Na defini¸c˜ao da linguagem da LPC (isto ´e, na defini¸c˜ao do conjunto Prop) t´ınhamos como conectivos l´ogicos apenas os operadores
∨
e¬
. Observe que estes conectivos n˜ao tˆem nenhum significado: s˜ao apenas s´ımbolos, portanto eles n˜ao tˆem o sentido usual de “ou” e “n˜ao”. Para que isso aconte¸ca, inter- pretaremos os conectivos∨
e¬
utilizando fun¸c˜oes (chamadas de fun¸c˜ oes de verdade ), que envolvem os valores de verdade 1 (“verdadeiro”) e 0 (“falso”). Seja 2 o conjunto 2 ={
0, 1}
dos valores de verdade. Definimos fun¸c˜oes−
: 2→
2 e
: 22→
2 atrav´es das seguintes tabelas (adotaremos eventual- mente as mesmas conven¸c˜oes de nota¸c˜ao infixa da Se¸c˜ao 2.1 com rela¸c˜ao aos operadores bin´arios, escrevendo o operador entre os argumentos):p q p
q 1 1 1 1 0 1 0 1 1 0 0 0 p−
p 1 0 0 1A partir da´ı, podemos definir indutivamente o valor de verdade 1 ou 0 de uma proposi¸c˜ao a partir do valor de suas componentes atˆomicas. For- malmente, definimos uma fun¸c˜ao valora¸c˜ ao v : Prop
→
2 como segue:Defini¸c˜ao 2.2.1. Uma fun¸c˜ao v : Prop
→
2 ´e uma valora¸c˜ ao (cl´assica) se satisfaz o seguinte:1. v(ϕ
∨
ψ) =
(v(ϕ), v(ψ)); 2. v(¬
ϕ) =−
(v(ϕ)).Observa¸c˜ao 2.2.2. Note que sempre ´e poss´ıvel definir valora¸c˜oes, por causa do Teorema 2.1.15. Com efeito, basta considerar uma fun¸c˜ao v0 :
V →
2arbitr´aria. Usando o Teorema 2.1.15 e as fun¸c˜oes
∨
e¬
definidas pelas tabelas-verdade acima, temos que existe uma ´unica valora¸c˜ao v : Prop→
2 estendendo v0, isto ´e, tal que v( p) = v0( p) para toda vari´avel proposicionalp. A partir desta observa¸c˜ao vemos que uma valora¸c˜ao ´e determinada pelos valores que ela toma nas vari´aveis proposicionais, isto ´e:
Proposi¸c˜ao 2.2.3. Se v e v s˜ ao duas valora¸c˜ oes que coincidem em
V
(ou seja, tais que v( p) = v( p) para toda p∈ V
) ent˜ ao v(ϕ) = v(ϕ) para toda ϕ∈
Prop , portanto v = v.Demonstra¸c˜ao: Imediata, usando o Teorema 2.1.15.
Gra¸cas `a Proposi¸c˜ao 2.2.3 vemos que, para definir uma valora¸c˜ao, basta dar uma fun¸c˜ao v0 :
V →
2. Por outro lado, podemos refinar este resultado,mostrando que o valor de verdade v(ϕ) dado a uma f´ormula ϕ por uma valora¸c˜ao v depende apenas dos valores de verdade v( p) das vari´aveis p que ocorrem em ϕ.
Proposi¸c˜ao 2.2.4. Seja ϕ uma f´ ormula. Se v e v s˜ ao duas valora¸c˜ oes tais que v( p) = v( p) para toda p
∈
Var (ϕ) ent˜ ao v(ϕ) = v(ϕ).Demonstra¸c˜ao: Por indu¸c˜ao na complexidade n = l(ϕ).
Se n = 1 ent˜ao ϕ
∈ V
e o resultado vale trivialmente. Suponha que, dado n≥
1, o resultado vale para toda senten¸ca ϕ tal que l(ϕ)≤
n, e seja ϕ tal que l(ϕ) = n + 1. Temos dois casos para analisar:Caso 1: ϕ =
¬
ψ. Dado que Var (ψ) = Var (ϕ) ent˜ao v e v coincidem emtodas as vari´aveis de ψ , sendo que l(ψ) = n. Portanto, v(ψ) = v(ψ), donde v(
¬
ψ) =−
(v(ψ)) =−
(v(ψ)) = v(¬
ψ).Caso 2: ϕ = (ψ
∨
γ ). Dado que Var (ψ)⊆
Var (ϕ) ent˜ao v e v coincidemem todas as vari´aveis de ψ, sendo que l(ψ)
≤
n. Portanto, v(ψ) = v(ψ). Analogamente provamos que v(γ ) = v(γ ) e ent˜ao v(ψ∨
γ ) =
(v(ψ), v(γ )) =
(v(ψ), v(γ )) = v(ψ∨
γ ). Isto conclui a demonstra¸c˜ao.Observa¸c˜ao 2.2.5. Podemos caracterizar as valora¸c˜oes da maneira seguinte: uma valora¸c˜ao ´e uma fun¸c˜ao v : Prop
→
2 satisfazendo o seguinte:1. v(ϕ
∨
ψ) =
1 se v(ϕ) = 1 ou v(ψ) = 1 0 caso contr´ario2. v(
¬
ϕ) =
1 se v(ϕ) = 0 0 se v(ϕ) = 1As defini¸c˜oes semˆanticas (isto ´e, atrav´es de tabelas-verdade) da nega¸c˜ao e da disjun¸c˜ao correspondem com as nossas intui¸c˜oes: dadas duas proposi¸c˜oes P e Q (na linguagem natural), ent˜ao a proposi¸c˜ao composta “P ou Q” deve ser verdadeira se uma delas (ou as duas) s˜ao verdadeiras, e deve ser falsa se as duas componentes P e Q s˜ao falsas. Isto ´e descrito pela fun¸c˜ao de
verdade
definida acima. Por outro lado, a proposi¸c˜ao “n˜ao P ” (ou “n˜ao ´e o caso que P ” ) ´e verdadeira se P ´e falsa, e vice-versa. Este comportamento ´e representado pela tabela da fun¸c˜ao−
definida acima.´
E claro que existem outros conectivos na linguagem natural que podem ser modelados (de maneira simplista) atrav´es de tabelas-verdade. Os conec- tivos que analisaremos semanticamente a seguir s˜ao os que correspondem com a assinatura proposicional C 2 (veja Exemplo 2.1.6).
A conjun¸c˜ ao
: 22→
2 e a implica¸c˜ ao material : 22→
2 s˜ao definidasatrav´es das seguintes tabelas-verdade:
p q p
q 1 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 p q p q 1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1Observe que a tabela da conjun¸c˜ao coincide com as nossas intui¸c˜oes com rela¸c˜ao `a conjun¸c˜ao de duas proposi¸c˜oes: a conjun¸c˜ao “P e Q” ´e verdadeira apenas no caso em que ambas componentes, P e Q, o s˜ao. Por outro lado, a implica¸c˜ao material ´e mais complicada de justificar. Em princ´ıpio, pode-se pensar que a no¸c˜ao de implica¸c˜ ao esta relacionada com a no¸c˜ao de causa- efeito: dizer que “P implica Q” sugere que P ´e uma causa para Q. Esta leitura surge, por exemplo, quando s˜ao enunciadas leis ou regras da forma “Se P , ent˜ao Q” (por exemplo, na f´ısica). Esta leitura pressup˜oe portanto uma rela¸c˜ao entre os antecedente P e o consequente Q. A interpreta¸c˜ao que ´e feita em l´ogica cl´assica da implica¸c˜ao ´e diferente: trata-se apenas da preserva¸c˜ ao da verdade . Assim, afirmar que “P implica Q” nada mais diz do que a verdade de P garante a verdade de Q. Para ser mais expl´ıcito, uma implica¸c˜ao ´e verdadeira se, toda vez que o antecedente ´e verdadeiro, ent˜ao o consequente tamb´em o ´e. Assim, uma frase do tipo ‘Roma ´e a capital de It´alia implica que Brasil est´a situado na Am´erica do sul’ deve ser con- siderada verdadeira, do ponto de vista da l´ogica cl´assica (e no atual estado das coisas), dado que a verdade do antecedente ´e mantida no consequente. Em outras palavras, uma implica¸c˜ao material “P implica Q” ´e falsa (numa dada situa¸c˜ao) quando o antecedente P ´e verdadeiro mas o consequente Q ´e falso. Nessa situa¸c˜ao, n˜ao ´e o caso que a verdade de P foi preservada por Q. A defini¸c˜ao de implica¸c˜ao imp˜oe que um antecedente falso implique qualquer proposi¸c˜ao (verdadeira ou falsa), uma vez que n˜ao ´e o caso que
o anteced
o antecedente foi verente foi verdadeirdadeiro e o e o consequeno consequente foi falso. te foi falso. Isto tem como con-Isto tem como con- seq¨
seq¨uˆuˆencia encia que, que, partindo partindo de de premissas falsas, premissas falsas, n˜n˜ao ao ´´e e maimais s popossss´´ıvel ıvel raciraciococinainarr utilizando l´
utilizando l´ogica cl´ogica cl´assica, pois qualquer conclus˜assica, pois qualquer conclus˜ao pode ser tirada a partirao pode ser tirada a partir da
da´´ı. ı. ExisteExistem muitam muitas ous outras tras l´l´ogicas (chamadogicas (chamadas as dede n˜ n˜ ao-cl´ ao-cl´ assicas assicas ) desenvolvi-) desenvolvi- das
das princprincipalmeipalmente a nte a partir do partir do s´s´eculo XX, eculo XX, em em que que s˜s˜ao definidas no¸ao definidas no¸c˜c˜oes deoes de implica¸
implica¸c˜c˜ao diferentes da implica¸ao diferentes da implica¸c˜c˜ao material, por exemplo, asao material, por exemplo, as implica¸ implica¸c˜ c˜ oes oes relevantes
relevantes e e asas implica¸ implica¸c˜ c˜ oes contrafatuais oes contrafatuais .. Existem outros dois conectivos bin´
Existem outros dois conectivos bin´ariosarios cl´ cl´ assicos assicos dignos de mencionar: dignos de mencionar: aa disjun¸ disjun¸c˜ c˜ ao exclusiva ao exclusiva :: 2 222
→→
2 2 e e oo bicondicional bicondicional⇔ ⇔
:: 2 222→→
22. . As taAs tabelbelasasdestes conectivos s˜
destes conectivos s˜ao as seguintes:ao as seguintes:
p p q q pp q q 1 1 1 1 00 1 1 0 0 11 0 0 1 1 11 0 0 0 0 00 p p q q pp
⇔⇔
q q 1 1 1 1 11 1 1 0 0 00 0 0 1 1 00 0 0 0 0 11 AA id´id´eia eia por por tr´tr´as as destes destes conectivos ´conectivos ´e e a a seguinte:seguinte: representa uma dis- representa uma dis-
jun¸
jun¸c˜c˜ao eao exclusiva, xclusiva, isto ´isto ´e, ue, um tipm tipo de o de disjundisjun¸¸c˜c˜ao “ao “P P ouou Q Q” da linguagem natural” da linguagem natural que
que ´´e e verdaverdadeirdeira a sese exatamente exatamente uma das proposi¸ uma das proposi¸c˜c˜oesoes P P ,, Q Q ´ ´e vee verdardadeirdeira. a. PorPor exemp
exemplo, lo, o o sensentido esperado tido esperado da da frase “Iremos ao frase “Iremos ao cinemcinema a ou ou ao ao teatroteatro” ´” ´e e oo de ser verdadeiro quando formos ao cinema ou ao teatro, mas n˜
de ser verdadeiro quando formos ao cinema ou ao teatro, mas n˜ao ambasao ambas coisas
