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Pressupostos pedagógicos e teológicos da EBD da Igreja Batista: Uma leitura crítica da proposta de Lécio Dornas a partir de Paulo freire e Juan Luis Segundo

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião

ABIGAIL ALBUQUERQUE DE SOUZA DANELUZ

Pressupostos Pedagógicos e Teológicos da

EBD da Igreja Batista:

Uma Leitura Crítica da Proposta de LÉCIO DORNAS

a partir de PAULO FREIRE e JUAN LUIS SEGUNDO

São Bernardo do Campo

(2)

ABIGAIL ALBUQUERQUE DE SOUZA DANELUZ

Pressupostos Pedagógicos e Teológicos da

EBD da Igreja Batista:

Uma Leitura Crítica da Proposta de LÉCIO DORNAS

a partir de PAULO FREIRE e JUAN LUIS SEGUNDO

Dissertação apresentada em cumprimento

parcial às exigências do Programa de

Pós-Graduação em Ciências da Religião, para a

obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Jung Mo Sung

São Bernardo do Campo

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

D198p Daneluz, Abigail Albuquerque de Souza

Pressupostos pedagógicos e teológicos da EBD da Igreja Batista: uma leitura crítica da proposta de Lécio Dornas a partir de Paulo Freire e Juan Luis Segundo /-- São Bernardo do Campo, 2010.

160fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo Bibliografia

Orientação de: Jung Mo Sung

(4)

A Jesus, Senhor da minha vida (que escolheu me chamar

(5)

EPÍGRAFE

A Palavra de Deus não é algo para ser (contido) vertido em nós como se

fôssemos meros recipientes estáticos (...). E porque salva, esta Palavra

também liberta, mas os homens têm que aceitar isto historicamente.

Paulo Freire (Carta para um Estudante de Teologia)

O Absoluto, a quem seguimos, não nos impõe cegueira obediente a

mistérios ininteligíveis, mas nos guia, como seres livres e criadores, para

uma verdade sempre mais profunda e enriquecedora.

Juan Luis Segundo (O Dogma que Liberta, p. 144)

Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos

amei a vós, assim também deveis amar uns aos outros. Nisto conhecerão

todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me

ama. E quem me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me

manifestarei a ele.

Se permanecerdes no meu ensino, verdadeiramente sereis meus

discípulos. Então conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me alcançado em Jesus, por me proporcionar esta experiência

singular e por me amar tanto através das pessoas abaixo listadas.

Ao meu esposo, o maior bem que achei. Obrigada, querido, por me ajudar a ver

diariamente quem é Deus, quem eu sou, quem é o meu próximo.

Aos meus queridos pais, Joaquim (in memoriam) e Nadira,

e meus irmãos, Pedro, Mira e Mariana, com quem tive as primeiras noções

de quem Deus era, de quem eu era, de quem era o meu próximo.

A Rosimary (in memoriam) e a Eurika, mulheres que me inspiraram.

Ao meu querido orientador “Profi” Jung por incorporar a solidariedade, por me ensinar a

aprender e a desaprender... que paciência o senhor teve comigo!

Ao querido pastor Neto pelo encorajamento e por acreditar em minhas intuições.

Ao meu querido pastor Kenji por oportunizar o gosto do magistério acadêmico.

Ao querido “Profi” Geoval pelo carinho e pastoreio sempre presentes e aos meus

mestres da EBD, LBC e Metodista com quem tanto aprendi.

Ao querido Pr. Lécio Dornas pela receptividade, abertura e diálogo.

Aos irmãos da Metodista: Lisboa, Lucy, Pedro, Analzira e Jorge pela amizade.

Aos irmãos do ICEC: Ricardo, Gedeon e Madalena pela generosidade.

Ao IEPG pelo generoso apoio.

A CAPES pela bolsa de estudo que viabilizou este caminho acadêmico.

(7)

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS...09

INTRODUÇÃO...13

CAPÍTULO I: A EBD Proposta por LÉCIO DORNAS para a Igreja Batista ...20

1. Breve Histórico dos Batistas: Chegada no Brasil e utilização da EBD na denominação...20

2. Quem é Lécio Dornas?...37

3. Proposta Teológico-Pedagógica de Dornas para a EBD...42

3.1 Bíblia ...43

3.2 Deus ...46

3.3 Ser Humano ...46

3.4 Salvação ...47

3.5 Educação ...49

3.6 Professor ...51

3.7 Aluno ...54

3.8 Informação e Conhecimento ...55

CAPÍTULO II: Aprender a Bíblia: Educação Bancária ou Dialógica?...57

1. Educação Bancária X Educação Dialógico-Libertadora ...57

2. Aprender a Bíblia: Informação ou Conhecimento?...73

CAPÍTULO III: EBD, Revelação e Salvação...81

1. Revelação: Doutrina ou Processo Pedagógico? ...81

(8)

CONSIDERAÇÕES FINAIS...101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…...106

(9)

LISTA DE SIGLAS

CBB Convenção Batista Brasileira

CBESP Convenção Batista do Estado de São Paulo

CCER-CBB Conselho Coordenador de Educação Religiosa da CBB

EBD Escola Bíblica Dominical

FTBSP Faculdade Teológica Batista de São Paulo

IBER Instituto Batista de Educação Religiosa

JUERP Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção

Batista Brasileira

PIB Primeira Igreja Batista

STBMT Seminário Teológico Batista de Mato Grosso

(10)

DANELUZ, Abigail Albuquerque de Souza. Pressupostos Pedagógicos e

Teológicos da EBD da Igreja Batista: Uma Leitura Crítica da Proposta de LÉCIO

DORNAS a partir de PAULO FREIRE e JUAN LUIS SEGUNDO. Mestrado em

Ciências da Religião – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. São

Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010.

RESUMO

Quando olhamos o histórico da Escola Bíblica Dominical (EBD) no Brasil, com

exceção do material produzido e trazido por missionários estadunidenses, até muito

recentemente, apenas um brasileiro batista, Lécio Dornas, produziu literatura que

auxiliasse pastores, líderes e professores nesta difícil tarefa da docência cristã.

Em sua trilogia: Socorro sou Professor da Escola Dominical de 1997,

Vencendo os Inimigos da Escola Dominical de 1998 e A Nova EBD, A EBD de

Sempre de 2001, Dornas introduz o docente a novas possibilidades na EBD.

Todavia, em seus pressupostos pedagógicos e teológicos, a proposta de Dornas

evidencia algumas limitações para a construção de uma práxis educacional

dialógico-libertadora que responda às necessidades e desafios contemporâneos.

O objetivo desta dissertação é oferecer uma leitura crítica dos pressupostos

pedagógicos e teológicos da proposta de Lécio Dornas para a EBD da Igreja Batista

a partir de Paulo Freire e Juan Luis Segundo. Ambos revelarão uma nova

abordagem para a EBD que pretende constituir-se como práxis.

(11)

DANELUZ, Abigail Albuquerque de Souza. Presupuestos Pedagógicos y

Teológicos de la EBD de la Iglesia Bautista: Una Lectura Crítica de la

Propuesta de LÉCIO DORNAS a partir de PAULO FREIRE y JUAN LUIS

SEGUNDO. Maestría en Ciencias de la Religión – Programa de Post-Graduación

en Ciencias de la Religión. São Bernardo do Campo: Universidad Metodista de

São Paulo, 2010.

RESUMEN

Cuando revisamos la historia de la Escuela Bíblica Dominical (EBD) en Brasil,

con excepción del material producido y traído por los misioneros estadounidenses,

nos percatamos de que a penas un brasileño bautista produjo literatura para auxiliar

a pastores, líderes y profesores en la difícil tarea de la docencia cristiana.

En su trilogía: Socorro soy profesor de la Escuela Dominical de 1997;

Venciendo los Enemigos de la Escuela Dominical de 1998; y La Nueva EBD, la EBD

de Siempre de 2001, Dornas introduce al profesor a las nuevas posibilidades en la

EBD. Sin embargo, en sus presupuestos pedagógicos y teológicos, la propuesta de

Dornas evidencia algunas limitaciones en lo que se refiere a la construcción de una

praxis educacional dialógico-liberadora que responda a las necesidades y los

desafíos contemporáneos.

