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3. Metodologia

3.2. Seleção dos estudos de caso

Depois destas considerações sobre a utilização do método de estudo de casos e a importância do processo de conceção da investigação, passamos à descrição do processo de seleção das empresas para a realização dos estudos de caso. A seleção da amostra num estudo de caso tem um sentido estratégico (Eisenhardt, 1989; Bravo, 1992). Na medida em que não se trata de uma investigação amostral, não obedece a procedimentos estatísticos mas antes à possibilidade de maximizar o que pode ser apreendido no período de tempo disponível para a investigação, tendo presente que se estuda um caso para compreender esse mesmo caso, e não outros casos (Stake, 1995). Deste modo, a constituição da amostra é um processo intencional “baseando-se em critérios pragmáticos e teóricos, em vez de critérios probabilísticos, buscando-se não a uniformidade, mas as variações máximas” (Bravo, 1992: 254).

Neste processo de seleção dos casos, e como pretendíamos estudar o processo de internacionalização das empresas portuguesas para os PECO, via investimento direto estrangeiro no setor industrial, ao nível dos seus fatores determinantes e dos modos de entrada que foram seguidos, começámos por constituir uma base de dados das empresas portuguesas que realizaram investimentos e que estão instaladas nos referidos países.

AICEP Portugal Global – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, representações diplomáticas dos PECO em Portugal e representações diplomáticas de Portugal nos PECO, bem como algumas câmaras de comércio bilaterais, entre as quais a Câmara de Comércio Polónia-Portugal. Simultaneamente, efetuámos um levantamento junto de diversas fontes secundárias (jornais e revistas da imprensa portuguesa e estrangeira; web sites empresariais e institucionais) com o objetivo de encontrarmos informações sobre negócios e investimentos de empresas portuguesas na referida região que nos permitissem complementar e consolidar o levantamento de empresas que estávamos a realizar.

Deste exercício, foi possível identificarmos um total de 361 empresas com capitais portugueses existentes nos PECO, de diferentes setores de atividade e de acordo com a distribuição geográfica, por país, apresentada no Quadro 9.

Quadro 9 - Empresas com capitais portugueses instaladas nos PECO

PAÍS NÚMERO DE EMPRESAS % TOTAL

Bulgária 15 4,2% Eslováquia 9 2,5% Eslovénia 1 0,3% Estónia 1 0,3% Letónia 1 0,3% Lituânia 2 0,6% Hungria 63 17,5% Polónia 104 28,8% Rep. Checa 16 4,4% Roménia 149 41,3% Total 361 100%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da AICEP Portugal Global, representações diplomáticas portuguesas nos PECO, representações diplomáticas dos PECO em Portugal, câmaras de comércio bilaterais, artigos da imprensa portuguesa e estrangeira, junho de 2013

A presença empresarial portuguesa está concentrada nos países que têm acolhido maiores fluxos de investimento direto português, conforme vamos poder constatar mais adiante, ou seja, Roménia (149 empresas), Polónia (104 empresas), Hungria (63 empresas) e República Checa (16 empresas). Depois destes países, seguem-se a Bulgária (15 empresas), Eslováquia (9 empresas), Lituânia (2 empresas) e a Eslovénia, Estónia e Letónia com uma empresa de capital português em cada um destes países.

No processo de seleção dos estudos de caso tivemos também em conta a necessidade de existir alguma diversidade, mas também algum equilíbrio nos casos que iríamos estudar. Ou seja, os casos deveriam apresentar alguma diversidade, em termos de dimensão da empresa, localização geográfica nos PECO, área de atividade e ano de realização do investimento, mas também algum equilíbrio, tendo neste caso a preocupação de apenas considerarmos casos de investimentos industriais realizados por empresas portuguesas.

Como primeiro resultado deste trabalho, selecionámos cinco empresas industriais portuguesas que realizaram investimentos nos PECO, num universo de nove investimentos industriais nacionais existentes na mesma região (os restantes investimentos nacionais enquadram-se, principalmente, no setor terciário e, com uma expressão irrelevante, no setor primário).

Estas cinco empresas foram contactadas, via telefone e correio eletrónico, com vista a obtermos a sua concordância para participarem neste projeto, tendo sido apresentado a cada uma delas as características e os objetivos do trabalho que estávamos a realizar, dando especial enfoque ao seu caráter científico e à confidencialidade de algumas das informações que iriamos recolher. Destas diligências foi possível obter uma posição positiva de quatro empresas, tendo uma delas não respondido aos vários contactos que foram efetuados, acabando por ser substituída por uma outra empresa com o mesmo perfil de internacionalização.

Quadro 10 - Principais características das empresas analisadas Empresa Setor de Atividade Volume de Negócios (a) (2013) Empregados (2013) País do Investimento Ano do Investimento Arcen, S.A. Equipamentos industriais para os setores da construção civil, obras públicas e minas 18,2 126 Polónia 2005 Colep, S.A. Embalagem/ ”Contract Manufacturing” 496, 8 3 850 Polónia 2001 Epoli, S.A. Produção de espumas de polietileno 7,2 49 República Checa 2005 Nutre, SGPS,

S.A. Agroindústria 64,4 (b) 440 (b) Roménia 2008 Simoldes Plásticos, S.A. (c) Componentes para a indústria automóvel 58 709 Polónia 2003

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados fornecidos pelas empresas (a) Unidade: Milhões de Euros

(b) Dados de 2012

(c) A divisão “Simoldes Plásticos”, uma das divisões do Grupo Simoldes de que faz parte a Simoldes Plásticos, S.A., teve, em 2013, uma faturação de 206 milhões de euros e empregava 2 091 trabalhadores.

Como resultado final, foram selecionadas cinco empresas que constituirão os cinco estudos de caso desta nossa investigação, a saber:

- Arcen Engenharia, S.A. (em termos abreviados, iremos utilizar nesta investigação a designação Arcen, S.A.);

- Colep, S.A.;

- Epoli – Espumas de Polietileno, S.A. (em termos abreviados, iremos utilizar nesta investigação a designação Epoli, S.A.);

- Simoldes Plásticos, S.A..

Destas cinco empresas, e de acordo com a Recomendação da Comissão Europeia nº 96/280/CE, de 3 de abril de 1996, duas empresas são consideradas como pequenas e médias empresas (Arcen, S.A. e Epoli, S.A.) e as restantes três constituem grandes empresas (Colep, S.A., Nutre SGPS, S.A. e Simoldes Plásticos, S.A.), que integram, por sua vez, alguns dos mais importantes grupos empresariais portugueses.

Em relação a estes cinco casos, decidimos escolher o caso da Colep, S.A. como um “estudo de caso-piloto” que serviu para afinar e melhorar diversas questões e procedimentos relacionados com a recolha de dados e clarificar aspetos ligados à forma de análise e a estrutura de elaboração do relatório (Yin, 2009). Os casos seguintes foram realizados logo após o da Colep, S.A, de acordo com a metodologia da Cosmos Corporation proposta por Yin (2009).