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2.3 CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E LEGISLAÇÕES

2.3.2 Segurança do paciente e qualidade nos serviços de saúde

A preocupação com a qualidade do cuidado e com a segurança do paciente em serviços de saúde tem sido uma questão de alta prioridade na agenda da OMS, refletindo na agenda política dos Estados-Membros desde 2000. Um marco importante nesse sentido se deu em outubro de 2004, quando a OMS lançou formalmente a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente por meio de Resolução na 57a Assembleia Mundial da Saúde, recomendando aos países maior atenção ao tema Segurança do Paciente.28

Esta Aliança tem como objetivo despertar a consciência e o comprometimento político para melhorar a segurança na assistência, além de apoiar os países no desenvolvimento de políticas públicas e práticas para segurança do paciente em todo o mundo. Desde então, na América Latina, os países vêm se articulando para cumprir as ações previstas na Aliança Mundial para a Segurança do Paciente.28

Nesse contexto, no Brasil, o Ministério da Saúde, instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por meio da Portaria MS/GM nº 529, de 1º de abril de 2013.

Com o objetivo geral de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde, em todos os estabelecimentos de Saúde do território nacional.28:1

E com os objetivos específicos de:

 Promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente em diferentes áreas da atenção, organização e gestão de serviços de saúde, por meio da implantação da gestão de risco e de Núcleos de Segurança do Paciente nos estabelecimentos de saúde.

 Envolver os pacientes e familiares nas ações de segurança do paciente;

 Ampliar o acesso da sociedade às informações relativas à segurança do paciente;

 Produzir, sistematizar e difundir conhecimentos sobre segurança do paciente;

 Fomentar a inclusão do tema segurança do paciente no ensino técnico e de graduação e pós-graduação na área da saúde.28:1

O PNSP trabalha para atingir seus objetivos a partir de quatro eixos: O estímulo a uma prática assistencial segura; o envolvimento do cidadão na sua segurança; a inclusão do tema no ensino; e o incremento de pesquisa sobre o tema. A cultura de segurança do paciente é elemento que perpassa todos esses eixos.28

A Portaria nº 529 de 1º de abril de 2013 assume como conceito de cultura de segurança, a partir de cinco características operacionalizadas pela gestão de segurança da organização:29

Cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissionais envolvidos no cuidado e gestores, assumem responsabilidade pela sua própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacientes e familiares.

Cultura que prioriza a segurança acima de metas financeiras e operacionais. Cultura que encoraja e recompensa a identificação, a notificação e a resolução dos problemas relacionados à segurança.

Cultura que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o aprendizado organizacional.

Cultura que proporciona recursos, estrutura e responsabilização para a manutenção efetiva da segurança.28:15

A implementação de estratégias para a segurança do paciente no Brasil depende que os estabelecimentos de saúde possam realizar a implantação do Núcleo de Segurança do Paciente, com a elaboração de planos locais de qualidade e segurança do paciente, com ações monitoradas por indicadores, geridos por uma política de estímulo à utilização rotineira de protocolos e diretrizes clínicas.28

Logo, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 1.377, de 9 de julho de 2013 aprova os Seis Protocolos Básicos de Segurança do Paciente:

Parágrafo único. Os Protocolos de Cirurgia Segura, Prática de Higiene das mãos e Ulcera por Pressão, objeto desta Portaria, que visa instituir as ações para segurança do paciente em serviços de saúde e a melhoria da qualidade em caráter nacional e deve ser utilizado em todas as unidades de saúde do Brasil.30

Fonte: Ministério da Saúde. Programa Nacional de Segurança do Paciente: estado da arte e perspectivas.31:2

Figura 2 – Seis protocolos básicos de segurança do paciente. Niterói, 2017.

Estes seis Protocolos Básicos de Segurança do Paciente são norteadores para promover e apoiar os estabelecimentos de saúde a darem início a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente, por meio dos Núcleos de Segurança do Paciente.

A partir dos anos 80, a qualidade dos serviços passou a ser assunto prioritário no setor saúde, sendo impulsionada por diversos fatores como, o elevado custo da assistência à saúde, a consequente necessidade da redução dos gastos, o aumento dos processos judiciais por erros médicos e a maior exigência de qualidade por parte dos usuários.

No final do século passado, Avedis Donabedian estabeleceu como sete os atributos dos cuidados de saúde que definem a sua qualidade: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade. Esses atributos ajudaram a compreender melhor o conceito de qualidade em saúde. Posteriormente, o Instituto de Medicina (IOM) dos Estados Unidos da América (EUA) passou a utilizar para a definição de qualidade, seis diferentes dimensões, incorporando “segurança do paciente” ao conceito de qualidade e mais efetividade, centralidade no paciente, oportunidade do cuidado, eficiência e equidade.28

O IOM define qualidade do cuidado como o grau com que os serviços de saúde, voltados para cuidar de pacientes individuais ou de populações, aumentam a chance de produzir os resultados desejados e são consistentes com o conhecimento profissional atual.28:6

O Ministério da Saúde, no Brasil, também preocupado com a questão da qualidade nos serviços de saúde, vem desenvolvendo formas para incentivar o aprimoramento da assistência hospitalar à população e a melhoria na gestão das instituições hospitalares. Com este objetivo tem implementado vários programas e dentre eles, o Programa de Acreditação Hospitalar.32

Acreditação Hospitalar é uma certificação de qualidade exclusiva para instituições de Saúde. Pode ainda, ser compreendida como uma metodologia de gestão, que preconiza, que fomenta o entendimento estratégico, o consenso produtivo multiprofissional, a racionalização da utilização dos insumos e a otimização dos resultados dos hospitais. E passa pela estruturação de um processo educativo permanente e abrangente, que contemple todo o corpo de trabalhadores, desde o chão de fábrica até o presidente da empresa, compartilhando princípios, metas e objetivos a serem alcançados.32

Para avaliar a qualidade assistencial das Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares foi fundada a Organização Nacional de Acreditação (ONA) em 1999 por entidades públicas e privadas do setor saúde, entidade não governamental e sem fins lucrativos que certifica a qualidade de serviços de saúde no Brasil. O Ministério da Saúde e a Organização Nacional de Acreditação (ONA), tiveram suas relações reguladas por convênio, definindo-se suas obrigações e direitos. Desta forma, a ONA coordena o Sistema Brasileiro de Acreditação - SBA, que reúne organizações e serviços de saúde, entidades e instituições

acreditadoras em prol da segurança do paciente e da melhoria da qualidade da assistência à saúde em âmbito nacional.32,33

Como instrumento específico para a avaliar a qualidade assistencial das instituições de saúde de forma global e sistêmica, é utilizado o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, aprovado pela Portaria nº 1.970, em 25 de outubro de 2001, que apresenta o estabelecimento prévio de padrões e níveis a serem atingidos pelos hospitais durante o processo de acreditação.32,33,34

É importante citar que estas metodologias estão sempre alinhadas com o propósito fundamental de dar maior segurança e conforto aos pacientes e aos colaboradores, promovendo o aumento gradativo da qualidade nos hospitais, através da mudança de hábitos, de procedimentos, posturas e expectativas, despertando sempre nos profissionais de todos os níveis e serviços um novo estímulo para avaliar seus processos, percebendo e aumentando as virtudes, reconhecendo e diminuindo as vulnerabilidades existentes.

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