El objetivo de esa disertación es ofrecer una lectura crítica de los

presupuestos pedagógicos y teológicos de la propuesta de Lécio Dornas para la

EBD de la Iglesia Bautista, a partir de Paulo Freire y Juan Luis Segundo. Ambos

divulgarán un nuevo abordaje para la EBD que pretenda constituirse como praxis.

(12)

DANELUZ, Abigail Albuquerque de Souza. Pedagogical and Theological Tenets of

the Baptist Church Sunday School: A Critical Reading of LÉCIO DORNAS

Proposal from the Perspective of PAULO FREIRE and JUAN LUIS SEGUNDO.

Masters Degree in Religion Sciences, Post-Graduation Program in Religion

Sciences. São Bernardo do Campo: Methodist University of São Paulo, 2010.

ABSTRACT

When we look at the records of Sunday School in Brazil, with exception of the

material produced and brought by North American missionaries, until very recently,

only one Baptist Brazilian, Lécio Dornas, had produced literature which aided

pastors, leaders and teachers in the tough task of Christian teaching.

In his trilogy: Help I’m a Sunday School Teacher from 1997, Defeating the

Sunday School Enemiesfrom 1998 and The New Sunday School, The Usual Sunday

School from 2001, Dornas introduces teachers to new possibilities on Sunday

School. Nonetheless, in its pedagogical and theological tenets, Dornas proposal

shows certain limitations in building a dialogical-liberating educational praxis which

responds to contemporary challenges and needs.

The proposal of this dissertation is to offer a critical reading of the pedagogical

and theological tenets of Lécio Dornas proposal to the Sunday School of the Baptist

Church, from the perspective of Paulo Freire and Juan Luis Segundo. Both will unveil

a new approach to the Sunday School which intends to establish itself as praxis.

(13)

INTRODUÇÃO

“somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada (...) o que ensina esmere-se no fazê-lo;”

(Paulo – Gálatas 12.5-7)

Atualmente verifica-se que a Educação Cristã nas igrejas e instituições

religiosas tem passado por várias mudanças, fruto de desafios que acompanham as

demais áreas da vida globalizada, tecnológica e impessoal em que vivemos.

Entretanto, ao longo de sua trajetória, a Educação Cristã parece ter se

distanciado de seus pressupostos fundantes, da reflexão e práxis pedagógico-cristã

em sua dimensão mais libertadora, caindo na lógica da reprodução do sistema

eclesial, negando seu propósito original.

Neste âmbito, desponta a Igreja Batista que até muito recentemente tinha

na tradicional Escola Bíblica Dominical (EBD) seu órgão máximo de articulação e

fomentação da educação cristã. Todavia, nem mesmo a EBD tem conseguido

sobreviver à grande crise do processo educacional, que é ainda mais forte na Igreja

Batista, pois vem aliada a outras dificuldades da denominação. Cada vez mais fica

notório o problema que as igrejas batistas locais têm enfrentado em tentar manter,

reavivar ou até extinguir a EBD.

Desta situação de inadequação, brotaram as primeiras sementes desta

pesquisa. Desde a infância, a pesquisadora participou ativamente da EBD da igreja

batista da qual fazia parte juntamente com sua família e a partir deste histórico de

vida, vocação e amor pela docência, sobretudo cristã, e vida atuante na EBD, que

surgiu o interesse e desafio em pesquisar esta, que, apesar de ser a instituição de

ensino cristão mais tradicional da denominação Batista, atualmente vem sendo

causa de grandes controvérsias para pastores, líderes, docentes e discentes.

Quando olhamos o histórico da EBD no Brasil, com exceção do material

produzido ou trazido por missionários estadunidenses sobre a educação cristã na

EBD, apenas um brasileiro batista produziu, até muito recentemente, literatura que

auxiliasse docentes na difícil tarefa do ensino cristão. Trata-se de Lécio Dornas,

pastor e educador mineiro que produziu, entre outras obras, uma trilogia da EBD

(14)

Em suas três obras: Socorro sou Professor da Escola Dominical, de 1997,

Vencendo os Inimigos da Escola Dominical, de 1998 e A Nova EBD, A EBD de

Sempre, de 2001, Dornas oferece ao docente novas possibilidades na EBD. Seus

textos são regados a muita inovação, dinamismo e desejo expressivo em melhorar a

educação cristã disponibilizada na EBD, na medida em que Dornas sugere maneiras

práticas para o desempenho da docência.

Vale salientar outra inigualável contribuição de Dornas, sobretudo se

considerado o ambiente não pouco resistente da denominação Batista a algumas

correntes e conceitos pedagógicos e teológicos contemporâneos. Em sua trilogia,

Dornas apresenta fragmentos do pensamento de Paulo Freire1, um dos maiores

educadores do século XX que, certamente, pode em muito contribuir para a

educação na EBD, mas que, até então, a despeito de sua notória influência na

educação secular nacional e internacional, esteve ausente do debate pedagógico na

EBD.

Isto nos remete ao conceito de "Sociologia das Ausências" desenvolvido por

Boaventura de Sousa Santos.2 Segundo Santos, esta é um sociologia que mostra

que o que foi feito ausente, experiência que foi desperdiçada, neste caso Paulo

Freire é fruto de uma razão indolente e orgulhosa, tema que retomaremos no

capítulo dois. As possíveis razões para este distanciamento entre a EBD e

pensadores brasileiros, como Paulo Freire, serão posteriormente discutidas, pois

1

Paulo Reglus Neves Freire, pernambucano nascido em 19 de setembro de 1921, em Recife, foi um dos maiores ícones da educação mundial moderna. Embora tenha nascido em família de classe média, de pai espírita e mãe católica, Freire logo experimentou dificuldades com a crise de 1929 o que mais tarde influenciaria seu trabalho devotado à educação popular e à pedagogia crítica que marcou profundamente a América Latina e a África, além de ser inspiração e causa de profundo estudo entre gerações de professores ao redor do mundo. Seus estudos e ação eficaz junto a camponeses e operários, alfabetizando adultos em apenas 45 dias em 1963, fez de Freire o inovador na pedagogia, estabelecendo novos paradigmas, novos questionamentos, democratizando o ensino e a linguagem, equipando pessoas para a libertação de sua condição de opressão, fizeram com que, durante o período do governo militar, Freire fosse perseguido e exilado, ficando fora do Brasil por mais de 15 anos. No exílio, mais precisamente no Chile, Freire escreveu sua obra prima, Pedagogia do Oprimido que foi traduzida para mais de 40 línguas. Em 1969 Freire lecionou em Harvard. Durante os 10 anos seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África. Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para "reaprender" seu país. Lecionou em várias universidades e, em 1989, tornou-se Secretário de Educação no Município de São Paulo. Freire foi e ainda é reconhecido mundialmente pela sua práxis educativa através de numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior. Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997, em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio. Seu pensamento educacional será amplamente apresentado no próximo capítulo.

2

(15)

trazem implicações mais profundas para a práxis educacional da EBD Batista no

Brasil, que em Dornas começa a ter pela primeira vez uma certa “brasilidade”.

É bem verdade que a mera citação de Paulo Freire não implica em sua

interação ao meio da docência na EBD. Entretanto, o fato é que a proposta de Freire

é em parte citada por Dornas, como nota-se no extrato abaixo, embora não

efetivamente compreendida nem implementada:

Paulo Freire cunhou a expressão educação bancária (...). Esta visão do aluno, como mero depositário dos conhecimentos do professor, é por demais retrógrada e daninha, diante do nobre propósito da educação cristã.3

Dornas critica severamente a educação bancária, um dos conceitos que serão

explorados no segundo capítulo desta dissertação, citando claramente Paulo Freire.

Todavia, no mesmo livro, repetidas vezes ele propõe uma educação tipicamente

bancária. Por exemplo, ao explicar o que seria um planejamento de aula para a

Escola Dominical e os Dez Mandamentos do professor da escola dominical,

respectivamente, Dornas afirma:

O professor, ciente do conteúdo, já tem uma ideia da

quantidade de informações e de ensinamentos que

precisará transmitir.4

Dar instrução sem esquecer da educação, isto é, transmitir conhecimento e, ao mesmo tempo, formar o caráter.5

Ou ainda em outro momento, explanando sobre o preparo espiritual do

professor da EBD:

Cada dia vivendo em comunhão com a Palavra de Deus, declarando com sua vida seu amor por ela (...), o professor vai enchendo suas entranhas (...) dos ensinamentos eternos

(...). Assim, o professor torna-se firme e constante,

verdadeiro depositário das verdades divinas, fiel

guardião da sã doutrina.6

A análise de contradições e ambigüidades como estas é alvo desta pesquisa,

na medida em que se objetiva investigar os pressupostos que levam Dornas a,

3 DORNAS, Lécio.

Socorro sou Professor da Escola Dominical. 9ª ed. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 117.

