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3 POLÍTICA HABITACIONAL NO BRASIL: ESTRUTURAÇÃO E

3.1 BANCO NACIONAL DE HABITAÇÃO – BNH: ASCENSÃO E QUEDA DA

3.1.2 Segunda Fase – Execução da política (1967 a 1971)

A primeira fase, como foi apresentada, ficou marcada pela escassez de recursos o que impossibilitou de certa forma sua efetiva atuação nos dois primeiros anos de criação do BNH, ainda mais por se tratar de um momento de estruturação da política e até mesmo da estruturação do próprio Banco sendo estes elementos apontados como sendo os obstáculos à sua ativa atuação (CAVALCANTI, 1999).

Tal situação somente foi superada com a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS por meio da Lei 5.107/66, onde ficou a cargo do BNH a responsabilidade em gerir os recursos, o que deu um enorme salto no que diz respeito ao volume de recursos direcionado ao financiamento de moradias no país17. O FGTS ainda hoje é uma importante funding para financiamento da política habitacional, sendo superado em 1975 pela caderneta de poupança e letras de imobiliária (ANDRADE, 1976).

No entanto, esse período histórico da política habitacional não se restringia apenas a falta de recursos ou a busca por mecanismos de expansão que a política do BNH encontrou obstáculos, mas grave ainda foi sua operacionalização dos recursos, que tinha eu seu bojo adoção de mecanismo de reposição inflacionária por meio da correção monetária o que teria repercussão direta sobre a população de baixa renda (ANDRADE, 1976; AZEVEDO & ANDRADE, 2011; REYNOLDS & CARPENTER, 1977).

Assim, criada juntamente com a lei que instituiu o BNH a correção monetária teria como objetivos, conforme apresenta Andrade (1976), o de “proteger os recursos do sistema de descapitalização ocasionada pela inflação”. A correção monetária seria, portanto, um mecanismo de proteção do valor investido pela agente privado, e por conta disso incidiria diretamente sobre o saldo devedor e assim na prestação do imóvel.

17 O FGTS corresponde a um Fundo nominal ao trabalhador constituído por 8% sobre os salários

pagos mensalmente. Cada trabalhador, portanto, possui uma conta junto a Caixa Econômica Federal – CEF onde pode saca-lá somente em casos específicos como, por exemplo, demissão involuntária, invalidez permanente, casamento, aquisição da casa própria e outros casos previstos em lei. Atualmente o Fundo possui mais de 50 milhões de contas ativas (VALENÇA, 2001). No final do exercício 2011, o cadastro das contas vinculadas totalizou saldo de R$ 235,95 bilhões, com 635,8 milhões de contas (posição em 25/08/2012 – Demonstrativo Financeiro do FGTS disponível no site www.caixa.org.br). Para uma leitura mais acurada sobre o FGTS e os motivos que levaram a sua criação ver JANTALIA, Fabiano. FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, Ed. LTR, 2008. 302 p.

Aparentemente não há o que se questionar sobre essa sistemática de correção, pois o país passava por um processo inflacionário e nada mais justo (pela lógica capitalista de produção) que os rendimentos, investimentos e a própria acumulação fosse de alguma forma “protegida” dessa corrosão. (REYNOLDS & CARPENTER, 1977). No entanto, essa correção monetária sobre o saldo devedor teria uma marcação mensal enquanto que os reajustes salariais eram anuais o que geraria graves distorções sobre a classe trabalhadora.

Para Andrade (1976, p. 126) essa sistemática aprestava “anomalias de, terminados os pagamentos das prestações, não se ter liquidado ainda o débito”. Tal dificuldade operacional foi parcialmente solucionada pela criação do Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS, que previa que findo o prazo de pagamento ainda existisse algum saldo residual de débito, esse seria pago pelo FCVS.

Para AZEVEDO & ANDRADE, 2011:

Ao admitir que se saldasse a dívida apurada no prazo máximo, ainda que através de um Fundo, o BNH estava de fato abrindo caminho para subsidiar parte da moradia, e reconhecendo, tacitamente, a inexequibilidade de aplicação de uma política estritamente empresarial para as famílias de baixa renda (p. 52).

Ainda assim, como consequência direta dessa operacionalização segundo Cavalcanti (1999) seria caracterizada pela elevada taxa de inadimplência que já em 1970 atingiriam 30% do total dos mutuários. Conforme apresenta Maricato (1987) o BNH acabou por privilegiar a população de maior pode aquisitivo dada a “necessidade de investir de forma rentável forçou o BNH a buscar clientes com capacidade para fazer frente às dívidas corrigidas com juros e correção monetária fixados pelo Banco”.

Por conta de diversas criticas sobre atuação do Banco buscou-se mudanças no sentido de dar melhor operacionalização da atuação do BNH, observa- se paulatinamente um direcionamento da própria expansão de suas atividades para atividades verdadeiramente de desenvolvimento urbano com a criação de diversos subprogramas de saneamento e, ainda de auxilio a oferta de materiais de construção como18:

18 A Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964 no qual institui o BNH também previa atuação na área de

• FICON: financiamento suplementar para controle da poluição hídrica; • FIDREN: financiamento para implantação ou melhoria de sistemas de

drenagem que visem ao controle de inundações em núcleos urbanos; • FISAG: financiamento suplementar para abastecimento de água;

• REFINAG: financiamento ou refinanciamento para implantação, ampliação ou melhoria dos sistemas de abastecimento de água;

• REFINESG: financiamento ou refinanciamento para implantação ou melhoria de sistemas de esgotos que visem ao controle da poluição hídrica19.

A justificativa desses subprogramas não se devia exclusivamente ao fato de uma necessidade que o Banco tinha em expandir suas atividades além da mera concessão de financiamento de moradias ou entendesse que o problema da falta de moradia digna tenha sido dirimido, mas muito pelo contrário, pois de nada “serviria estar financiando a construção de casas sem que os Estados tivessem recursos para dotá-las de instalação de água e saneamento adequado” (op. cit. p.31).

Em suma, a segunda fase do BNH pode ser caracterizada, portanto pela expansão dos recursos via FGTS, implantação da correção monetária e de um fundo (FCVS) que busca reduzir as distorções provocadas por essa correção monetária, além, como visto, de criação de diversos subprogramas voltados para o saneamento básico onde formam assim, verdadeiramente uma política habitacional e não somente um grande programa de financiamento habitacional como foi apresentado na primeira fase do BNH.