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Secundárias: Informações sobre a presença ou ausência das espécies na área

A festa mais referida pelos moradores do Sítio do Meio foi a festa do vaqueiro ou vaquejada, que ocorre em várias épocas do ano em diversos municípios e localidades

CAPÍTULO 2 Vaqueiros & Mamíferos – Classificações, Percepções e Interações

2. Secundárias: Informações sobre a presença ou ausência das espécies na área

do Sítio do Meio foram compiladas de publicações em revistas científicas, técnicas e em trabalhos acadêmicos, assim como dados sobre aspectos biológicos das espécies (ciclos de reprodução, hábitos, entre outros).

3.1.2 Metodologia de coleta

Uma vez que as diferentes espécies de mamíferos apresentam comportamentos e ritmos de atividades diversos além de ocorrerem em diferentes habitats, muitas técnicas puderam ser combinadas para se realizar o censo de mamíferos, de forma que aumente o sucesso de captura e o registro das espécies. Portanto, para averiguar a mastofauna, neste trabalho, foram realizados dois métodos

de investigação para dados primários, descritos a seguir:

Captura e Marcação de Pequenos Mamíferos Terrestres, Escansoriais e Arborícolas

Área de amostragem

A escolha das estações de coleta (disposição das armadilhas) foi feita de acordo com as suas características vegetacionais, verificando a influência da fitofisionomia na composição de sua mastofauna, bem como a eficácia da área em conservá-la.

Estações de coleta

As coletas foram realizadas nas duas fitofisionomias mais representativas das Caatingas do Sítio do Meio, a saber: a caatinga seca (Caatinga arbustiva aberta) e a mata de galeria do Riacho Recreio (baraunal), como pode ser observado na Tabela 2.1. De forma que foram amostradas duas estações de coleta por campanha, totalizando quatro pontos de coleta.

Tabela 2.1 - Pontos de Coleta durante as duas campanhas de campo, realizadas uma

na estação chuvosa e a outra na estação seca nas Caatingas do Sítio do Meio.

Campanha /Estação

Local Localidade Fitofisionomia Coordenadas/ UTM 1/chuvosa Lagoa Grande /PE Fazenda Diamantina (Fazenda do Sr. Vando) Caatinga arbustiva aberta 0592312 / 9080708 1a/chuvosa Lagoa Grande/ PE Sítio do Meio (Fazenda do Sr. Assis) Mata de galeria - baraúnas 0370419/9022784 2/seca Lagoa Grande/ PE Sítio do Meio Barragem olho d’água Caatinga arbustiva aberta 03733534/9024522 2a/seca Lagoa Grande/ PE Sítio do meio – Mata próxima ao baraunal Caatinga arbustiva aberta 0371003/9022540

Disposição das armadilhas

Foram mapeadas trilhas já existentes e confeccionados novos transectos lineares paralelos, com definição de pontos que distam 50m um do outro. Em cada um desses pontos foram armadas duas armadilhas, sendo uma no solo e a outra a uma altura média de 2m, conforme metodologia empregada por Costa (1990), a fim de se obter uma maior área amostral. As armadilhas utilizadas foram do tipo Tomahawk (média e grande), como pode ser observado na Figura 2.1, sendo revisadas e iscadas a cada 24 horas durante todo o período de coleta, permanecendo armadas durante os períodos diurno e noturno para possibilitar a captura de espécies de mamíferos de diferentes hábitos de vida.

Para as coletas utilizou-se um total de 50 armadilhas. Cada estação de coleta recebeu 25 armadilhas, distribuídas em treze pontos, distantes 50m entre si, percorrendo 650m no interior da caatinga, perfazendo um total de 1.300m de transecto entre as duas estações. As armadilhas permaneceram armadas durante 06 noites consecutivas por campanha, totalizando 12 noites de coleta na área, equivalente a um esforço de captura de 600 armadilhas/dia.

Todos os pontos onde foram capturados espécimes tiveram as suas coordenadas tomadas com GPS. As devidas licenças para a execução dessas tarefas foram providenciadas através de solicitações formais ao órgão competente, no caso, o IBAMA.

Iscas utilizadas

Para se obter um melhor padrão nas amostras foi utilizado sempre o mesmo tipo de iscas; pedaços de abacaxi na captura de roedores e marsupiais (Figura 2.1) e para os carnívoros foram utilizados pedaços de bacon.

Figura 2.1 – Metodologia de captura utilizada no levantamento mastofaunístico. A:

Organização do material, para dar início a distribuição das armadilhas na caatinga, durante a 1ª campanha de campo (Foto: Maria Adélia Oliveira/2004). B: Marcação, após medição, dos pontos de coleta (Foto: Leonardo Mello/2004). C: Armadilha Tomahawk pequena suspensa, indicada pela seta azul. D: Armadilha Tomahawk grande, disposta no solo e iscada com abacaxi (Foto: Yumma Valle/2004).

Marcação

O método empregado de “marcação-recaptura” inclui o processamento dos mamíferos após serem analgesiados com “Vetalar” (Hidrocloreto de Quetamina, numa concentração de 0,5 a 0,7mg por kg de peso corpóreo). A marcação dos animais capturados foi através dos seguintes procedimentos (ALHO et al. 1987):

1. Tricotomia da cauda, utilizada apenas nos sagüis para permitir o reconhecimento à distância, necessário para o monitoramento;

2. Tatuagem no pavilhão da orelha nas ordens Rodentia, Carnivora e Lagomorpha;

3. Tatuagem na face medial da coxa nas ordens Primates, Didelphimorpha e Edentada;

4. Pequeno orifício no pavilhão da orelha nas ordens Rodentia, Carnivora, Lagomorpha e Didelphimorphia.

A

B

D

C

Para o processamento dos animais capturados foram utilizadas fichas de campo contendo dados sobre morfometria, reprodução, marcação para cada animal, além de informações ecológicas dos locais de captura. Após esta etapa, os espécimes capturados foram soltos no mesmo ponto de captura.

