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O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, conforme rito legal, será pautado para alcançar no mais curto prazo a normalidade social na área definida para as ações militares de não-guerra para estabelecimento da Ordem Pública.

A abordagem do tema no presente trabalho se concentrará a partir de 2013 até março do ano corrente, englobando as Op GLO no contexto dos Grandes Eventos e na Segurança Pública, até a greve da Polícia Militar do Espírito Santo.

3.1 GARANTIA DA LEI E DA ORDEM NOS GRANDES EVENTOS

A partir de 2013, ocorreram no Brasil a Copa da Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

Nestes eventos, houve a necessidade de grande coordenação das ações voltadas para a segurança pública e para as infraestruturas críticas. A sinergia entre os Ministério da Defesa e da Justiça propiciaram ao final dos eventos um saldo extremamente positivo.

Para a Copa das Confederações, as Forças Armadas garantiram o fornecimento regular de serviços básicos à população e ao grande número de turistas nacionais e estrangeiros, além da fiscalização de movimentações suspeitas em fronteiras, nos espaços marítimos e aéreos, atuando em dez setores estratégicos de defesa do Estado: o de Defesa Aeroespacial e Controle do Espaço Aéreo; Defesa de Áreas Marítimas e Fluviais; Defesa de Estruturas Estratégicas; Ações de Inteligência Estratégica e Operacional; Prevenção ao Terrorismo; Preparo e Emprego de Força de Contingência; Fiscalização de Explosivos; Segurança e Defesa Cibernética; Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear; além da cooperação na segurança de chefes de Estado, na Defesa Civil e na proteção das fronteiras, conforme notícia veiculada no sítio do Ministério da Defesa (2013).

O objetivo é definir os principais pontos a serem monitorados em conjunto com as empresas e concessionárias responsáveis, bem como a segurança pública, visando à vigilância e à proteção daqueles pontos que coloquem em risco a realização da competição esportiva promovida pela Fifa.

Conforme veiculado no sítio do Ministério da Defesa (2013), “as atividades principais desses eixos visam ao aproveitamento da capacidade operacional das

Forças Armadas no cumprimento de missões constitucionais e, quando for o

caso, de Garantia da Lei e da Ordem”. (grifo nosso)

Imagem 1 - Desempenho

Fonte: Ministério da Defesa, 2013

Houve a ocupação de 92 estruturas estratégicas nas seis cidades-sede que tiveram as partidas de futebol. No Rio de Janeiro, particularmente, foram implementadas medidas de segurança em 14 setores nas áreas de energia elétrica, água e esgoto e telecomunicações.

Para o fornecimento dos serviços essenciais, como de água, energia elétrica, radiodifusão e dos sistemas de transporte, foi implementada uma estrutura de defesa cibernética para contrapor a possibilidade de ataques aos sistemas computacionais das diversas empresas prestadoras de serviço.

De maneira semelhante, para a Jornada Mundial da Juventude foram adotadas as medidas de segurança da Copa das Confederações, contudo cabe destacar a decretação da Operação de Garantia da Lei e da Ordem para o evento de Copacabana, tendo em vista o cancelamento em Guaratiba, empregando nesse evento cerca de 10.200 homens das Forças Armadas.

Para a Copa do Mundo FIFA 2014, foi assinado um memorando de entendimento entre o governo brasileiro e a FIFA, prevendo que a segurança do campeonato fosse realizada por agências de segurança privada e órgãos de segurança pública. Desta forma, o Governo decidiu que as atribuições do setor público fossem divididas em dois eixos: Segurança, a cargo do Ministério da Justiça, e Defesa, com o Ministério da Defesa.

A experiência adquirida nos dois grandes eventos citados, proporcionou às Forças Armadas estreita sintonia com os diversos órgãos públicos envolvidos nas 12 cidades-sede (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre e Cuiabá) e nas localidades hospedeiras das delegações de futebol (Vitória, Aracajú e Maceió).

