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2. Revisão da literatura

2.2. Teorias explicativas do processo de internacionalização

2.2.7. Teoria dos recursos

A teoria dos recursos (Penrose, 1959; Wernerfelt, 1984, 1995; Barney, 1991; Grant, 1991; Tallman e Fladmoe-Lindquist, 1994, 2002; Teece et al., 1997) vai analisar o papel do conhecimento e dos recursos, competências e capacidades organizacionais da empresa na criação das suas vantagens competitivas.

Priem e Butler (2001) consideram que Wernelfelt (1984, 1995) deu uma contribuição muito relevante para a teoria dos recursos. Num dos seus primeiros trabalhos Wernelfelt (1984: 171) refere que “para a empresa, recursos e produtos são os dois lados da mesma moeda. A maioria dos produtos necessitam dos serviços de vários recursos e a maioria dos recursos podem ser utilizados em vários produtos”. Ou seja, ao analisar as estratégias

e a organização das próprias empresas, Wernelfelt (1984) chama a atenção para a relevância dos recursos que, na sua opinião, se poderão posicionar numa fase anterior aos próprios produtos e, numa fase posterior, fazer parte da própria competitividade da empresa. Como referem Dierickx e Cool (1989: 1504), o referido trabalho de Wernerfelt permitiu chamar a atenção de académicos e de gestores para a importância de terem de reconhecer que “um conjunto de ativos, ao invés de uma determinada estratégia de produto, e da sua implantação, está no cerne da posição competitiva da empresa”.

Wernerfelt (1984: 172), define recursos como “aqueles ativos (tangíveis e intangíveis) que estão permanentemente ligados à empresa”. Por sua vez, Galbreath (2005) considera os recursos “como um fator (ao nível da empresa) com potencial para contribuir para o benefício económico”, e faz uma distinção, com base nas propostas de Hall (1992), entre recursos tangíveis e recursos intangíveis que apresentam as seguintes características:

a) Recursos tangíveis estão relacionados com fatores que têm subjacente um valor físico ou financeiro e que podem ser medidos pelo balanço económico e financeiro da própria empresa. Estão aqui incluídos os ativos financeiros (Grant, 1991) e os ativos físicos (Grant, 1991). Andersen e Kheam (1998) referem que não existem grandes dúvidas sobre os fatores que integram os recursos tangíveis da empresa.

b) Recursos intangíveis são os fatores que não têm uma dimensão física ou financeira e que raramente, ou mesmo nunca, são incluídos no balanço económico e financeiro da empresa.

De acordo com Galbreath (2005) existem algumas dificuldades em tentar determinar “porquê” e “como” classificar os recursos intangíveis. Hall (1992, 1993) é um dos autores que tenta ultrapassar este constrangimento, propondo uma categorização dos recursos intangíveis em duas dimensões: “ativos” e “competências” (capacidades). Um “ativo” é aquilo que uma empresa “tem” e uma “competência” é aquilo que uma empresa “faz”. Assim, os recursos intangíveis considerados como “ativos” incluem a propriedade

marca e reputação da empresa (Roberts e Dowling, 2002). Já os recursos intangíveis que constituem “competências” têm a ver com as capacidades da própria empresa (Hall, 1992; Amit e Schoemaker, 1993; Day, 1994). Apesar das referidas distinções entre “ativos” e “competências” serem, por vezes, difíceis de realizar (Andersen e Kheam, 1998), elas já foram usadas e testadas em diversas investigações (Hall, 1992; Welbourne e Wright, 1997; Fahy, 2002).

Chatterjee e Wernerfelt (1991) dividem os recursos em três categorias: físicos, intangíveis e financeiros. Já Grant (1991) desagrega os recursos intangíveis em quatro categorias: recursos humanos, recursos tecnológicos, reputação e recursos organizacionais. Ghoshal e Bartlett (1990) integram nos recursos as capacidades e competências nas áreas do marketing e da gestão. Ruzzier et al. (2006) consideram que os recursos da empresa são os “stocks” disponíveis de fatores tangíveis e intangíveis que são detidos ou controlados pela empresa e convertidos em produtos e serviços, usando uma variedade de outros recursos e mecanismos de ligação.