coisas. . Por outro lado, o bicondiciPor outro lado, o bicondicional reflete que as senteonal reflete que as senten¸n¸cas envolvidascas envolvidas s˜
s˜ao ao equivequivalenalentes, tes, no no sensentido que tido que elas tˆelas tˆem em o o mesmo valor de mesmo valor de ververdade: dade: ouou ambas s˜
ambas s˜ao verdadeiras, ou ambas s˜ao verdadeiras, ou ambas s˜ao falsaao falsas. s. EstEstes conees conectictivovos n˜s n˜ao foramao foram inclu´
inclu´ıdos ıdos na na assinatassinaturaura C C 22 porque eles podem ser expressos em termos dosporque eles podem ser expressos em termos dos out
outros conros conectectivivos. os. Com efeCom efeito, a ito, a funfun¸¸c˜c˜aoao (( p, p, q q ) pode ser calculada pela) pode ser calculada pela
fun¸
fun¸c˜c˜aoao f f (( p, p, q q ) ) ==
((
(( p, p, q q )),,−−
((
(( p, p, q q ))), enquanto que))), enquanto que⇔ ⇔
(( p, p, q q ) pode ser cal-) pode ser cal- culadculada a comocomo g g (( p, p, q q ) ) ==
(((( p, p, q q )),,((q,q, pp)):)):p p q q pp
q q pp
q q−−
(( p p
q q )) f f (( p, p, q q )) 1 1 1 1 11 11 00 00 1 1 0 0 11 00 11 11 0 0 1 1 11 00 11 11 0 0 0 0 00 00 11 00 p p q q pp q q q q p p gg(( p, p, q q )) 1 1 1 1 1 1 1 1 11 1 1 0 0 0 0 1 1 00 0 0 1 1 1 1 0 0 00 0 0 0 0 1 1 1 1 11 Note queNote que f f (( p, p, q q ) expressa que alguma das senten¸) expressa que alguma das senten¸cascas pp,, q q deve ser ver- deve ser ver- dadeira, mas n˜
que se
que se p p ´ ´e e verdaverdadeideiro ro ent˜ent˜aoao q q ta tamb´mb´em em o o ´´e, e, e e vicvice-e-versversa.a. O fen´
O fen´omeno de poder expressar certas fun¸omeno de poder expressar certas fun¸c˜c˜oes de verdade em termosoes de verdade em termos de outras
de outras ´´e frequente: e frequente: assim, assim, a implica¸a implica¸c˜c˜ao material e a conjun¸ao material e a conjun¸c˜c˜ao podemao podem ser expressas em termos da disjun¸
ser expressas em termos da disjun¸c˜c˜ao e da nega¸ao e da nega¸c˜c˜ao como segue:ao como segue: hh(( p, p, q q ) ) ==
((−−
(( p p)),, q q ) ) ee kk(( p, p, q q ) ) ==−−
((
((−−
(( p p)),,−−
((q q ))), respectivamente.))), respectivamente. p p q q−−
p p−−
p p
q q 1 1 1 1 0 0 11 1 1 0 0 0 0 00 0 0 1 1 1 1 11 0 0 0 0 1 1 11 p p q q−−
p p−−
q q−−
p p −−
q q−−
((−−
p p −−
q ))q 1 1 1 1 00 00 00 11 1 1 0 0 00 11 11 00 0 0 1 1 11 00 11 00 0 0 0 0 11 11 11 00 O fato de poder expressar as fun¸O fato de poder expressar as fun¸c˜c˜oesoes ee
(e, a posteriori, as fun¸ (e, a posteriori, as fun¸c˜c˜oesoes ee
⇔ ⇔
) em termos das fun¸c˜) em termos das fun¸c˜oesoes
ee− −
justifica a escolha da assinatura justifica a escolha da assinatura C C 00para representar a l´
para representar a l´ogica proposicional cl´ogica proposicional cl´assica (assica (LPCLPC). Voltaremos depois). Voltaremos depois (na Subse¸
(na Subse¸c˜c˜ao ao 2.2.4) 2.2.4) sobre sobre a quea quest˜st˜ao da definibilidade de fun¸ao da definibilidade de fun¸c˜c˜oes de verdadeoes de verdade em termos de outras fun¸
em termos de outras fun¸c˜c˜oes.oes.