A ação do Exército nas cidades-sede foi caracterizada como uma operação preventiva de garantia da lei e da ordem (GLO), respaldada no

Artigo nº 142 da Constituição Federal de 1988; na Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999; e, ainda, no Decreto nº 3.897, de 24 de agosto de 2001; além de todo o arcabouço jurídico que trata do emprego das Forças Armadas nas ações de Defesa em apoio à segurança da Copa do Mundo FIFA 2014. (Revista Verde-Oliva, 2014, grifo nosso)

Os eixos de atuação das Forças Armadas para a Matriz de Segurança durante a Copa do Mundo foram os mesmos adotados na Copa das Confederações. Contudo, as Forças Armadas receberam, ainda, a incumbência de realizar a escolta de autoridades, cooperar com a segurança dos Centros de Treinamento de Seleções (CTS) e colaborar no estabelecimento da segurança das rotas protocolares.

O emprego das Forças Armadas nas ações de Defesa e em apoio à Segurança Pública, além de contribuir de maneira importante para a realização do evento num ambiente seguro, deixou um legado significativo.

Os investimentos feitos pelo Governo Federal, desde 2012, permitiram a modernização e a aquisição de novos equipamentos e tecnologias,

que podem ser utilizados na segurança de novos eventos e, também, para atender às necessidades de defesa do País. Foram adquiridos equipamentos e infraestrutura para a defesa cibernética; kits para DQBRN, módulos para a prevenção e o combate ao terrorismo e material de emprego geral para as tropas, entre outros; e Centros de Coordenação de Operações (CCOp) foram instalados nas cidades-sede. Agregue-se a esse aspecto a manutenção e a modernização de viaturas e aeronaves, além dos investimentos feitos na capacitação de pessoal, particularmente nos setores de logística e operações. (Revista Verde-Oliva, 2014, grifo nosso)

A atuação das Forças Armadas, nos eixos de ação da matriz de segurança, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 teve essencial contribuição adquirida dos grandes eventos ocorridos em de 2013 e 2014, acima supramencionados.

Para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, foi sancionada a Lei n° 12.035, de 1° de outubro de 2009, que institui o Ato Olímpico, ratificando o compromisso internacional assumido pelo Brasil para garantir a segurança dos jogos.

As estruturas de defesa das Forças Armadas foram utilizadas tanto para os Jogos Olímpicos quanto para os Jogos Paralímpicos.

As inúmeras ações de desenvolvidas como o emprego de mais de 43 mil militares, a execução de cerca de 12 mil patrulhas, o atendimento a mil incidentes cibernéticos sem qualquer interrupção das redes, a proteção de 130 estruturas estratégicas, a realização de 600 escoltas a dignitários e cerca de 500 procedimentos de varreduras ou monitoramento de instalações. (Revista Verde-Oliva, 2016)

Em pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, foram verificadas que as ações de segurança desencadeadas durante as Op GLO nos Jogos Olímpicos tiveram avaliações muito bem percebidas pelos turistas que assistiram aos eventos esportivos, para os eixos segurança pública, defesa e inteligência, conforme divulgado na página eletrônica do Ministério da Defesa (2016).

A segurança dos Jogos Olímpicos Rio 2016 foi aprovada por 87,1% dos brasileiros e 88,4% dos turistas estrangeiros que estiveram no Rio ou circularam pelos aeroportos Tom Jobim e Guarulhos, e cidades na fronteira da região Sul do país, como Foz do Iguaçu (PR), Uruguaiana (RS) e São Borja (RS).

Os reflexos dessa aprovação podem ser constatados pela possibilidade de grande parte desses turistas terem a intenção retornar ao País. De acordo com a mesma pesquisa, “87,7% dos turistas estrangeiros têm a intenção de voltar ao Brasil e 94,2% dos brasileiros querem voltar ao Rio de Janeiro”, o que é extremamente positivo para o setor de serviços.

Os investimentos feitos pelo Governo Federal contribuíram para o incremento da Base de Indústria de Defesa, por intermédio da aquisição de meios de emprego militar. Como exemplo, o Exército Brasileiro, desde 2012, vem implementando 7 (sete) grandes Projetos Estratégicos relacionados a atender às

exigências constitucionais de defesa da Pátria, às Op GLO e àquelas constantes do rol de capacidades apontadas na END, podendo-se destacar os seguintes:

- PROTEGER (Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres), foi concebido para proteger as estruturas estratégicas

terrestres do País, como instalações, serviços, bens e sistemas, cuja

interrupção ou destruição impactarão o Estado e a sociedade em âmbito social, ambiental, econômico, político, nacional ou internacionalmente. - DEFESA CIBERNÉTICA, cujo objetivo é prover o País de capacitação tecnológica, que passa pelos recursos humanos, pelo desenvolvimento de doutrina de proteção de ativos e de estruturas, pela operacionalização de sistemas de segurança da informação e pelo incentivo à produção nacional no setor de defesa cibernética.

