A supremacia do direito eclesiástico favoreceu a dominação ideológica da Igreja sobre toda a Europa.

O Decreto de Graciano (1140) sistematizava a hierarquia eclesiástica, as disciplinas do clero, os processos judiciais, ordens religiosas, heresias, casamento, penitência e sacramentos. Era a Igreja e seu direito que definiam a verdade e determinavam os seguimentos das instituições legais. Como suas crenças eram as “melhores”, quem era diferente necessariamente recebia punições. Os Concílios Ecumênicos pensavam e desenvolviam o direito canônico de acordo com as mudanças e novas exigências da Santa Igreja Católica. Foram quase dez séculos de negação filosófica e cientifica.

Somente no século XIII que o cristianismo, na pessoa de São Tomás de Aquino, voltouCse para Aristóteles e discutiu sobre os direitos inerentes à pessoa humana, o direito natural, concebido por Deus. Tomás de Aquino expressou a importância do direito natural aos ideais cristãos. O direito natural poderia fazer parte da justiça cristã. Em plena época em que foram comuns os tribunais da Inquisição, o

santoCfilósofo Tomás de Aquino mencionou o direito de as pessoas se rebelarem contra os governos injustos. A defesa do direito natural por Tomás de Aquino, dentro da filosofia cristã, foi um primeiro passo para que o direito natural se configurasse como ciência. Pois, a lei natural exprime o conteúdo do direito natural relacionado à vida em sociedade.

Em 15 de junho de 1215, no intuito de garantir certas liberdades políticas e tornar a Igreja livre de ingerência da monarquia, é promulgada a > ) do reino inglês. A > ) reformou o direito, a justiça, regulou o comportamento dos funcionários reais, impediu o exercício do poder absoluto. Propunha que as leis fossem procedimentos legais e deveriam ser respeitadas, inclusive pelo rei. É considerada importante iniciativa na longa história da democracia moderna e das constituições ocidentais. Garantiu amplos direitos à nobreza e serviu de alicerce à ) * . A população pobre da época quase nada lucrou com a > ) , porém abriramCse possibilidades de superação da monarquia e do regime feudal. PlantouCse o embrião da liberdade.

A > ) de 1215 reconhece a liberdade sagrada da instituição feudal.

A Igreja de Inglaterra será livre e serão invioláveis todos os seus direitos e liberdades: e queremos que assim seja observado em tudo e, por isso, de novo asseguramos a liberdade de eleição, principal e indispensável liberdade da Igreja de Inglaterra, a qual já tínhamos reconhecido antes da desavença entre nós e os nossos barões [...].

Nessa busca da liberdade, a ) inglesa expressou principalmente o desejo da separação entre clero e políticos, o que viria acontecer no futuro. Em relação às disposições da > ) , Comparato (2008, p.81, 82 e 83), observa “[...] que o exercício do poder tributário [...]” foi concedido pelos súditos; houve início do processo de “[...] superação do estado servil” na questão trabalhista, em detrimento das leis; a justiça, “em sua essência”, partiria do interesse público; lançaramCse “[...] as bases do tribunal do júri”, iniciando a abolição de “[...] penas criminais arbitrárias [...]”; a propriedade privada deveria ser respeitada; quem julgaria uma pessoa livre seriam seus próprios pares; reconheceu a liberdade de as pessoas migrarem; apresentou “o embrião de uma administração pública autônoma [...]”; limitou os domínios dos senhores feudais; e responsabilizou o “[...] rei perante os seus súditos”.

Naqueles mesmos tempos, o Império de Mali (1235C1670) declara sua constituição com a ) > ? . O documento, elaborado no mandato do rei Sundiata Keita (c.1190C1255), fixou as regras contra as guerras, estabeleceu a federação das tribos mandinka e regulamentou as leis regentes das organizações política e social de Mali. Os maiores princípios da ) estão ligados ao respeito pela vida humana, à liberdade individual, solidariedade e radical oposição à escravidão. Com uma narrativa poética a ) assinala o seguinte:

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Os decretos da ) > ? encontramCse divididos em quatro seções relativas à organização social, aos direitos, à proteção do meio ambiente e às responsabilidades pessoais. São impressionantes os cuidados, o respeito à dignidade humana e a disponibilidade atenta aos direitos humanos. Mesmo sem haver na época apelos internos e internacionais aos direitos humanos, reparamos certa universalidade na ) > ? : a preservação da integridade da mulher, do escravo, do estrangeiro e, por fim, que “todo corpo tem o direito à vida e à preservação de sua integridade física”.

