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CAPÍTULO III: EBD, Revelação e Salvação

2. Salvação: No que consiste e o que se salva?

Assim como fizemos com o tópico anterior, vejamos a noção batista que alicerça o entendimento de Dornas sobre a salvação, observando as citações que seguem, extraídas respectivamente da Declaração Doutrinária da Convenção Batista

Brasileira (ver anexo 4) e dos Princípios Batistas (ver anexo 5):

V - Salvação (Declaração Doutrinária)

A salvação é outorgada por Deus pela sua graça, mediante arrependimento do pecador e da sua fé em Jesus Cristo como único Salvador e Senhor. O preço da redenção eterna do crente foi

pago de uma vez por Jesus Cristo, pelo derramamento do seu sangue na cruz. A salvação é individual e significa a redenção

do homem na inteireza do seu ser. É um dom gratuito que Deus oferece a todos os homens e que compreende a regeneração,

justificação, a santificação e a glorificação.196

A Salvação pela Graça (Princípios Batistas)

A graça é a provisão misericordiosa de Deus para a condição do homem perdido. O homem no seu estado natural é egoísta e orgulhoso; ele está na escravidão de Satanás e espiritualmente morto em transgressões e pecados. Devido à sua natureza pecaminosa, o homem não pode salvar-se a si mesmo. Mas Deus tem uma atitude benevolente em relação a todos, apesar da corrupção moral e da rebelião. A salvação não é o resultado dos

méritos humanos, antes emana de propósito e iniciativa divinos. Não vem através de mediação sacramental, nem de

treinamento moral, mas como resultado da misericórdia e poder divinos. A salvação do pecado é a dádiva de Deus através de Jesus Cristo, condicionada, apenas, pelo arrependimento em relação a Deus, pela fé em Jesus Cristo, e pela entrega incondicional a Ele como Senhor. A Salvação, que vem através da graça, pela fé,

coloca o indivíduo em união vital e transformadora com Cristo, e se caracteriza por uma vida de santidade e boas obras. A

mesma graça, por meio da qual a pessoa alcança a salvação, dá certeza e a segurança do perdão contínuo de Deus e de seu auxílio na vida cristã. A salvação é dádiva de Deus através de Jesus Cristo, condicionada, apenas, pela fé em Cristo e rendição à soberania divina.197

Em sua trilogia, Lécio Dornas não demonstra a necessidade de explanar este conceito de salvação que por vezes é descrito como “aceitação do evangelho” ou

196

Para maiores informações leia o Anexo 4. Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira. http://www.batistas.org.br/index.php?option=com_content&view= article&id=15&Itemid=15. Acesso em 05 de junho de 2009. (Grifo da autora)

197 Para maiores informações leia o Anexo 5. Princípios Batistas.

http://www.batistas.org.br/index.php?option=com_content&view= article&id=16&Itemid=16). Acesso em 05 de junho de 2009. (Grifo da autora)

“conversão”. Dornas parece partir da premissa que O Plano de Salvação, (extraído da carta Paulina aos Romanos) que é disponibilizado no final de sua primeira obra,

Socorro sou Professor da EBD, constitui-se em respaldo suficiente ao docente,

quanto à concepção de salvação. Isto se comprova pelo fato de apenas em um outro momento, em toda sua trilogia, Dornas fazer menção direta ao tema da salvação, onde se evidencia que a condição necessária para que a salvação ocorra é o conhecimento bíblico:

Naturalmente, a salvação é a primeira necessidade de qualquer

pessoa. (...) Antes de se converter, porém, a pessoa necessita de instrução para o conhecimento bíblico com todas as

implicações, a fim de adquirir convicção do pecado, de ser esclarecida quanto ao meio de salvação, para poder tomar a decisão de aceitar a Jesus Cristo pela fé. 198

Por não objetivar o tratamento do conceito a salvação em sua trilogia, Dornas não aborda o que se salva e no que consiste a salvação. Entretanto, várias vezes Dornas traz à sua argumentação a noção de amor às almas perdidas, ou conversão dos perdidos.

É provável que esta visão de salvação de Dornas baseie-se não somente na doutrina batista da salvação, mas também na visão antropológica de Cathryn Smith, missionária estadunidense, que é tida como um referencial na educação cristã da denominação batista:

A Bíblia revela o homem como um ser essencialmente espiritual, uma pessoa com alma eterna, criada para a comunhão

com Deus. O fim da revelação bíblica é ajudar o homem a experimentar essa comunhão.199

De forma particular, este conceito de alma é fundamental para a análise do pressuposto da salvação.