Observações diretas e procura de evidências indiretas

Uma das técnicas adotadas em levantamentos de mamíferos, principalmente nos de médio e de grande porte, consiste na busca ativa de indivíduos ou de vestígios que comprovem a ocorrência da espécie na área (EISENBERG, 1990). Para a realização desta técnica foram percorridas trilhas aleatórias, em média de três horas por dia, tanto no horário diurno quanto no noturno, de modo a cobrir toda a amplitude dos limites da área monitorada, a fim de visualizar espécies, bem como de encontrar evidências que podem incluir rastros (pegadas, amoladores - marcas das unhas de felídeos no tronco de árvores - tocas, ninhos, entre outras), fezes, carcaças, assim como a gravação de vocalizações e identificação de sinais odoríferos (cheiros). Este censo foi realizado a pé (nas áreas mais fechadas) ou de carro no interior de trilhas (em áreas abertas e estradas). Para facilitar a visualização dos animais foram utilizados binóculos. Os pontos de visualizações e de registros de evidências foram marcados com o auxílio de GPS e, na medida do possível, os espécimes observados foram fotografados (Figuras 2.6 e 2.7).

3.1.3 Análise dos dados do levantamento de mamíferos

Seguindo as recomendações de Henschel & Ray (2003), as fontes de dados primárias e secundárias produziram os seguintes níveis básicos de dados:

• Presença/ausência de espécies (ad hoc): A informação sobre a presença ou ausência de espécies, coletada através de vestígios de presença (pegadas, dejetos, etc.) ou através de entrevistas com a população local, serviu à caracterização da fauna de mamíferos terrestres no Sítio do Meio. O método utilizado seguiu o modelo de Rabinowitz (1986).

• Presença/ausência de espécies (levantamento sistemático): Para algumas espécies foi possível avaliar a distribuição espacial e estimar a proporção da área ocupada através de um levantamento sistemático (“ocupação de retalhos”, cf. MACKENZIE et al. 2002; 2003).

• Abundância relativa ou anedotal das espécies: A abundância relativa de uma espécie em determinada área foi calculada através de esforços de captura (indivíduos capturados/dias de coleta ou indivíduos capturados/unidade de coleta); através da densidade de vestígios de presença por unidade de área (MILNER-GULLAND & MACE 1998); e através da análise das entrevistas com a população local.

Em adição foram realizadas análises estatísticas descritivas (como somatórios, médias e porcentagens), de modo geral, ao longo de toda a coleta de dados; ou seja, à medida que as coletas se iniciaram os dados foram alvo de análises.

Os mamíferos aqui apresentados estão classificados de acordo com a taxonomia referida na publicação “Mamíferos do Brasil” de Reis et al. (2006).

3.2 Levantamento do conhecimento local e das interações acerca da mastofauna

O conhecimento local e as questões referentes ao uso, à percepção e às interações sobre as espécies de mamíferos foram coletados durante as três campanhas de campo (1ª – Julho de 2004; 2ª – setembro de 2004; 3ª – Dezembro de 2006). Para tal, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (Ver tópico 1.3.1 da metodologia do Capítulo 1 e anexo II) e pranchas de imagens, contendo as espécies mastofaunísticas do Bioma Caatinga. Durante as entrevistas procurou-se, sobretudo, investigar a respeito da classificação local, do conhecimento que os entrevistados têm sobre o comportamento e a biologia (dieta, período reprodutivo, hábitos) destes animais, e ainda as maneiras em que se dão as interações na conexão homem/mamífero.

Além dos vaqueiros do Sítio do Meio, foram entrevistadas suas esposas, filhos mais velhos, caçadores e as pessoas mais antigas do local, perfazendo um total de 28 entrevistas, de um total de 34 moradores que compõem o povoado do Sítio do Meio.

3.3 Análise dos dados

Foram reunidos os dados do levantamento mastofaunístico e os dados das entrevistas, a fim de possibilitar uma comparação entre o conhecimento científico e o saber tradicional, também denominado de conhecimento local. A consistência e robustez do conhecimento local foram observadas mediante a tabulação das informações, comparando-as à literatura específica.

Os dados foram analisados segundo o modelo de união das diversas competências individuais (HAYS apud MARQUES, 1991). Conforme a aplicação desse método, os dados obtidos nas 28 entrevistas, ou seja, os conhecimentos da população foram considerados individualmente. Para tal análise, utilizou-se a verificação de consistência e de validação das informações (MARQUES, 1991), onde

se recorreu a entrevistas repetidas em situações sincrônicas e diacrônicas, nas quais foi observada uma mesma pergunta, feita a diferentes indivíduos (sincrônicas), como também, quando a mesma proposição foi repetida à mesma pessoa em momentos distintos (COSTA NETO et al. 2000).

Para classificar a freqüência de ocorrência das espécies registradas nas entrevistas, foram estabelecidas três categorias, baseadas nas informações sobre a existência e a quantidade das espécies no local. As categorias relacionadas foram: