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Capítulo 3 – Metodologia

3.1 Seleção dos informantes

Foram selecionados, para o presente estudo, dois grupos:

- Grupo com DP: composto por 10 informantes idosos com DPI (conforme critério do Banco de Cérebro de Londres), em uso de levodopa, sendo cinco indivíduos do sexo masculino, de 59 a 88 anos de idade (média 70,8 anos) e cinco do sexo feminino, de 59 a 75 anos de idade (média 67,4 anos).

- Grupo controle (GC): composto por 10 informantes idosos sem alterações neurológicas, sendo cinco do sexo masculino, de 61 a 75 anos de idade (média 69,8 anos) e cinco do sexo feminino, de 60 a 73 anos de idade (média 66,4 anos).

Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre as médias das idades do GC e do grupo de portadores de DP. A TAB. 1 mostra a distribuição dos informantes por sexo e faixa etária, com média e desvio padrão da idade e valor de p.

TABELA 1

Distribuição dos informantes por sexo e faixa etária Número de Informantes /

Porcentagem

Faixa Etária (Média / Desvio padrão)

Sexo Amostra GC Amostra GC

p Masculino 05 (50%) 05 (50%) 59 a 88 anos (média: 70,8 ± 10,99) 61 a 75 anos (média: 69,8 ± 5,26) 0,86 Feminino 05 (50%) 05 (50%) 59 a 75 anos (média: 67,4 ± 6,27) 60 a 73 anos (média: 66,4 ± 5,46) 0,79 TOTAL 10 (100%) 10 (100%) ... ... ...

Todos os informantes, falantes do português brasileiro de Belo Horizonte, foram submetidos às seguintes avaliações que serviram como critério de seleção:

a. Avaliação neurológica clínica (realizada por um médico neurologista);

b. Avaliação audiológica (audiometria tonal, audiometria vocal e imitanciometria), a fim de excluir possíveis doenças de orelha média e perdas auditivas significativas (realizada por um fonoaudiólogo);

c. Avaliação laringológica (laringoestroboscopia), realizada com o propósito de eliminar possíveis patologias laríngeas orgânicas. Esta avaliação refere-se a uma laringoscopia indireta realizada com um telescópio acoplado a uma micro-câmera

que é introduzido na cavidade oral, permitindo a filmagem das pregas vocais (realizada por um médico otorrinolaringologista).

A avaliação audiológica foi realizada nos ambulatórios de Fonoaudiologia do Centro Clínico de Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital São Geraldo, pertencente ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A avaliação laringológica foi realizada no Instituto Alfa de Gastroenterologia, pertencente ao Hospital das Clínicas da UFMG; e a avaliação neurológica foi realizada no ambulatório de Distúrbios do Movimento do Serviço de Neurologia da UFMG, no Hospital Bias Fortes.

A avaliação da acuidade auditiva foi realizada, pois uma perda auditiva é capaz de prejudicar o retorno auditivo da própria voz, alterando, desta forma, o padrão de fala do deficiente auditivo. Portanto, não poderíamos deixar de dar valor ao monitoramento auditivo no controle da produção vocal. Bess; Humes (1998) relataram a interferência da audição na produção de fala e afirmaram que, quanto maior for a perda auditiva, maior será a dificuldade para o indivíduo monitorar sua própria produção de fala, o que resulta em uma emissão caracterizada por qualidade vocal alterada, nasalidade, erros segmentais e supra-segmentais. Da mesma forma, Pela et al. (1999) realizaram uma análise perceptiva, acústica e laríngea de oito indivíduos com disacusia moderadamente grave1, grave e profunda e observaram a presença de hipernasalidade, qualidade vocal tensa, força adequada, imprecisão articulatória e F0 alta ou normal. Tais autores concluíram que o grau de deficiência auditiva influencia no padrão articulatório e na qualidade vocal.

Da mesma forma, Giusti (2000) analisou o efeito da deficiência auditiva grave a profunda em alguns parâmetros vocais e confirmou a importância da audição no controle da produção vocal, observando pobre controle laríngeo, instabilidade fonatória, tempos de fonação reduzidos, F0 aumentada e falta de controle desta, assim como grande variabilidade de F0 por parte dos deficientes auditivos estudados. Boone; Macfarlane (1994) já haviam relatado que, quanto maior for a deficiência auditiva, maior a tendência à instalação de problemas vocais, tais como, altura melódica elevada, variabilidade excessiva da altura melódica e ressonância abafada e nasal. Segundo estes autores, os indivíduos que adquirem uma perda auditiva – após o período de aquisição da linguagem –, maior que 70 dB, nas freqüências de extensão da fala (500, 1000 e 2000Hz), podem experimentar, gradualmente, alguma deterioração da voz e da articulação. Azevedo et al. (2005c), da mesma forma, observaram que deficientes auditivos pré-linguais graves a profundos congênitos apresentam uma maior variabilidade da F0, na fala encadeada, em relação aos ouvintes do GC. Isso ocorreu, provavelmente, em função do

feedback auditivo prejudicado ou ausente nesses indivíduos.

Quanto à avaliação neurológica, no grupo composto de informantes parkinsonianos, foram selecionados aqueles que obtiveram diagnóstico de DPI (a partir dos critérios de diagnóstico clínico para seleção de pacientes com DP, segundo o Banco de Cérebro da Sociedade de Doença de Parkinson do Reino Unido – ANEXO B) e que se encontravam entre os estágios 2 a 3 na escala de HY (ANEXO C). Para as informantes do sexo feminino, duas encontravam-se no estágio 2, uma no estágio 2,5 e duas no estágio 3 de HY; ao passo que, para os informantes do sexo masculino, dois encontravam-se no estágio 2, dois no estágio 2,5 e um no estágio 3 de HY.

1 Achamos prudente substituir o termo “severa(o)”, vastamente utilizado na literatura especializada,

No caso do GC, foram selecionados aqueles que apresentaram avaliação neurológica normal.

Em relação à avaliação audiológica, em ambos os grupos foram selecionados aqueles informantes que apresentaram limiares auditivos tonais normais (até 25 dB NA) na faixa de freqüência dos sons da fala (500, 1000 e 2000 Hz) e mobilidade tímpano-ossicular dentro dos padrões de normalidade (excluindo-se, dessa forma, possíveis doenças de orelha média) (RUSSO; SANTOS, 1993).

Quanto à avaliação laringológica, foram selecionados, em ambos os grupos, aqueles informantes que não apresentaram patologias laríngeas orgânicas, uma vez que tais patologias podem interferir nas medidas de F0 da voz.