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Segundo Augusto de Lima Júnior (1966, p 9-10), no panfle to Afonso Celso de Assis Figueiredo – ministro da marinha na

hora amarga, “Tais eram a retidão de sua conduta, o seu amor ao

estudo e o brilho de sua inteligência, que Teófilo Otoni o chamava

de ‘Afonso Excelso’”. Em 13 de junho de 1888, recebeu o título de

Visconde de Ouro Preto.

Atuou por quase trinta anos no parlamento brasileiro como deputa- do e senador do Império, sendo três vezes ministro: da Marinha, durante a Guerra do Paraguai; da Fazenda, em 1879; e do último ministério do Segundo Reinado – o Gabinete 7 de Junho de 1889. Nesse atuou como presidente a pedido de D. Pedro II. Entretanto, esse gabinete durou ape- nas cinco meses, pois, no mesmo dia em que a República foi proclamada no Brasil, o gabinete foi dissolvido, o Visconde foi preso e, em seguida, exilado para a Europa, com destino a Hamburgo, na Alemanha. Todas es- sas ações foram expedidas por ordem do Marechal Deodoro da Fonseca. De acordo com Lima Júnior (1966), o Visconde de Ouro Preto pode ser considerado o representante da última geração da nobreza ouro-pre- tana. Outro dado interessante a seu respeito: o Visconde é o pai de Af- fonso Celso de Assis Figueiredo Júnior (Ouro Preto, 1860 – Rio de Ja- neiro, 1938) – o Conde de Ouro Preto. Entre dezembro de 1881 e 15 de novembro de 1889, o Conde de Ouro Preto exerceu a função de depu- tado ao parlamento como representante do então 20º Distrito Eleitoral de Minas Gerais. Portanto, governou quase oito anos e, como registro da

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vida política, deixou a obra Oito annos de Parlamento: reminiscências e notas, escrita em 1901. Apesar de ter tido, naquela conjuntura política, participação político-parlamentar menos densa que a do pai, foi eleito aos vinte e um anos de idade. Em suas palavras, quem lhe “abriu as portas dessa carreira foi Visconde de Ouro Preto (...) devo-as a elle ex- clusivamente” (AFFONSO CELSO JÚNIOR, 1901, p. 16). Affonso Celso Júnior reconhecia a importância em ter sido apoiado pelo pai, pois se “não fôra o amor paterno, sempre suspeito, – contrariar-se-há, – e tão cedo não conseguirieis a cadeira”. (AFFONSO CELSO, 1901, p. 10)

FIGURA 2 – Affonso Celso Júnior no dia do seu casamento – 1884 FONTE: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 2013.

33 Além do Parlamento, Affonso Celso Júnior atuou como professor, historiador, escritor; fundou o Jornal do Brasil, no qual colaborou por mais de trinta anos; foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Note-se que sua atuação política, assim como a de seu pai, encerrou- se em 15 de novembro de 1889, dia da Proclamação da República. Affonso Celso Júnior foi considerado, pelos re- publicanos, um “dos filhotes, característicos da corrupção monarchica” (AFFONSO CELSO, 1901, p. 16) e, na época, foi considerado também pelo então Ministro da Fazenda Ruy Barboza abominável no Brasil tanto quanto o pai.

Vê-se, assim, que se trata de uma família ouro-pretana bastante re- presentativa do cenário de fim de regime monárquico e primeira década do regime republicano.

FIGURA 3 - Placa da casa do Visconde de Ouro Preto – Ouro Preto, MG FONTE: ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO, 2014.

TÍTULO ORIGINAL: “Placa Comemorativa do Centenário de Nascimento do Vis- conde de Ouro Preto: Nesta casa nasceu o Dr. Affonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto, a 21 de fevereiro de 1836. - 1º Centenário - 1936 - Home- nagem do Instituto Histórico de Ouro Preto.” – Data: 12/10/1936.

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1.2 Santa Cruz de Tenerife: desembarque oportuno

Afonso Celso embarcou no dia 19 de novembro de 1889, por deli- beração do governo provisório, no vapor alemão Montevideo, no porto do Rio de Janeiro, com destino a Hamburgo, na Alemanha, com ordem expressa de não tocar em nenhum porto brasileiro. Durante sua viagem para o exílio, o Visconde de Ouro Preto fora aconselhado pelo médico de bordo a aportar em Santa Cruz de Tenerife, província espanhola, em virtude da doença de uma pessoa de sua família. Lá, permaneceu cerca de oito dias. Durante esse período, o Visconde escreveu o Manifesto intitulado O Visconde de Ouro Preto aos seus concidadãos, datando-o de 9 de dezembro de 1889. Em Lisboa, publicou-o no suplemento do Jornal português Commercio de Portugal, nº 3.122, de 20 de dezembro de 1889. O objetivo do Manifesto era narrar e revelar informações, a par- tir de seu ponto de vista, sobre o que presenciou a respeito da queda da Monarquia, sobretudo desde a implantação do Gabinete 7 de Junho de 1889 até o momento em que foi deportado. Vejamos o que ele apresenta no primeiro parágrafo do Manifesto:

D’este porto, onde fui obrigado a deter-me, e do qual pos- so comunicar com os meus compatriotas, é meu primeiro cuidado referir-lhes o que presenciei e a parte que tive nos memoráveis acontecimentos de 15 de novembro, os quaes privaram o Brazil das livres e nobres instituições, que lhe deram tantos annos de paz e prosperidade e me arrojaram a paragens tão distantes. (OURO PRETO, 1891, p. 31)

Referindo-se à queda da Monarquia e ao seu exílio de maneira crí- tica, sua escrita apresenta um tom polêmico. Para o Visconde, ele e o próprio País teriam sido vítimas dos atores políticos que assumiram a condução política na instalação republicana. Na época, essa publicação gerou grande repercussão, sobretudo no Brasil. Políticos como Christia- no Benedict Ottoni, um dos adversários que o Visconde mais rijamente enfrentou na vida pública; Ruy Barboza, Ministro da Fazenda; e o Ma- rechal Rufino Enéas Gustavo Galvão, o Visconde de Maracaju, então

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Ministro da Justiça, publicaram artigos em jornais, como no Jornal do

Commercio, Século e na Gazeta de Notícias, contestando o conteúdo do Manifesto do Visconde de Ouro Preto. Christiano Ottoni (1890, p. 31, 109, grifo do autor), ao refutar seu conteúdo, escreveu que Afonso Celso “no seu Manifesto parece sonhar restauração monarchica. (...) Es- perasse o Visconde um mez; e seu Manifesto seria muito outro”.

Tendo em vista as respostas que esse Manifesto suscitou, Afonso Celso decidiu publicar o livro Advento da Dictadura Militar no Bra-

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, no ano de 1891, na França. Esse livro apresenta duas partes:

a primeira possui textos escritos pelo Visconde de Ouro Preto; a