Finalmente, observemos que podemos estender (ou modificar) a Defini¸
Finalmente, observemos que podemos estender (ou modificar) a Defini¸c˜c˜ao 2.2.1ao 2.2.1 de valora¸
de valora¸c˜c˜ao para as asinaturasao para as asinaturas C C 22 ee C C 11:: Defini¸
Defini¸c˜c˜ao 2.2.6. (i) Uma fun¸ao 2.2.6. (i) Uma fun¸c˜c˜aoao v v : : Prop Prop11
→ →
2 2 ´ ´e e uummaa valora¸ valora¸c˜ c˜ aoao se satisfaz se satisfaz o seguinte: o seguinte: 1. 1. vv((ϕϕ⇒⇒
ψ ψ) ) == ((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 2. 2. vv((¬¬
ϕϕ) ) ==−−
((vv((ϕϕ)).)). (ii) Uma fun¸(ii) Uma fun¸c˜c˜aoao v v : : Prop Prop22
→ →
2 2 ´ ´e e uummaa valora¸ valora¸c˜ c˜ aoao se satisfaz o seguinte: se satisfaz o seguinte: 1. 1. vv((ϕϕ∨∨
ψψ) ) ==
((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 2. 2. vv((ϕϕ∧∧
ψψ) ) ==
((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 3. 3. vv((ϕϕ⇒⇒
ψ ψ) ) == ((vv((ϕϕ)),, vv((ψψ));)); 4. 4. vv((¬¬
ϕϕ) ) ==−−
((vv((ϕϕ)).)). 2.2.2.2.2 2 TTautolautologiasogias, , concontradtradi¸i¸c˜c˜oes e oes e contcontingingˆˆencenciasias Se as proposi¸
Se as proposi¸c˜c˜oes s˜oes s˜ao ao avaliadas avaliadas atrav´atrav´es es de de valora¸valora¸c˜c˜oes, oes, ´´e e naturanatural l analisanalisar ar asas proposi¸
proposi¸c˜c˜oes sob a perspectiva das valora¸oes sob a perspectiva das valora¸c˜c˜oes. oes. O O primeiro paso primeiro paso ´´e e identificaridentificar duas proposi¸
Defini¸
Defini¸c˜c˜ao 2.2.7. Dizemos que duas f´ao 2.2.7. Dizemos que duas f´ormulasormulas ϕϕ ee ψψ s˜s˜aoao semanticamente semanticamente equivalentes
equivalentes , e o denotamos por, e o denotamos por ϕϕ
≡ ≡
ψψ, se, para toda valora¸, se, para toda valora¸c˜c˜aoao vv,, vv((ϕϕ) ) == vv((ψψ).).A rela¸
A rela¸c˜c˜aoao
≡≡
´´e, e, de fde fatoato, u, uma rma relaela¸¸c˜c˜ao ao de de equequivalˆivalˆenencicia, a, ististo ´o ´e, e, ela ela ´´e e reflreflexexiva,iva, sim´sim´etrica etrica e e transitiva (estas transitiva (estas e e outras outras rela¸rela¸c˜c˜oes ser˜oes ser˜ao ao estudaestudadas das no no CapCap´´ıtuloıtulo XXX):
XXX):
••
ϕϕ≡≡
ϕ ϕ para toda para toda ϕ ϕ (reflexiva); (reflexiva);••
ϕϕ≡≡
ψ ψ implica implica ψ ψ≡ ≡
ϕ ϕ, para toda, para toda ϕ, ϕ, ψψ (s(sim´im´etretricaica););••
ϕϕ≡≡
ψ ψ ee ψ ψ≡ ≡
γ implica γ implica ϕ ϕ≡≡
γ γ , para toda, para toda ϕ ϕ,ψ,,ψ, γ γ (transitiva). (transitiva). Exemplo 2.2.8.Exemplo 2.2.8. Temos que ( Temos que (ϕϕ
∨∨
ψψ))≡≡
( (ψψ∨∨
ϕ) ϕ) ee¬¬ ¬¬
ϕϕ≡≡
ϕ ϕ para toda para toda ϕ, ϕ, ψψ..
