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Capítulo V – Metodologia da investigação

4. Seleção e caracterização da amostra

Para procedermos à definição da amostra, decidimos selecionar três cursos de uma mesma área do conhecimento. O número de cursos selecionados teve em conta o tempo que dispunhamos para realizar o trabalho de investigação, precisamente um ano. A opção por cursos de uma mesma área partiu do pressuposto de que, sendo impossível, novamente pela questão do tempo, abarcarmos cursos de diferentes áreas, dada a complexidade que esse processo envolveria, era preferível privilegiar a profundidade do estudo em detrimento da sua extensão. Dada a questão central do estudo – perspectivar como é que a reforma curricular tem sido tratada pelos docentes –, perspectivamos um estudo com alguma profundidade abarcando apenas três cursos de um determinado campo do conhecimento.

A opção pelos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica entre tantos outros cursos da UFC, decorreu do fato de esses cursos terem sido dos primeiros cursos da instituição a realizarem os seus processos de reforma curricular5. A reelaboração dos PPPs dos referidos cursos decorreu

entre os anos de 2003 e 2004, e os novos projetos resultantes começaram a ser implementados no início de 2005. Também há que referir que a reforma nesses cursos se deu conjuntamente com a dos demais cursos de Engenharia integrantes do CT. Especificamente, os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica são os três cursos de Engenharia mais antigos desse Centro. Como os cursos de Engenharia no Brasil têm cinco anos de duração, só recentemente, em 2010, é que os cursos pesquisados tiveram os seus primeiros graduados no novo currículo. Por essa trajetória, pelas suas especificidades e por pensarmos que é um momento oportuno de analisá-la, uma vez que possui sete anos de andamento, é que

5 Na Universidade Federal do Ceará, tendo em vista o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação no

Brasil, os cursos de Engenharia que à época compunham o Centro de Tecnologia foram os segundos a realizarem suas reformulações curriculares, antecedidos apenas pelo curso de Medicina.

optamos pelos três cursos referidos. Além disso, também pesou como critério nessa seleção, o fato de não termos participado da equipe que assessorou esse processo de reforma curricular.

A amostra deste estudo foi constituída por professores dos três cursos selecionados. No âmbito desses cursos, definimos como sujeitos respondentes os docentes que desempenham a função de coordenador de curso e aqueles que desempenharam essa função no período da reforma. Selecionamos ex- coordenadores e coordenadores, os primeiros porque eles tiveram a responsabilidade de alavancar, acompanhar e supervisionar a (re)construção dos currículos dos cursos. Selecionamos os segundos porque têm a responsabilidade de dar continuidade à implementação das mudanças curriculares. Além destes sujeitos, decidimos entrevistar os professores que estiveram à frente da Direção do CT, no momento da efetivação da reforma, apenas porque o papel exercido por essa Diretoria foi frequentemente destacado pelos primeiros entrevistados. Por utilizarmos os critérios descritos, podemos dizer que a nossa amostra é uma amostra de conveniência, não só em relação aos docentes, mas também em relação aos cursos. Ao todo foram entrevistados sete professores, dos quais quatro participaram na reforma curricular e três têm a missão de dar continuidade ao PPP dela resultante.

Para a caraterização dos sujeitos respondentes por nós entrevistados, definimos como variáveis: o sexo, a idade, a titulação acadêmica, o tempo de docência no ensino superior, o tempo de experiência como coordenador de curso e o fato de possuir ou não formação pedagógica complementar. Esta última variável foi introduzida com o intuito de saber se os docentes tinham realizado alguma espécie de curso que tratasse especificamente de questões como didática, docência, currículo, ensino e aprendizagem. Este elemento foi por nós considerando relevante, por ponderarmos que a maioria dos docentes universitários no Brasil possuem as mais elevadas titulações em suas áreas de conhecimento, embora esses estudos, justamente por serem bastante específicos e circunscritos a um campo, dificilmente abordem temáticas relativas ao exercício da docência no ensino superior. Entendemos que a falta de uma formação pedagógica específica é uma lacuna que interfere siginificativamente no exercício da docência e da gestão curricular. Neste estudo, tivemos a intenção de verificar se o fato de o docente possuir uma formação desse tipo poderia ser um dado a fazer diferença na forma como lida com o currículo do curso.

Assim, a partir do conjunto de variáveis levantadas, construimos o quadro seguinte – Quadro I –, que nos permite caracterizar os docentes entrevistados.

Quadro I – Caracterização dos docentes entrevistados Docentes

Entrevistados (DE)

Sexo Idade Titulação

Acadêmica Tempo de Serviço Tempo na Coordenação de Curso Formação Pedagógica Complementar Situação Profissional DE1 Masc. Mais de 50 Doutorado Mais de 20 5 anos Não Efetivo DE2 Masc. 41-50 Doutorado 16-20 6 anos Não Efetivo DE3 Masc. 30-40 Doutorado 10-15 1 ano Não Efetivo DE4 Masc. 30-40 Doutorado 10-15 4 anos Não Efetivo DE5 Masc. 30-40 Doutorado 5-10 3 anos Não Efetivo DE6 Masc. 41-50 Doutorado 16-20 4 anos Não Efetivo DE7 Masc. Mais de 50 Doutorado Mais de 20 0 ano Não Efetivo

O quadro revela que foram entrevistados sete professores, todos do sexo masculino. Em relação à idade, três dos nossos entrevistados têm entre 30 e 40 anos, dois têm entre 41 e 50 anos e dois têm acima de 50 anos, configurando uma amostra relativamente diversificada no que diz respeito à faixa etária.

No que diz respeito à qualificação acadêmica, todos os entrevistados possuem o título de Doutor em alguma área específica das Engenharias, o que confere garantia de qualidade científica à amostra do estudo.

Relativamente ao tempo de exercício da docência no ensino superior (tempo de serviço), um dos entrevistados possui entre 5 e 10 anos de serviço, dois dos entrevistados têm entre 10 e 15 anos de serviço, dois têm entre 16 e 20 anos e dois possuem mais de 20 anos de trabalho nesse nível do ensino.

No que se refere à experiência de trabalho na coordenação do curso, a maioria dos entrevistados possuem entre 3 e 6 anos de experiência, um dos entrevistados possui apenas 1 ano e um nunca esteve nessa função. Contudo, este entrevistado tem acumulada uma experiência de 18 anos e 10 meses no desempenho de outros cargos de gestão acadêmica.

No que respeita à realização de formação pedagógica complementar, todos os entrevistados informaram que não tinham realizado esse tipo de formação. Apesar de nenhum dos professores ter feito uma formação nessa modalidade, quatro dos sete entrevistados afirmaram ter cursado as disciplinas de “Didática do Ensino Superior” ou de “Metodologia no Ensino Superior” ofertadas nos seus programas de mestrado ou doutorado.

Quanto à situação profissional, todos os entrevistados fazem parte do quadro de docentes efetivos da instituição e todos realizaram concurso público para lecionarem na universidade.

Resumidamente, podemos dizer que se trata de uma amostra diversificada em termos de idade, experiente quanto ao tempo de exercício da docência no ensino superior, com formação acadêmica adequada em termos da área de conhecimento do curso, mas com pouca experiência na função de coordenador de curso e sem preparação pedagógica específica para o ensino e para o desenvolvimento do currículo. Concluímos, que se configura como uma amostra com características relativamente comuns

dentro do grupo de professores de Engenharia na instituição pesquisada, com exceção do desempenho do cargo de coordenador, o qual, pela nossa experiência de trabalho na universidade, muitos ou talvez a maioria dos professores não passaram por ele.