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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. SATISFAÇÃO COM A VIDA

3.1 Satisfação com a Vida

Enquanto seres sociais, é indiscutível que o trabalho ocupa uma proporção substancial na vida das pessoas (Grint, 1998). Há uma tendência para se efetuarem estudos sobre a satisfação no trabalho tendo em conta factores próprios do ambiente de trabalho, mas não nos podemos esquecer que os indivíduos sofrem também influências de situações externas a esse espaço e que inadvertidamente as transportam para o seu ambiente de trabalho, sendo o contrário também acontece (Spector, 1997, Paulino, Moura, Vasconcelos, Alves & Torres, 2012). São diversos os estudos que apontam para a existência de uma relação entre a satisfação no trabalho e a satisfação com a vida (Rain, Lane, & Steiner, 1991; Judge & Watanabe, 1993, Marqueze & Moreno, 2005).

3.2 Bem-estar subjetivo: Bem-estar na visão hedónica

O bem-estar subjetivo (BES) constitui um campo de estudo recente e insere-se no campo da psicologia positiva, incluindo a dimensão cognitiva e a afetiva. O estudo do BES busca compreender a avaliação que as pessoas fazem de sua vida, sendo definido como o estudo científico da felicidade: o que a causa, o que a tem e o que a destrói, adota uma visão de bem-estar como algo que lhe dá prazer ou felicidade, ou seja designado por mais afeto positivo, menos afeto negativo e maior satisfação com a vida (e.g., Diener & Lucas, 1999), sendo este também denominada por bem-estar hedônico.

Segundo Ryan e Deci (2001), a visão hedonista da felicidade é de que o bem-estar compreende a experiência de prazer e desprazer, a qual acontece com aquilo que o indivíduo experiencia fazendo um julgamento sobre os aspetos positivos e negativos da vida.

Da revisão bibliográfica efetuada podemos evidenciar o facto de existe um consenso em definir o bem-estar subjetivo com base em duas conceções, que se correlacionam: a dimensão cognitiva conjugada como a satisfação com a vida, e a dimensão afetiva

32 conceptualizada como o sentimento de felicidade (e.g. Diener e Diener, 1995, Diener, Suh, Lucas & Smith, 1999; Diener & Suh, 2000, Otta & Fiquer, 2004).

a) A dimensão cognitiva refere-se ao julgamento da satisfação global com a vida, nos seus diferentes domínios da vida tais como: trabalho, família, lazer, saúde, finanças, entre outros;

b) A dimensão afetiva evidencia as reações emocionais dos indivíduos perante os eventos que ocorrem na sua vida, e que se relacionam com os afetos positivos como a alegria, o orgulho e de afetos negativos como a tristeza, a depressão, a inveja, entre outros. O afeto positivo pode ser concebido como um sentimento transitório, como um contentamento hedonista que é experimentado num determinado momento, de entusiasmo, ou de atividade. Enquanto o afeto negativo consiste num sentimento transitório que inclui emoções desagradáveis como a ansiedade, depressão, agitação, aborrecimentos, pessimismo, entre outros sintomas psicológicos angustiantes (Albuquerque & Trócolli, 2004; Keyes, Shmotkin & Ryff, 2002).

A satisfação com a vida é considerada como um dos principais indicadores de bem-estar subjetivo, sendo avaliada como uma referência a áreas importantes da vida, como por exemplo o trabalho e a família.

Segundo Chambel (2005) a experiência no trabalho afeta o indivíduo no que respeita ao seu bem-estar, sendo este descrito e operacionalizado através dos conceitos de Bem-estar Subjetivo e Psicológico, e estão relacionados com a avaliação positiva que as pessoas fazem da sua própria vida.

Os trabalhadores passam muito do seu tempo no trabalho e muitas vezes ainda transportam para casa essas vivências. Para Chambel (2005), Danna e Griffin (1999) as experiências no trabalho afetam o indivíduo, com implicações na sua saúde e bem-estar, que podem ter consequências tanto para o trabalhador quanto para a instituição. As consequências individuais têm implicação direta nos aspetos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, enquanto as organizacionais estão relacionadas com absentismo, custos com seguros de saúde e produtividade, aspetos que afetam mais diretamente as organizações.

33 A vida pessoal e a vida profissional não são entidades separadas. A forma como os indivíduos se sentem no trabalho encontra-se muito relacionada com a forma como se sentem na vida. O conceito de bem-estar no trabalho (BET) abre uma nova perspetiva de investigação que se apoia na psicologia positiva, tendo como foco os aspetos positivos dos indivíduos e das organizações, contrapondo-se às abordagens que enfatizam o stresse e os mecanismos geradores de doenças, procurando identificar-se estratégias psicológicas que promovam a melhor forma de enfrentar as situações adversas, como se pode verificar no estudo levado a cabo por Sá et al. (2014).

O conceito de BET foi muito influenciado por Diener e Scollon. (2003), com base no conceito de BES, como um modelo hierárquico de felicidade, de satisfação geral com a vida e em domínios específicos, como no trabalho.

Para Siqueira e Padovan (2008), o conceito de BET é formado por três elementos, a satisfação no trabalho, o envolvimento com o trabalho e o comprometimento organizacional afetivo, que se designam como vínculos positivos com o trabalho:

1. A satisfação no trabalho - caracteriza-se pelo estado emocional positivo ou de prazer, resultante de um trabalho ou de experiências de trabalho;

2. O envolvimento com trabalho - constitui o grau em que o desempenho de uma pessoa no trabalho afeta sua autoestima;

3. O comprometimento organizacional afetivo - traduz-se no estado em que um indivíduo se identifica com uma instituição particular e com os seus objetivos.

3.3 Saúde e Bem-estar físico e psicológico

As grandes alterações que as organizações têm sofrido no modo de produção têm produzido grande impacto sobre os trabalhadores, pelo que nos últimos anos com o processo de globalização da economia e as tendências de mercado, têm havido grandes alterações no mundo do trabalho, com grande impacto na satisfação e graves consequências na saúde desses profissionais. Renner, Taschetto, Baptista e Basso (2014) realizaram um estudo com o objetivo de verificar a perceção dos enfermeiros sobre a sua qualidade de vida e a satisfação com o seu trabalho. Concluíram que estes estavam satisfeitos com o ambiente trabalho e os

34 relacionamentos interpessoais. Contrariamente sentiam-se insatisfeitos com a remuneração o que faz com que estes profissionais sentissem a necessidade de arranjar um segundo emprego, provocando uma sobrecarga física e emocional, com consequências negativas na qualidade de vida.

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