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Semˆ antica da LPC 1 Semˆ antica dos conectivos

No documento Lógica Para Computação - Marcelo Finger (páginas 31-51)

Na defini¸c˜ao da linguagem da LPC (isto ´e, na defini¸c˜ao do conjunto  Prop) t´ınhamos como conectivos l´ogicos apenas os operadores

 ∨

 e

 ¬

. Observe que estes conectivos n˜ao tˆem nenhum significado: s˜ao apenas s´ımbolos, portanto eles n˜ao tˆem o sentido usual de “ou” e “n˜ao”. Para que isso aconte¸ca, inter- pretaremos os conectivos

 ∨

 e

 ¬

 utilizando fun¸c˜oes (chamadas de fun¸c˜ oes de  verdade ), que envolvem os valores de verdade  1 (“verdadeiro”) e 0 (“falso”). Seja 2   o conjunto 2 =

 {

0, 1

}

  dos valores de verdade. Definimos fun¸c˜oes

 : 2

 2 e

 

 : 22

 2 atrav´es das seguintes tabelas (adotaremos eventual- mente as mesmas conven¸c˜oes de nota¸c˜ao infixa da Se¸c˜ao 2.1 com rela¸c˜ao aos operadores bin´arios, escrevendo o operador entre  os argumentos):

 p q p

q  1 1 1 1 0 1 0 1 1 0 0 0  p

 p 1 0 0 1

A partir da´ı, podemos definir indutivamente o valor de verdade 1 ou 0 de uma proposi¸c˜ao a partir do valor de suas componentes atˆomicas. For- malmente, definimos uma fun¸c˜ao valora¸c˜ ao v  : Prop

 2  como segue:

Defini¸c˜ao 2.2.1.  Uma fun¸c˜ao v :  Prop

 →

2 ´e uma  valora¸c˜ ao (cl´assica) se satisfaz o seguinte:

1. v(ϕ

ψ) =

(v(ϕ), v(ψ)); 2. v(

¬

ϕ) =

(v(ϕ)).

Observa¸c˜ao 2.2.2. Note que sempre ´e poss´ıvel definir valora¸c˜oes, por causa do Teorema 2.1.15. Com efeito, basta considerar uma fun¸c˜ao v0 :

 V →

2

arbitr´aria. Usando o Teorema 2.1.15 e as fun¸c˜oes

 ∨

e

 ¬

  definidas pelas tabelas-verdade acima, temos que existe uma ´unica valora¸c˜ao v  : Prop

 →

 2 estendendo v0, isto ´e, tal que  v( p) = v0( p) para toda vari´avel proposicional

 p. A partir desta observa¸c˜ao vemos que uma valora¸c˜ao ´e determinada pelos valores que ela toma nas vari´aveis proposicionais, isto ´e:

Proposi¸c˜ao 2.2.3. Se  v e  v s˜ ao duas valora¸c˜ oes que coincidem em 

 V 

(ou  seja, tais que  v( p) = v( p)  para toda  p

 ∈ V 

) ent˜ ao v(ϕ) = v(ϕ)  para toda  ϕ

 Prop , portanto v = v.

Demonstra¸c˜ao: Imediata, usando o Teorema 2.1.15.

Gra¸cas `a Proposi¸c˜ao 2.2.3 vemos que, para definir uma valora¸c˜ao, basta dar uma fun¸c˜ao v0 :

V →

 2. Por outro lado, podemos refinar este resultado,

mostrando que o valor de verdade v(ϕ) dado a uma f´ormula ϕ   por uma valora¸c˜ao v  depende apenas dos valores de verdade  v( p) das vari´aveis p  que ocorrem em ϕ.

Proposi¸c˜ao 2.2.4. Seja  ϕ  uma f´ ormula. Se  v e  v s˜ ao duas valora¸c˜ oes tais  que  v( p) = v( p) para toda  p

 Var (ϕ) ent˜ ao v(ϕ) = v(ϕ).

Demonstra¸c˜ao: Por indu¸c˜ao na complexidade n = l(ϕ).

Se n   = 1 ent˜ao ϕ

 ∈ V 

 e o resultado vale trivialmente. Suponha que, dado n

 ≥

 1, o resultado vale para toda senten¸ca ϕ tal que l(ϕ)

 ≤

 n, e seja ϕ tal que l(ϕ) = n + 1. Temos dois casos para analisar:

Caso 1: ϕ =

 ¬

ψ. Dado que Var (ψ) = Var (ϕ) ent˜ao v e vcoincidem em

todas as vari´aveis de ψ , sendo que l(ψ) = n. Portanto, v(ψ) = v(ψ), donde v(

¬

ψ) =

(v(ψ)) =

(v(ψ)) = v(

¬

ψ).

Caso 2: ϕ = (ψ

 ∨

γ ). Dado que Var (ψ)

 ⊆

Var (ϕ) ent˜ao v e vcoincidem

em todas as vari´aveis de ψ, sendo que l(ψ)

 ≤

n. Portanto, v(ψ) = v(ψ). Analogamente provamos que v(γ ) = v(γ ) e ent˜ao v(ψ

γ ) =

(v(ψ), v(γ )) =

(v(ψ), v(γ )) = v(ψ

γ ). Isto conclui a demonstra¸c˜ao.

Observa¸c˜ao 2.2.5. Podemos caracterizar as valora¸c˜oes da maneira seguinte: uma valora¸c˜ao ´e uma fun¸c˜ao v : Prop

 2  satisfazendo o seguinte:

1. v(ϕ

ψ) =

1 se v(ϕ) = 1 ou v(ψ) = 1 0 caso contr´ario

2. v(

¬

ϕ) =

1 se v(ϕ) = 0 0 se v(ϕ) = 1

As defini¸c˜oes semˆanticas (isto ´e, atrav´es de tabelas-verdade) da nega¸c˜ao e da disjun¸c˜ao correspondem com as nossas intui¸c˜oes: dadas duas proposi¸c˜oes P  e Q (na linguagem natural), ent˜ao a proposi¸c˜ao composta “P  ou Q” deve ser verdadeira se uma delas (ou as duas) s˜ao verdadeiras, e deve ser falsa se as duas componentes P  e Q s˜ao falsas. Isto ´e descrito pela fun¸c˜ao de

verdade

 

 definida acima. Por outro lado, a proposi¸c˜ao “n˜ao P ” (ou “n˜ao ´e o caso que P ” ) ´e verdadeira se P  ´e falsa, e vice-versa. Este comportamento ´e representado pela tabela da fun¸c˜ao

 −

 definida acima.

´

E claro que existem outros conectivos na linguagem natural que podem ser modelados (de maneira simplista) atrav´es de tabelas-verdade. Os conec- tivos que analisaremos semanticamente a seguir s˜ao os que correspondem com a assinatura proposicional C 2 (veja Exemplo 2.1.6).

A conjun¸c˜ ao

 : 22

 2 e a implica¸c˜ ao material  : 22

 2 s˜ao definidas

atrav´es das seguintes tabelas-verdade:

 p q p

q  1 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0  p q p  q  1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1

Observe que a tabela da conjun¸c˜ao coincide com as nossas intui¸c˜oes com rela¸c˜ao `a conjun¸c˜ao de duas proposi¸c˜oes: a conjun¸c˜ao “P  e Q” ´e verdadeira apenas no caso em que ambas componentes,  P  e Q, o s˜ao. Por outro lado, a implica¸c˜ao material ´e mais complicada de justificar. Em princ´ıpio, pode-se pensar que a no¸c˜ao de implica¸c˜ ao esta relacionada com a no¸c˜ao de causa- efeito: dizer que “P   implica Q” sugere que P   ´e uma causa para Q. Esta leitura surge, por exemplo, quando s˜ao enunciadas leis ou regras da forma “Se P , ent˜ao Q” (por exemplo, na f´ısica). Esta leitura pressup˜oe portanto uma rela¸c˜ao entre os antecedente P   e o consequente Q. A interpreta¸c˜ao que ´e feita em l´ogica cl´assica da implica¸c˜ao ´e diferente: trata-se apenas da preserva¸c˜ ao da verdade . Assim, afirmar que “P   implica Q” nada mais diz do que a verdade de P  garante a verdade de Q. Para ser mais expl´ıcito, uma implica¸c˜ao ´e verdadeira se, toda vez que o antecedente ´e verdadeiro, ent˜ao o consequente tamb´em o ´e. Assim, uma frase do tipo ‘Roma ´e a capital de It´alia implica que Brasil est´a situado na Am´erica do sul’ deve ser con- siderada verdadeira, do ponto de vista da l´ogica cl´assica (e no atual estado das coisas), dado que a verdade do antecedente ´e mantida no consequente. Em outras palavras, uma implica¸c˜ao material “P   implica Q” ´e falsa (numa dada situa¸c˜ao) quando o antecedente P  ´e verdadeiro mas o consequente Q ´e falso. Nessa situa¸c˜ao, n˜ao ´e o caso que a verdade de P   foi preservada por Q. A defini¸c˜ao de implica¸c˜ao imp˜oe que um antecedente falso implique qualquer proposi¸c˜ao (verdadeira ou falsa), uma vez que n˜ao ´e o caso que

o anteced

o antecedente foi verente foi verdadeirdadeiro e o e o consequeno consequente foi falso. te foi falso. Isto tem como con-Isto tem como con- seq¨

seq¨uˆuˆencia encia que, que, partindo partindo de de premissas falsas, premissas falsas, n˜n˜ao ao ´´e e maimais s popossss´´ıvel ıvel raciraciococinainarr utilizando l´

utilizando l´ogica cl´ogica cl´assica, pois qualquer conclus˜assica, pois qualquer conclus˜ao pode ser tirada a partirao pode ser tirada a partir da

da´´ı. ı. ExisteExistem muitam muitas ous outras tras l´l´ogicas (chamadogicas (chamadas as dede n˜  n˜ ao-cl´ ao-cl´ assicas assicas ) desenvolvi-) desenvolvi- das

das princprincipalmeipalmente a nte a partir do partir do s´s´eculo XX, eculo XX, em em que que s˜s˜ao definidas no¸ao definidas no¸c˜c˜oes deoes de implica¸

implica¸c˜c˜ao diferentes da implica¸ao diferentes da implica¸c˜c˜ao material, por exemplo, asao material, por exemplo, as  implica¸ implica¸c˜ c˜ oes oes  relevantes 

relevantes  e  e asas implica¸ implica¸c˜ c˜ oes contrafatuais oes contrafatuais .. Existem outros dois conectivos bin´

Existem outros dois conectivos bin´ariosarios cl´ cl´ assicos assicos  dignos de mencionar: dignos de mencionar: aa disjun¸ disjun¸c˜ c˜ ao exclusiva ao exclusiva  :: 2 222

 2 2 e e oo bicondicional  bicondicional 

 ⇔ ⇔

:: 2 222

22. . As taAs tabelbelasas

destes conectivos s˜

destes conectivos s˜ao as seguintes:ao as seguintes:

 p  p q q pp  1 1 1 1 00 1 1 0 0 11 0 0 1 1 11 0 0 0 0 00  p  p q q pp

 q  q  1 1 1 1 11 1 1 0 0 00 0 0 1 1 00 0 0 0 0 11 A

A id´id´eia eia por por tr´tr´as as destes destes conectivos ´conectivos ´e e a a seguinte:seguinte:  representa uma dis- representa uma dis-

 jun¸

 jun¸c˜c˜ao eao exclusiva, xclusiva, isto ´isto ´e, ue, um tipm tipo de o de disjundisjun¸¸c˜c˜ao “ao “P P  ouou Q Q” da linguagem natural” da linguagem natural que

que ´´e e verdaverdadeirdeira a sese exatamente  exatamente  uma das proposi¸ uma das proposi¸c˜c˜oesoes P  P ,, Q Q ´ ´e vee verdardadeirdeira. a. PorPor exemp

exemplo, lo, o o sensentido esperado tido esperado da da frase “Iremos ao frase “Iremos ao cinemcinema a ou ou ao ao teatroteatro” ´” ´e e oo de ser verdadeiro quando formos ao cinema ou ao teatro, mas n˜

de ser verdadeiro quando formos ao cinema ou ao teatro, mas n˜ao ambasao ambas coisas

coisas. . Por outro lado, o bicondiciPor outro lado, o bicondicional reflete que as senteonal reflete que as senten¸n¸cas envolvidascas envolvidas s˜

s˜ao ao equivequivalenalentes, tes, no no sensentido que tido que elas tˆelas tˆem em o o mesmo valor de mesmo valor de ververdade: dade: ouou ambas s˜

ambas s˜ao verdadeiras, ou ambas s˜ao verdadeiras, ou ambas s˜ao falsaao falsas. s. EstEstes conees conectictivovos n˜s n˜ao foramao foram inclu´

inclu´ıdos ıdos na na assinatassinaturaura C C 22 porque eles podem ser expressos em termos dosporque eles podem ser expressos em termos dos out

outros conros conectectivivos. os. Com efeCom efeito, a ito, a funfun¸¸c˜c˜aoao (( p, p, q q ) pode ser calculada pela) pode ser calculada pela

fun¸

fun¸c˜c˜aoao f f (( p, p, q q ) ) ==

  

((



(( p, p, q q )),,

((



(( p, p, q q ))), enquanto que))), enquanto que

 ⇔ ⇔

(( p, p, q q ) pode ser cal-) pode ser cal- culad

culada a comocomo g g (( p, p, q q ) ) ==



(((( p, p, q q )),,((q,q, pp)):)):

 p  p q q pp



q q pp



q q 

(( p p



q q )) f f (( p, p, q q )) 1 1 1 1 11 11 00 00 1 1 0 0 11 00 11 11 0 0 1 1 11 00 11 11 0 0 0 0 00 00 11 00  p  p q q pp   q  q q  p  p gg(( p, p, q q )) 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 0 0 0 0 1 1 00 0 0 1 1 1 1 0 0 00 0 0 0 0 1 1 1 1 11 Note que

Note que f f (( p, p, q q ) expressa que alguma das senten¸) expressa que alguma das senten¸cascas pp,, q q  deve ser ver- deve ser ver- dadeira, mas n˜

que se

que se p p  ´ ´e e verdaverdadeideiro ro ent˜ent˜aoao q  q  ta tamb´mb´em em o o ´´e, e, e e vicvice-e-versversa.a. O fen´

O fen´omeno de poder expressar certas fun¸omeno de poder expressar certas fun¸c˜c˜oes de verdade em termosoes de verdade em termos de outras

de outras ´´e frequente: e frequente: assim, assim, a implica¸a implica¸c˜c˜ao material e a conjun¸ao material e a conjun¸c˜c˜ao podemao podem ser expressas em termos da disjun¸

ser expressas em termos da disjun¸c˜c˜ao e da nega¸ao e da nega¸c˜c˜ao como segue:ao como segue: hh(( p, p, q q ) ) ==



((

(( p p)),, q q ) ) ee kk(( p, p, q q ) ) ==

((



((

(( p p)),,

((q q ))), respectivamente.))), respectivamente.  p  p q q 

 p p

 p p



q q  1 1 1 1 0 0 11 1 1 0 0 0 0 00 0 0 1 1 1 1 11 0 0 0 0 1 1 11  p  p q q 

 p p

q q 

 p p

 −

q q 

((

 p p

 −

q ))q  1 1 1 1 00 00 00 11 1 1 0 0 00 11 11 00 0 0 1 1 11 00 11 00 0 0 0 0 11 11 11 00 O fato de poder expressar as fun¸

O fato de poder expressar as fun¸c˜c˜oesoes  ee

  

 (e, a posteriori, as fun¸ (e, a posteriori, as fun¸c˜c˜oesoes

ee

 ⇔ ⇔

) em termos das fun¸c˜) em termos das fun¸c˜oesoes

  

ee

 − −

 justifica a escolha da assinatura justifica a escolha da assinatura C 00

para representar a l´

para representar a l´ogica proposicional cl´ogica proposicional cl´assica (assica (LPCLPC). Voltaremos depois). Voltaremos depois (na Subse¸

(na Subse¸c˜c˜ao ao 2.2.4) 2.2.4) sobre sobre a quea quest˜st˜ao da definibilidade de fun¸ao da definibilidade de fun¸c˜c˜oes de verdadeoes de verdade em termos de outras fun¸

em termos de outras fun¸c˜c˜oes.oes.

Finalmente, observemos que podemos estender (ou modificar) a Defini¸

Finalmente, observemos que podemos estender (ou modificar) a Defini¸c˜c˜ao 2.2.1ao 2.2.1 de valora¸

de valora¸c˜c˜ao para as asinaturasao para as asinaturas C  C 22 ee C  C 11:: Defini¸

Defini¸c˜c˜ao 2.2.6. (i) Uma fun¸ao 2.2.6. (i) Uma fun¸c˜c˜aoao v v  : : Prop Prop11

 → →

 2 2 ´ ´e e uummaa valora¸ valora¸c˜ c˜ aoao se satisfaz se satisfaz o seguinte: o seguinte: 1. 1. vv((ϕϕ

 ψ ψ) ) ==  ((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 2. 2. vv((

¬¬

ϕϕ) ) ==

((vv((ϕϕ)).)). (ii) Uma fun¸

(ii) Uma fun¸c˜c˜aoao v v  : : Prop Prop22

 → →

 2 2 ´ ´e e uummaa valora¸ valora¸c˜ c˜ aoao se satisfaz o seguinte: se satisfaz o seguinte: 1. 1. vv((ϕϕ

∨∨

ψψ) ) ==



((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 2. 2. vv((ϕϕ

∧∧

ψψ) ) ==



((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 3. 3. vv((ϕϕ

 ψ ψ) ) ==  ((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 4. 4. vv((

¬¬

ϕϕ) ) ==

((vv((ϕϕ)).)). 2.2.

2.2.2 2 TTautolautologiasogias, , concontradtradi¸i¸c˜c˜oes e oes e contcontingingˆˆencenciasias Se as proposi¸

Se as proposi¸c˜c˜oes s˜oes s˜ao ao avaliadas avaliadas atrav´atrav´es es de de valora¸valora¸c˜c˜oes, oes, ´´e e naturanatural l analisanalisar ar asas proposi¸

proposi¸c˜c˜oes sob a perspectiva das valora¸oes sob a perspectiva das valora¸c˜c˜oes. oes. O O primeiro paso primeiro paso ´´e e identificaridentificar duas proposi¸

Defini¸

Defini¸c˜c˜ao 2.2.7.   Dizemos que duas f´ao 2.2.7.  Dizemos que duas f´ormulasormulas ϕϕ ee ψψ s˜s˜aoao  semanticamente  semanticamente  equivalentes 

equivalentes , e o denotamos por, e o denotamos por ϕϕ

 ≡ ≡

ψψ, se, para toda valora¸, se, para toda valora¸c˜c˜aoao vv,, vv((ϕϕ) ) == vv((ψψ).).

A rela¸

A rela¸c˜c˜aoao

´´e, e, de fde fatoato, u, uma rma relaela¸¸c˜c˜ao ao de de equequivalˆivalˆenencicia, a, ististo ´o ´e, e, ela ela ´´e e reflreflexexiva,iva, sim´

sim´etrica etrica e e transitiva (estas transitiva (estas e e outras outras rela¸rela¸c˜c˜oes ser˜oes ser˜ao ao estudaestudadas das no no CapCap´´ıtuloıtulo XXX):

XXX):

••

ϕϕ

 ϕ ϕ para toda para toda ϕ ϕ   (reflexiva);  (reflexiva);

••

ϕϕ

 ψ ψ  implica implica ψ ψ

 ≡ ≡

 ϕ ϕ, para toda, para toda ϕ, ϕ, ψψ (s(sim´im´etretricaica););

••

ϕϕ

 ψ ψ ee ψ ψ

 ≡ ≡

 γ  implica γ  implica ϕ ϕ

 γ  γ , para toda, para toda ϕ ϕ,ψ,,ψ, γ γ  (transitiva). (transitiva). Exemplo 2.2.8.

Exemplo 2.2.8.  Temos que ( Temos que (ϕϕ

∨∨

ψψ))

 ( (ψψ

∨∨

ϕ) ϕ) ee

 ¬¬ ¬¬

ϕϕ

 ϕ ϕ  para toda para toda ϕ, ϕ, ψψ..

O mais importante subconjunto de

O mais importante subconjunto de Prop Prop ´ ´e e o o daqueladaquelas s propproposi¸osi¸c˜c˜oesoes ϕ ϕ  que que s˜

s˜aoao sempre  sempre  verdadeiras para quaisquer valora¸ verdadeiras para quaisquer valora¸c˜c˜oes:oes: Defini¸

Defini¸c˜c˜ao 2.2.9. Sejaao 2.2.9. Seja ϕ ϕ

∈∈

 Prop Prop. Dizemos que. Dizemos que ϕ ϕ ´ ´e e uummaa tautologia  tautologia  se se v v((ϕϕ) ) == 1 para toda valora¸

1 para toda valora¸c˜c˜aoao v v.. As tautologias s˜

As tautologias s˜ao verdades l´ao verdades l´ogicogicas: as: s˜s˜ao proposi¸ao proposi¸c˜c˜oes tais que, indepen-oes tais que, indepen- dentemente do valor de verdade atribuido `

dentemente do valor de verdade atribuido `as suas componentes, recebem oas suas componentes, recebem o v

valoalor r 1 1 (v(verderdadeadeiroiro). ). Uma maneirUma maneira a mumuito naturito natural al de de detdetermerminainar r se se umauma proposi¸

proposi¸c˜c˜ao ao ´´e e uma uma tautoltautologia ogia ´´e e utilizutilizando ando tabelas-tabelas-ververdade. dade. Com Com efeitefeito, o, aa parti

partir r da da Proposi¸Proposi¸c˜c˜ao 2.2.4, vemos que o valor de verdade de uma senten¸ao 2.2.4, vemos que o valor de verdade de uma senten¸caca ϕ ϕ depen

depende ede exclusivamente xclusivamente dos dos valores atvalores atriburibu´´ıdos ıdos ``as vari´as vari´aveis que ocorrem emaveis que ocorrem em ϕ

ϕ. . Portanto, basta Portanto, basta analisar analisar todas todas as as possposs´´ıveis atribui¸ıveis atribui¸c˜c˜oes de valores de ver-oes de valores de ver- dade 0 e 1 `

dade 0 e 1 `as vari´as vari´aveis que ocorrem emaveis que ocorrem em ϕ ϕ, combinando, para cada atribui¸, combinando, para cada atribui¸c˜c˜ao,ao, os valores das vari´

os valores das vari´aveis (e posteriormente das sub-f´aveis (e posteriormente das sub-f´ormulas) deormulas) de ϕ ϕ  de acordo de acordo com a fun¸

com a fun¸c˜c˜ao de verdade correspondente ao conectivo sendo utilizado.ao de verdade correspondente ao conectivo sendo utilizado. Exempl