- DEFESA ANTIAÉREA, cujo objetivo é capacitar a Força Terrestre (F Ter) para defender as estruturas terrestres do País de ameaças provenientes do espaço, tem por finalidade reequipar as OM de Artilharia Antiaérea do EB, pela aquisição de novos armamentos, modernização dos existentes, desenvolvimento de itens específicos, realizados pela Indústria Nacional de Defesa, e realizar a capacitação de pessoal e a implantação de um Sistema Logístico Integrado.

- RECOP (Recuperação da Capacidade Operacional da F Ter), trata-se da explicitação das necessidades para dotar as unidades operacionais de material de emprego militar imprescindível ao seu emprego operacional, no intuito de atender às exigências constitucionais de defesa da Pátria, às

operações de Garantia da Lei e da Ordem e às missões atribuídas ao

Ministério da Defesa. (Revista Verde Oliva, 2013, grifo nosso)

O emprego das Forças Armadas nas ações de garantia da lei e da ordem durante os Grandes Eventos, em consonância com os protocolos assinados, demonstraram à comunidade internacional a capacidade do Poder Nacional, em envidar esforços para assegurar a realização de todos os eventos planejados, permitindo uma sensação de segurança tanto para os brasileiros quanto para os turistas estrangeiros.

Outro aspecto que foi verificado trata-se do investimento feito pelo Governo Federal, particularmente no Campo Militar, quando da aquisição de meios de emprego militar ou de produtos que atendesse às necessidades levantadas pelas Forças, possibilitando o incremento da Base de Indústria de Defesa.

3.2 GARANTIA DA LEI E DA ORDEM NA SEGURANÇA PÚBLICA

De 2013 até março do corrente ano, as Forças Armadas foram acionadas a cooperar com a segurança pública para garantia da lei e da ordem, em vários Estados do país, sendo caracterizado o esgotamento ou a insuficiência dos órgãos de segurança pública para se contrapor a organizações criminosas.

Os atores das ações de violência são caracterizados por grupos armados, terroristas, milícias e organizações criminosas. Estes grupos veem no conflito a única maneira de alcançar seus objetivos e utilizam violentas e criminosas ações, que perduram por um longo período, buscando atingir

um controle coercitivo sobre a população, acuar as autoridades de segurança e defesa, e desmoralizar poder político (Governos Federal e Estadual). (SILVA, 2017, grifo nosso)

A variedade e a frequência desse emprego têm sido motivo de discussão nos mais diversos ambientes da sociedade, de casas de família a rodas de amigos, pela imprensa ou em foros de discussão pública, entre parlamentares e juristas, enfim um tema palpitante e de grande sensibilidade, pois afeta diretamente a população, particularmente das grandes cidades.

A ocupação das Forças Armadas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, por 14 meses (5 de abril de 2014 e 30 de junho de 2015), foi a mais extensa Op GLO realizada e por esse motivo uma das mais discutidas e estudadas sobre o tema.

Os protocolos de entendimento entre os Governos Federal e Estadual estabeleciam, entre outros objetivos, a participação das Forças Armadas no intuito de proporcionar as condições necessárias para a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na Maré.

[...] a ocupação da Maré pelo Exército, baseada em um protocolo assinado entre os governos Estadual e Federal, significou um “pedido de socorro”, uma vez que as ações no campo da Segurança pública estavam sendo crescentemente questionadas pela imprensa e pela população, de modo geral. Foi, portanto, a alternativa encontrada pelo Governador para dar conta de um processo que estava saindo do controle, em relação ao crescente número de eventos envolvendo a polícia e integrantes de Grupos Criminosos Armados (GCAs), à época. (SILVA, 2017, p. 20)

A disputa de território entre as facções criminosas e a atuação da Polícia Militar para estabelecer a ordem tem causado sérios prejuízos aos cidadãos moradores do Complexo da Maré.