Porém, antes de tratarmos a questão da “salvação da alma”, Juan Luis Segundo pode dar luz à discussão sobre salvação pois afirma que foi no discurso de Pedro, relatado em Atos 4.12, que o termo salvação foi pela primeira vez associado a Jesus:

198

DORNAS, Lécio. A nova EBD… a EBD de sempre, p. 86.

No discurso de Pedro diante do Sinédrio lemos: não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos (At 4.12). Se “nome” significa “poder”, admite-se assim que em

Jesus se concentra todo o poder salvador à disposição da humanidade. (...) Quando termina, os ouvintes fazem-lhe a

pergunta lógica; “Que devemos fazer?“ E Pedro lhes responde: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vosso pecados”. (...) Pedro continua exortando-os: “Salvai-vos (=saí) desta geração perversa” (At 2,37- 40). Pelo contrário, “o Senhor acrescentava (= fazia entrar) cada dia ao seu número os que seriam salvos” (At 2,47).200

Segundo complementa sua ideia, agora na obra O Dogma que Liberta, adicionando outro elemento crucial para a noção de salvação, contrariando a teologia de sua própria raiz católica, segundo a qual “não há salvação fora da igreja”:

(...) a salvação, o poder de salvar, não é, em primeiro lugar, um atributo da Igreja, mas de Jesus Cristo (...). O “dentro” ou “fora”

da Igreja não tem ainda um conteúdo soteriológico claro. Somente quando o mundo se divide entre cristandade (oficial) e seus adversários, a alternativa adquire relevância e se converte em alternativa “pensada” perante a salvação.

O fato que Jesus Cristo seja o único nome dado entre os homens para que possam ser salvos (...) não indica ainda concretamente como os homens se situam (...) diante desse poder. A impressão que se tem é a de que Jesus Cristo se torna

alternativa de salvação para aqueles que, por assim dizer, “esbarram” nele.

(...) dizer que Deus acrescentava cada dia ao seu número os

que seriam salvos (...) poderia ser formulado, de modo mais claro e exato, assim: “dentro da Igreja há (ou está) a salvação. 201

A compreensão tradicional da doutrina cristã da salvação afirma que o ser humano é salvo da ira, do julgamento de Deus sobre o pecado, uma vez que este nos separou de Deus. Nesta visão, a salvação bíblica refere-se à libertação da consequência do pecado, da morte eterna.

Os ensinamentos de Jesus, registrados nos evangelhos sinóticos, e toda a teologia Paulina, demonstram que a salvação não se adquire através do cumprimento da lei ou desempenho de rituais, mas pela graça divina, (que alcança a todos que têm fé, um coração disposto a reconhecer sua condição de pecador e a

200 SEGUNDO, Juan Luis. A História Perdida e Recuperada de Jesus de Nazaré. Dos Sinóticos a Paulo. Tradução de Magda Furtado de Queiroz. São Paulo: Paulus, 1997, p. 337.

decisão de exercitar seu livre arbítrio em ter Jesus não somente como salvador, mas também como senhor e exemplo) ela nos é outorgada por meio de Jesus, fato mencionado na doutrina batista inicialmente contemplada.

Entretanto, o que esta compreensão negligencia é o fato de que o Deus cristão é aquele que se encarna como ser humano, que se humaniza para salvar sua criação. Seguir o caminho de Jesus, que é o da salvação, é fazer o caminho da humanização em nosso momento histórico de vida, como indicam David Bosch, José Comblin e, novamente, Juan Luis Segundo.

