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ρ p

Responsabilidade 0,117 0,242

Percepção do peso da mãe 0,200* 0,044 Percepção do peso da criança 0,233* 0,018 Preocupação do peso 0,412** <0,001

Restrição total 0,243* 0,014

Restrição parcial 0,330** 0,001

Recompensa -0,159 0,110

Pressão para comer -0,288** 0,003

Monitorização 0,140 0,159

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 4: Associações entre atitudes e práticas alimentares maternas e z-score de IMC da criança.

Foi encontrada uma correlação fraca e positiva entre o z-score da IMC da criança e a preocupação com o ganho de peso da mesma (ρ=0,412, p<0,001). Por sua vez, a correlação entre o z-score de IMC da criança e a pressão para comer revelou-se inversa e fraca (ρ= - 0,288, p=0,003).

Pelo teste de Kruskal-Wallis, aferiram-se diferenças entre os factores do CFQ e o estado ponderal. Foi observado que a preocupação com o peso aumenta significativamente quando as crianças apresentavam excesso de peso ou obesidade. Por sua vez, a restrição parcial foi significativamente maior nas crianças com excesso de peso e esse aumento foi ainda mais acentuado quando as crianças apresentavam obesidade. Por último, comparativamente ao grupo de crianças normoponderais, a monitorização foi mais elevada no grupo “excesso de peso”; no entanto, no grupo “obesidade”, esse aumento não foi tão marcante (Gráfico 2).

Gráfico 2: Ilustração representativa das atitudes e práticas alimentares dependendo do estado ponderal da criança.

Associações entre atitudes e práticas alimentares da mãe e a frequência de consumo de alimentos pela criança

A tabela 5 relaciona a frequência de ingestão dos alimentos de elevada palatabilidade com os diferentes factores do questionário. Não foram encontradas correlações significativas entre a frequência de ingestão de doces com os factores do CFQ em análise. A frequência de ingestão de salgadinhos foi correlacionada inversamente com a responsabilidade percebida (ρ=-0,248, p=0,012). Por outro lado, foi encontrada uma correlação positiva fraca entre a frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em gordura e a percepção do peso da criança (ρ=0,214, p=0,031) e a monitorização (ρ=0,208, p=0,036). No entanto, a correlação entre a frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em gordura e o factor recompensa foi inversa.

Correlação entre frequências de ingestão e o CFQ Frequência de ingestão de doces Frequência de ingestão de salgadinhos Frequência de ingestão de alimentos

com elevado teor em gordura

Responsabilidade ρ 0,099 -0,248

*

0,114

p 0,323 0,012 0,253

Percepção do peso da mãe ρ 0,081 -0,143 0,069

p 0,417 0,153 0,488

Percepção do peso da criança ρ 0,061 0,004 0,214

* p 0,546 0,972 0,031 Preocupação do peso ρ 0,091 0,014 0,180 p 0,361 0,891 0,071 Restrição total ρ -0,101 -0,059 0,110 p 0,314 0,555 0,270 Restrição parcial ρ -0,043 -0,063 0,173 p 0,667 0,529 0,082 Recompensa ρ -0,141 -0,001 -0,228 * p 0,158 0,991 0,021

Pressão para comer ρ -0,082 -0,166 -0,091

p 0,413 0,096 0,365

Monitorização ρ 0,171 0,032 0,208

*

p 0,086 0,747 0,036

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 5: Correlações entre frequências de ingestão alimentar das crianças e atitudes e práticas maternas.

Associações entre atitudes e práticas alimentares maternas e a ingestão nutricional de criança

Para indagar as relações entre as atitudes e práticas maternas e a ingestão nutricional da criança, utilizou-se novamente o coeficiente de correlação de Spearman. Apenas foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa entre a ingestão energética da criança e a preocupação com o ganho de peso.

