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A segmentação dos automóveis portugueses

No documento Design automóvel português de nicho (páginas 174-180)

LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS ACAP Associação Automóvel de Portugal

3.5. A segmentação dos automóveis portugueses

Nas duas últimas décadas temos assistido à globalização dos mercados e da informação. As marcas de todo o mundo necessitam de operar num mercado global e os centros de design tendem a ser orientados conceptualmente para as exigências e cultura do mercado que pretendem atingir.

Hoje pode-se falar de design desenvolvido para os mercados europeu, asiático ou americano, significando uma orientação de estilo para cada um dos mercados, independentemente do país de origem da marca. (Marcelino, 2008) Em 1899, ocorreu em Portugal a primeira tentativa de construção de automóveis em série pela Empresa Industrial Portuguesa, no Alto de Santo Amaro, em Lisboa. A falta de matérias-primas e o desconhecimento técnico ditaram o falhanço. Porém, e de acordo com Alfredo Duro (1950), o automóvel tornou-se nos anos seguintes num objecto de grande popularidade entre os portugueses e rapidamente ganhou muitos adeptos da competição automobilística. Portugal mostrou-se sempre um país criativo no mundo automóvel, apesar deste ter chegado ao território nacional com cerca de dez anos de atraso.

A realização do primeiro Salão Automóvel do Porto, em 1914, contribuiu para o desenvolvimento de uma realidade portuguesa, onde desde muito cedo os engenheiros, os mecânicos e os entusiastas pensaram em desenvolver um automóvel português. (Rodrigues, 1995)

Na história automóvel portuguesa, poucos são os exemplos significativos de produção de um automóvel completo, assim como também são poucas as empresas portuguesas do sector automóvel que detêm produtos e marcas próprias. Na maior parte dos casos, a concepção ou melhoria de um determinado produto é previamente definido pela marca integradora, não deixando espaço para as empresas criarem os próprios produtos. (idem, ibidem)

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Após a consulta da crítica da literatura foi possível construir um quadro que identifica os automóveis portugueses com maior relevância para a história portuguesa e para com os objectivos da presente investigação. A informação disponível e o conhecimento do investigador sobre o sector também contribuíram para a presente selecção. Deste modo, assume-se a pretensão de identificar o segmento a que os veículos pertencem, tendo por base os actuais padrões funcionais e formais, cujo objectivo é verificar qual é a tendência histórica no desenvolvimento de um veículo português.

Quadro 3.07: Cronologia do automóvel made in Portugal

(veículos total ou parcialmente construídos/transformados por equipas e/ou componentes portugueses)

An o Veíc u lo Au tor/Marc a/Fábric a

1899

1º Tentativa de desenvolver a indústria automóvel

em Portugal

Empresa Industrial Portuguesa Desconhecido

1914 ATA (Ateliers Teixeira Automobile) Irmãos Dias Teixeira Micro carros e/ou Quadriciclos 1925 Citroën Especial Artur Mimoso Competição

An os

30 s /d MG António Herédia António Guedes Herédia Competição 1932 Automóvel X Lopes da Silva Competição 1933 FELCOM Eduardo Ferreirinha, Manuel Menezes, Eduardo Carvalho Competição 1937 EDFOR Eduardo Ferreirinha Competição

An os

30 s /d Ford Ardume Oficinas Palma, Morgado & Cª, Lda Competição

1952 FAP Fernando Palhinhas Competição

MG Canelas José Jorge Canelas Competição ALBA Fábrica Metalúrgica ALBA Competição

1953 DM Dionisio Mateu Competição

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1954 AGB Lusito António Gonçalves Baptista Micro carros e/ou Quadriciclos Marlei Mário Moreira Leite Competição

Olda Joaquim Correia de Oliveira e Ângelo Costa Competição

LNA Rodrigues Luz Competição

1955 MG Aranhiço Mário de Jesus Competição AR António Alcobia e Joaquim Nunes Ribeiro Competição

1958 IPA 300 João Monteiro Conceição Micro carros e/ou Quadriciclos An os

50 s /d Fiat Especial António Correia Leite Competição An os

50 s /d PE Fábrica de Produtos Estrela Competição An os

70 s /d Prozé desconhecido

Micro carros e/ou Quadriciclos An os

70 s /d GM Amigo General Motors Azambuja Comerciais 1976 PORTARO Hipólito Pires Todo-o-Terreno 1978 Sado 550 Entreposto Micro carros e/ou Quadriciclos

UMM 4x4 Cournil União Metalo Mecânica Todo-o-Terreno

Datsun Sado Entreposto Comerciais

1983 AC Sport Car Empresa A. Cação Automóveis Lda Desportivos 1986 UMM Alter II União Metalo Mecânica Todo-o-Terreno 1999 UMM Alter III União Metalo Mecânica Todo-o-Terreno 2000 Toyota Dyna 4x4 Salvador Caetano Todo-o-Terreno 2002 Mazda Storm Alma Design Todo-o-Terreno 2005 FUTI António Febra (Grupo Geco) Micro carros e/ou Quadriciclos