Assim como houve mudanças de paradigmas quanto à compreensão da relação entre a igreja e a missão, ocorreram também câmbios na compreensão da natureza da salvação que a igreja tinha que mediar em sua missão. Nossas reflexões sobre a missão na igreja primitiva revelaram que a salvação foi interpretada em termos mais abrangentes (...). Para Lucas, a salvação é,

sobretudo, algo que se realiza nesta vida, hoje (...). Para Lucas, a salvação é salvação presente.202

A cruz de Jesus ensina a prioridade da salvação da humanidade sobre a salvação própria. A vida é feita para ser

doada pelos outros. Aparentemente ela se perde, mas realmente ela se ganha.203

Do que, então, nos salva ou liberta Jesus, com sua vida, sua mensagem, sua morte, dentro de nossa existência humana? Jesus nos salvou, quando nos mostrou como era e onde nos esperava Deus, ao mesmo tempo que mostrava nossa transcendência como criadores: na história.204

Portanto, a educação para a salvação é a educação que favorece a humanização, conforme sugeriu Paulo Freire,

A Palavra de Deus não é algo para ser (contido) vertido em nós como se nós fôssemos meros recipientes estáticos para isto. E porque salva, aquela Palavra também liberta, mas os homens têm que aceitar isto historicamente. Eles têm que fazer deles mesmos

sujeitos, agentes da salvação e liberação deles/delas. 205

202 BOSCH, David J. Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão. São

Leopoldo, Sinodal, 2002, p.144. (Grifo meu)

203

COMBLIN, José. Antropologia Cristã. (Série III A Libertação na História). Petrópolis: Vozes, 1985, p. 259.(Grifo meu)

204 SEGUNDO, Juan Luis. Que Mundo? Que Homem? Que Deus?. São Paulo: Paulinas, 1995, p.

527e 528. (Grifo meu)

Isto nos remete ao outro conceito de salvação, ou remissão, desenvolvido por Jürgen Moltmann em sua obra The Spirit of Life :

(...) devemos ser redimidos com o mundo, e não do mundo. A

experiência cristã do Espírito não nos desvincula do mundo. Quanto maior for nossa esperança pelo mundo, maior a nossa solidariedade com seus clamores e sofrimentos.206

O vocábulo alma aparece na bíblia logo em seu primeiro livro, o Gênesis. Ao longo dos anos, a concepção de alma foi sendo distorcida na história do Cristianismo, principalmente por conta da influência grega, o que muito impactou a visão da igreja sobre a salvação.

Em sua obra, Se Deus Existe, por que há Pobreza?, Sung, apresenta uma compreensão sobre a alma, que contribui para uma práxis educativa da salvação:

O livro do Gênesis não diz que Deus ficou contente com o corpo do homem e que depois juntou uma alma a esse corpo. E mesmo que assim fosse, o fato de Deus ter gostado do corpo já seria algo iluminador para a nossa argumentação, pois mostraria que Deus não considera o corpo como algo secundário, como algo indigno de atenção ou que deva ser desprezado. O que a Bíblia diz é (...) que “Deus modelou o homem”. Não o corpo. Segundo o relato bíblico, o ser humano não é composto de duas partes, como pensam os que adotam uma teoria dualista.

Depois de modelado, Deus não dá ao ser humano uma alma, mas sim o hálito de vida. Quando o autor diz que Deus insuflou o hálito de vida quer dizer também que a vida é um dom que vem do próprio Deus, porque Deus é a fonte da vida.

Com a vida recebida de Deus “o homem se tornou um ser

vivente”.207

A análise de Sung toca em um ponto crucial, o da interpretação do texto, pois conforme muitas traduções, no Gênesis “o homem passou a ser alma vivente”. Mesmo nestas versões, a premissa é de “ser” alma, ou como está na tradução utilizada por Sung, se tornou um ser vivente, e não “ter” a alma.

Como vimos, a noção dualista de alma não procede da visão bíblica. Nesta mesma linha, Comblin, expandindo a noção integral que a bíblia apresenta do ser humano diz:

206 MOLTMANN, Jürgen. The Spirit of Life: A Universal Affirmation. Minneapolis: Fortress Press, 1992,

p. 89.

207

O uso comum da palavra “alma” não corresponde nem ao sentido da Bíblia, nem ao conteúdo da verdadeira tradição cristã. Por isso a palavra “alma” é fonte de confusões permanentes.

O sentido comum reflete a herança da filosofia vulgar do Ocidente desde os gregos. Essa filosofia vulgar entende que o homem se compõe de dois elementos, o corpo material e a alma espiritual. Dos dois o mais digno é a alma. O que faz o ser humano é o elemento espiritual. O corpo material seria como um instrumento da alma.

Nada disso procede do cristianismo, embora a consciência comum ache que é exatamente a concepção cristã do homem. Na realidade a mensagem cristã sempre resistiu à inclinação para o dualismo corpo-alma, insistindo na unidade do ser humano. Todos os textos do magistério têm por finalidade ensinar a unidade contra o dualismo.

