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SDC – Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte:

5.3. Paradigmas com as ações de grupos delinquentes do tipo mafioso:

6.1.5. SDC – Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte:

potiguar, “Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte – SDC”, ligada ao Comando Vermelho e Família do Norte, emergiu no noticiário nacional em janeiro de 2017 pelo seu antagonismo com o PCC no controle do narcotráfico no Estado do Rio Grande do Norte e o desdobramento desse conflito dentro da penitenciária de Alcaçuz148.

Na ocasião do Massacre de Alcaçuz, o SDC matou membros da facção paulista, decapitou e formou a sigla “PCC” com os corpos vilipendiados no pátio da penitenciária, escandalizando o país com tamanha barbárie e revelando a inépcia governamental em evitar o iminente confronto.

Precisamos ainda assinalar que o terror não ficou circunscrito à degola e decapitação, os membros do Sindicato do Crime utilizavam as cabeças cortadas como “bolas de futebol” e chutavam além dos muros e ainda fizeram questão de carbonizar alguns corpos, inclusive sendo verificado indícios da prática de canibalismo149.

O Sindicato do Crime logrou êxito em quebrar a ordem pública e instaurar um estado de terror no Rio Grande do Norte150, extrapolando o massacre na penitenciária e incendiando mais de 26 (vinte e seis) ônibus pela cidade, mostrando a vulnerabilidade da população e do Estado face ao terrorismo do Crime Organizado.

148G1 RN: Um mês do Massacre em Alcaçuz. Rio Grande do Norte, 14 fev. 2017. Disponível em:

<http://especiais.g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/2017/1-mes-do-massacre-em-alcacuz/>. Acesso em: 05 out. 2018.

149 METRÓPOLES: Presos fazem suposto churrasco de carne humana em presídio de Alcaçuz. Brasília, 23

jan. 2017. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/presos-fazem-suposto-churrasco-de-carne- humana-em-presidio-de-alcacuz>. Acesso em: 20 out. 2018.

150EL PAÍS: Confronto em Alcaçuz deixa mortos e feridos enquanto Natal espera soldados. Brasil, 19 jan. 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/20/politica/1484870553_916142.html>. Acesso em: 09 out. 2018.

7. Persecução penal e a Lei Antiterror (Lei 13.260/16):

O terrorismo está presente em toda sociedade, devendo ser assinalado que sua verificação independe de reconhecimento jurídico, pois se trata de uma lógica insurrecional comumente utilizada pelos grupos marginalizados para obter a efetivação de uma agenda própria e/ou reivindicar um fazer ou não-fazer do agente público, podendo também ser voltado contra um segmento coletivo, mas, invariavelmente afetando direitos difusos.

O Global Terrorism Data Base151 desenvolvido pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, registrou que desde 1970 até 2017, foram registrados 297 (duzentos e noventa e sete) incidentes de natureza terrorista envolvendo o território brasileiro.

Podemos acrescentar que o Global Terrorism Index 2017152 elaborou um ranking de 130 (cento e trinta) países e constatou, dentro de uma escala crescente de 0 (zero) a 10 (dez), o impacto terrorista na sociedade, e, nessa pesquisa tem-se que o Iraque e o Afeganistão ocupam respectivamente a 1ª (primeira) e 2ª (segunda) posições e figuram com altíssima atividade terrorista, enquanto o Brasil, ocupando a 87ª (octogésima sétima) posição revela um nível intermediário de terrorismo, tendo à frente países mais perigosos como Laos na 80ª (octogésima), Bósnia-Herzegovina 78ª (septuagésima oitava) , Tajiquistão 72ª (septuagésima segunda) e México 61ª (sexagésima primeira) – e estando atrás de países como Emirados Árabes Unidos 112ª (centésima décima segunda) , Libéria 121ª (centésima vigésima primeira) e El Salvador 130ª (centésima trigésima) posição.

Não se queira, nessa sorte de ideias, desmistificar que o terrorismo no Brasil esteja circunscrito somente à ataques, ao revés, está também presente no apoio e facilitação ao terror no estrangeiro ou pequenas células indígenas que promovem atentados de baixa intensidade, e esse dado concreto não recebe a atenção devida da mídia e é com frequência negado pelas autoridades brasileiras, como forma de ocultar a presença do fenômeno no seio da sociedade153.

151 UNITED STATES. National Consortium For The Study Of Terrorism And Responses To Terrorism Start: A

Center Of Excellence Of The U.s. Department Of Homeland Security. University Of Maryland. Global Terrorism Data Base. Disponível em: <https://www.start.umd.edu/gtd/>. Acesso em: 20 out. 2018

152INSTITUTE OF ECONOMICS & PEACE. Global Terrorism Index 2017: Measuring and Understanding the

impact of terrorism. 2017. Disponível em: <http://visionofhumanity.org/app/uploads/2017/11/Global-Terrorism- Index-2017.pdf>. Acesso em: 20 out. 2018

153 LASMAR, Jorge Mascarenhas. A legislação brasileira de combate e prevenção do terrorismo quatorze anos

Pois bem, negar que o Brasil esteja imune ao terrorismo tange a irracionalidade, mas foi algo cultivado em nossa matriz sociocultural, justificada pela miscelânea que compõe nossa civilização, o que supostamente afastaria eventuais discordâncias de natureza religiosa, étnica e política- ideológica, rechaçando do nosso território composto por “pessoas cordiais”154 a menor chance do fenômeno terrorista florescer.

