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Os procedimentos, referentes aos cuidados iniciais com as sementes de oiticica, para melhor conservá-las, foram descritos com base em relatos de ações praticadas pelo produtor, considerando a sua grande experiência do cultivo, colheita dos frutos e armazenamento dessa oleaginosa. Além disso, nas observações realizadas em campo durante uma visita ao local (Água Nova/RN) em março de 2015. Tais procedimentos são apresentados a seguir em três etapas:

1ª etapa: Lavagem das sementes. Essa etapa tem a finalidade de remover os detritos

aderidos nos frutos e para reduzir a carga microbiana, comum em frutos em contato com o solo.

2ª Etapa: Secagem. As sementes de oiticicas eram espalhadas sobre lonas plásticas ao

sol, em área calçada por 3 a 5 dias consecutivos. Contudo, se esse período sofrer interrupção por ocasião de chuvas, ele poderá se torna maior para completar a secagem dos frutos.

3ª etapa: Armazenamento. Após secas, as sementes eram ensacadas em sacos de ráfia

e armazenadas em local seco e coberto.

Dentre as percepções obtidas a cada ano e safra, fez-se o seguinte diagnóstico e atribuições em relação às oiticicas:

• Frutos atacados por pragas: podem ser percebidos nas sementes mais novas e também nas mais antigas, pela presença dos furos no fruto que permeiam a casca interna atingindo o núcleo (amêndoa) dos frutos (A).

• Frutos somente entre casca (parda, bege, marrom, preta mofada): as safras mais recentes geralmente apresentavam cascas claras com alto teor de óleo. Observou-se a apresentação de casca amarronzada (desde mais clara a mais acentuada) nas safras menos recentes, constituídas de sementes em processo gradual de amadurecimento e perda do óleo, mas ainda possível de extração. As de cascas mais escuras (safras antigas) se apresentavam com baixo teor de óleo ou inexistente inviabilizando a extração (B).

• Frutos com pele escurecida (amarronzada): estes eram frutos bem maduros com aproximadamente 10 a 12 meses de colhido (C);

• Frutos com pele ou casca com manchas brancas indicando presença de fungos ou doença: provavelmente decorrente de doença na planta, contato com o solo úmido, com microrganismos naturais do habitat e/ou condições inadequadas de armazenamento por umidade elevada no local (D);

• Frutos coletados diretamente no solo abaixo das copas das árvores: acompanhado de terra, ocasionalmente de lama, podendo ou não está em áreas alagadas devidos às chuvas comuns nesse período do ano, em maior contato com microrganismos presentes naturalmente no solo e com frutos em processo de decomposição acelerado por eles, dejetos de animais que se abrigam e se alimentam das folhas das copas das árvores (E);

• Frutos coletados sobre lonas depositadas abaixo das copas das árvores: com melhor aparência, podendo ser ou não frutos recém caídos, com menor contato de terra, mais livre de contato com microrganismos do solo, excrementos dos animais e umidade, exceto quando há ocorrência de chuvas ficando em contato com a água retida sobre a lona (F);

• Frutos com pele verde: sementes novas colhidas verdes com alto teor de óleo (G); • Frutos com pele amarelada: sementes maduras com bom teor de óleo (H).

(A)

(B)

(C) (D) (E)

(F) (G) (H)

Figura 3.1 – Características das oiticicas: atacadas por pragas (A), sem pele secas recém colhidas a mais velhas e mofada (B), muito maduras envelhecidas (C), com indicação de doença ou mofo (D), com terra e impurezas aderidas (E), com aspecto livre de impurezas (F),

novas colhidas verdes (G) e maduras (H) Fonte: Autor (2015)

Mediante essas percepções e diagnóstico, adotou-se um procedimento de seleção e classificação das oiticicas, e, por conseguinte, os óleos obtidos a partir destas também foram classificados. Estes passos estão descritos no fluxograma apresentado pela Figura 3.2, o qual

contempla todas as etapas, desde a obtenção das oiticicas, dos processos envolvidos até a produção do biodiesel.

Figura 3.2 - Fluxograma das etapas de seleção das sementes de oiticica e respectivos processos para obtenção do biodiesel.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

Oiticicas: V - verde; SV- verde sem pele entre casca (parda); M - madura; SS - seca sem pele

entre casca (bege a marrom);

Óleos: OA - Óleo da amêndoa; OV - Óleo da oiticica verde; OSV - Óleo da oiticica verde sem

pele entre casca (parda); OM – Óleo da oiticica madura; OSS - Óleo de oiticica seca sem pele entre casca (bege a marrom).

Antes da seleção das sementes, realizava-se uma avaliação do estado aparente das oiticicas quanto a necessidade de ainda as expor ou não a algum processo de secagem, devido à umidade de alguns frutos ou do tempo. Quando se fazia necessário, se espalhava as oiticicas sobre uma lona, ao sol, por quatro (4) dias entre o período das 8 às 16 h, 6 a 8 h. Ou em estufa de circulação de ar (Marconi, modelo MA035/5) a 50 °C por 6 a 8 h, em ocasiões de tempo nublado ou chuvoso. Condicionando-as novamente em sacos de ráfia após período de secagem para posterior etapa de seleção das sementes.

