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Santa Maria de Itabira (MG): Imóvel e caminhão que deram origem a rede Bretas na década de

ESTRATÉGIAS ADOTADAS E SUA ATUAÇÃO NO ESPAÇO URBANO UBERLANDENSE

Foto 13 Santa Maria de Itabira (MG): Imóvel e caminhão que deram origem a rede Bretas na década de

Fonte: Revista Gôndola (mai. 2004, p. 34.)

Nesse momento, em 1986 o armazém dos irmãos Bretas contava com sete funcionários e ainda atuava no sistema de balcão. Tendo em vista o prejuízo que o armazém vinha acumulando desde três anos anteriores, havia a intenção por parte dos proprietários de vender a loja, o que, no entanto, não se realizou, dada a ação dos filhos de Ildeu Bretas, Estevam e Ildeu, que assumiram o negócio da família. Embora não tivessem vasta experiência no setor varejista, a nova direção da mercearia procurou desde o início impulsionar os negócios, buscando sua recuperação e crescimento. Estevam Duarte de Assis é personagem fundamental na história empresarial do Grupo Bretas, responsável por elaborar juntamente ao sócio e irmão as primeiras estratégias expansionistas, torna-se o diretor geral da empresa.

Por este fato, é importante resgatar rapidamente sua história como empresário, que teve início aos 29 anos, depois de ter trabalhado dois anos como engenheiro de obras no estado de Rondônia. Embora não tivesse experiência com o setor varejista, ao assumir a empresa da família, segundo depoimentos do próprio Estevam, as estratégias de expansão e modernização da empresa sempre estiveram aliadas a um “jeito simples” da família. Segundo matéria publicada pelo Jornal O Estado de São Paulo (2011)

O jeito simples da família contaminou o negócio. Por causa disso, o Bretas é um supermercado de custo operacional baixo. Os executivos não são bem pagos. Eles não têm carro nem secretária. Por alguns anos, o salário do presidente foi de cinco mínimos. A sede da rede fica num prédio construído com blocos de concreto e chão de cimento. O escritório de Assis é o retrato mais fiel dessa cultura espartana. Não tem o menor charme - nem computador e telefone. "O computador está na cabeça dele", diz uma de suas quatro irmãs, conhecida pelo apelido de Tuquinha. Sob a mesa de metal, nenhum objeto. Papéis, só na primeira gaveta. "São documentos e desenhos de lotes que eu quero comprar. Sou um comprador compulsivo de lotes", diz Assis (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).

Ainda segundo o artigo publicado pelo jornal, Estevam reside em um apartamento alugado com três quartos com a esposa. Possui apenas trinta peças de roupa em seu armário e não possuem aparelho de televisão nem microcomputador em casa. O perfil do empresário se justifica pelo voto de simplicidade que teria feito juntamente com a esposa, ambos católicos, afirmando que por não terem filhos, utilizam parte da renda mensal para cobrir despesas, e o restante para ajudar outras pessoas, especialmente através de doações à Igreja. Após entrevista com o então diretor do grupo Bretas Estevam de Assis, foi publicado pelo “Diário do Nordeste” em dezembro de 2007, uma passagem que retrata claramente o que foi mencionado.

Com a filosofia ‘Duro com os problemas, suave com as pessoas’ e adotando o lema ‘Gente que gosta de gente’, o empresário Estevam Duarte de Assis, que já foi missionário na Amazônia, norteia sua administração por princípios cristãos, tendo como diferencial um modelo peculiar de gestão com ênfase no amor pelas pessoas (DIÁRIO DO NORDESTE, 2007).

O modelo de gestão baseado no amor, como mencionado pelo artigo, se tornou uma das estratégias empresariais do Grupo, que investe na divulgação da ideia entre os funcionários por meio de palestras e cursos, bem como aos clientes, através de estratégias de marketing. Segundo Estevam, seu modelo de gestão parte do princípio de “encarar as dificuldades e tentar trabalhar elas”, no entanto, quando se trata das pessoas, é preciso “ser suave porque elas não erram porque querem, mas porque não foram motivadas o suficiente ou não foram treinadas”.

Embora não seja um modelo de gestão empresarial comum, existem indicadores que demonstram que parece ser uma estratégia com resultados positivos. Sabe-se, no entanto,

que a empresa não deve seu êxito histórico apenas a tal modelo gerencial, que poderia ser entendido ainda apenas como estratégia de vendas ou mesmo como gestão dos recursos humanos da empresa. As estratégias e ações empresariais do grupo Bretas vão além, utilizando-se de planejamento e logística, como pode ser percebido ao longo de sua trajetória.