O mais importante subconjunto de
O mais importante subconjunto de Prop Prop ´ ´e e o o daqueladaquelas s propproposi¸osi¸c˜c˜oesoes ϕ ϕ que que s˜
s˜aoao sempre sempre verdadeiras para quaisquer valora¸ verdadeiras para quaisquer valora¸c˜c˜oes:oes: Defini¸
Defini¸c˜c˜ao 2.2.9. Sejaao 2.2.9. Seja ϕ ϕ
∈∈
Prop Prop. Dizemos que. Dizemos que ϕ ϕ ´ ´e e uummaa tautologia tautologia se se v v((ϕϕ) ) == 1 para toda valora¸1 para toda valora¸c˜c˜aoao v v.. As tautologias s˜
As tautologias s˜ao verdades l´ao verdades l´ogicogicas: as: s˜s˜ao proposi¸ao proposi¸c˜c˜oes tais que, indepen-oes tais que, indepen- dentemente do valor de verdade atribuido `
dentemente do valor de verdade atribuido `as suas componentes, recebem oas suas componentes, recebem o v
valoalor r 1 1 (v(verderdadeadeiroiro). ). Uma maneirUma maneira a mumuito naturito natural al de de detdetermerminainar r se se umauma proposi¸
proposi¸c˜c˜ao ao ´´e e uma uma tautoltautologia ogia ´´e e utilizutilizando ando tabelas-tabelas-ververdade. dade. Com Com efeitefeito, o, aa parti
partir r da da Proposi¸Proposi¸c˜c˜ao 2.2.4, vemos que o valor de verdade de uma senten¸ao 2.2.4, vemos que o valor de verdade de uma senten¸caca ϕ ϕ depen
depende ede exclusivamente xclusivamente dos dos valores atvalores atriburibu´´ıdos ıdos ``as vari´as vari´aveis que ocorrem emaveis que ocorrem em ϕ
ϕ. . Portanto, basta Portanto, basta analisar analisar todas todas as as possposs´´ıveis atribui¸ıveis atribui¸c˜c˜oes de valores de ver-oes de valores de ver- dade 0 e 1 `
dade 0 e 1 `as vari´as vari´aveis que ocorrem emaveis que ocorrem em ϕ ϕ, combinando, para cada atribui¸, combinando, para cada atribui¸c˜c˜ao,ao, os valores das vari´
os valores das vari´aveis (e posteriormente das sub-f´aveis (e posteriormente das sub-f´ormulas) deormulas) de ϕ ϕ de acordo de acordo com a fun¸
com a fun¸c˜c˜ao de verdade correspondente ao conectivo sendo utilizado.ao de verdade correspondente ao conectivo sendo utilizado. Exempl
Exemplo o 2.2.10.2.2.10. Utilizando a representa¸ Utilizando a representa¸c˜c˜ao definida acima dos conectivosao definida acima dos conectivos de
de C C 22 na assinaturana assinatura C C 00, vemos que as senten¸, vemos que as senten¸cascas p p00
∨∨ ¬¬
p p00, , (( p p00∧∧
p p11))⇒ ⇒
p p11 ee pp00
⇒ ⇒
( (¬¬
p p00⇒ ⇒
p p11) ) s˜s˜ao ao tautolotautologias:gias:p p00
¬¬
p p00 pp00∨∨ ¬¬
p p00 1 1 0 0 11 0 0 1 1 11 p p00 pp11 pp00∧∧
p p11 (( p p00∧∧
p p11))⇒⇒
p p11 1 1 11 11 11 1 1 00 00 11 0 0 11 00 11 0 0 00 00 11p0 p1
¬
p0¬
p0⇒
p1 p0⇒
(¬
p0⇒
p1)1 1 0 1 1 1 0 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 1 0 1
Por outro lado, as senten¸cas ( p0
∨
p1)⇒
p1 e (( p0⇒
p1)∧
p1)⇒
p0 n˜ao s˜ao tautologias: p0 p1 p0∨
p1 ( p0∨
p1)⇒
p1 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 0 0 0 1 p0 p1 p0⇒
p1 ( p0⇒
p1)∧
p1 (( p0⇒
p1)∧
p1)⇒
p0 1 1 1 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 1 0 0 0 1 0 1No primeiro caso, qualquer valora¸c˜ao v tal que v( p0) = 1 e v( p1) = 0 produz v(( p0
∨
p1)⇒
p1) = 0, portanto existem valora¸c˜oes que tornam a f´ormulaϕ = ( p0
∨
p1)⇒
p1 falsa, logo ϕ n˜ao ´e tautologia. Por outro lado, toda valora¸c˜ao v tal que v( p0) = 0 e v( p1) = 1 produz v((( p0⇒
p1)∧
p1)⇒
p0) =0, portanto esta senten¸ca n˜ao ´e uma tautologia. Esta f´ormula representa uma conhecida fal´acia, a fal´ acia de afirma¸c˜ ao do consequente .
