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Estrutura Intraurbana

3.4 Segregação e Vulnerabilidade Socioespacial Brasileira

Apesar de já citada anteriormente, devido à sua grande importância no processo de expansão urbana brasileira, foi desenvolvido um subitem discutindo especificamente o processo de segregação socioespacial, bem como os aspectos de vulnerabilidade a ele relacionados.

A expansão urbana brasileira apoiou-se em uma sociedade com distribuição de renda bastante desigual, tendo como resultado a concentração de renda e população nas grandes cidades, surgindo uma estrutura urbana fragmentada social e espacialmente, com generalização das periferias urbanas (CAIADO, 2005). Tal padrão de expansão é marcado pela baixa qualidade de vida urbana e pelo espraiamento territorial, onde fenômenos como a conurbação, desconcentração demográfica, periferização e o consequente adensamento excessivo de áreas desprovidas de infraestrutura urbana e de equipamentos sociais são realidades cada vez mais presentes nas grandes aglomerações, em especial nas metrópoles (CUNHA et al. 2004).

Como coloca Mendonça (2002), a distribuição desigual dos recursos na cidade acarreta tanto uma distância social como física. Proximidade física entre os grupos sociais pode ocorrer simultaneamente a uma enorme distância social. As estruturas sociais convertidas em estruturas espaciais produzem uma hierarquização prática das diversas regiões do espaço construído. Desenvolve- se, assim, uma cidade segregada, em que a hierarquia social e a apropriação desigual dos recursos urbanos são produzidas em uma diferenciação social. Para Ribeiro et al. (2009) esse processo se dá de duas formas: i) aprofundamento da autossegregação das camadas superiores; ii) a constituição de territórios de alta concentração de população vulnerável. Historicamente, as classes superiores ocupam posições de controle das

oportunidades, por controlarem as várias formas de poder expressas no controle dos capitais econômico, social, político e cultural. Nas metrópoles brasileiras, o padrão de organização espacial vigente no período de 1950-1990 foi caracterizado pela distância social e a proximidade física entre as classes superiores e os vários segmentos da “baixa classe média” e do mundo operário-popular. No entanto, esse processo de separação socioespacial se acentuou nas últimas décadas com a constituição de espaços de forte concentração das classes superiores, enquanto grande parcela da população ficou fora dos planos de trabalho. Esta estrutura socioespacial vem transformando a pobreza em um território de isolamento social.

Para Mammarella e Lago (2009), essa concentração das classes dominantes no território é uma estratégia de poder, bem como a concentração dos operários no território, e a homogeneidade social em territórios com múltiplas carências, abrigando os segmentos mais vulneráveis, é um fator de contenção das possibilidades de ação desses segmentos.

A segregação pode, portanto, ser vista como resultado de lutas pela apropriação de recursos urbanos, que partem da lógica de acumulação capitalista. A própria urbanização produz essas condições gerais de acumulação, através de um conjunto de infraestruturas físicas necessárias à produção, à circulação e à distribuição de mercadorias, e também os equipamentos coletivos necessários à reprodução da força de trabalho. As diferenças espaciais promovem chances desiguais de acessos aos bens materiais e simbólicos ofertados pela cidade. A localização dos equipamentos urbanos e dos serviços faz com que a população não se beneficie homogeneamente. Há, portanto, uma diferenciação econômica do espaço, e cada agente econômico busca a localização que permita vantagens comparativas na produção e distribuição de bens. A tendência é que a ocupação se dê, prioritariamente, por aqueles que podem pagar pelo seu uso. Esse processo traz à tona mecanismos importantes que se dão através do Estado e do movimento do mercado imobiliário. A ação estatal define a distribuição dos recursos e obras, enquanto o mercado imobiliário cria novos espaços construídos, seja através da criação de espaços diferenciados ou

através da alteração do uso do solo. No entanto, paralelo ao segmento capitalista, há o não capitalista. Esse segmento corresponde às camadas populares. Esse mercado ainda não está sujeito à lógica do capital, ou seja, ainda não há uma regulação geral. São as formas de autoprodução da moradia (MENDONÇA, 2002).

Dessa maneira, a segregação socioespacial restringe, cada vez mais, a condição de mobilidade social de determinados grupos da população compostos por indivíduos que, devido a fatores próprios de seu ambiente doméstico ou comunitário, são menos propensos a enfrentar circunstâncias adversas para sua inserção social e desenvolvimento pessoal ou que exercem alguma conduta que os leva à maior exposição ao risco (DESCHAMPS et al., 2009).

A vulnerabilidade, portanto, resultaria de um agregado de condições e/ou características em várias dimensões que, acionadas em conjunto, ou mesmo de maneira individual, podem tornar-se elementos capazes de aumentar a capacidade de resposta aos efeitos de fenômenos (estruturais ou conjunturais) que afetam as condições de bem-estar (CUNHA et al., 2004).

Esses indivíduos/ famílias se vêm expostos a certos riscos, mas a capacidade de enfrentá-los e a potencialidade de que tragam consequências importantes são bastante reduzidas em função de sua situação sociodemográfica. Vários são os trabalhos que discutem essa condição em diversos grupos. Por exemplo, a adolescência e a juventude associadas a aspectos de raça-cor e gênero são abordadas por vários autores (UNICEF, 2011; CASTRO; ABRAMOVAY, 2004; PINHO et al., 2002), que discutem questões como pobreza, exploração do trabalho, educação, sexualidade, saúde reprodutiva entre outros.

Portanto, é fundamental compreender esse processo de segregação socioespacial associado à vulnerabilidade social, uma vez que, no espaço intraurbano, a vulnerabilidade impõe aos “periferizados” um ônus ainda maior, pois, como se não bastassem as condições precárias de moradia, de

infraestrutura, de qualidade ambiental e de propriedade, ainda tem o estigma e as grandes chances de desagregação social.

3.5 Estrutura Socioespacial da Região Metropolitana de Belo