Em termos gerais, e de acordo com Barney (1991), os recursos apresentam duas características fundamentais. A primeira tem ver com o facto de estarem distribuídos pelas empresas de uma forma heterogénea. E a segunda consubstancia-se no facto dos recursos não poderem ser distribuídos, sem custos, de empresa para empresa. Tendo por referência esta argumentação, Barney (1991) refere que aqueles recursos que são raros (não estão amplamente disponíveis) e valiosos (que contribuem para o aumento da eficiência da empresa) são geradores de vantagens competitivas para as empresas. Se esses mesmos recursos não puderem ser imitados, substituídos ou transferidos podem trazer para as empresas que os possuem vantagens competitivas sustentadas (de médio- longo prazo). Como sugerem McDougall et al. (1994) e Young et al. (2000), as empresas, no âmbito da teoria dos recursos, devem criar e desenvolver os seus recursos raros, valiosos e dificilmente imitáveis e promover a sua utilização no mercado doméstico e nos mercados internacionais.

Face à heterogeneidade dos recursos ao nível das empresas e à diversidade dos locais e ambientes de negócios onde atuam, existem, por vezes, dificuldades em identificar e definir os recursos críticos necessários para a respetiva internacionalização (Ruzzier et al., 2006). Neste âmbito, Peng (2001) refere que a teoria dos recursos pode dar um contributo relevante às teorias da internacionalização, através da identificação de quais as competências e as capacidades que são únicas, valiosas e dificilmente replicadas ou imitadas e que separam os vencedores dos derrotados na competição à escala global, permitindo às empresas diferenciarem-se entre si e alcançarem o sucesso em mercados internacionais.

A teoria dos recursos olha para a expansão internacional das empresas como “um alargamento do âmbito de desenvolvimento dos ativos e capacidades existentes, para melhorar os resultados das tecnologias chave, criando oportunidades através da exposição a novos mercados” (Ilhéu, 2009: 48). Para explicar o desenvolvimento internacional das empresas, Penrose (1959) argumenta que a indivisibilidade dos recursos produtivos justifica a sua subutilização. Por conseguinte, a empresa é estimulada a expandir-se para consumir os seus recursos subutilizados, ou seja, o seu desenvolvimento é realizado em função da quantidade de recursos que possui. Andersen e Kheam (1998: 163) sublinham que as “empresas tendem a desenvolver novos produtos e a entrar em novos mercados onde os recursos exigidos estão relacionados com os recursos da própria empresa”, ou seja, a internacionalização da empresa é realizada em função das suas capacidades e recursos e não envolvem necessariamente uma sequência pré-determinada e gradual de entrada em mercados internacionais.

Talmann e Fladmoe-Lindquist (1994) apresentam um modelo de explicação da expansão internacional das empresas, no âmbito da teoria dos recursos, que é determinado pela disponibilidade de recursos e pelo interesse de desenvolvimento das capacidades de aprendizagem organizacional da empresa. Por outras palavras, as empresas com recursos limitados e uma fraca capacidade de aprendizagem organizacional não são suscetíveis de concretizarem uma expansão internacional ou multinacional, enquanto empresas com

organizacional estão em melhores condições para poderem ter uma forte presença internacional. As empresas que atinjam este nível de presença internacional deverão possuir estruturas de rede a fim de poderem manter a capacidade e a flexibilidade das suas respostas estratégicas (Talmann e Fladmoe-Lindquist, 1994). Este é um modelo que articula a teoria dos recursos com a teoria das redes, considerando, por um lado, que os recursos específicos da empresa condicionam as suas opções estratégicas, em termos de produto, mercado e forma de organização e, por outro lado, que a existência e a integração da empresa em redes têm uma influência determinante no seu desenvolvimento internacional.

Ahokangas (1998), num estudo sobre o processo de internacionalização de pequenas e médias empresas, combina estas duas perspetivas (teoria dos recursos e teoria das redes), argumentando que o processo de internacionalização das referidas empresas está dependente do potencial de desenvolvimento de um conjunto de recursos internos e externos, os quais deverão ser ajustados/expandidos dentro da própria empresa e também com outras empresas e entidades no ambiente socioeconómico onde estão inseridas.

Nesta combinação da teoria das redes com a teoria dos recursos, e de acordo com Ruzzier et al. (2006), os recursos internos e externos da empresa são vistos como constituindo a totalidade dos recursos que esta tem à sua disposição. Para adquirir recursos estratégicos a empresa vai ter de cooperar ou de uma forma vertical, com os atores envolvidos nos fluxos do produto, ou de uma forma horizontal, estabelecendo relações com os seus concorrentes, ou seja, entrando em várias redes empresariais.