A preocupação com o ganho de peso da criança apresentou correlação inversa com: a ingestão energética total (ρ=-0,218, p=0,027); a ingestão de Hidratos de Carbono (ρ=-0,326, p=0,001); fibras alimentares (ρ= -0,199, p=0,045); açúcares totais (ρ= -0,262, p=0,008); dissacarídeos (ρ=-0,201, p=0,046); outros açúcares (ρ=- 0,295, p=0,003); gordura trans (ρ=-0,458, p=0,032); e água (ρ=- 0,195, p=0,049). As correlações apresentadas variam entre muito fracas ou

fracas. Quanto ao factor recompensa, foi encontrada uma correlação fraca com a variável “outros açúcares” (ρ=0,241, p=0,015).

Registou-se uma correlação muito fraca e inversa entre o factor pressão para comer e a ingestão de monossacarídeos (ρ=-0,232, p=0,020). Este factor correlacionou-se também com a ingestão de gordura monoinsaturada (ρ= 0,231, p= 0,019) e de gordura trans (ρ=0,659, p=0,001).

Responsa- bilidade Percepção do peso da mãe Percepção do peso da criança Preocupa- ção com o peso Restri- ção total Restri- ção parcial Recom -pensa Pressão para comer Monitori- zação Valor energético ρ 0,048 -0,093 -0,07 -0,218* 0,045 -0,037 0,185 0,137 0,042 p 0,631 0,355 0,483 0,027 0,653 0,713 0,062 0,169 0,674 Energia proveniente de gordura ρ 0,042 -0,094 -0,111 -0,08 0,063 0,014 0,134 0,163 0,056 p 0,678 0,346 0,268 0,423 0,532 0,888 0,178 0,103 0,577 Energia proveniente da gordura saturada ρ 0,073 -0,087 -0,043 0,022 0,057 0,036 0,037 0,07 0,079 p 0,468 0,384 0,67 0,822 0,569 0,716 0,714 0,486 0,428 Proteínas ρ 0,065 -0,008 -0,007 -0,021 0,118 0,063 0,111 0,151 0,053 p 0,519 0,937 0,942 0,833 0,237 0,533 0,268 0,129 0,6 Hidratos de Carbono ρ 0,074 -0,104 0,037 -0,326** -0,038 -0,112 0,157 0,075 -0,023 p 0,46 0,296 0,71 0,001 0,707 0,263 0,116 0,454 0,815 Fibras alimenta- res ρ -0,097 -0,14 0,107 -0,199* 0,013 -0,048 0,158 0,034 -0,131 p 0,332 0,161 0,284 0,045 0,899 0,635 0,113 0,736 0,191 Fibras solúveis ρ 0 -0,037 -0,003 0,001 0,155 0,098 0,17 0,005 -0,1 p 0,997 0,717 0,979 0,99 0,125 0,332 0,093 0,963 0,327 Açúcares totais ρ 0,167 0,024 0,016 -0,262** -0,108 -0,129 0,048 0,072 -0,106 p 0,093 0,807 0,872 0,008 0,278 0,197 0,63 0,471 0,289 Monosaca- rídeos ρ -0,058 0,038 0,094 0,019 -0,032 -0,004 -0,101 -0,232* 0,114 p 0,567 0,705 0,349 0,852 0,751 0,97 0,313 0,02 0,255 Dissacaríd eos ρ -0,096 -0,15 -0,187 -0,201* -0,015 -0,056 0,118 -0,162 0,061 p 0,347 0,14 0,063 0,046 0,885 0,58 0,244 0,109 0,55 Outros açúcares ρ 0,005 -0,155 -0,032 -0,295** -0,065 -0,172 0,241* -0,02 -0,067 p 0,961 0,12 0,75 0,003 0,518 0,083 0,015 0,845 0,504 Gordura ρ 0,042 -0,1 -0,103 -0,073 0,067 0,02 0,13 0,162 0,05 p 0,674 0,319 0,305 0,465 0,5 0,842 0,193 0,105 0,617 Gordura Saturada ρ 0,073 -0,087 -0,041 0,023 0,057 0,037 0,036 0,069 0,079 p 0,463 0,383 0,681 0,818 0,566 0,711 0,719 0,488 0,432 Gordura Monoinsa- turada ρ 0,016 -0,064 -0,128 -0,027 0,072 0,017 0,168 0,231* 0,006 p 0,873 0,522 0,201 0,786 0,474 0,862 0,091 0,019 0,955 Gordura polinsatu- rada ρ -0,058 -0,046 -0,059 -0,091 0,09 0,07 0,101 0,156 -0,002 p 0,565 0,648 0,556 0,365 0,367 0,484 0,312 0,118 0,984 Gordura Trans ρ 0,009 -0,163 -0,306 -0,458* -0,23 -0,208 -0,143 0,659** -0,022 p 0,968 0,468 0,166 0,032 0,303 0,352 0,526 0,001 0,923 Colesterol ρ 0,092 -0,101 -0,064 0,041 0,135 0,088 0,089 0,05 0,107 p 0,358 0,311 0,52 0,679 0,176 0,379 0,373 0,618 0,284 Água ρ 0,041 -0,005 0,011 -0,195* -0,01 -0,002 -0,024 -0,085 0,065 p 0,684 0,96 0,91 0,049 0,922 0,987 0,809 0,395 0,515 *p<0,05 **p<0,01