Exemplo o 2.2.10.2.2.10. Utilizando a representa¸ Utilizando a representa¸c˜c˜ao definida acima dos conectivosao definida acima dos conectivos de

de C C 22 na assinaturana assinatura C  C 00, vemos que as senten¸, vemos que as senten¸cascas p p00

∨∨ ¬¬

 p p00, , (( p p00

∧∧

 p p11))

 ⇒ ⇒

 p p11 ee  p

 p00

 ⇒ ⇒

 ( (

¬¬

 p p00

 ⇒ ⇒

 p p11) ) s˜s˜ao ao tautolotautologias:gias:

 p  p00

¬¬

 p p00 pp00

∨∨ ¬¬

 p p00 1 1 0 0 11 0 0 1 1 11  p  p00 pp11 pp00

∧∧

 p p11 (( p p00

∧∧

 p p11))

⇒⇒

 p p11 1 1 11 11 11 1 1 00 00 11 0 0 11 00 11 0 0 00 00 11

 p0 p1

¬

 p0

¬

 p0

 ⇒

 p1 p0

 ⇒

 (

¬

 p0

 ⇒

 p1)

1 1 0 1 1 1 0 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 1 0 1

Por outro lado, as senten¸cas ( p0

 p1)

 p1 e (( p0

 ⇒

 p1)

 p1)

 p0 n˜ao s˜ao tautologias:  p0 p1 p0

 p1 ( p0

 p1)

 p1 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 0 0 0 1  p0 p1 p0

 ⇒

 p1 ( p0

 ⇒

 p1)

 p1 (( p0

 ⇒

 p1)

 p1)

 p0 1 1 1 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 1

No primeiro caso, qualquer valora¸c˜ao v tal que v( p0) = 1 e v( p1) = 0 produz v(( p0

 ∨

 p1)

 ⇒

p1) = 0, portanto existem valora¸c˜oes que tornam a f´ormula

ϕ = ( p0

 ∨

 p1)

 ⇒

p1  falsa, logo ϕ n˜ao ´e tautologia. Por outro lado, toda valora¸c˜ao v tal que v( p0) = 0 e v( p1) = 1 produz v((( p0

 ⇒

 p1)

 p1)

 p0) =

0, portanto esta senten¸ca n˜ao ´e uma tautologia. Esta f´ormula representa uma conhecida fal´acia, a fal´ acia de afirma¸c˜ ao do consequente .

Um dos problemas mais dif´ıceis que teremos que enfrentar ´e saber quando uma f´ormula ´e uma tautologia. Al´em do m´etodo da tabela-verdade que acabamos de descrever (e que pode ser considerado um m´etodo sint´etico)

h´a tamb´em outros m´etodos de tipo anal´ıtico, como o  M´etodo de Redu¸c˜ ao ao Absurdo. Neste m´etodo partimos da suposi¸c˜ao de que a f´ormula ϕ  a ser testada toma o valor 0 em alguma valora¸c˜ao v  e, utilizando as propriedades das valora¸c˜oes, tentamos chegar a um absurdo. Por exemplo, suponhamos que queremos determinar se a f´ormula γ  = (ϕ

ψ)

(

¬

ψ

⇒ ¬

ϕ) ´e tautologia. Supomos, por redu¸c˜ao ao absurdo, que v(γ ) = 0 para alguma valora¸c˜ao v; ent˜ao:

1. (a) v(ϕ

 ψ) = 1, (b) v(

¬

ψ

 ⇒ ¬

ϕ) = 0 2. v(

¬

ψ) = 1, v(

¬

ϕ) = 0 (de 1(b))

3. v(ψ) = 0, v(ϕ) = 1 (de 2) 4. v(ϕ

 ψ) = 0 (de 3)

Vemos que 4 contraria 1(a), absurdo.

Em geral, uma f´ormula com n   componentes atˆomicos necessita uma tabela com 2n linhas para decidir se ´e ou n˜ao uma tautologia. Isto significa

que se uma f´ormula tem n + 1 vari´aveis ent˜ao devemos analisar 2n+1 = 2.2n linhas. Ou seja: acrescentar apenas uma vari´avel implica em duplicar o esfor¸co de testar a validade da f´omula!

Existiria uma maneira mais r´ apida de se testar tautologias?  A resposta a tal quest˜ao coincide com a solu¸c˜ao do problema P  = NP , um dos mais dif´ıceis problemas da computa¸c˜ao te´orica. Pode-se demonstrar que a complexidade computacional de qualquer algoritmo se reduz a testar tautologias numa tabela-verdade. Dessa forma, se consegu´ıssemos provar que n˜ao existe uma maneira mais eficiente de testar todas as tautologias, ou se conseguirmos um tal m´etodo eficiente, ter´ıamos resolvido um problema extremamente sofisticado.

O conceito dual de tautologia ´e o de contradi¸c˜ao:

Defini¸c˜ao 2.2.11.  Seja ϕ

 ∈

  Prop. Dizemos que ϕ ´e uma   contradi¸c˜ ao se v(ϕ) = 0 para toda valora¸c˜ao v.

As tautologias s˜ao falsidades l´ogicas: s˜ao proposi¸c˜oes tais que, indepen- dentemente do valor de verdade atribu´ıdo `as suas componentes, recebem o valor 0 (falso).

Ser´a que tem alguma rela¸c˜ao (ou alguma maneira de relacionar) as tau- tologias e as contradi¸c˜oes? A resposta ´e afirmativa: a rela¸c˜ao de dualidade ´e realizada atrav´es da nega¸c˜ao

 ¬

, como mostra o seguinte resultado:

Proposi¸c˜ao 2.2.12. (i) ϕ ´e tautologia sse 

 ¬

ϕ ´e contradi¸c˜ ao. (ii) ϕ ´e contradi¸c˜ ao sse 

 ¬

ϕ ´e tautologia.

(iii) Se  ϕ ´e tautologia ent˜ ao existe uma contradi¸c˜ ao ψ  tal que  ϕ

≡ ¬

ψ. (iv) Se  ϕ ´e contradi¸c˜ ao ent˜ ao existe uma tautologia  ψ  tal que  ϕ

≡ ¬

ψ. Demonstra¸c˜ao: Somente provaremos o item (iii), deixando o resto como exerc´ıcio para o leitor.

(iii) Seja ϕ uma tautologia. Ent˜ao ψ  =

¬

ϕ ´e uma contradi¸c˜ao, pelo item (i). Mas

 ¬

ψ =

¬¬

ϕ e

 ¬¬

ϕ

 ϕ, pelo Exemplo 2.2.8. Daqui ϕ

≡ ¬

ψ, sendo que ψ ´e uma contradi¸c˜ao.

Vemos que existem dois tipos importantes de proposi¸c˜oes: as sempre verdadeiras (tautologias) e as sempre falsas (contradi¸c˜oes). Evidentemente, nem toda proposi¸c˜ao ´e de um destes tipos: por exemplo, p1

 ∨

 p2 ou p4 s˜ao proposi¸c˜oes que tomam ambos valores, verdadeiro e falso, em diferentes valora¸c˜oes: basta considerar uma valora¸c˜ao v   tal que v( p1) = v( p4) = 1 para obter v( p1

 ∨

 p2) = v( p4) = 1. Por outro lado, uma valora¸c˜ao v tal que v( p1) = v( p2) = v( p4) = 0 produz v( p1

 ∨

 p2) = v( p4) = 0. Senten¸cas

deste tipo (que n˜ao s˜ao nem tautologias nem contradi¸c˜oes) s˜ao chamadas de contingˆencias , dado que elas s˜ao contingentes: dependendo da situa¸c˜ao (do valor dado para as suas componentes atˆomicas), elas recebem ora o valor verdadeiro, ora o valor falso. Evidentemente uma proposi¸c˜ao ϕ pertence a uma e s´o uma das trˆes classes: tautologias, contradi¸c˜oes, contingˆencias. 2.2.3 Formas normais

Consideraremos nesta subse¸c˜ao a linguagem proposicional definida a par- tir da assinatura C 2. Nas f´ormulas de  Prop2  podem ocorrer, portanto, os conectivos

 ¬

,

,

 e

 ⇒

. Veremos nesta subse¸c˜ao que ´e poss´ıvel ‘padronizar’ as f´ormulas de  Prop2, obtendo a partir delas outras f´ormulas escritas numa forma padr˜ao (chamada de forma normal), que resultam ser semanticamente equivalentes `as f´ormulas originais.

Antes de passar `as defini¸c˜oes, introduzimos a seguinte nota¸c˜ao: Nota¸c˜ao 2.2.13.  Sejam ϕ1, . . . , ϕn f´ormulas. Por

n

i=1 ϕi   e por n

i=1 ϕi

entendemos qualquer f´ormula obtida pela disjun¸c˜ao (conjun¸c˜ao, respectiva- mente) das f´ormulas ϕ1, . . . , ϕn. Isto ´e, n˜ao interessa a ordem e a organiza¸c˜ao

dos parˆenteses na constru¸c˜ao da disjun¸c˜ao (conjun¸c˜ao, respectivamente). Por conven¸c˜ao 1

i=1 ϕi = 1

i=1 ϕi =  ϕ1. Por exemplo, 3

i=1

ϕi pode representar indistintamente  ϕ1

(ϕ3

ϕ2) ou

(ϕ2

ϕ1)

ϕ3.

Defini¸c˜ao 2.2.14. (i) Um literal  ´e uma f´ormula da forma p  (com p

∈ V 

) ou

¬

 p (com p

∈ V 

).

(ii) Uma cl´ ausula  ´e uma f´ormula ϕ  da forma ϕ =

n

i=1

ψi

onde cada ψi ´e um literal e n

 1.

(iii) Dizemos que uma f´ormula ϕ est´a em forma normal disjuntiva  (FND) se ϕ  ´e da forma

ϕ =

n

i=1

ϕi

onde cada ϕi ´e uma cl´ausula (i = 1, . . . , n) e n

 1.

Por exemplo, ϕ1 = p1

 ∧ ¬

 p1, ϕ2 = ( p1

 ∧ ¬

 p2)

 ∧ ¬

 p7 e ϕ3 = p6 s˜ao

cl´ausulas. Portanto, ϕ1

ϕ2

ϕ3 ´e uma f´ormula em forma normal.

Proposi¸c˜ao 2.2.15. Toda f´ ormula de  Prop2 admite uma forma normal dis-  juntiva. Isto ´e, existe uma f´ ormula  ψ, nas mesmas vari´ aveis que  ϕ, tal que 

ψ   est´ a em FND, e  ϕ

 ≡

ψ. Mais ainda, existe um algoritmo para calcular  uma FND  ψ  para  ϕ.

Demonstra¸c˜ao: Suponhamos que q 1, . . . , q  n s˜ao exatamente todas as vari´a-

veis proposicionais que ocorrem em ϕ. Formalmente, deve existir um n´umero i j

N  tal que q  j = pij, para cada j = 1, . . . , n. Construimos a tabela-

verdade de ϕ   utilizando apenas as vari´aveis q 1, . . . , q  n. Se ϕ  ´e uma con-

tradi¸c˜ao, definimos ψ =

 jn=1(q  j

 ∧ ¬

q  j). Claramente ψ   est´a em FND e ´e

uma contradi¸c˜ao, portanto ϕ

 ψ. Se ϕ n˜ao ´e uma contradi¸c˜ao, dentre as 2n linhas da tabela-verdade, escolha apenas as linhas em que  ϕ  recebe o valor 1 (deve existir ao menos uma, porque ϕ n˜ao ´e contradi¸c˜ao). Chamemos de L1, . . . , Lk as linhas em que ϕ vale 1 (note que 1

 k

 ≤

 2n). Para cada linha

ϕ ji =



q  j se q  j recebe o valor 1 na linha  Li

¬

q  j  caso contr´ario

Considere agora, para cada i = 1, . . . , k, a cl´ausula ϕi = n

 j=1 ϕ ji. Final- mente, definimos ψ = k

i=1

ϕi. Resta provar que ϕ

 ≡

 ψ   (pois, claramente, ψ

est´a em FND).

Seja ent˜ao v   uma valora¸c˜ao tal que v(ϕ) = 1. Logo, v   corresponde a uma das linhas, digamos Li, da tabela-verdade construida para ϕ. Por

constru¸c˜ao dos literais ϕ ji, temos que v(ϕ ji) = 1 para todo j = 1, . . . , n. Com efeito, se v(q  j) = 1 ent˜ao ϕ ji = q  j, portanto v(ϕ ji) = 1. Por outro

lado, se v(q  j) = 0 ent˜ao ϕ ji =

 ¬

q  j, portanto v(ϕ ji) = 1. Assim sendo, temos

que v(ϕi) = 1, pois ϕi  consiste da conjun¸c˜ao dos ϕ ji com j = 1, . . . , n.

Portanto, v(ψ) = 1, pois ψ   ´e uma disjun¸c˜ao de formulas, dentre elas ϕi,

sendo que v(ϕi) = 1. Reciprocamente, suponha que v  uma valora¸c˜ao tal

que v(ψ) = 1. Pela defini¸c˜ao da tabela da disjun¸c˜ao, debe existir ao menos um ´ındice i  tal que v(ϕi) = 1, portanto v(ϕ ji) = 1 para todo j = 1, . . . , n

(pela defini¸c˜ao da tabela da conjun¸c˜ao). Dai inferimos que o valor dado por v   para as vari´aveis q 1, . . . , q  n  coincide com o valor dado para elas na

linha Li da tabela-verdade de ϕ, pela constru¸c˜ao dos literais ϕ ji. Portanto

o valor de ϕ  (na linha Li) coincide com v(ϕ), pela Proposi¸c˜ao 2.2.4. Logo,

v(ϕ) = 1, pois Li ´e uma das linhas em que ϕ recebe o valor 1. Daqui ϕ

 ψ,

concluindo a demonstra¸c˜ao.

No documento Lógica Para Computação - Marcelo Finger (páginas 31-51)

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