No século XVII, com a ideia de emancipação da teologia medieval e do feudalismo, nasce a escola do direito natural clássico. Em 1625, na Escola de Direito Natural, de Hugo Grotius (1583C1645), o direito natural passa a ser vinculado ao processo da * diante da natureza e não de acordo com a naturalidade provinda de Deus. Direito natural é aquilo que a razão demonstra ser conforme a natureza sociável do ser humano. O mandamento da razão humana constitui a primeira fonte do direito natural. Nesse caso, para Grotius, a vontade de Deus é remetida como segunda fonte de direito natural.

Um dos principais traços que caracterizou a obra de Grotius e de toda a Escola do Direito Natural, da qual o autor holandês é um dos fundadores, foi a tentativa de conduzir o contexto internacional a um

equilíbrio não conflituoso, resgatando a paz e sobre esta organizando as relações entre os Estados.

PodeCse afirmar, então, que estes autores concentraram grande parte dos seus esforços em um objetivo quíntuplo, ou seja:

a) na instituição de um ordenamento e na amplificação de um instrumento técnico essencialmente jurídico: o G ;

b) na elaboração de uma que apoiasse o desenvolvimento progressivo da sociedade internacional como entidade composta por Estados e não mais por indivíduos, uma idéia já precedentemente lançada, mas relativamente desconhecida na época;

c) na dessacralização e na condenação do princípio da guerra, mesmo sendo esta ainda admitida dentro de certos limites, e na sacralização dos tratados;

d) na pesquisa e no desenvolvimento de meios próprios para, em caso de necessidade, manter ou mesmo restabelecer a paz;

e) nas limitações das guerras e pelo desenvolvimento da noção de neutralidade (RI JÚNIOR).

É importante destacar que essa libertação do pensamento teológico abre um novo capítulo para a história: a corrente de pensamento denominada racionalismo em que a percepção e os fundamentos do direito se dão por meio da razão.

Recordamos que naquela época, devido às constantes guerras, os Estados europeus encontravamCse fragmentados. Havia necessidade de desencadear um processo de constituição forte dos Estados Nacionais da Europa. O inglês Thomas Hobbes (1588C1679), contemporâneo de Grotius, vivenciou esse processo de reconstrução. Naquela época, havia a propagação do protestantismo na religião, o mercantilismo na economia e o absolutismo na política. Em 1651, Hobbes publica a obra / # . De acordo com Hobbes, era preciso haver um pacto social absoluto. O absolutismo não deriva de um direito divino, como acreditavam os teólogos políticos de sua época, mas das exigências de pactos sociais. Hobbes não vê solução para esses conflitos, a não ser que todas as autoridades religiosas se submetam a um soberano absoluto; caso contrário, a religião ameaçaria a paz civil. O Estado deveria instituir um culto único e obrigatório.

Mesmo sendo sua maior intenção de contribuir para devolver a paz e a ordem a seu país e a todo o continente europeu, Thomas Hobbes acreditava que a guerra era uma consequência da natureza humana. No estado de natureza, a guerra de um contra os outros sempre permaneceria. Isso se dá porque na ausência de um poder superior, que as vincule entre si, as pessoas se veem naturalmente em guerra.

Hobbes concebe o direito de fazer a guerra e de celebrar a paz como um elemento subordinado ao processo da soberania.

O soberano não tem limites, tudo pode. Não está externamente obrigado a ninguém, senão sequer poderia ser considerado como soberano. Tem o poder de fixar o conteúdo da lei e pode até violar o Direito Natural. Em relação ao soberano, as leis naturais obrigam apenas sua consciência. Urge ser até mais direto e expor que em Hobbes cabe ao soberano a tarefa de fixar o efetivo conteúdo das leis naturais, tidas como ditames “ocos”, flagrantemente indeterminados (SILVA, 2009).