4

Idem, p. 19. (Grifo meu)

(16)

apesar de avaliar, neste exemplo, a educação bancária como nociva e ultrapassada,

ser incapaz de romper com tal prática em sua proposta de EBD. Portanto, quais são

os pressupostos teológicos e pedagógicos que impedem Dornas de fazer a

passagem da teoria para uma práxis educativa libertadora?

A hipótese que se pretende constatar é que a despeito das contribuições

anteriormente citadas e das que ainda serão tratadas nos próximos capítulos, em

seus pressupostos pedagógicos e teológicos, a proposta de Dornas quando

analisada mais de perto evidencia algumas limitações para a construção de uma

práxis educacional dialógico-libertadora que responda às necessidades e desafios

contemporâneos.

Como será amplamente discutida mais adiante, a trilogia de Dornas mostra

inconsistências internas e conceitos fundamentados em pressupostos que não

favorecem uma educação cristã compatível com a proposta maior do evangelho de

Cristo, frente à integralidade do ser humano. Estes pressupostos inadequados

norteiam todo o pensamento de Dornas e, por serem inadequados, não são mais

tolerados pela sociedade contemporânea, haja vista o número crescente de igrejas

batistas, nas quais a EBD já foi extinta ou está prestes a ser.

Este fato demanda reformulações que começam por uma renovação na visão

pedagógica, na qual a EBD é concebida como sendo estratégica e parte integrante

do processo de conversão dos perdidos e perdidas, passando pelo resgate de

princípios teológicos norteadores da educação cristã, até chegar a um diálogo entre

a Teologia e a Educação em seus elementos teóricos e práticos mais profundos.

Como já foi citado, com sua pedagogia crítica, o educador e cristão Paulo

Freire possibilita novos caminhos para se estruturar os pressupostos de uma

educação que educa para a vida, para a liberdade. Paulo Freire oferece muito mais

do que pressupostos para uma prática educacional. Freire vai além e alcança a

essência do processo educativo através de uma ação que viabiliza de forma integral

a educação libertadora com amor, fé, diálogo e espírito crítico, como tem sido

evidenciado através dos anos, não somente no Brasil, mas em todos os lugares

onde sua proposta foi e ainda é colocada em prática.

Paralelamente, o trabalho do teólogo Juan Luis Segundo, evidencia

categorias teológicas que apontam para uma educação cristã que, entre outras

coisas, compreende a revelação da palavra de Deus, o livro texto da EBD, como

(17)

maneira processual e comunitária que a verdadeira educação, neste caso a cristã,

sempre acontece.7

De Freire e Segundo podemos obter uma leitura crítica repleta de novos

horizontes para a EBD proposta por Dornas para a Igreja Batista, na medida em que

Paulo Freire, embora pedagogo, não divorcia a pedagogia de sua fé cristã mas, ao

contrário, vale-se de suas intuições cristãs para elaborar sua pedagogia e assim,

conjuntamente contribui para a teologia. Semelhantemente, Juan Luis Segundo

contribui não só na área da teologia mas também, da pedagogia, pois entende que a

teologia é articulada num processo pedagógico.

Constata-se que a grande contribuição de Freire e Segundo reside justamente

na capacidade que ambos têm de tratar com tanta harmonia categorias normalmente

compreendidas de forma independentes. Esta linha de pensamento será

determinante para a análise do âmago da proposta educacional da EBD de Dornas.

Logo, o objetivo desta dissertação é oferecer uma leitura crítica dos

pressupostos pedagógicos e teológicos da proposta de Lécio Dornas para a EBD da

Igreja Batista, a partir de Paulo Freire e Juan Luis Segundo, na medida em que

ambos podem revelar uma nova abordagem para a EBD que pretende se

estabelecer como práxis. Para tanto, serão empregados a metodologia bibliográfica

e o método dialético, pois viabilizam uma análise que:

(...) penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. 8

7 O cristão e teólogo católico Juan Luis Segundo nasceu em Montevidéu/Uruguai em 31 de Março de

1925. Segundo escreveu numerosos livros e artigos sobre teologia, ideologia, fé, hermenêutica, justiça social, entre outros assuntos, sendo “Teologia Aberta para o Leigo Adulto”, em cinco volumes, sua obra mais importante. Os anos de estudos, preparação espiritual e intelectual começaram quando Segundo era ainda bem jovem. Médico por formação, em 1941 ingressou na companhia de Jesus, estudou no Seminário Jesuíta em Córdoba e no Seminário de San Miguel, na Argentina e, mais tarde, na Faculdade de Alberto em Louvain/Bélgica, onde conheceu Gustavo Gutiérrez. Entre 1958 e 1963, estudou na Universidade de Sorbonne/ França e lá realizou seu doutorado. Segundo regressou ao Uruguai e, em Montevidéu, paralelamente a sua militância pelas questões teológicas e sua atividade docente não só no plano Latino Americano, mas também no Canadá, em Harvard/Estados Unidos e França, foi entre o laicato que Segundo estabeleceu suas raízes. Ele acreditava que a formação de um laicato consciente e atuante era a maior contribuição para a Igreja e para o mundo. Em 1964, Segundo conheceu em Petrópolis/ Brasil outros teólogos latino-americanos e assim iniciaram a Teologia da Libertação. Juntamente com o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, Segundo foi um dos criadores do movimento. Segundo faleceu no Uruguai em 17 de Janeiro de 1996, deixando saudade. O pensamento de Juan Luis Segundo será apresentado e discutido nos próximos capítulos.

8

(18)

Segundo Carlos Gil, o método dialético fornece as bases para uma

interpretação dinâmica da realidade, pois estabelece que os fatos sociais não devem

ser entendidos isoladamente, divorciados de suas influências políticas, econômicas,

culturais e religiosas.9

A pesquisa aponta algo relevante e inspirador para as comunidades

educacionais e eclesiástica, e para a sociedade como um todo, na medida em que

em analisando criticamente os pressupostos teológicos e pedagógicos da EBD de

Dornas à luz do pensamento de Paulo Freire e Juan Luis Segundo, sinalizam-se

critérios da construção de concepções pedagógicas e teológicas na prática das

igrejas cristãs, que intentam cumprir com zelo sua função transformadora.

Numa época em que mudanças culturais profundas ocasionam processos de

crise e transformação, tal estudo pode contribuir para pensar nossa realidade

histórica tanto na perspectiva pedagógica ou educativa, como na perspectiva

teológica e pastoral. Acrescente-se a isso o fato de ser este, mais um esforço no

resgate da memória e obra de Paulo Freire e Juan Luis Segundo, um passo no

diálogo entre eles que vem sendo fomentado na academia.

Verifica-se que o foco singular que este projeto possui não se limita somente

ao âmbito da educação e teologia, mas implicará também na análise de outras áreas

relacionadas.

A pesquisa foi desenvolvida em três capítulos, sendo que no primeiro deles é

oferecido um breve histórico dos Batistas e a vinda da denominação ao Brasil,

focalizando na EBD seu desenvolvimento e transição durante mais de um século de

história até chegar a Lécio Dornas, nos anos 90, que influenciou fortemente o

programa de educação cristã Batista Brasileiro, sobretudo através da EBD com a

produção de sua trilogia. Encerra-se o primeiro capítulo com o levantamento das

contribuições, contradições e limitações de alguns pressupostos pedagógicos e

teológicos da EBD proposta por Dornas.

O segundo capítulo ocupa-se em analisar os pressupostos pedagógicos que

norteiam a proposta de Dornas, em Diálogo com Paulo Freire e Juan Luis Segundo.

