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3. PSICOLOGIA E MOTIVAÇÃO

3.2. JOGOS E A SATISFAÇÃO DAS TRÊS NECESSIDADES BÁSICAS

3.2.2. Satisfação da Autonomia

Muitos estudos já foram feitos e publicados para apresentar como a autonomia é importante para motivar e gerar sentimentos de bem-estar e satisfação. Esses estudos fornecem um forte suporte para a classificação da autonomia como uma das necessidades motivacionais fundamentais (Rigby & Ryan, 2011). Ao experimentar autonomia, as pessoas se sentem mais felizes, saudáveis e motivadas. Mas é importante mencionar que autonomia e liberdade são conceitos diferentes porque, mesmo que uma pessoa tenha a sensação de liberdade, ela só será beneficiada pela experiência de autonomia se ela sentir que possui escolhas e oportunidades interessantes. São as

36 escolhas significativas que contribuem para a autonomia e, mesmo que só exista uma opção, a autonomia estará presente se essa for a opção desejada por quem a possui (Rigby & Ryan, 2011).

Jogos satisfazem a necessidade de autonomia oferecendo oportunidades e escolhas através de diferentes características de jogos, como (Rigby & Ryan, 2011):

 Identidade: Jogos permitem que as pessoas assumam diferentes identidades. Dessa forma, seus jogadores têm a oportunidade de escolher seu avatar, que inclui a escolha da aparência física, da idade, das roupas, de atributos de personalidade e até mesmo de elementos fantasiosos como poderes.

 Atividade: Enquanto jogos com foco na competência são construídos para apresentar uma série de desafios ao jogador, jogos que focam na autonomia permitem que jogadores escolham que atividades e desafios eles desejam perseguir.

 Estratégia: Oferecer que o jogador escolha entre diferentes estratégias para solucionar um desafio é outra característica de jogos com foco na autonomia, que permitem que seus jogadores explorem entre diferentes opções.

Em jogos, é possível incluir elementos para aumentar a autonomia dos usuários. A identidade, representada muitas vezes por um avatar, é uma característica importante porque pessoas tendem a admirar indivíduos de sucesso ou personagens de ficção científica e muitas vezes imaginam como seria viver um desses personagens (Dillon, 2010). Dar aos usuários a oportunidade de caracterizar seu próprio avatar, inclusive podendo incluí-lo num contexto maior, como uma narrativa, pode auxiliar a motivá-los. Além disso, é possível incluir diferentes atividades, oferecendo oportunidades de escolha ao jogador, e ainda diferentes estratégias para realização de cada atividade.

Um fator importante da necessidade de autonomia é que é possível satisfazê-la mesmo quando não há possibilidades de incluir múltiplas escolhas para o jogador. Ter a sensação de autonomia significa buscar algo que nos interessa e que buscamos. Já a sensação contrária, a de sermos controlados, existe quando não estamos interessados no que estamos fazendo, quando trabalhamos apenas por salário ou quando fazemos algo por medo de punições. Dessa forma, mesmo que exista apenas uma escolha, a sensação de autonomia existirá se essa escolha é a que aprovamos (Rigby & Ryan, 2011). Em um ambiente de trabalho, se um funcionário recebe uma tarefa, será mais provável ele ter uma sensação de autonomia se entender e acreditar na importância que fazer aquela tarefa tem para o sucesso da empresa. Com isso, o engajamento pela autonomia em um

37 ambiente de trabalho onde não existam muitas oportunidades de escolhas pode ser maximizado através de uma boa comunicação entre gerentes e funcionários. Essa experiência é chamada de engajamento pela vontade e está relacionada com a satisfação da autonomia mesmo em jogos lineares, que não oferecem muita liberdade, fazendo com que o jogador tenha um grande interesse pelas ações que ele realmente terá que fazer (Rigby & Ryan, 2011).

A sensação de autonomia tem um efeito poderoso no desempenho e na atitude das pessoas. A motivação através da autonomia produz um melhor entendimento conceitual, maior persistência na escola e em esportes, melhores notas, maior produtividade e níveis maiores de bem-estar. Com isso, a autonomia é importante em diversos contextos, como na educação, no trabalho, na prática de esportes e em outras atividades (Pink, 2011).

Pink (Pink, 2011) defende que em um ambiente de trabalho as pessoas precisam ter autonomia sobre quatro fatores, que ele chama de “os quatro T’s”: tarefa, tempo, técnica e equipe (team). A autonomia sobre tarefas diz respeito à escolha das tarefas que serão feitas. Um exemplo de aplicação é visto em algumas empresas, como a Google, que permitem que seus funcionários utilizem 20% do tempo de trabalho em tarefas de seu interesse. Essa estratégia é responsável por gerar muitas ideias inovadoras para essas empresas, e as pessoas costumam ser mais eficientes nesse tempo de autonomia do que em outras tarefas. A autonomia sobre o tempo é vista em empresas que observam apenas o trabalho feito e a produtividade de seus funcionários, sem se preocupar com o tempo de trabalho de cada um. Nesses casos, muitas vezes as pessoas tem a possibilidade de trabalhar de casa e nas horas que consideram mais produtivas. Empregados trabalhando com essa autonomia reportam melhores relações com família e amigos, mais lealdade à empresa, mais foco e energia, e mais produtividade. Já a autonomia sobre a técnica se refere à forma que o trabalho será feito. Como já foi visto, permitir que uma pessoa tenha diferentes estratégias para solucionar um problema é um importante fator motivacional. Por fim, a autonomia sobre a equipe tem relação com as pessoas que trabalharão juntas. Algumas organizações estão descobrindo os benefícios de oferecer às pessoas certa liberdade de escolha no momento de definir uma equipe de trabalho e essa motivação por escolha de equipe é um dos motivos que fazem com que muitos gostem da ideia de iniciar a própria empresa.

Os “4 T’s” estão relacionados com “o que fazer”, “quando fazer”, “como fazer” e “com quem fazer”. Para satisfazer a necessidade de autonomia é preciso se preocupar

38 com essas quatro questões. Além disso, como visto, é preciso se preocupar com as escolhas dos usuários e também com o direcionamento da vontade do usuário para uma determinada escolha que seja importante para o projeto.

Por fim, a autonomia está diretamente relacionada com a retenção dos usuários. Jogos que satisfazem essa necessidade fazem com que jogadores passem mais tempo jogando (Rigby & Ryan, 2011). Um jogo de competência pode fazer com que seus jogadores fiquem bastante satisfeitos ao jogá-lo, mas é a necessidade de autonomia que fará com que eles continuem jogando, mesmo depois de finalizá-lo. Uma atividade que busque a motivação intrínseca não precisa satisfazer uma ou outra necessidade, ele pode conter padrões que satisfaçam ambas, tanto a de competência como a de autonomia, pois é possível satisfazer múltiplas necessidades simultaneamente (Rigby & Ryan, 2011).

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