Peugeot Moovie André Costa Micro carros e/ou Quadriciclos 2006 Vinci GT CEIIA e Auto Museu da Maia Desportivos 2009 Buddy CEIIA Micro carros e/ou Quadriciclos

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2010 MobiCar CEIIA Micro carros e/ou Quadriciclos

Little 4 In Charge - Soluções de Mobilidade Sustentáveis Micro carros e/ou Quadriciclos Asterio Ricardo MGF Baeta (InnovXXI CEO) Desportivos

2012 Veeco RT Eléctrica, Lda (VE) e o Instituto Superior Fabricação de Veículos de Tracção

de Engenharia de Lisboa (ISEL). Desportivos Little Shifter.E In Charge - Soluções de Mobilidade Sustentáveis Micro carros e/ou Quadriciclos Vangest JH12 João Ornelas - Grandesign Competição

Fontes: Museu dos Transportes e Comunicações, 2001, O automóvel no espaço e no tempo: exposição permanente, Porto; Rodrigues, J., 1995, O Automóvel em Portugal - 100 Anos de

História, CTT - Correios de Portugal, Lisboa; Silva, T., 2012, O Automóvel: Design made in Portugal, Dissertação de Mestrado em Design de Equipamento/Design de Produto, Faculdade

de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Lisboa (adaptado pelo autor).

Em linhas gerais, constata-se que a segmentação do automóvel português fica limitada a cinco segmentos de nicho, nomeadamente:

 Micro carros e/ou quadriciclos”;

 Todo-o-Terreno;

 Comerciais;

 Desportivos;

 Competição.

Deste modo, o quadro 3.07 originou a formulação de gráficos que possibilitam o agrupamento dos veículos através do segmento correspondente.

O gráfico 3.12, identifica o número de veículos portugueses construídos por décadas, com destaque para os anos 50 devido às competições automobilísticas; para o final dos anos 70 devido à liberalização do mercado e, por fim, as primeiras décadas do século XXI com uma nova vaga de equipas multidisciplinares apoiadas pelo financiamento privado e pelos fundos europeus.

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Gráfico 3.12: Número de veículos total ou parcialmente construídos/transformados por equipas e/ou componentes portugueses

Fontes: Museu dos Transportes e Comunicações, 2001, O automóvel no espaço e no tempo: exposição permanente, Porto; Rodrigues, J., 1995, O Automóvel em Portugal - 100 Anos de

História, CTT - Correios de Portugal, Lisboa; Silva, T., 2012, O Automóvel: Design made in Portugal, Dissertação de Mestrado em Design de Equipamento/Design de Produto, Faculdade

de Belas-Artes, Universidade de Lisboa, Lisboa (adaptado pelo autor).

Gráfico 3.13: Segmento dos automóveis ligeiros portugueses (1910 a 2012) Fonte: Autor, 2014

O gráfico 3.13 identifica os segmentos de automóveis portugueses construídos entre os anos de 1910 e 2012.

A predominância do segmento “competição” deve-se ao experimentalismo de diversos entusiastas portugueses para a participação nas provas automobilísticas da época, durante a primeira metade do século XX. A segunda posição é ocupada pelo segmento “Micro carros e/ou quadriciclos” que

1 1 4 0 15 0 6 2 1 6 6 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 26% 14% 5% 10% 45% Micro carros Todo-o-Terreno Comerciais Desportivos Competição

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ambicionavam alterar o paradigma do automóvel através da redução de custos de produção e posterior manutenção.

Gráfico 3.14: Segmento dos automóveis ligeiros portugueses (1910 a 2012) Fonte: Autor, 2014

Num período mais confinado da história automóvel em Portugal verifica-se a tendência para o desenvolvimento de “Micro carros e/ou quadriciclos” em paralelo com veículos de características todo-o-terreno, sendo também diminuta o desenvolvimento de veículos de competição.

A história do design automóvel português é muito significativa para um país de pequena dimensão e sem qualquer antepassado de conhecimento industrial. Ao longo das décadas surgiram todo o tipo de projectos, uns mais ambiciosos que outros, mas cujos objectivos eram e continuam a ser, construir um automóvel português em série. Na primeira metade do século XX, foram muitos os que idealizaram projectos de modificações de automóveis existentes, de cariz pessoal e com o intuito de participar nas competições automobilísticas da época.

"Por outro lado, houve quem ambicionasse produzir automóveis à escala industrial, tentando ir mais longe e deixando a sua marca na sociedade portuguesa." (Gouveia, 2010, p.6)

Independentemente da época, dos protagonistas ou dos meios com que desenvolveram e produziram os seus veículos, todos os projectos contribuíram para o design automóvel português, quer pelo seu sucesso ou fracasso, e sempre vocacionados para os segmentos de nicho.

35% 30% 10% 20% 5% Micro carros Todo-o-Terreno Comerciais Desportivos Competição

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No documento Design automóvel português de nicho (páginas 174-180)