De Paulo Freire serão tratados os conceitos de educação bancária em contraste

com a educação dialógico-libertadora, a noção de que ninguém educa ninguém, mas

que entre si as pessoas se educam com amor, fé e diálogo, além de se construir

uma ponte entre a pedagogia e a teologia, alicerçando bem a noção de uma

9 GIL, Antonio Carlos.

(19)

educação cristã, na qual aprender a Bíblia não é decorar conteúdo ou obter

informação, mas sim o que Juan Luis Segundo chamou de dar “luz” para discernir as

apostas e caminhos da vida. Neste direcionamento de Segundo, ainda são expostos

a compreensão de que aprendizagem não é feita através de somas de verdades e

subtração de erros, mas sim da multiplicação constante de fatores, além dos

conceitos de “igreja docente com sua pedagogia apressada” em conjunto com “igreja

discente com perguntas atrasadas” que muito podem auxiliar a construção de novos

paradigmas para a EBD Batista.10

O terceiro capítulo trata de alguns pressupostos teológicos da proposta de

Dornas, utilizando caminho similar ao empregado no capítulo anterior. Juan Luis

Segundo será introduzido como uma opção de paradigma teológico que muito se

harmoniza com a noção pedagógica de Freire, na medida em que Segundo entende

a revelação de Deus como processo pedagógico e não como uma doutrina.

Salvação é o outro tema abordado como humanização integral do ser e não

somente da alma, conforme comumente se ouve. Na perspectiva cristã, a salvação

não é remir o ser humano do mundo, mas com o mundo.11

Finalmente, com a análise desenvolvida na pesquisa, espera-se indicar

algumas limitações que permanecem, e áreas que demandam estudos mais amplos,

para que os pressupostos pedagógicos e teológicos da EBD, que pretende se definir

como práxis, sirvam de fato para a composição de novos horizontes numa

perspectiva educativa e pastoral.

10

FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. 12a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983 e SEGUNDO. Juan Luis. O dogma que liberta: Fé, revelação e magistério dogmático. Tradução de Magda Furtado de Queiroz. 2 ª ed. São Paulo: Paulinas, 2000.

11 SEGUNDO. Juan Luis.

(20)

CAPÍTULO I:

A EBD Proposta por LÉCIO DORNAS para a Igreja Batista

“Vocês estavam indo tão bem! Quem convenceu vocês a deixarem de seguir a verdade?”

(Paulo – Gálatas 5.7)

O objetivo deste capítulo é oferecer um breve histórico dos Batistas e a vinda

da denominação ao Brasil, focalizando na EBD, seu desenvolvimento e transição,

durante mais de um século de história até chegar aos anos 90, com o surgimento de

Lécio Dornas que influenciou fortemente a EBD Batista brasileira com sua trilogia:

Socorro sou Professor da Escola Dominical (1997)

Vencendo os Inimigos da Escola Dominical (1998)

A Nova EBD, A EBD de Sempre(2001)

Encerra-se o primeiro capítulo com o levantamento da proposta teológico-

pedagógica de Dornas para a EBD através da análise de alguns de seus

pressupostos pedagógicos e teológicos.

1. BREVE HISTÓRICO DOS BATISTAS: CHEGADA AO

BRASIL E UTILIZAÇÃO DA EBD NA DENOMINAÇÃO

Os Batistas são hoje no Brasil cerca de 3 milhões de fiéis, espalhados por

todas as regiões. Devido a diferenças teológicas, os Batistas estão divididos em

alguns grupos, a saber: Convenção Batista Nacional (CBN) também chamados

“batistas renovados” por aceitarem o batismo pentecostal, Igrejas Batistas

Independentes do Brasil, que têm origem no movimento Pentecostal-Batista da

Suécia, igrejas com uma tendência mais conservadora, como a Igreja Batista

Conservadora, fundada no Rio Grande do Sul, Igreja Batista Bíblica, que fundou a

Comunhão Batista Bíblica Nacional (CBBN), Igreja Batista Fundamentalista e Igreja

Batista Regular. Há ainda outros grupos independentes e menores, entre os quais

(21)

Batista do Brasil, além da Igreja Batista do Sétimo Dia, que difere das anteriores pela

guarda do sábado.

Entretanto, o grupo Batista ao qual esta dissertação faz referência é o filiado à

Convenção Batista Brasileira (CBB), que atualmente soma 1,5 milhão de membros

em aproximadamente 7.600 templos espalhados por todo o território brasileiro.12

Muitas teorias foram desenvolvidas a respeito do surgimento dos Batistas,

grupo que rapidamente se espalhou por todo o mundo. Entre as teorias mais

aceitas, grosso modo, estão basicamente três.

A primeira é a JJJ (Jerusalém - Jordão - João) que aponta o surgimento dos

batistas a partir de João Batista, ideia amplamente difundida no Brasil, em 1931,

com a publicação do folheto O Rastro de Sangue (The Trail of Blood, título original)

do pastor batista J. M. Carrol. 13

A segunda teoria é a do parentesco espiritual com os Anabatistas ou

rebatizadores como foram chamados por rebatizarem pessoas previamente

batizadas pela igreja católica.

Os Anabatistas entendiam que o batismo só era válido quando realizado

voluntária e conscientemente. Por esta e outras razões, os Anabatistas discordavam

radicalmente da igreja Católica e tiveram grande ascensão após a Reforma

Protestante, no século XVI.

Eles ainda influenciaram grandes grupos entre os quais estão os batistas,

apesar de grandes discordâncias doutrinárias, como a não-aceitação por parte dos

batistas a juramentos, doutrina pacifista e hipnose da alma, ideias difundidas pelos

anabatistas. 14

A terceira teoria trata do surgimento dos batistas com os separatistas ingleses

do século XVII que, entre outras convicções teológicas, adotaram a validade do

batismo apenas após a regeneração. 15

Esta teoria compreende que a história dos batistas teve início com os ingleses

chamados separatistas que foram para a Holanda por volta de 1608, na época

centro de refugiados ingleses. Os separatistas buscavam liberdade religiosa,

12 Departamento de Pesquisas.

Denominações. SEPAL, 2009. Disponível em: http://infobrasil.lideranca.org/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=26>. Acesso em: 10 março de 2009.

http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=90%BA_assembleia_da_Convencao_Batista _Brasileira_comeca_sexta-feira_em_Cuiaba&edt=25&id=77652? Acesso em 21 de janeiro de 2010.

13 PEREIRA, J. Reis.

Breve história dos batistas. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1972. p.7.

14

TORBERT, R. G. Esboço da história dos baptistas. Portugal: Edições Vida Nova, 1959, p.35.

(22)

separação entre a Igreja e o Estado e o rompimento com a Igreja Anglicana já que a

Inglaterra estava debaixo do reinado Elizabetano (Elizabeth I, a última monarca da

dinastia dos Tudors): 16

A intolerância religiosa nos dias de Elizabeth foi tão grande ou

mesmo maior do que nos dias de Maria (cognominada a

Sanguinária), só que contra o Catolicismo Romano e contra quaisquer grupos protestantes que não aderiram às leis impostas pela Igreja Anglicana. 17

Na Holanda os ingleses Thomas Helwys e o pastor John Smith, após estudo

incessante da bíblia, partilharam da experiência do rebatizamento e lideraram uma

nova comunidade com princípios batistas.

Todavia, em dado momento, Helwys e Smith tiveram discordâncias quanto a

questões teológicas e Smith, liderando 32 pessoas, batizou-se a si mesmo por

afusão e filiou-se juntamente com os demais a um grupo Menonita, enquanto

somente 10 ou 12 permaneceram com Helwys. Smith permaneceu na Holanda, onde

pouco tempo depois faleceu. 18

Não se sabe precisamente quando Helwys retornou à Inglaterra, mas a igreja

batista foi tomando forma até que em 1612, em Spitalfields, cidade nos arredores de

Londres, foi organizada a primeira congregação batista inglesa. Helwys passou seus

últimos dias preso, falecendo por volta dos 45 anos. 19

A perseguição religiosa, característica da monarquia Inglesa daquela época,

não parou de assolar o país, e os cristãos batistas foram forçados a migrar para

várias partes do país e até do mundo, inclusive para a América do Norte, onde em

1620 um grupo de batistas fretou um pequeno navio chamado May-Flower e

desembarcou no que é hoje o estado de Massachussets. 20

Pode-se afirmar que desta dispersão talvez tenha surgido no povo batista

uma tendência para união denominacional, já que era um povo ainda pequeno com

16

OLIVEIRA, Zaqueu P. Liberdade e Exclusivismo, Rio de Janeiro: Horizonal, 1997, p.27 e 28.

17

Idem.

18 Ibidem, p.39. O batismo por afusão ou aspersão consiste no derramamento de água sobre o

batizando e não na imersão do batizando na água como criam os batistas. O testemunho pessoal e a perseguição religiosa levaram os anabatistas a várias partes da Europa, surgindo inúmeras igrejas na Suíça, Alemanha, Áustria e Países Baixos onde um dos líderes anabatistas foi Menno Simons (1496-1561) cuja influência sobre o grupo foi tão profunda que seus opositores passaram a chamá-los não mais de anabatistas mas de Menonitas.

19

Idem, p. 41, 42 e 43.

(23)

ideias diretamente opostas ao modelo religioso que imperava. Daí também

explica-se o zelo por uma doutrina tão rigorosa e clara, para estabelecer diferenciação e

identificação.

A posição dos batistas sobre liberdade religiosa, já no final da metade do século dezessete, havia avançado extraordinariamente, a ponto de se poder afirmar que foram eles que lançaram a semente do espírito democrático do mundo moderno. 21

Vale salientar que a despeito de terem sido reconhecidos entre as igrejas

históricas como pioneiros do espírito democrático, os batistas no Brasil

implementaram a democracia apenas dentro de seus templos, sem nenhuma

inferência na comunidade fora das portas de suas igrejas, sem gerar nenhuma

marca transformadora na sociedade brasileira, como aponta Alencar:

(...) num país em que as mulheres não votavam, pouquíssimas estudavam ou trabalhavam, as mulheres membros de Igrejas Batistas desde o século XIX já participavam de assembleias para

decidir o destino da sua congregação. Por que, então, esse

protagonismo democrático não os acompanhou na alteração da sociedade brasileira?

O que então justificaria sua postura alheia ao mundo brasileiro? Seu modelo é o estilo de vida americano. Neste caso, na sua totalidade branco, classe média, escolarizado, com postura asséptica de militância política. 22

Retomando o histórico Batista, no tocante à educação, embora tenham sido

vagarosos em reconhecer seu valor, em 1785 inspirados no ensino que um jornalista

inglês, chamado Robert Raikes, estava proporcionando a crianças pobres e

problemáticas, em Gloucester desde 1780, os batistas ingleses decidiram criar a

Sociedade das Escolas Dominicais.23

A princípio a ideia desenvolvida por Raikes foi rejeitada por muitos ingleses,

pois temiam que uma vez que os mais pobres tivessem acesso à educação não

aceitariam se submeter às classes privilegiadas às quais muitos cristãos batistas

pertenciam. 24

21

Idem, p. 120.

22

ALENCAR, Gedeon. Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses da (não) Contribuição Evangélica à Cultura Brasileira. São Paulo: Arte Editorial, 2007. p. 57 e 65. Para uma leitura crítica sobre o tema da democracia, vide capítulo 4: A democracia Brasileira tem uma marca batista?.

23

TORBERT, R. G.Esboço da história dos baptistas. p. 61.

(24)

Todavia, o apelo educacional tomou força entre os batistas, muitos seminários

foram gradativamente construídos, sobretudo com a inspiração advinda da grande

obra realizada pelo pastor William Carey na Índia apoiado por outros missionários,

tais como William Ward e Joshua Marshman, em meados de 1793, que entre outras

coisas consistiu em fundar 26 igrejas, 126 escolas com 10.000 alunos, traduzir as

Escrituras em 44 línguas, organizar a primeira missão médica na Índia, seminários,

escola para meninas e um jornal na língua Bengali. 25

A ideia inicial de ensino através da Escola Dominical já havia sido esboçada,

mesmo que de forma diferente, antes mesmo da iniciativa de Raikes em 1780. Há

indícios de que Zinzendorf na Alemanha e John Wesley na Inglaterra já

desenvolviam algum trabalho de ensino com crianças mesmo que de forma

esporádica. O fato é que estas iniciativas limitaram-se a grupos locais e assim não

ganharam maiores proporções. 26

25 William Carey nasceu em uma família pobre em Agosto de 1761 na Inglaterra. Aos 14 anos,

aprendeu o ofício de sapateiro. Apesar de nascer em um lar anglicano, sua identificação com a fé se deu na igreja batista à qual se filiou com 18 anos, em 1779. Nesta época Carey começou a se preparar para pregar. Tornou-se poliglota, dominando o latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês, além de diversas ciências. Em Junho de 1781, casou-se com a jovem Dorothy Placket, com a qual teve cinco filhos. Em 1775 foi tocado pelo avivamento evidente das mensagens de John Wesley e George Whitefield e, em 1787, começou a pregar sobre a necessidade missionária no mundo. Em sua oficina de sapatos, pendurou um mapa mundial feito por ele mesmo e enquanto trabalhava, olhava o mapa e assim sentiu a chamada de Deus em sua vida. A igreja batista passava por grande decadência espiritual e foi resistente ao apelo de Carey, quando quis introduzir o assunto de missões numa sessão de ministros: "Jovem, assente-se. Quando Deus resolver converter os pagãos, fa-lo-á sem a sua e a minha ajuda." Carey continuou sua pregação pró-missões estrangeiras, e como resultado, com um grupo de doze pastores batistas formaram a Sociedade Missionária Batista, no dia 2 de Outubro de 1792. Através do testemunho do Dr. Thomas, um missionário e médico que trabalhou por vários anos em Bengali, na Índia, William Carey entendeu sua vocação em 10 de Janeiro de 1793. Sua esposa recusou deixar a Inglaterra e Carey partiu com o filho mais velho, Felix, para a Índia. Infelizmente Carey não obteve permissão para entrar naquele país e retornou a Londres. Com a intervenção do Dr. Thomas, Dorothy, esposa de Carey, decidiu acompanhá-lo na segunda viagem e finalmente no dia 13 de Junho de 1793 William Carey e sua família deixaram a Inglaterra e nunca mais voltaram. Na Índia, em meio a condições dificílimas e oposição, trabalharam por 41 anos. Carey foi um dos homens mais eruditos de seu tempo no que diz respeito às línguas, sobretudo orientais. Suas gramáticas e dicionários são usados ainda hoje. Além disso, William Carey foi responsável pela erradicação do costume "suttee" – queimava-se a viúva juntamente com o corpo do esposo morto numa fogueira, vários experimentos agriculturais, fundação da Sociedade de Agricultura e Horticultura na Índia em 1820, primeira imprensa, fábrica de papel e motor a vapor na Índia, tradução da Bíblia em Sânscrito, Bengali, Marati, Telegu e nos idiomas dos Siques. Na manhã de 9 de Junho de 1834, Carey morreu aos 73 anos, considerado o pai do grande movimento missionário moderno.

26 KASCHEL, Walter.

(25)

No século XVIII a Europa e a América do Norte passavam por muitas

mudanças e dificuldades em várias áreas. Robert Raikes, um inglês redator e

produtor de 44 anos do Gloucester Journal, incomodado com a situação de

delinquência infantil que assolava a Inglaterra, sobretudo sua vizinhança, decidiu em

1780 sair às ruas e convidar crianças pobres para que aos domingos fossem à sua

casa aprender aritmética, princípios morais e cívicos, gramática e leitura utilizando a

bíblia. As aulas prosseguiram e com a adesão cada vez maior de crianças Raikes

contratou quatro professoras que recebiam um xelim por domingo. Todavia foi

apenas em 1783, três anos após o começo das aulas, que Raikes tornou público o

projeto de ensino dominical através do Gloucester Journal sem associar seu nome

ao movimento:

Tal foi o interesse pela nova instituição que em 1787, sete anos depois de funcionar a primeira Escola Dominical, já havia 250.000 alunos arrolados nas Escolas da Inglaterra. 27

Moravia (os irmãos moravianos) e assim acabou fundando e liderando uma comunidade cristã chamada Herrnhut (“O Abrigo do Senhor”). Outros grupos cristãos uniram-se a eles, entre os quais a ênfase era de uma busca do Senhor com todo o coração, com uma fé profundamente espiritual e de experiência e um evangelismo de âmbito não apenas local, mas mundial, com relacionamentos de unidade com outros grupos. Dali enviaram seus primeiros missionários para o Caribe, Groenlândia, América do Norte e outras regiões do planeta. Forçado a exilar-se por causa da perseguição religiosa, ele estabeleceu outras comunidades na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde procurou unir os grupos evangélicos, mas fracassou. Em seus últimos anos provou grande tragédia pessoal, com a morte do filho e esposa, além de dificuldades financeiras. O grande lema da vida de Zinzendorf era: “Tenho uma única paixão: Jesus, Ele e somente Ele”. Escreveu 2.000 hinos, alguns dos quais cantados pelos cristãos até hoje. Zinzendorf morreu aos 60 anos de idade. John Wesley, décimo terceiro filho do ministro anglicano Samuel e de Susana Wesley, nasceu a 17 de junho de 1703, em Epworth na Inglaterra. Ainda na infância, John Wesley foi o último a ser salvo, de forma miraculosa, em um incêndio que destruiu toda sua casa, onde estivera preso no segundo andar. A partir desse dia, Susana Wesley, sua mãe, dedicou-lhe atenção especial e aos cinco anos de idade, Susana começou a alfabetizar John, usando o livro dos Salmos como apostila. John estudou com sua mãe até os 11 anos. Entrou para uma escola pública onde ficou como aluno interno por seis anos. Aos 17 anos, foi para a Universidade de Oxford e começou a se reunir com um grupo de estudantes para meditação bíblica e oração, sendo conhecidos pelos colegas universitários de "Clube Santo". Os demais alunos, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os taxaram como “metodistas”. Neste grupo Wesley começou a visitar e evangelizar os presídios passando a se interessar mais pela questão social de seu país e a miséria que a Inglaterra vivia na época. Graduou-se em Teologia e pôde ajudar a seu pai na direção da Igreja Anglicana até os 32 anos, quando atendeu a um apelo: precisava-se de missionários na Virgínia, Nova Inglaterra. Wesley retornou à Inglaterra em 1738 e no dia 24 de maio, em Londres, desfrutou de uma experiência espiritual singular. Nos anos seguintes, Wesley pregava ao ar livre e certa vez pregou a cerca de 14.000 pessoas. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 175 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. Wesley foi resopnsável por obras sociais dignas de destaque, como compêndio de medicina, apoio na reforma educacional, apoio na reforma das prisões e apoio na abolição da escravatura.

27 Idem, p. 10. O xelim é uma antiga unidade monetária que esteve em uso em muitos países,

(26)

Vale ressaltar, portanto, que a origem da EBD, como seria chamada

posteriormente, se dá em função dos menos favorecidos, sobretudo crianças pobres

e iletradas, e que a utilização da bíblia no ensino se deu não com o intuito de ensinar

a bíblia em seu caráter doutrinário ou como um fim em si mesmo. Ao contrário, a

EBD de Raikes fazia do ensino através da bíblia um meio de libertação da condição

indigna, de fortalecimento da cidadania e da humanização das crianças carentes de

Gloucester e consequentemente de toda aquela comunidade.

Isto nos lembra a proposta de educação de Paulo Freire, que, entre outras

coisas, objetiva ser, antes de mais nada, um ato de amor que é também político, de

humanização e libertação, uma vez que através da leitura da palavra (que é

precedida da leitura de seu próprio mundo) estes menos favorecidos podem ter uma

nova leitura de sua própria condição opressiva, desumanizadora e do mundo ao qual

são sujeitos.28

Voltando ao histórico da EBD, concomitantemente à iniciativa de Raikes

William Fox, rico diácono batista, negociante por ofício, mesmo desconhecendo o

projeto de Raikes, iniciou também em outra parte da Inglaterra o ensino

essencialmente bíblico a crianças durante a semana. Juntamente com o apoio de

leigos batistas, Fox fundou em 1785 a Sociedade de Escolas Dominicais com o

propósito de divulgar a idéia em todo o território inglês. 29

A ideia de Raikes foi duramente criticada a ponto de certa vez o Arcebispo de

Cantuária, reunido com demais bispos, tramarem um plano para impedir a

divulgação da Escola Dominical. O movimento repercutiu de tal forma que John

Wesley logo adotou a Escola Dominical na igreja que viria a ser a Igreja Metodista,

além de a própria rainha da Inglaterra ter convidado Raikes para conhecer e apoiar o

desenvolvimento da “nova cruzada”, como ela entendia. Mais tarde as desconfianças

foram dissipadas, os resultados positivos surgiram e o governo inglês assumiu a

responsabilidade de educar as crianças. A escola pública inglesa, portanto, surgiu

da Escola Dominical de Raikes. 30

28

Paulo Freire e sua proposta educacional serão apresentados no próximo capítulo. Todavia os conceitos de “leitura do mundo” e “leitura da palavra” são explorados em sua obra A Importância do Ato de Ler; em três artigos que se completam. 43ªed. São Paulo: Cortez, 2002.

29

KASCHEL, Walter. Manual da Escola Dominical, p. 10.

(27)

Nos Estados Unidos o começo da Escola Dominical é incerto, mas acredita-se

que a primeira aula tenha ocorrido em 1786. 31

Assim como na Inglaterra, nos Estados Unidos também ocorreram

resistências à nova ideia de ensino, principalmente por ser entendida como

profanação ao domingo. Entretanto, a Escola Dominical se instalou em território

norte americano e mais de um século depois, em 1891, foi organizada a Junta de

Escolas Dominicais dos Batistas do Sul dos Estados Unidos que por muitos anos foi

a maior agência de divulgação e publicação de literatura religiosa do mundo, mesmo

que a princípio sem um planejamento de ensino. Em 1820 surgiram as lições seletas

da Escola Dominical e em 1872 o plano de lições internacionais que mais tarde seria

trazido por missionários para o Brasil. 32

Há controvérsias sobre o surgimento da Escola Dominical no Brasil. Alguns

consideram que em 1836 o metodista Rev. Justin Spaulding organizou no Rio de

Janeiro, entre estrangeiros, uma congregação com cerca de 40 pessoas e em junho

abriu uma classe de estudo com 30 alunos, introduzindo assim a Escola Dominical

em solo brasileiro. 33

Outros entendem que a Escola Dominical brasileira começou em 19 de

agosto de 1855, em Petrópolis (RJ), sob a direção dos missionários escoceses,

pastor Robert Kalley e sua esposa Sara. Naquele domingo, 5 crianças foram à aula

e, com o crescimento das atividades, as classes passaram a ser em Português,

Alemão e Inglês. 34

Entre os batistas brasileiros também há discordância quanto à data e

introdução da Escola Dominical. Parece consenso afirmar que a introdução da

Escola Dominical se deu juntamente com a existência da primeira igreja batista em

solo brasileiro. Todavia, é com relação à data da fundação da primeira igreja batista

que reside a discordância.

Alguns pesquisadores apontam o primeiro marco batista no Brasil com o

missionário americano, Thomas Jefferson Bowen. Thomas havia passado muitos

anos na África e pediu para ser transferido ao Brasil em 1859 em função de

problemas de saúde. Como sua situação não melhorou e seus esforços no Brasil

31

Ibidem.

32 Ibidem, p. 11 e 12. 33 OLIVEIRA, Betty A

.História dos batistas:Começos no Brasil, 2002. Disponível em:

<http:www.pibrj.org.br/historia/arquivos/historia_batistas_I.pdf>.Acesso em:15 novembro de 2008,p. 1.

34 KASCHEL, Walter.

(28)

não geraram muitos frutos, dois anos depois de sua chegada, Bowen retornou aos

Estados Unidos porém sem ter formado uma igreja.35

A data reconhecida na denominação como marco para a inserção do trabalho

Batista no Brasil foi por muitos anos a da fundação da primeira igreja entre

brasileiros em Salvador (BA), no ano de 1882, data defendida pelo pastor José

Pereira dos Reis. Porém, com o livro de Betty Antunes, de edição particular,

Centelha em Restolho Seco, de 1985, no qual a autora data o início do trabalho

Batista no Brasil em Santa Bárbara (SP), no ano de 1871, com a fundação da igreja

formada por colonos estadunidenses, o impasse a respeito da historiografia batista

brasileira que já havia se instaurado em 1966 tomou maior proporção.

