LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS ACAP Associação Automóvel de Portugal
3.7. Estudo de Casos
3.7.1. Selecção de casos de estudo portugueses
A crítica da literatura e o desenvolvimento do trabalho de campo reuniram conhecimento decisivo para a identificação e selecção de alguns automóveis desenvolvidos por portugueses ou em parceria com empresas estrangeiras entre 1977 e 2012. De acordo com a informação recolhida, foi possível estabelecer o contacto pessoal ou por e-mail com alguns autores dos projectos e, consequentemente, contribuir também para as entrevistas aos especialistas, a decorrer numa fase posterior da investigação.
A escassa informação sobre o design automóvel português e a dificuldade em estabelecer contacto com parte dos responsáveis dos projectos portugueses, foram apenas alguns dos factores críticos de sucesso para o desenvolvimento desta investigação. Numa primeira análise, a disparidade de informação entre os possíveis casos de estudo ajudaram, por exclusão de partes, a fazer uma selecção prévia para desenvolver na fase seguinte.
Na tentativa de obter uma visão geral sobre o percurso evolutivo dos projectos portugueses e a cadência com que aconteceram, formulou-se um diagrama composto pelos casos de estudo mais relevante para a investigação, conduzido por uma cronologia. Para o presente estudo, importou seleccionar projectos que adquiriram alguma notoriedade pública ou que potenciaram de alguma forma o desenvolvimento da empresa em que estavam inseridos.
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Dos projectos desenvolvidos total ou parcialmente por portugueses, em Portugal, ou em parceria com empresas internacionais, resultou o seguinte diagrama cronológico:
Diagrama 3.03: Casos de estudo portugueses – organização cronológica Autor,2012
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Ordem cronológica dos projectos apresentados no diagrama 3.03:
1978 - Sado 550 | UMM 4x4 Cournil | Datsun Sado;
1986 - UMM Alter;
1999 - UMM Alter III;
2000 - Toyota Dyna 4x4; 2002 - Mazda Storm; 2003 - Autocarro Winner; 2005 - Peugeot Moovie; 2006 - Vinci GT; 2008 - Futi; 2009 - Buddy;
2010 - Mobi.car | Little4 | Asterio;
2012 - Veeco RT | Little Shifter.E.
A segunda fase focou-se na organização da informação anteriormente recolhida e no estabelecimento de contactos com as empresas ou responsáveis dos projectos pré-seleccionados. Como forma de delimitar o número de casos de estudo, definiram-se critérios de exclusão/preferência, nomeadamente:
Empresa/equipas de projecto;
Segmento do veículo;
Função do veículo;
Caracterizador da indústria portuguesa;
Relevância para o estudo;
Conseguir uma amostra diversificada.
A informação recolhida foi convertida num quadro composto por seis casos de estudo iniciais e que percorre três fases de análise distintas até alcançar a selecção do caso de estudo com menos factores críticos de sucesso para a presente investigação.
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Na primeira fase, o quadro 3.09 apresenta os seis casos de estudo acompanhados por uma síntese de características que os diferencia entre si, como por exemplo o segmento de mercado a que se destinam e as capacidades funcionais que desempenham. Porém, constatou-se que os factores comuns entre os casos de estudo são mais dominantes do que inicialmente se previa, destacando-se para o presente estudo as seguintes características: Segmento de nicho; Pequenas séries; Conceito; Versatilidade; Manutenção simples; Know-how técnico;
Integração de componentes portugueses;
Produzido em Portugal.
Quadro 3.09: 1ª Fase – Casos de estudo portugueses – organização cronológica
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A análise da informação e os contactos com os responsáveis pelos projectos perspectivaram um prolongamento acentuado do calendário da investigação. Assim, e perante os factores críticos de sucesso de cada caso, elegeram-se os três automóveis que reuniam as melhores condições para fazer uma análise mais aprofundada, nomeadamente, o acesso à informação e a disponibilidade dos responsáveis. A redução dos casos de estudo permitiu também acentuar as suas diferenças projectuais, formais, funcionais, económicos e comerciais.
Quadro 3.09: 2ª Fase – Casos de estudo portugueses – organização cronológica
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Após uma análise de prós e contras para cada caso de estudo, surge na terceira fase, o caso de estudo português, o Veeco RT.
Quadro 3.09: 3ª Fase – Casos de estudo portugueses – organização cronológica
Fonte: Autor, 2013.
O sucesso da investigação dependia sobretudo do acesso à informação e da pertinência do veículo para a indústria e mercado português.