Com efeito, Silva (2018) entende que o não-debate do terrorismo no Brasil tem 03 (três) causas:

1ª causa: O Negacionismo do Governo em confessar que o país é vulnerável a ataques terroristas e a previsibilidade de atividades no território nacional;

2ª causa: Legislar sobre terrorismo poderia dar a impressão de um alinhamento com a política norte-americana da Guerra Global Contra o Terror;

3ª causa: A adoção de uma Lei Antiterrorista poderia ser usada para reprimir a oposição constituída e movimentos sociais estabelecidos.

A Carta Magna de 1988 cristaliza no seu artigo 5º, inciso XLIII, a necessidade do legislador infraconstitucional se debruçar e corretamente tipificar o crime de terrorismo no orbe do direito doméstico, como forma de repudiar sua prática e efetivar o combate a este fenômeno que tenciona a malha jurídica e o próprio Estado Democrático de Direito.

Nesse processo, o terrorismo foi concebido na realidade brasileira não como fruto de apurado debate acadêmico com vistas à prática internacional, mas por pressão de organismos financeiros que barganharam com o Governo a tipificar o crime, sob pena de retaliações.

O que mais chamou a atenção é o fato de que a visão estereotipada do terror se fez presente na legislação promulgada (com vetos) em 2016, distorcendo os elementos e complexidades que compõe este tipo penal, galardoando o ordenamento jurídico brasileiro com uma lei genérica e de pouca aplicabilidade.

70, Mar. 2015 . Disponivel em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 44782015000100047&lng=en&nrm=iso >. Acesso em: 20 out. 2018

154 WOLOSZYN, André Luís; FERNANDES, Eduardo de Oliveira. Terrorismo: Complexidades, Reflexões,

O alarme jurídico soa quando uma lei, supostamente concebida por representantes eleitos do povo, foi proposta pela Presidência da República e tramitou em regime de urgência, devido a proximidade de eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, não observando o seu espraiamento na sociedade brasileira e a necessidade de reformulação dos mecanismos jurídico-processuais para enfrentar sua presença.

Negar que o Brasil está vulnerável às vicissitudes do terror é uma irresponsabilidade geracional, visto que esse crime, como já extensamente colocado nesta obra, é multifacetado e assume diferentes características conforme a época.

Contudo, se há dificuldade em aceitar que o terrorismo já faz parte da realidade doméstica (embora são pífios os indícios do terrorismo transnacional) o que, então, se dirá da possibilidade jurídica do Crime Organizado poder praticar atos de terror? Acrescente-se ao fato de que o crime de “Organização Criminosa” é relativamente recente e foi tipificado na Lei 12.850 de 2013, no passo que a Lei Antiterror (13.260/16) sequer logrou êxito em atender a praxe legislativa na esfera do direito internacional e comparado, quanto a corresponder aos elementos básicos que historicamente definem o terrorismo, resultando em uma lei falha e defeituosa.

Ao longo deste estudo, procurou-se estabelecer um paralelo entre os crimes de terrorismo e as ações violentas do Crime Organizado do Tipo Mafioso, apontando semelhanças com o modus operandi das Organizações Terroristas transnacionais, chegando a doutrinariamente argumentar que, nesse aspecto, o terror atribuído à máfia está entendido como terrorismo criminal.

Foi demonstrado os efeitos práticos e psicológicos do terrorismo criminal na sociedade italiana pelas ações da Cosa Nostra, na colômbia noventista sob o julgo do nefasto Cartel de Medellín e, atualmente, o desenrolar do fenômeno no território mexicano protagonizado pelos Cartéis de Drogas.

Ainda, mais recente, foi aventado que no Brasil, as facções criminosas oriundas do sistema penitenciário crescem assustadoramente e ameaçam o próprio monopólio da violência pelo Estado, medindo forças com a autoridade constitucionalmente estabelecida, lançando mão do expediente terrorista para reivindicar ações restritas e pontuais que beneficiem à

sobrevivência da Organização, resultando em um terror generalizado, quando não, direcionada à segmentos da sociedade, pondo em perigo a coletividade.

Tal constatação não é à toa, foi estabelecido um corte epistêmico das ações que desde 2016, em tese, se revestem de características do terrorismo conforme doutrinariamente já estabelecido e, seguindo essa lógica, cabe responder nas linhas que seguem se tais fatos podem ser objeto de persecução pelo titular da ação penal, sob a égide da Lei 13.260/16.

Devemos consignar que a Lei 13.26016 é uma norma heterotropica e tem disposições materiais e processuais, e será analisado somente trechos da citada legislação no que tange à sua tipificação, os atos de terrorismo, a criminalização dos atos preparatórios e eventuais vetos.

Buscará, adiante, a adequação do fato a norma e proposições legislativas sensíveis ao tema do terrorismo criminal, propondo alterações na lei antiterror para amoldar determinadas atividades do Crime Organizado como originariamente terroristas dado a excentricidade de suas motivações e objetivos.