A vida cotidiana nas favelas da Maré tem sido marcada, historicamente, pelo atravessamento de violências que conformam uma paisagem na qual estão presentes quatro Grupos Criminosos Armados (GCAs) existentes no Rio de Janeiro: Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando (TC), Amigos dos Amigos (ADA) e a Milícia. Em que pese às especificidades de cada um desses Grupos - já que a forma de lidarem entre si, com a polícia e com os moradores é diferenciada - os conflitos entre eles criaram um processo complexo em torno do direito de ir e vir, dentre outros limites impostos no cotidiano. Além disso, contribuiu para desenvolver no imaginário da cidade

a representação da Maré como um dos locais mais perigosos, no Rio de Janeiro, o que se tornou um argumento para a inibição da garantia de outros direitos dos moradores locais, como, por exemplo, o de terem Segurança Pública. Além de dificultarem a livre circulação em toda região da Maré, os conflitos e as tensões derivadas do processo de “guerra às drogas” criam constrangimentos para que os moradores possam se manifestar de forma pública sobre as violações que sofrem ou assistem. (SILVA, 2017, p. 16)

A busca por assegurar a cidadania, por intermédio dos direitos fundamentais do cidadão estabelecidos na Constituição Federal Brasileira, em vigor, possibilitando as condições mínimas de funcionamento de escolas, postos médicos, transporte etc, tornou-se o grande desafio para as Forças Armadas no Complexo da Maré.

Para o estabelecimento da lei e da ordem, o Estado faz valer dos instrumentos que o legitimam na busca de preservar o direito coletivo em detrimento do direito individual. Para Luz (2015).

A administração pública incumbe-se da tarefa de repelir comportamentos antissociais e cabe a ela promover a cada cidadão uma vida que o possa proporcionar maior satisfação e aproveitamentos, sem que prejudique ou lesione direitos de outros indivíduos. Com limites impostos à discricionariedade pretende-se vedar qualquer manifestação de arbitrariedade por parte do agente administrativo. O interesse da administração não é retirar os direitos individuais com as medidas administrativas referentes ao poder de polícia, observada a ordem jurídica de Estado Democrático de Direito, pelo que se aplicarão os princípios da necessidade, proporcionalidade, eficácia e razoabilidade.

As ações desencadeadas pela Força de Pacificação, denominada Operação São Francisco, tinham por finalidade a preservação (restabelecimento) da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, visando contribuir para a paz social. Foi realizado patrulhamento ostensivo, revistas a veículos e pessoas, realização de prisões em flagrante, estabelecimento de postos de bloqueio e o cumprimento de mandados de busca e apreensão na área de operações, conforme nota à imprensa do Exército, divulgada na página da internet de DefesaNet Agência de Notícias Ltda.

As metas estipuladas para esta Operação foram atingidas pela retomada da área enquadrada e pela perda da liberdade de ação das organizações criminosas. Não há espaço na comunidade que não seja patrulhado, o uso ostensivo de armas diminuiu e o comércio ilegal de entorpecentes teve uma forte redução. Destaca-se o apoio da população, que deixou de ser explorada de forma impune pelo crime e passou a se beneficiar da crescente presença do Estado, sob a forma de melhorias nas áreas sociais. Desde o início da operação foram realizadas mais de 65.000 ações, 583 prisões, 228 apreensões de menores por cometimento de atos infracionais e 1.234 apreensões de drogas, armas, munições, veículos, motos e materiais

diversos. Destaca-se a prisão de integrantes importantes na estrutura do crime organizado, causando desestruturação organizacional nas facções e uma perda significativa nos lucros com o comércio de entorpecentes.

Ao se verificar o sentimento de segurança, em pesquisa de campo consolidada no Livro - A ocupação da Maré pelo Exército brasileiro: percepção de moradores sobre a ocupação das Forças Armadas na Maré, de Silva (2017, p. 56), a população moradora do Complexo da Maré tem a seguinte percepção:

[...] o sentimento de segurança e de insegurança dos moradores de favelas é algo bastante complexo, tendo em vista sua ambiguidade. Historicamente, se convencionou afirmar que dentro das favelas não ocorrem determinados tipos de crimes, tais como assalto, furto, estupro etc., porque nas regras impostas pelos GCAs consta, justamente, a proteção dos moradores contra delitos que, muitas vezes, são cometidos fora da favela por autoria ou conivência desses próprios grupos. Mas esse é um viés estereotipado do imaginário das comunidades populares. O fato dos moradores se sentirem seguros dentro da favela deve-se, sobretudo, à constatação de que a reparação de determinados crimes será realizada, de forma inapelável, pelo grupo criminoso, e não por algum órgão do sistema de Justiça, como deveria ser. Podemos considerar essa realidade uma aberração do ponto de vista da democracia, da ética e do Estado de Direito. Além de suas vantagens imediatas, o fenômeno gera a naturalização de um conjunto de violências e estabelece práticas de convivência consideradas inaceitáveis em áreas da cidade, que não nas favelas e periferias.