Recentemente a CBB achou por bem instituir uma comissão de estudo para

definir o marco histórico inicial dos Batistas no Brasil. O parecer da comissão

segundo relatório de 16 de janeiro de 2009, reconheceu ambas as datas, 1871 e

1882, fazendo a distinção com base nas perspectivas de imigração e missão

respectivamente.36

Todavia, esta dissertação compreende a fundação do trabalho Batista no

Brasil em 1871, tal qual datada e defendida por Betty Antunes de Oliveira, tendo

como base a tese de doutorado do pastor batista Alberto Kenji Yamabuchi que

propõe uma análise das motivações que permearam a controvérsia nas datas da

origem do trabalho Batista no Brasil, e as implicações de até recentemente ter se

privilegiado a visão do pastor José Pereira dos Reis em detrimento da visão de Betty

Antunes de Oliveira, numa perspectiva de gênero.37

A igreja de Santa Bárbara foi formada por imigrantes norte-americanos vindos

do sul dos Estados Unidos, após a Guerra de Secessão, juntamente com outros

colonos que pertenciam a diferentes grupos evangélicos. Em 10 de setembro

daquele ano, a Igreja Batista de Santa Bárbara foi organizada com cultos em Inglês

e oito anos depois fundaram a segunda igreja batista. Ambas as igrejas não

permaneceram naquela localidade, mas foram responsáveis por uma solicitação

35 PEREIRA, J. Reis.

Breve história dos batistas, p.93

36 Associação Batista do ABC. Relatório da Comissão Nomeada pela CBB para estudar e dar parecer

sobre o marco histórico inicial dos Batistas no Brasil, 16 de janeiro de 2009. Disponível em: <http://www.batistasabc.org.br/ParecerDaCBB.htm>. Acesso em: 24 de fevereiro de 2009.

37 OLIVEIRA, Betty A. História dos batistas. p. 1 e YAMABUCHI, Alberto Kenji. O Debate sobre a

(29)

junto à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos para que enviassem

missionários ao Brasil. 38

Tal pedido foi endossado por um ex- general das forças sulistas dos Estados

Unidos, A. T. Hawthorne, que já havia estado no Brasil e em uma de suas pregações

sobre o campo missionário promissor, um jovem pastor texano chamado William

Buck Bagby ficou impressionado e profundamente empolgado com a ideia de viver e

trabalhar no Brasil. Nesse tempo William Bagby estava noivo de Anne, uma jovem

batista muito atuante na Escola Dominical. Após conversarem, decidiram se

apresentar como missionários para o Brasil à Junta de Missões Estrangeiras que na

época preferia enviar missionários à China. 39

Os Bagbys se casaram em outubro de 1880. Em janeiro de 1881 embarcaram

para o Brasil e, assim que chegaram ao Rio de Janeiro, foram diretamente para

Santa Bárbara. Lá conheceram um padre brasileiro, Antonio Teixeira de

Albuquerque que mais tarde seria o primeiro brasileiro batista, e logo após

receberam um jovem casal de missionários americanos, Zachary e Kate Taylor. 40

Juntos viajaram para Salvador, a primeira arquidiocese do Brasil, e em 15 de

outubro de 1882 organizaram a Primeira Igreja Batista da Bahia, a primeira igreja

batista para brasileiros. 41

Alguns pesquisadores acreditam que a primeira perseguição aos batistas em

solo brasileiro se deu em 1880 contra o primeiro pastor brasileiro, Antonio Teixeira

de Albuquerque. Por ser ex-padre, Antonio Teixeira abandonou o sacerdócio na

igreja católica e se casou com uma jovem. Foi preso por seis meses e excomungado

publicamente. Nessa época o regime Imperial vigorava e o Brasil vivia um momento

de tensão, sobretudo em função das leis escravagistas. Fortes restrições eram feitas

aos que professavam religião diferente da do Estado, ou seja, aos não-católicos.

Missionários podiam pregar em suas casas, mas não em locais públicos, como ruas

38 PEREIRA, J. Reis.

Breve história dos batistas, p.93 e 94.

39 Idem, p. 95. 40

PEREIRA, J. Reis. História dos batistas no Brasil: 1882 -1982. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1982. p. 17 e 18.

41 PEREIRA, J. Reis.

(30)

e praças, e a nova igreja que surgia no Brasil chamava a atenção de tal forma que

certa feita o pastor William Bagby foi nocauteado por uma pedra. 42

Outros fatos de igual agressividade, opressão e perseguição eclodiram em

diversas partes do Brasil, mas o povo batista continuou crescendo.

Um típico exemplo foi o caso de um senhor negro que freqüentava os cultos

da igreja batista de Santa Bárbara e repentinamente desapareceu. A igreja procurou

por ele e mais tarde soube que se tratava de um escravo e que seu senhor o havia

ameaçado de morte caso retornasse às reuniões protestantes. Numa atitude sem

precedentes, a igreja comprou o escravo e concedeu- lhe a liberdade. 43

Em 1890 o Brasil decretou a separação entre Igreja e o Estado mas apenas

de maneira formal. A separação de fato começou a ocorrer um ano depois com a

Constituição Republicana Federal defendida pelo então Ministro da Justiça do

Governo Provisório, Rui Barbosa. Enfim, a liberdade de culto se tornava realidade e

com ela foi quebrado o monopólio da Igreja Católica em celebrar atos públicos como

casamento e funerais. 44

A Escola Dominical no Brasil foi se desenvolvendo juntamente com as igrejas

batistas:

Desde o princípio da história batista no Brasil, houve a preocupação em adestrar os membros das igrejas nos conhecimentos bíblicos e doutrinários. Uma das primeiras obras, editadas por Zacarias Taylor, foi um “Catecismo das Doutrinas Batistas. 45

Esta afirmação de José Pereira dos Reis, mais precisamente a expressão

“adestrar os membros da igreja nos conhecimentos bíblicos e doutrinários” é de

extrema significância, pois remonta não somente à mentalidade dos primeiros

missionários batistas estadunidenses que vieram ao Brasil, mas também toda a

visão que direcionou o desenvolvimento educacional da denominação ao longo dos

anos até os dias de hoje. Voltaremos a esse assunto posteriormente.

Notadamente o princípio inicial de auxílio social que tinha a Escola Dominical

realizada na vizinhança carente de Raikes, em Gloucester, Inglaterra, foi

descaracterizado quando a Escola Dominical chegou aos Estados Unidos, até

42

OLIVEIRA, Zaqueu Moreira. Perseguidos mas não Desamparados. Rio de Janeiro: JUERP, 1999, p.51 e 52.

43 Idem, p 53. 44

Ibidem, p. 69.

45 PEREIRA, J. Reis.

(31)

porque lá a estrutura pública de ensino já era mais desenvolvida. Todavia a

preservação da Escola Dominical como organização integrante da identidade Batista

foi preservada, pois notou-se o potencial catequizador e doutrinário que esta podia

exercer nos países que seriam os novos campos missionários, segundo a afirmação

do educador e teólogo Nunes:

Quando veio para o Brasil, através dos missionários, a escola dominical era um instrumento de evangelização e doutrinamento. A estrutura da EBD era similar à das escolas seculares dos EUA. Burocrática, departamental, cognitiva e curricular com uma proposta da escola tradicional (ênfase no professor e no conteúdo). Sua estrutura era dividida em cargos e funções para melhor eficiência do trabalho escolar. 46

Nota-se, portanto, que a estrutura que vigora na maioria das EBDs batistas

até o dia de hoje: salas divididas em faixas etárias, repetição sistemática de temas e

livros bíblicos e a ênfase constante nas doutrinas da igreja, é fruto de um modelo

implementado ao longo de décadas e que foi reforçado por literaturas norteadoras

da EBD no Brasil.

Na verdade, a atividade editorial já existia em território brasileiro, mas de

forma muito rudimentar. Porém, após a aquisição de algumas máquinas para a

veiculação do O Jornal Batista, fundado em 1901, começou-se a publicar as lições

da Escola Dominical e houve o surgimento do O Infantil, com histórias bíblicas e

lições da Escola Dominical para crianças. As lições da Escola Dominical apareceram

em Revista de Adultos e O Amigo da Juventude, somente em 1907 e 1909

respectivamente. 47

Com o objetivo de atender à igreja batista que crescia em território brasileiro,

a demanda por materiais impressos, sobretudo no campo da educação cristã, era

notória não somente entre os batistas, mas também entre outros grupos

denominacionais. Daí originou-se a editora batista, criada em 1907, primeiramente

sendo chamada de Junta de Escolas Dominicais e Mocidade.