As sangrentas e longas guerras entre protestantes e católicos causaram fome e violência pela Europa. Diante disso, houve tentativas para diminuir tamanhos conflitos. Destacamos que no tratado de Westfália (1648) iniciaramCse acordos importantes relacionados à autonomia do Estado perante as crenças religiosas. Essas iniciativas desencadearam os primeiros avanços relacionados à ordem política, jurídica e diplomática.

Westfália é um tratado tido comumente como o primeiro acordo internacional tendo em vista garantir a soberania dos Estados, com as promessas de nãoCintervenção entre eles e separação entre os mundos político e religioso. Após a Guerra dos Trinta Anos, cujas origens encontramCse ao mesmo tempo em formas confessionais, econômicas e políticas, aquele pacto deu condições para uma atividade diplomática ou bélica mais sistemática do que a vigente nos tempos em que os Estados ainda buscavam a sua plena soberania. PodeCse afirmar que ele permite ao Estado moderno a completude dos pontos essenciais à sua existência independente, com os monopólios da violência legítima, da norma jurídica, dos impostos. A luta comum dos soberanos seculares contra as Igrejas concorrentes, as seitas e os privilégios da nobreza – fontes de guerras civis e internacionais até então – leva os dirigentes ao acordo mínimo que lhes permite administrar a nova realidade instaurada pela Reforma (ROMANO, 2008, p.82).

Desmistificando que o absolutismo não vinha somente de Deus, Hobbes acreditava que as pessoas dotadas de razão são capazes de se consolidarem no poder. Quando éramos estudantes de Filosofia, costumávamos brincar entre os colegas, dizendo que autor inglês tira o absolutismo das mãos de Deus e põeCno nas mãos dos homens. “Hobbes democratizou”, um pouco, o absolutismo. Ele era conservador, mas avançou na medida em que acreditava que humanos poderiam conduzir suas vidas. Ele é um dos inauguradores da modernidade.

Num processo de consolidação burguês e de adesão da Europa (1649) ao liberalismo e ao capitalismo, são intensificados os pensamentos na proteção aos direitos naturais do indivíduo, contra a exploração governamental, prevalecendo as

teorias de John Locke (1632C1704) e Montesquieu (1689C1755). No entendimento de Locke, a lei natural é uma regra eterna para todos, sendo evidente e inteligível às criaturas racionais. A lei natural é igual à lei da razão. O ser humano, segundo Locke, deveria ser capaz de elaborar, a partir dos princípios da razão, um corpo de doutrina moral. Seguramente a lei natural ensinaria todos os deveres da vida. Os humanos poderiam ainda formular o enunciado integral da lei da natureza.

Montesquieu e Locke defendiam o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, essa forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. O apogeu desse movimento foi atingido no século XVIII, que passou a ser conhecido como o D * . O iluminismo foi mais intenso na França, onde influenciou a Revolução Francesa (1789).

O luterano Samuel von Pufendorf (1632C1694), jurista alemão, ficou impressionado com a teoria do direito natural de Hugo Grotius. Sua preocupação era harmonizar as ideias do pensamento político iluminista, recentemente desenvolvidas com a teologia cristã. Em 1667, Pufendorf escreveu a obra 6

, publicada de forma resumida como C #

" .

O filósofo Luiz Felipe Netto Sahd (2007, p.222) diz que a principal contribuição de Pufendorf foi dar ênfase na sociabilidade da humanidade como fundamento do direito natural. De acordo com Pufendorf, qualquer ser humano deve, à medida do possível, cultivar e manter frente aos outros uma sociabilidade pacífica que faz parte de sua própria característica natural. A sociabilidade é a finalidade da humanidade. No entanto, ela está ameaçada pela característica precária da condição humana. Deus é o divino legislador que instituiu as leis para ordenar a vida social das pessoas. Deus, enquanto autor da lei natural, deve também ser considerado como autor das sociedades políticas e, consequentemente, da soberania. Deus estabeleceu pela lei natural a ordem de comandar e de obedecer porque existem nela, em virtude da própria vontade de Deus, luzes naturais da * . Pufendorf salienta que a vida dos homens sem a sociedade seria semelhante à vida das feras. Da mesma forma, a lei da natureza se baseia no princípio da preservação da vida social entre os seres humanos. Pufendorf

define o fundamento da teoria jusnaturalista ao defender a tese segundo a qual, independente das leis civis e anterior à sua convenção humana, existem ordem moral e regra de justiça universais (as leis de natureza), que indicam ao homem os seus deveres e o proíbem de fazer o mal. O homem tem a capacidade e o dever de criar as condições propícias para um bom relacionamento com os outros indivíduos da mesma espécie. As leis que comandam as ações mútuas dos homens estão arraigadas na sua natureza racional e são imutáveis e eternas: quem não as respeita ofende a sua própria dignidade de homem. Desse modo, o modo de ser do homem é viver em sociedade pacificamente. “Com estas premissas parece que a lei natural fundamental é a seguinte: cada homem deve cultivar e manter na medida do possível a sociabilidade” (SAHD, 2007, p. 222).

O filósofo JeanCJacques Rousseau (1712C1778), ao contrário de Hobbes, acreditava que todas as religiões são boas e cada pessoa pode conseguir a salvação na sua religião. Rousseau compartilha do pensamento segundo o qual o direito natural é vontade do povo. Em respeito à democracia, as decisões deveriam partir majoritariamente do povo. Na concepção de Rousseau, o progresso das ciências e das artes tornou o ser humano vicioso e mau, corrompendo sua natureza íntima.

No ensaio 5 , Rousseau defende uma pedagogia naturalista baseada nas tendências espontâneas da criança, que atenda às suas necessidades mais profundas, ao invés de submetêCla a constrangimentos difíceis. No livro " )

, Rousseau fomenta as condições de um Estado social que fosse legítimo, que não mais corrompesse o ser humano.

Nos séculos XVII e XVIII o direito natural foi delineado pela razão. O racionalismo construiu uma nova ordem jurídica embasada pelos princípios de igualdade e liberdade proclamados como os postulados da razão e da justiça. O direito à liberdade passou a ser fundamental porque todas as pessoas nascem livres. A liberdade faz parte da natureza humana e enquanto direito natural de fundamento racional passou, no mundo moderno, a ser cada vez mais enfatizada. Outros elementos foram acrescidos aos direitos naturais: o direito da igualdade com a concepção de que todos os seres humanos nascem iguais; e o direito da soberania popular. Com essas concepções, a burguesia passa a adquirir mobilidade

para construir mudanças sociais, políticas e econômicas. É num processo de consolidação da burguesia que se promove na Revolução Inglesa no século XVII.

Observamos que no século XVII os pensadores citados avançaram na defesa dos direitos naturais inerentes à pessoa humana. O ser humano não depende somente da autorização religiosa para se autoafirmar. A razão humana garante autonomia e determina o percurso da vida. Essa autoafirmação se configurou, como já discorremos antes, num contexto conturbado entre católicos e protestantes em alguns países da Europa.

Em 1679 a Inglaterra em pleno conflito religioso regula oficialmente o 0 , com pretensão de garantir a liberdade dos súditos e prevenção a prisões arbitrárias. Essa lei tem importância histórica porque “consistiu no fato de que essa garantia judicial, criada para proteger a liberdade de locomoção, tornouCse a matriz de todas as que vieram a ser criadas posteriormente, para a proteção de outras liberdades fundamentais” (COMPARATO, 2008, p.89). Dez anos depois, as guerras civis e as rebeliões continuaram entre esses grupos religiosos, com os protestantes no poder, e é votada pelo Parlamento a Declaração de Direitos, Bill of Rights, em 1689, que fortaleceu a instituição do júri e reafirmou alguns direitos fundamentais.

É importante destacar que o 0 e o Bill of Rights não conseguiram garantir as liberdades pessoais de toda a população. Eles beneficiaram o clero e a nobreza. As liberdades civis e políticas garantidas por esses dispositivos favoreceram o processo de implementação capitalista nos séculos posteriores. Porém, ressalta Comparato (2008, p. 49C50), “a partir do ; H britânico, a idéia de um governo representativo, ainda que não de todo o povo, mas pelo menos de suas camadas superiores, começa a firmarCse como uma garantia institucional indispensável das liberdades civis”.