Tabela 7: Correlações entre ingestão nutricional das crianças e atitudes e práticas alimentares das mães

5. Discussão

O presente estudo teve como objectivo investigar a influência do nível educacional da mãe nas atitudes e práticas alimentares maternas, relacionar os efeitos das atitudes e práticas alimentares no peso da criança, e avaliar o impacto destas na alimentação da criança. Os resultados sugerem que as atitudes e práticas alimentares exercidas pela mãe, podem estar relacionadas com o nível educacional da mesma e que, o tipo de práticas adoptadas podem ter algum impacto no peso e na alimentação da criança.

Neste estudo evidencia-se que, mães que possuem um nível de escolaridade mais elevado, exercem menor pressão para comer nas suas crianças, não tendo sido encontradas outras diferenças entre o nível educacional e as práticas maternas. Este resultado foi também o encontrado no estudo de Crouch et al(52) em crianças em idade pré-escolar. Outros estudos encontraram diferenças para outros factores do CFQ, designadamente que, mães com nível educacional mais elevado exercem mais monitorização nas crianças(53) ou menos recompensa(54). Estas diferenças na literatura podem ser devido à heterogeneidade de populações em estudo. O resultado encontrado, que evidencia que um maior nível educacional está correlacionado com uma menor pressão para comer, não parece ter a influência do peso da criança, uma vez que, não se encontraram diferenças entre o nível educacional das mães e o peso da criança. É então plausível afirmar que, mães com um nível educacional mais elevado parecem tendencialmente adoptar atitudes e práticas alimentares mais protectoras de obesidade, já que a prática de pressão para comer leva a que as crianças rejeitem os alimentos para os quais se exerce maior pressão, usualmente os alimentos saudáveis. Também

alguns estudos têm demonstrado que a maior escolaridade dos pais constitui um factor protector do desenvolvimento de obesidade(3, 55).

O presente estudo encontrou várias correlações entre os diferentes factores do CFQ. Estes resultados são, na sua grande maioria, concordantes com os resultados descritos na literatura(13, 24, 42). No entanto, as associações entre a restrição e a pressão para comer, entre a pressão para comer e a monitorização, bem como, a associação inversa entre a pressão para comer e a responsabilidade percebida, não se revelam significativas neste estudo.

Os resultados encontrados mostram que, as mães preocupam-se mais com o ganho de peso das suas crianças, quando percebem as mesmas como tendo peso a mais ou quando percebem o seu próprio peso como excessivo, tendo sido também encontradas evidências que demonstram que, mães que classificam o seu peso como mais elevado, classificam também como mais alto o peso da sua criança. Estes resultados são consistentes com os já documentados(22, 24, 42), sugerindo também a modesta relação entre o peso relativo das mães e o peso das suas crianças, em particular as raparigas(56, 57).

A restrição total está, neste estudo, associada à preocupação com o ganho de peso da criança o que já se encontra descrito em vários estudos realizados(24, 56, 58)

. O factor restrição parcial, que excluí dois itens relativos à recompensa, apresenta-se associado à percepção do peso da mãe e da criança, à preocupação com o peso e com a restrição total. Este resultados indicam que, as mães usam a restrição quando percepcionam o seu peso e o do seu filho(a) como excessivo e quando revelam uma maior preocupação com o ganho de peso da criança. Denota-se que, o factor restrição demonstra mais associações com os restantes factores do questionário, quando as duas questões, que neste estudo

constituem o “8º factor”, lhe são retiradas. Este resultado vai de encontro a sugestões de estudos prévios que prevaricam a emergência do factor “recompensa” na estrutura do CFQ(13)

. Por sua vez, a recompensa correlaciona-se com a restrição total de forma fraca, o que também é evidenciado por Corsinni et

al(13).

À excepção da restrição total, a pressão para comer apresenta, associações idênticas à restrição parcial, mas no sentido inverso, ou seja, as mães exercem mais pressão para comer quando percepcionam o seu peso e o da sua criança como baixo, por isso e como seria expectável, uma menor preocupação quanto ao ganho de peso da criança. Estes resultados são concordantes com diversos estudos(24, 45, 59).

Mães que exercem níveis elevados de monitorização na alimentação da criança, demonstram maior preocupação com o ganho de peso da mesma, maior responsabilidade na alimentação e maior restrição “parcial”. As associações corroboram evidências prévias(13, 16). Os resultados desta investigação, sugerem também que, mães que exercem um controlo subtil e discreto sobre a alimentação da criança, recorrem menos a prática de recompensa. Este resultado contrasta com o estudo de Corsini et al., no qual se evidenciou uma correlação positiva entre estes factores(13).

Tal como a maioria dos estudos encontrados(43, 53, 54, 60), este estudo não encontrou diferenças estatisticamente significativas no tipo de práticas parentais entre o sexo masculino e feminino. No entanto, alguns estudos demonstram diferenças entre sexos, nomeadamente uma maior pressão para comer nos rapazes e um comportamento mais restritivo nas raparigas(15, 19). A diferença entre

as práticas parece estar mais associada à alimentação e à preocupação com o peso da criança, principalmente nas raparigas(15, 18, 56).

As correlações encontradas entre o z-score de IMC da criança e os vários factores do CFQ evidenciam que, o estado ponderal da criança é determinante para o, ou determinado pelo, tipo de práticas alimentares adoptadas pelas mães, não sendo possível neste estudo, devido à sua natureza transversal, efectuar ilações quanto ao sentido de causalidade desta relação. As mães de crianças com z-score de IMC mais elevado, classificam o seu próprio peso e o das suas crianças como mais elevado e demonstram uma maior preocupação com o ganho de peso, utilizando mais a restrição, e menos a pressão para comer. Estes resultados estão em conformidade com as evidências já encontradas neste estudo e com os resultados descritos na literatura em populações de diferentes etnias (45, 57, 61, 62).

De facto, as mães classificam o peso das suas crianças como excessivo, quando as mesmas têm z-score de IMC mais elevado, no entanto a correlação entre as duas variáveis é muito fraca, sugerindo que muitas mães, podem falhar na classificação do estado ponderal dos seus filhos, tal como apontado em vários estudos (31, 33, 63).

Pela comparação dos grupos “normoponderal”, “excesso de peso” e “obesidade”, comprova-se a existência de evidências quanto à relação entre o estado ponderal e o tipo de práticas e atitudes. A preocupação com o ganho de peso da criança é maior nas crianças com excesso de peso e obesidade(21, 52, 57), o que não se revela surpreendente. Verifica-se que as mães exercem práticas mais restritivas nas crianças com excesso de peso e que essa restrição é ainda maior, quando as mesmas são obesas. Este resultado foi também encontrado em

alguns estudos(19, 58). Neste estudo, a monitorização é maior nas crianças com excesso de peso mas menor nas crianças obesas, o que pode sugerir que quando a criança tem excesso de peso, as mães optam por um controlo subtil na alimentação, mas quando elas são obesas, as mães deixam de usar o controlo subtil recorrendo a atitudes mais rígidas, como a restrição. Na literatura, os estudos encontrados não apresentavam resultados significativos quanto à monitorização(29, 52).