“O processo de amostragem só está concluído quando se esgota a informação a extrair através do confronto das várias fontes de evidência”. (Araújo et al., 2008)
O projecto Veeco, actualmente, está em fase final de homologação em território nacional, é um conceito inovador no mercado automóvel, tem toda a informação disponível para consulta e é um projecto credível, tendo em conta o financiamento privado, as equipas multidisciplinares e as entidades que participam no projecto.
Figura 3.10: Imagem gráfica do Projecto Veeco (fundo preto) Fonte: <http:\www.veeco.ptZ>, consultado em 20 Maio 2013
157 3.7.2. Caso de estudo português – Veeco RT
Conforme demonstrado no quadro 3.09, as directrizes que guiaram as equipas multidisciplinares dos projectos portugueses são semelhantes, assim como as mais-valias e as dificuldades.
“O panorama português, no que diz respeito à produção integral de um automóvel, foi sempre condicionado pela escala de mercado, pelo investimento financeiro e pelo carácter experimental dos projectos”. (Simões, 2001)
Deste modo, a análise do projecto Veeco RT pretende facilitar o enquadramento e a fundamentação do tema em estudo. As oportunidades criadas por este projecto são reveladores da evolução do mercado automóvel global, mas sobretudo demonstra a maturidade e a qualidade das empresas e técnicos envolvidos.
A história do design automóvel em Portugal, certamente, tem contribuído para fazer a avaliação dos factores positivos e negativos.
Para o consumidor, o acesso à informação e o reconhecimento de valor nos produtos portugueses tem desenvolvido inúmeras expectativas, no seio dos aficionados do automobilismo, para o aparecimento de um automóvel português. Por norma, quando se pensa nessa possibilidade, faz-se referência ao redesign do veículo de todo-o-terreno da marca UMM.
“Acho que a história do UMM teria muito potencial para voltar a ser um projeto e acho que teria muito potencial de mercado como máquina de todo-o-terreno bruta”. (Pedro Almeida, 2014)
158 3.7.2.1. Apresentação do Projecto
O enquadramento do projecto Veeco RT foi realizado segundo os factores comuns definidos durante o processo de selecção dos casos de estudo - segmento de nicho, pequenas séries, conceito, versatilidade, manutenção simples, know-how técnico, integração de componentes portugueses, produzido em Portugal. Sempre que oportuno, foram feitas observações de contextualização ou fundamentação tendo em vista os objectivos da investigação.
“Num contexto em que o veículo elétrico começou a ganhar expressão a nível internacional, detectou-se a oportunidade de conceber um veículo que superasse em eficiência as soluções disponíveis no mercado até então. Com a experiência e os conhecimentos adquiridos desde 2005 no desenvolvimento do primeiro Veeco, avançou-se para uma candidatura ao QREN em 2009. A candidatura aprovada, para investigação e desenvolvimento de um veículo eléctrico de alta eficiência, é hoje um projeto da VE - Fabricação de Veículos de Tracção Eléctrica, Lda. com o selo Eureka em consórcio com o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL)”. (Veeco, 2012)
“O Veeco RT vai ser comercializado exclusivamente pela marca, com o objectivo de desenvolver uma relação próxima com o cliente, desde o primeiro momento até à entrega e acompanhamento pós-venda, permitindo-lhe seguir o processo de desenvolvimento e produção do seu Veeco”. (idem, ibidem)
O conceito do produto e a estratégia apresentada transmitem o rigor e a coerência necessários para integrar a presente investigação e ajudar a alcançar os resultados pretendidos.
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Figuras 3.11, 3.12, 3.13: Veículo Veeco
160 3.7.2.2. Segmento de nicho
As características do projecto Veeco fazem dele um veículo exclusivo ao nível da classificação do segmento no mercado automóvel e da oferta de um produto diferenciador.
“A classificação destes veículos na classe L5e, permite uma homologação para fabricação em série simples (…). Podem circular, em todas as vias, incluindo auto-estradas e vias rápidas.” (Veeco, 2012)
“O protótipo Veeco é um reverse trike totalmente elétrico, com autonomia até 400 km e desenho em forma de gota, concebido para atingir uma eficiência aerodinâmica elevada (…) O veículo Veeco é verdadeiramente único e diferenciado, direccionado para consumidores que valorizam produtos Premium, não massificados e que projectem a sua individualidade. (…). Com o foco na qualidade e no detalhe, a aposta é feita na personalização do produto, ao nível do interior e dos equipamentos.” (idem, ibidem)
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Figura 3.14: Apresentação do Projecto Veeco – Casino de Lisboa Fonte: <http:\www.veeco.ptZ>, consultado em 20 Maio 2013