Devemos voltar ao uso da Bíblia que não divide o homem em partes. Os nomes dados ao ser humano exprimem aspectos do ser e não partes. Não se deve dizer que o homem tem corpo, alma, espírito, coração, mas que o homem é corpo, alma, espírito, coração.

A Alma é forma do corpo e não é de modo algum substância. Ela não tem nenhuma forma de existência fora do corpo. Há matéria e forma, mas não há alma e corpo. Forma e matéria são dois princípios invisíveis, o corpo é matéria e forma, o corpo é a alma, e a alma é o corpo.

Para o evangelho cristão, tudo no homem é corporal, tudo é espiritual, tudo é alma. Na há nada fora do corpo. Pois o espírito

está também no corpo, ele é o corpo humano como orientado sob a moção de Deus.

Todas as doutrinas de salvação colocam o essencial da sua mensagem no termo final da libertação. Basta examinar o que elas propõem no fim do processo de libertação. Para os cristãos, o fim do processo de libertação é a ressurreição da carne. (...) Longe de

pensar numa libertação final da alma por fim livre das cadeias do corpo, Paulo anuncia uma vida eterna no corpo. O corpo é suscetível de uma vida eterna. O corpo pode ser espiritualizado. O corpo não é incompatível com o Espírito, pelo contrário o espírito anima o corpo e torna-se um com ele, formando uma só vivência. (...) Os homens chegam ao seu fim mediante uma ação transformadora do corpo, assim como Jesus agiu para transformar e salvar os corpos208

Entre os batistas, a noção de salvação de almas foi fortemente influenciada por um protestantismo de missão de caráter conversionista, proselitista, competitivo e alienante. 209

Alguns aspectos do modo como os batistas estadunidenses agiram no Brasil lembram as Cruzadas realizadas por “cristãos” europeus em terras por eles

208 COMBLIN, José. Antropologia Cristã. (Série III A Libertação na História). Petrópolis: Vozes, 1985,

p. 249, 250, 81, 77 e 79. (Grifo meu)

209

SANTOS, Leontino F. Educação: Libertação ou Submissão? A ideologia da educação protestante na perspectiva da APEC. Barueri: Simpósio, 1999, p. 20 e 31.

consideradas de “pagãos muçulmanos”, entre os séculos XI e XIII e a história de colonização do Brasil que massacrou a religiosidade indígena. Este sabor imperialista perdura até hoje em nossa educação e missão, como aponta Leontino Santos:

Esse “ganhar almas“ (...) ao mesmo tempo em que atende aos interesses consumistas e utilitários de sobrevivência das denominações (...), esconde uma importante função (...) que é de amortecer, (...) ou neutralizar o ímpeto de revoltas populares, diante das injustiças sociais que ocorrem na sociedade brasileira. Partindo do pressuposto que a sociedade está enferma, (...) ela só será curada e transformada através das “almas ganhas” ou convertidas a Cristo. Convertidos os indivíduos se tornam tementes a Deus, bons cidadãos e bons patriotas. Levando-se em conta que a maioria (dos

grupos que difundem estas ideias) é de origem norte-americana,

percebe-se que o modelo de ser cidadão, patriota e cristão, bem como o modelo de sociedade implícitos em seu discurso, corresponde, em suas perspectivas e projetos,aos interesses e ao padrão norte-americano de ser, agir e pensar, em detrimento da cultura, dos interesses e dos compromissos históricos de cada indivíduo em seu país.210

O paradigma tradicional de salvação levou a missão da Igreja a objetivar a salvação de almas. Entretanto, quais são as implicações de uma educação que educa com esta perspectiva missiológica?

Mais uma vez, Jung Mo Sung apresenta algumas implicações para a missão da igreja diante da manutenção de uma visão dualista de salvação:

Quando dizemos que Deus se revelou e se encarnou como um ser humano para salvar somente nossas almas e que a ação de Deus e, portanto, também das igrejas, não tem nada a ver com os sofrimentos provocados pelos problemas materiais, estamos dizendo que Deus não se importa com o sofrimento (...) Se Deus se sensibiliza com o sofrimento de seus filhos e filhas, a salvação que Deus propõe deve também ter relações com esses problemas sociais.211

A teologia à qual Sung se opõe é uma teologia salvacionista totalmente desvinculada da realidade, pois a preocupação não é com o ser, mas com a conversão do ser ou de sua alma.

210

Idem, p. 26.

A implicação desta visão para a EBD é a de uma educação alienante, de distanciamento da realidade histórica entre a pessoas e que favorece os interesses de classes opressoras e não o nobre propósito da educação cristã que é humanizar o indivíduo. Portanto, é preciso haver a reformulação do conceito de salvação.

Uma possibilidade de ressignificação da concepção de salvação para a EBD poderia alicerçar-se no amor em forma de ação, não no assistencialismo paternalista errônea ou ingenuamente empregado por muitos grupos eclesiásticos.

Este amor em ação é o amor compartilhado ao ser, e não somente às suas necessidades “materiais” ou somente às necessidades “espirituais” (categorias comumente compreendidas separadamente) assim como fez Jesus em sua experiência da multiplicação dos pães, após um longo período de ensino, segundo registro do evangelho de Mateus (4. 13-21).

Naquela ocasião, o imperativo “dai-lhes vós de comer” destinou-se a que os discípulos de Jesus agissem em resposta a uma necessidade real da multidão, fome. O trabalho que os discípulos foram impelidos a fazer complementava aquilo que Jesus já estava fazendo, isto é, saciando o vazio das pessoas que ali estavam. Todavia, uma leitura superficial do texto perderá de vista a noção de que, naquele dia, a fome integral daquelas pessoas foi saciada, com pão e com o pão da vida, Jesus Cristo.

Precisamos de um paradigma de salvação que favoreça uma educação que educa para esta forma integral de intervenção no mundo, no qual Cristo continua trabalhando. A preocupação não é em encher os bancos e a membresia das igrejas, mas o objetivo é contribuir para que o ser humano, criatura de Deus, possa refletir a imagem e semelhança daquele que o criou, de uma maneira mais digna, mais humana.

O missionário estadunidense, Bill Bright, que em 1951 fundou a missão internacional Cruzada Estudantil pra Cristo, presente em mais de 190 países, resume este novo paradigma em sua noção de compartilhamento do amor de Cristo da seguinte forma “Evangelizar é compartilhar o amor de Deus, deixando os resultados com o Espírito Santo”.

Certa feita, em entrevista concedida à revista Teoria & Debate, quando questionado se era religioso, Freire respondeu falando sobre transcendentalidade e mundanidade:

Sou muito mais um homem de fé do que um religioso A minha fé se funda sobretudo na crença da existência de um Deus, que não é o “fazedor” da minha história, mas é uma presença na História dos homens e mulheres (...). Eu estou no mundo acreditando numa

transcendentalidade que eu não dicotomizo, não separo da mundanidade.212

Concluímos que a noção de salvação encontra na pessoa de Jesus sua melhor definição, salvação como humanização. A salvação não é somente para o indivíduo, mas Deus se propõe a redimir o ser humano com o mundo, com o cosmos, segundo nos ensina Paulo em sua carta aos Romanos (8. 19-23).

A salvação pela graça, outorgada por Jesus à humanidade, redime o ser integral, e não somente a alma como é difundido num cristianismo que tem mais identificação com a filosofia grega do que com Cristo.

É necessário que a EBD repense sua noção de salvação para que a educação por ela viabilizada eduque para a humanização do ser em sua integralidade.

212

Revista Teoria & Debate 17, 1º Trimestre de 1992. Memória: Entrevista com Paulo Freire, p. 37 e 38. (Grifo meu)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Pois encontrei aqui ótimas oportunidades para um grande e proveitoso trabalho (...).”

(Paulo – I Coríntios 16.9)

Como foi analisado ao longo desta pesquisa, apesar da proposta de Lécio Dornas para a EBD da Igreja Batista, desenvolvida em sua trilogia Socorro sou

Professor da Escola Dominical, de 1997, Vencendo os Inimigos da Escola Dominical,

de 1998 e A Nova EBD, A EBD de Sempre, de 2001, oferecer ao docente muitas possibilidades regadas a dinamismo e desejo expressivo em melhorar a qualidade da educação cristã disponibilizada na EBD, quando estudada criticamente em seus pressupostos pedagógicos e teológicos, constatam-se algumas limitações frente aos desafios e necessidades que se percebem no âmbito pastoral e educacional neste século XXI.

Zabatiero, ao analisar s Educação Cristã, expressou esta dura realidade

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