Os resultados encontrados entre os factores do CFQ e a alimentação da criança, não exibem associações fortes e claras.

Este estudo verifica que, a ingestão energética total (IET) das crianças é mais baixa, quando as mães revelam uma maior preocupação com o ganho de peso das suas crianças. A relação inversa entre a IET e a preocupação com o ganho de peso, não é suportada pela maioria dos estudos, originários do USA, que associam as práticas de restrição e preocupação com o ganho de peso, a uma maior ingestão energética da criança(21, 22). Apenas um estudo Irlandês, encontrou associação idêntica à descrita(43). Todavia, como supracitado, as mães também demonstram uma maior preocupação com o peso da criança, quando as mesmas apresentam um peso mais elevado, o qual, como é sabido, resulta de um balanço energético positivo(1). Supõe-se que, esta evidência possa resultar do enviezamento da informação relativa à ingestão, uma vez que a criança pode não estimar correctamente a porção ingerida, referindo menores quantidades do que as realmente ingeridas, ou, por outro lado, pode reportar a alimentação que deveria ter feito ao invés da praticada nesse dia alimentar. Para além disso, foi encontrado um estudo que afirma que, as crianças cujos pais recorrem a práticas de controlo mais rígidas, referem culpa aquando da ingestão de alimentos menos

saudáveis(64), podendo também este factor, de alguma forma, influenciar o tipo de alimentos e as quantidades referidas pela criança ao inquiridor.

A presente investigação não encontrou qualquer correlação entre a prática de restrição e a ingestão energética total. Este resultado foi também encontrado por Sud et al(44) e por Montgomery et al(43). No entanto, alguns estudos confirmam a existência da associação positiva(12, 43, 65).

Verifica-se também que, a ingestão de hidratos de carbono, fibras alimentares, e água é menor, quando as mães referem maior preocupação do peso. Especula- se que, estes nutrimentos possam resultar do consumo de hortofrutícolas, o que suportaria a hipótese de que as crianças cujas mães são mais preocupadas com o peso das mesmas, ingerem menores quantidade de hortofrutícolas. Esta menor ingestão, poderá relacionar-se com um menor exercício de pressão para comer, que como previamente descrito, implica pressão para a ingestão de alimentos mais saudáveis, e que parece diminuir com o aumento do peso da criança(53).

Uma menor ingestão de açúcares totais e gordura trans foi também relacionada com uma maior preocupação com o ganho de peso, resultados também não encontrados nos estudos sobre o tema e que sustentam um possível viés de quantificação dos alimentos pela criança.

A associação entre a recompensa e um dos parâmetros de ingestão de açúcares (“outros açúcares”) é condizente com estudos prévios, que estabelecem uma ligação com o consumo de doces e alimentos com elevados teores de gordura com a prática de recompensa, o que se traduz no aumento das preferências por estes alimentos(65, 66).

A prática de pressão para comer está relacionada com uma maior ingestão da gordura monoinsaturada e trans. Vários estudos têm já descrito a associação

entre a pressão para comer com a ingestão de gordura(12, 27, 29). Pelo contrário, um maior exercício de pressão para comer pelas mães correlaciona-se com uma menor ingestão de monossacarídeos, que parece ser contraditório aos resultados previamente descritos nesta investigação.

Os resultados de frequência de ingestão alimentar, sugerem que as crianças cuja ingestão de salgadinhos (batatas fritas, aperitivos, Doritos, Cheetos, etc) é menos frequente, têm mães que sentem maior responsabilidade na alimentação da criança. Por outro lado, a maior frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em gordura, associa-se a uma maior percepção do peso da criança e maior monitorização, insinuando que, o peso da criança está associado à ingestão de gorduras, o que é confirmado por alguns estudos(1, 66). Também mães que reportam níveis elevados de monitorização, têm crianças que revelam uma maior frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em gordura, o que está de acordo com um resultado encontrado neste estudo, o qual sugere uma maior monitorização das mães nas crianças com excesso de peso/obesidade. No entanto, esta evidência não é suportada por estudos prévios(21, 29).

Este estudo apresenta, porém algumas limitações. Relativamente ao instrumento utilizado para avaliação do consumo alimentar (recordação das 24 horas anteriores), o mesmo apresenta como desvantagens o recurso à memória e dificuldades na conceptualização da porção ingerida, particularmente nas crianças(67). Também na literatura são tecidas algumas críticas ao CFQ, referindo dificuldades na compreensão das questões do questionário pelas mães(68), o que tendo em conta, o baixo nível de escolaridade das mães em estudo, poderá constituir uma forte limitação.

Neste estudo, apenas um dia alimentar foi recolhido, o que não permite estimar a ingestão habitual da criança. Foram também sentidas algumas dificuldades na escolha de categorias relativas à frequência de consumo, associado à idade da amostra em estudo.

A aplicação dos questionários às crianças decorreu em dias de semana, tendo sido possível constatar que, políticas de âmbito nacional como o Regime da Fruta Escolar(69) e o Programa do Leite Escolar(70), que têm como intuito promover hábitos de consumo de alimentos benéficos para a saúde das populações mais jovens, podem ter influenciado de alguma forma os resultados deste estudo, uma vez que foram incluídos alimentos no dia alimentar das crianças que poderiam não fazer parte do mesmo e que também não dependem do controlo ou supervisão maternal. Também se constata que, muitas crianças almoçam diariamente nas cantinas escolares, não sendo portanto esta refeição controlada pela mãe, e que, por esse motivo as crianças poderão apresentar um padrão de ingestão nutricional mais homogéneo, atenuando as eventuais diferenças existentes entre elas, decorrentes de distintas práticas e atitudes maternas. A grande maioria da investigação na temática abordada, centra-se, comparativamente ao presente estudo, em crianças de idades mais novas. Assim, algumas das associações que aqui não se revelaram significativas, podem sugerir que as práticas de controlo alimentar, com efeito na alimentação das crianças mais novas, se desvanecem à medida que as crianças crescem e vão adquirindo progressivamente uma maior autonomia nomeadamente nas suas escolhas alimentares. Foram encontrados alguns estudos a apontar este possível efeito(7, 71)

Sem dúvida, as associações pouco claras e fracas, bem como as associações não significativas observadas neste estudo, poderiam ser melhor esclarecidas, pelo aumento do tamanho amostral.

Em suma, pode afirmar-se que o número de estudos que exploram as associações entre práticas parentais, alimentação e peso da criança têm aumentado bastante nos últimos anos. Todavia, mais estudos sobre esta temática são necessários para descortinar e clarificar associações, influências e causalidades, em particular no continente Europeu.

6. Conclusão

Apesar das limitações e associações fracas e pouco claras, o presente estudo poderá contribuir para compreender com que extensão as atitudes e práticas alimentares das mães influenciam a alimentação das crianças. Os pais, principalmente a figura materna, têm um papel crucial no desenvolvimento das preferências alimentares e na ingestão energética e nutricional das crianças, e podem, de forma inconsciente, promover o excesso de peso na infância, pelo uso de práticas e atitudes alimentares desadequadas.

Na conjuntura actual, a compreensão holística dos factores que têm pautado a epidemia da obesidade infantil, dando ênfase ao ambiente familiar, revelam-se essenciais, no sentido de delinear programas eficazes de prevenção de obesidade e co-morbilidades associadas, bem como definir linhas de orientação para a actuação dos profissionais de saúde.

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