A complexidade da percepção do sentimento de segurança pelos moradores da Maré dificulta o levantamento da percepção da atuação das Forças Armadas, no que tange a melhora ou não das condições de segurança à população, como pode-se ver na pesquisa aprepode-sentada no Livro acima já citado.

Imagem 2 - Tabela

Fonte: Silva, 2017, p. 69

Cabe ressaltar que a sensação de segurança é pessoal, sendo variável no tempo e no espaço. Ou seja, a sensação de segurança ou insegurança ocorre em diferentes situações.

Para analisar estas diferentes situações, Soares (2007) trabalha com três dimensões teóricas. A primeira compreende a “percepção sobre a violência” e a “informação sobre a violência”. De acordo com o autor, é necessário que a informação chegue ao indivíduo para que ele tenha medo e insegurança. A segunda está relacionada à “teoria das janelas quebradas”. Esta concepção sugere o princípio da capacidade “involutiva” do crime, ou seja, o crime começa pequeno, cresce e termina grande [...] Os ambientes públicos ficam restritos a determinados horários e espaços e, à medida que vão se desvalorizando e sendo abandonados pelos órgãos públicos, acabam se transformando em “não lugares”, ou seja, espaços adequados para a realização de crimes. [...] a terceira dimensão teórica utilizada por Soares (2007) refere-se à questão da familiaridade e (in)familiaridade com o medo e a percepção de (in)segurança. A princípio, as pessoas se sentem mais seguras em áreas que conhecem do que naquelas desconhecidas, “ela nos afirma que o medo e a insegurança têm correlatas espaciais e podem ser descritos a partir de áreas concêntricas: quanto mais distante de pontos conhecidos, maior a insegurança e o medo” (SOARES, 2007, p. 111). (SOARES apud CARDOSO et al., 2013, p. 149)

Chama atenção o apoio da maioria da população do Complexo da Maré à atuação das Forças Armadas durante as ações realizadas, achando necessária a continuidade da atuação nas favelas.

[...] apesar dos problemas ocorridos durante o processo de ocupação, a intervenção do Exército nas favelas conta com um apoio majoritário da população. Praticamente seis em cada dez moradores (58,5%) acham necessário que a Força de Pacificação continue atuando dentro de favelas e 13,2% consideram que esse processo de intervenção deve depender da situação. Discordando dessa proposição, total ou parcialmente, são menos de 30%. (SILVA, 2017, p. 94)

Os resultados da atuação da Força de Pacificação no Complexo da Maré encontram-se disponíveis na página eletrônica oficial do Ministério da Defesa.

Imagem 3 - Desempenho

A ausência do poder estatal e a prevalência das regras de convivência (silêncio) impostas pelas organizações criminosas (O Crim) corroboram para manifestação populares hostis ao emprego das Forças Armadas, haja vista que as ações sempre serão episódicas e por tempo limitado.

[...] o descompromisso histórico do Estado em cumprir seu papel de regulação do espaço público e da vida social sobre o conjunto do território é o principal elemento a colocar em risco os direitos dos cidadãos e a democracia na sociedade brasileira.

A ausência nesse campo — que afeta o funcionamento, inclusive, de órgãos públicos presentes nas favelas e periferias, tais como escolas, creches e postos de saúde [...] (SILVA, 2017, p. 57)

A interrupção de aulas e o fechamento de escolas públicas na Maré, em consequência de confrontos, são extremamente prejudiciais ao desenvolvimento escolar, prejudicando, consideravelmente, a qualificação e a inserção no mercado de trabalho de boa parte dos jovens e adultos em um futuro próximo.

Em diálogos com a Secretaria Municipal de Educação, os técnicos afirmam que, além do cancelamento das aulas, existem consequências que não são possíveis de ser quantificadas, como a dificuldade de aprendizagem das crianças e adolescentes em um contexto de conflitos frequentes e os

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