É no contexto da independência dos Estados Unidos, com a Declaração dos Direitos da Virgínia" em 12 de junho de 1776, a Declaração de Independência" em 4 de julho de 1776 e a Constituição, promulgada em 1787, que aparece de forma mais contundente a expressão que evolui para a denominação atual de . Presenciamos nas declarações dos EUA a atenção ao respeito dos direitos individuais e princípios democráticos. Na Declaração dos Direitos da Virgínia há fortes chamadas aos direitos políticos do/a cidadão/ã. Com a influência

teórica do iluminismo, a Declaração da Virgínia foca no , garantido numa constituição. Observemos parte do texto da Virgínia:

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A partir da Declaração de Independência dos EUA, em 4 de julho de 1776, aumentam as discussões em torno do aperfeiçoamento da democracia num processo de legitimidade da soberania popular. Nesse caso, a igualdade de condições jurídicas, garantia da livre concorrência e defesas das liberdades individuais passam a ser fatores importantes para os direitos humanos. Podemos assim afirmar que os direitos naturais começam a ceder espaço para os direitos fundamentais, ou seja, os direitos precisam ser positivados pelas instituições para serem atingidos. As normas jurídicas, as leis, enfim, a legislação desses direitos, devem passar por um processo formal, pelo Estado. Esse documento influenciou e foi importante para todas as colônias do continente americano.

As declarações estadunidenses, anteriores a 1787, serviram de texto para a ) dos EUA, reafirmando os direitos individuais fundamentais para a liberdade de homens e mulheres. O Bill of Rights favoreceu também a elaboração de princípios constitucionais. Foram adicionadas a ela dez emendas do Bill of Rights.

Pontuamos que essas defesas dos direitos fundamentais não impediram que os Estados Unidos participassem ativamente da escravidão de pessoas africanas. Somente na segunda metade do século XIX é que o Ato de Emancipação assinado pelo presidente Abraham Lincoln (1809C1865), em 1° de janeiro de 1863, aboliu a escravidão de negros/as nos Estados Unidos. Mas, a vida da população negra continuou intranquila nos EUA. Martin Luther King (1929C1968) declarou, na marcha pelos direitos civis rumo a Washington em 1963, que “não haverá tranquilidade nem sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos os seus direitos de cidadão… Enquanto não chegar o radiante dia da justiça… A luta dos negros por liberdade e igualdade de direitos ainda está longe do fim” (KLEFF).

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada em 1789, na França. Ela trouxe os fundamentos da liberdade, da igualdade, da propriedade, da legalidade e as garantias individuais liberais. Destaca os direitos de liberdade pública, pertencentes ao indivíduo propriamente dito, e os direitos do/a cidadão/ã enquanto integrante de uma sociedade política. Afirma politicamente os direitos naturais. O principal dos quais é a liberdade, seguido pela igualdade diante da lei. As leis deveriam ser feitas pelos/as delegados/as dos/as cidadãos/ãs. Com essa composição, a Declaração apontou para os direitos civis e direitos políticos, além de influenciar o mundo com seus princípios de liberdade, fraternidade e igualdade.

Em 1795, o filósofo Immanuel Kant (1724C1804) lançou uma obra que tinha como propósito instaurar a paz perpétua entre os povos europeus e depois espalháC la pelo mundo inteiro. Baseada no iluminismo, a obra direcionaCse para o entendimento permanente entre os homens. A paz perpétua visa à completa abolição da guerra, e as principais linhas para a paz passam essencialmente pela criação de estados republicanos. Kant afirmava que um governo representativo, em que o povo e os seus representantes participam nas decisões públicas, estaria menos em conflitos e, se um Estado decide fazer a guerra sem o consentimento do povo, não é democrático. Acrescenta o atual filósofo do direito Norberto Bobbio

(2004, p.127): “Kant tinha originariamente prefigurado o direito de todo homem a ser cidadão não só do seu próprio Estado, mas do mundo inteiro; além disso, havia representado toda a Terra como uma potencial cidade do mundo, precisamente como uma cosmópolis.”

No documento Nilda da Silva Pereira (páginas 88-177)

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