Um dos marcos históricos da empresa foi o ano de 1987, quando, de acordo com Enilda Martins de Assis30, em uma visita a cidade de Timóteo (MG), Estevam Duarte adquire na

cidade uma loja que pertencera ao grupo Pão de Açúcar e Mercantil Bandeirantes. Esta foi a primeira experiência da família com o modelo do autosserviço, o que foi um desafio conforme comentado por Enilda, ao revelar que “o consumidor quando chegava ao supermercado para fazer compras, pegava a mercadoria na gôndola e ficava um buraco no lugar, porque atrás não tinha nenhum produto” (REVISTA GÔNDOLA, mai. 2004, p. 38). Outro desafio seria a dimensão da loja, com cerca de 2,3 mil metros quadrados, uma área de vendas muito superior aos 170m² da mercearia pioneira, que deveriam então ser ocupados por gôndolas e uma grande variedade de mercadorias. Cerca de 17 anos após a inauguração da loja Bretas pioneira do autosserviço, sua área construída já chegava a 8 mil metros quadrados e 3 pavimentos (REVISTA GÔNDOLA, mai. 2004).

Continuando sua expansão e investimento em novos mercados, em 1988 novas lojas foram inauguradas em Coronel Fabriciano (MG) e Ipatinga (MG), além de uma loja em Acesita (MG), na região do vale do Aço. Todas as lojas inauguradas nas cidades mencionadas foram consequências da conclusão de bons negócios, especialmente em relação à compra de prédios, em geral, antigas lojas supermercadistas desativadas, o que interfere diretamente na queda do valor do imóvel. Da mesma forma, a instalação das lojas em Montes Claros (MG) e Juiz de Fora (MG) também foram possibilitadas graças a tais boas oportunidades, demonstrando as primeiras estratégias expansionistas e locacionais do grupo. Inicialmente, este grupo contava com a sociedade entre os irmãos Estevam e Ildeu, como já mencionado, no entanto, a partir da inauguração da terceira loja, outros 10 irmãos assumiram a sociedade da empresa, que passou a contabilizar ao todo 12 sócios. A fim de evitar problemas familiares advindos da administração da empresa, o grupo foi dividido em 12 partes iguais, em que todos têm o mesmo valor de voto no conselho. Além disso, foram estabelecidas regras para que os herdeiros dos sócios tivessem direito a fazer parte como funcionários da empresa. As sete metas já conhecidas pelos sucessores são: curso superior, pós-graduação, morar nos Estados Unidos por no mínimo um ano, passar no curso

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Enilda Martins de Assis é filha de Ézio Bretas de Assis. Foi entrevistada em 2004 pela Revista Gôndola em matéria comemorativa aos 50 anos da Rede Bretas.

de gerente ministrado pelo próprio grupo Bretas, formar-se como gerente, ser considerado “pessoa de bom relacionamento” e honesta.

Assim, os registros da história da empresa apontam a década de 1990 como sendo o início de sua “diáspora” em direção ao interior de Minas Gerais e estado de Goiás, tendo ocorrido nos primeiros anos da referida década, a chegada de lojas da rede Bretas em Goiânia (GO) e Aparecida de Goiânia (GO). Isso deve-se, em grande parte, a melhoria econômica do país ao longo dos anos de 1990, com a implantação do “Plano Real” em 1994, superando a forte crise econômica e social instaurada durante o Governo de Fernando Collor. Este Plano Econômico brasileiro tinha como um dos principais objetivos a estabilização da economia e o controle dos altos índices de inflação, e foi elaborado com o auxílio de vários economistas, na época, reunidos pelo Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Dessa forma, o lançamento do novo Plano em fevereiro de 1994 no governo do então presidente Itamar Franco, foi o responsável pela implantação do Real como nova moeda brasileira, bem como pela estabilização econômica ao longo dos anos que se seguiram, controlando ainda a hiperinflação e elevando o poder de compra da população.

Para o setor supermercadista, o controle inflacionário é fundamental, já que permite maior segurança ao consumidor e eleva seu poder de compra. Assim, vivenciando uma nova conjuntura econômica brasileira favorável, a rede Bretas se dedica a abertura de novas filiais pelos estados de Minas Gerais e Goiás, inaugurando em 1992 lojas nas cidades de Montes Claros (MG) e Juiz de Fora (MG). Já em 1996 a rede inaugura as primeiras lojas no Triângulo Mineiro, começando na cidade de Uberaba e, posteriormente, em 1998, na cidade de Uberlândia. Conforme comenta Estevam Duarte de Assis em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em fevereiro de 201031, "no começo, nossa estratégia de crescimento

era de urubu: comprávamos lojas que estavam fechando, quase de graça. Só em 1994, oito anos depois que assumimos, é que abrimos a primeira loja nova." Nos casos das cidades de Uberaba e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, essa estratégia inicial foi utilizada pela rede ao comprar os prédios dos supermercados mais antigos das cidades. Em Uberlândia, por exemplo, a rede adquiriu os dois prédios pertencentes aos supermercados Alô Brasil, ambos localizados na área central da cidade nos últimos anos da década de 1990, como demonstrado na foto.

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Entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo - “Estadão” e publicada pelo mesmo em 15 de fevereiro de 2010 em matéria intitulada “O Capitalista de Fé”. Disponível em:

Foto 14 - Uberlândia (MG), Avenida Afonso Pena - Antiga instalação da primeira loja