O armazenamento, porém, também foi motivo de estudo, em 2015, após observações que se tornaram pertinentes para a conservação das sementes por tempos mais prolongados até o momento da extração do óleo, sem que tivesse que submetê-las por sucessivas secagens para evitar a sua degradação. Notou-se que devido ao período chuvoso em Natal/RN (entre os meses de abril a julho), no qual a umidade é bastante elevada, naturalmente havia o surgimento e proliferação de mofo sobre a superfície dos frutos mesmo quando as oiticicas eram mantidas com todo cuidado em local arejado, com maior circulação de ar e temperaturas em torno de 22 a 25 °C. Isso ocorria com mais frequência nas oiticicas que apresentavam epicarpo e mesocarpo. Sendo, nestes casos, necessário submetê-las a estufa de circulação de ar a 50 °C, durante 4 h. Devidamente secas, quando armazenadas em ambiente fechado entre 26 a 29 °C, não apresentaram mofo.

A classificação atribuída as oiticicas selecionadas e, posteriormente, seus respectivos óleos foi estabelecida com base em suas características aparente, em consonância ao tempo de colhidas e composição do fruto. Mais de 70% do fruto é constituído da amêndoa e os quase 30% restante de casca fibrosa. O fruto é formado de epicarpo (camada externa), mesocarpo (camada intermediária), casca (camada interna fibrosa) e o endocarpo, que é a própria amêndoa onde encontra-se o conteúdo de óleo.

Quando o fruto é novo, sua epiderme é naturalmente verde devido a presença da clorofila, escurecendo-se para uma tonalidade de amarelo-escuro durante o amadurecimento. Mas, esses tons variam de acordo com a epiderme inicial, também sendo possível notar transições de cores, enquanto novos, do esverdeado ao amarelado, passando a ter um tom homogêneo do amarelo claro ao mais escuro, caracterizando a maturidade do fruto. Entre essas fases, também a camada fibrosa que envolve a amêndoa varia dos tons pardo, bege ao marrom, sendo o mais escuro, a evidência de fruto envelhecido com pouca ou quase nenhuma presença de óleo em seu núcleo.

A amêndoa nova tem uma cor avermelhada mais clara que se intensifica com o amadurecimento natural do fruto tornando-se um vermelho escuro (vinho) com aspecto brilhoso até atingir o tom marrom opaco, quando indica que o teor de óleo se extinguiu quase totalmente. Quando o óleo é lixiviado totalmente da amêndoa, sua aparência é seca e se torna menos rígida, ou seja, mais quebradiça. A Figura 3.3 ilustra a composição do fruto da oiticica.

Figura 3.3 – Esquema do formato e composição do fruto da oiticica: epicarpo, mesocarpo, casca e endocarpo (amêndoa).

Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

As oiticicas correspondentes a safra do ano de 2015 foram enviadas em duas remessas, a primeira atrelada ao período inicial da safra ocorrida entre dezembro de 2014 e início de janeiro de 2015. E a segunda, com frutos colhidos entre janeiro a março desse mesmo ano, sendo esta remessa a 2ª safra. As oiticicas selecionadas receberam a classificação como oiticicas verdes (V) e secas (SS), e seus óleos, OV e OSS, respectivamente.

Similarmente ocorreu com a safra do ano de 2017, porém com maior seletividade após diagnóstico e constatações obtidas a partir do estudo feito com a safra anterior. Foi solicitado ao fornecedor a separação e identificação dos frutos que tiveram ou não contato com água por período excessivo, seja por ocasiões de impurezas aderidas, queda em solo encharcado, ou ainda, durante a etapa de secagem ao sol. Exceção nos casos não tão prejudiciais a sua conservação, como o contato com água de chuva, enquanto os frutos ainda estavam na árvore ou após uma lavagem rápida para remoção de terra ao caírem no solo e em seguida colhidos.

Dessa forma, a primeira remessa de oiticicas correspondente a 1ª safra (dezembro de 2016 a início de janeiro de 2017) recebeu a classificação de V1 e SV1, e seus óleos OV1 e OSV1, com indicação numérica acrescida para dizer que foi da 1ª safra. Contudo, não foi

informado se houve contato com água nesta remessa dos frutos. Já com a segunda remessa referente à 2ª safra de 2017 (janeiro a fevereiro de 2017), houve a distinção sendo enviadas em sacas separadas devidamente identificadas. Em uma saca, oiticicas mais novas (verdosas), classificadas em V2 e SV2, e os seus óleos OV2 e OSV2. Estas não tiveram contato com chuva. Em outra saca, oiticicas que tiveram contato com água de chuva durante o período de secagem ao sol, recebendo a classificação de oiticicas maduras (M) e secas sem epicarpo na casca (SS), devido às suas características aparente de coloração de pele e casca, respectivamente. Seus óleos quando obtidos, nomeou-se por OM e OSS.

Destaca-se que entre as safras de 2015 e 2017, a do último ano se mostrou superior, em aparência e qualidade do fruto. Raras foram as sementes detectadas com mofo, sem o núcleo (doença) e/ou afetadas por praga. Algo bastante evidente na safra de 2015. Essas informações influenciam diretamente na qualidade do óleo.