Em 1918 foi editado o Manual da Escola Dominical em Recife, que contribuiu

para o entendimento da EBD no Brasil. Todavia, com a mudança de nome da editora

46

NUNES,Elton de O. Desafios e Alternativas para a Práxis Educacional Religiosa na Atualidade: uma Análise a partir da Convenção Batista Brasileira. 1 de dezembro de 2005. Disponível em:

<http:www.revistatheos.com.br/Artigos%20Anteriores/Artigo_01_01.pdf>. Acesso em: 15 março de 2009, p. 4.

47 KASCHEL, Walter e HALLOCK, Edgar.

(32)

para Casa Publicadora Batista, depois em meados dos anos 60 outra mudança para

JERP e finalmente JUERP (Junta de Educação Religiosa e Publicações da

Convenção Batista Brasileira) foi que a edição de lições para EBD alcançou o seu

ápice.

No livro de A. R. Crabtree, Baptistas no Brasil: A História do Maior Campo

Missionário dos Batistas do Sul de 1953, a importância dada às publicações da Casa

Publicadora foi registrada da seguinte forma:

Enquanto mais da metade do povo no Brasil não consegue ler, alfabetização está crescendo rapidamente [...]. Pessoas da classe média são as que mais leem e preferem livros de autores estrangeiros. 48

A JUERP exerceu papel determinante em difundir ideias e o modelo estrutural

de EBD no Brasil o qual foi trazido, implementado e mantido pelos missionários

estadunidenses, de forma ainda mais contundente e padronizada alguns anos

depois, em 1966, com o livro de autoria da missionária Cathryn Smith: Programa de

Educação Religiosa. 49 Nota-se aqui, em sua origem, a estreita ligação entre a

editora da denominação batista e a EBD, notadamente o órgão máximo de fomento

da doutrina batista.

Muitos evangélicos se beneficiaram com as produções da JUERP ao longo de

seus quase 103 anos de existência, com materiais, tais como folhetos, revistas,

livros, hinários, bíblias e outros. Em seus anos de apogeu, a JUERP chegou a ter 20

lojas espalhadas em todo o Brasil e uma indústria gráfica num pavilhão de 7.000m²

com mais de 200 empregados. 50

Estes dados evidenciam a expansão e destaque que a EBD obteve ao longo

da história dos batistas no Brasil, o que perdurou até recentemente. Infelizmente, o

prenúncio da crise da EBD entre os batistas foi, de certa forma, evidenciado com o

colapso da estrutura da JUERP por volta de 1994.

Em 02 de novembro de 1998, o O Jornal Batista publicou um artigo de autoria

do pastor Sóstenes Borges, relator do Grupo de Trabalho Repensando a CBB, que

fazia referência direta à crise então vivida pela denominação batista, mais

48

CRABTREE, A. R. Baptists in Brazil: A History of Southern Baptists Greatest Mission Field. Rio de Janeiro; 1953, p. 146. (Tradução da autora).

49 Idem, p. 14 e SMITH, Cathryn.

Programa de Educação Religiosa. Rio de Janeiro: JUERP 1966.

50

(33)

precisamente a crise na JUERP. O artigo, em sua introdução, comenta o momento

de descredibilidade denominacional vivido: 51

Há um sentimento de pesar e uma tristeza institucional que ainda não foi superada desde a grande crise na JUERP (que ainda não foi totalmente sanada). Há desdobramentos colaterais, que têm atingido outras instituições, ainda a serem até mesmo diagnosticados. 52

Não há consenso sobre a origem, a razão e os verdadeiros responsáveis pela

crise na JUERP. Entretanto, é sabido que em algum momento, no começo da

década de 90, já havia indicadores da crise financeira e organizacional e da

volumosa dívida contraída junto a bancos e fornecedores que, mesmo talvez

superavaliada, levou a CBB a cogitar a insolvência da editora. 53

Há a possibilidade de que o colapso da editora tenha sido influenciado pela

crise na Escola Dominical ou que o inverso também seja verdadeiro, a EBD tenha

entrado em colapso devido à crise na JUERP. Este questionamento demanda uma

pesquisa mais profunda, pois seria igualmente possível a editora ter entrado em

crise por conta apenas de má administração sem que isso implicasse em crise na

EBD, assim como a EBD poderia estar em crise e a editora estar bem

comercialmente. Todavia a despeito da questão não ser objeto de nossa análise, é

bastante curioso o fato de ambas as instituições, JUERP e EBD, terem entrado em

colapso quase que concomitantemente.

Numa tentativa de resgatar o antigo nível de credibilidade, a CBB criou em

2007 a Convicção Editora. O projeto, ainda que não divulgado, é de que

paulatinamente esta nova editora tome o lugar da JUERP, que vem encontrando

dificuldades em se reerguer devido à sua incapacidade de resolver a crise em todos

os seus aspectos e pelo desgaste da imagem desencadeado, dentre outros fatores.

O modelo de ensino, que por tanto tempo perdurou na Escola Dominical,

passou a apresentar sinais de inadequação nas igrejas locais. Tanto é verdade, que

a PIB de São Caetano do Sul,54 foi levada a repensar a EBD quando constatou que

51 BORGES, Sóstenes. Dá-nos um rei. O Jornal Batista, 1998. Disponível em:

<http://www.stbne.org.br/organizacoes/gt/danosrei.html>. Acesso em: 24 de junho de 2009.

52

Idem.

53

Vários Autores. Propostas relativas ao GT repensando a Convenção Batista Brasileira aprovadas na 78.a Assembléia. Salvador, janeiro de 1997. Disponível em: <http://www.stbne.org.br/organizacoes/gt/78assemb.html>. Acesso em: 24 de junho de 2009.

54

(34)

cerca de 30% dos entrevistados não viam coerência entre os conteúdos das lições

da EBD e a vida cotidiana, além de apenas 32% dizer serem assíduos à EBD. 55

Uma breve pesquisa na programação postada nos sites de grandes igrejas

evangélicas ao redor do Brasil indicará que a EBD tem sido extinguida ou substituída

por encontros em grupos que nem sempre preservam a ênfase no estudo bíblico.

Esta crise na EBD passou a tomar dimensões tais, que recentemente até o jornal de

maior veiculação entre os batistas, O Jornal Batista, tratou o assunto publicando um

texto de autoria não divulgada, intitulado: A EBD forma Cristãos Maduros? (ver

anexo 2).

É bem verdade que a interrogação do título foi propositadamente desenhada

de forma a não ser reconhecida quando da leitura do título. Mesmo assim, é de

extrema relevância que o órgão maior de comunicação da denominação tenha

publicado parte do conteúdo do trabalho de conclusão de curso de um seminarista

batista que ousou afirmar que apesar de importante – e portanto pode ser

aproveitada numa nova proposta de educação cristã - a EBD é ineficaz em produzir

discípulos maduros de Cristo. 56

Outros sintomas da crise na EBD batista foram evidenciados através dos

temas da revista Educador editada pela JUERP com títulos como “101 Anos de Foco

na Escola Bíblica Dominical” (1º Trim. de 2008) e novamente em 2009 com a

temática “Nova?...Velha?...ou de sempre...Escola Bíblica Dominical”.

A temporada de discussões sobre a EBD veio com força total, a saber, sua

razão de ser, validade, necessidades e possíveis rumos dentro do contexto da

denominação batista. Provavelmente, por esta razão, a CBB tem empenhado

esforços em promover nas igrejas e em suas lideranças locais o retorno ao espírito e

à tradição da EBD entre o povo batista.

Acredita-se que muitos aspectos ao longo dos anos contribuíram para que a

EBD alcançasse, não somente entre os batistas, mas entre evangélicos de forma

geral, este momento de profunda reestruturação.57

55

Para maiores informações leia o Anexo 1. Pesquisa de Campo Realizada com Discentes sobre a Escola Bíblica Dominical. PIB São Caetano do Sul (SP). 94 adultos, discentes, ambos os sexos, entre 13 e 90 anos. Maio de 2007.

56

Para maiores informações leia o Anexo 2. Autor Desconhecido. “A EBD forma cristãos maduros?”

O Jornal Batista. 17 de fevereiro de 2008, p. 11.

57 Cada denominação tem tratado a questão de forma diferenciada havendo até quem esteja vivendo

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