Um dos problemas mais dif´ıceis que teremos que enfrentar ´e saber quando uma f´ormula ´e uma tautologia. Al´em do m´etodo da tabela-verdade que acabamos de descrever (e que pode ser considerado um m´etodo sint´etico)
h´a tamb´em outros m´etodos de tipo anal´ıtico, como o M´etodo de Redu¸c˜ ao ao Absurdo. Neste m´etodo partimos da suposi¸c˜ao de que a f´ormula ϕ a ser testada toma o valor 0 em alguma valora¸c˜ao v e, utilizando as propriedades das valora¸c˜oes, tentamos chegar a um absurdo. Por exemplo, suponhamos que queremos determinar se a f´ormula γ = (ϕ
⇒
ψ)⇒
(¬
ψ⇒ ¬
ϕ) ´e tautologia. Supomos, por redu¸c˜ao ao absurdo, que v(γ ) = 0 para alguma valora¸c˜ao v; ent˜ao:1. (a) v(ϕ
⇒
ψ) = 1, (b) v(¬
ψ⇒ ¬
ϕ) = 0 2. v(¬
ψ) = 1, v(¬
ϕ) = 0 (de 1(b))3. v(ψ) = 0, v(ϕ) = 1 (de 2) 4. v(ϕ
⇒
ψ) = 0 (de 3)Vemos que 4 contraria 1(a), absurdo.
Em geral, uma f´ormula com n componentes atˆomicos necessita uma tabela com 2n linhas para decidir se ´e ou n˜ao uma tautologia. Isto significa
que se uma f´ormula tem n + 1 vari´aveis ent˜ao devemos analisar 2n+1 = 2.2n linhas. Ou seja: acrescentar apenas uma vari´avel implica em duplicar o esfor¸co de testar a validade da f´omula!
Existiria uma maneira mais r´ apida de se testar tautologias? A resposta a tal quest˜ao coincide com a solu¸c˜ao do problema P = NP , um dos mais dif´ıceis problemas da computa¸c˜ao te´orica. Pode-se demonstrar que a complexidade computacional de qualquer algoritmo se reduz a testar tautologias numa tabela-verdade. Dessa forma, se consegu´ıssemos provar que n˜ao existe uma maneira mais eficiente de testar todas as tautologias, ou se conseguirmos um tal m´etodo eficiente, ter´ıamos resolvido um problema extremamente sofisticado.
O conceito dual de tautologia ´e o de contradi¸c˜ao:
Defini¸c˜ao 2.2.11. Seja ϕ
∈
Prop. Dizemos que ϕ ´e uma contradi¸c˜ ao se v(ϕ) = 0 para toda valora¸c˜ao v.As tautologias s˜ao falsidades l´ogicas: s˜ao proposi¸c˜oes tais que, indepen- dentemente do valor de verdade atribu´ıdo `as suas componentes, recebem o valor 0 (falso).
Ser´a que tem alguma rela¸c˜ao (ou alguma maneira de relacionar) as tau- tologias e as contradi¸c˜oes? A resposta ´e afirmativa: a rela¸c˜ao de dualidade ´e realizada atrav´es da nega¸c˜ao
¬
, como mostra o seguinte resultado:Proposi¸c˜ao 2.2.12. (i) ϕ ´e tautologia sse
¬
ϕ ´e contradi¸c˜ ao. (ii) ϕ ´e contradi¸c˜ ao sse¬
ϕ ´e tautologia.(iii) Se ϕ ´e tautologia ent˜ ao existe uma contradi¸c˜ ao ψ tal que ϕ
≡ ¬
ψ. (iv) Se ϕ ´e contradi¸c˜ ao ent˜ ao existe uma tautologia ψ tal que ϕ≡ ¬
ψ. Demonstra¸c˜ao: Somente provaremos o item (iii), deixando o resto como exerc´ıcio para o leitor.(iii) Seja ϕ uma tautologia. Ent˜ao ψ =
¬
ϕ ´e uma contradi¸c˜ao, pelo item (i). Mas¬
ψ =¬¬
ϕ e¬¬
ϕ≡
ϕ, pelo Exemplo 2.2.8. Daqui ϕ≡ ¬
ψ, sendo que ψ ´e uma contradi¸c˜ao.Vemos que existem dois tipos importantes de proposi¸c˜oes: as sempre verdadeiras (tautologias) e as sempre falsas (contradi¸c˜oes). Evidentemente, nem toda proposi¸c˜ao ´e de um destes tipos: por exemplo, p1
∨
p2 ou p4 s˜ao proposi¸c˜oes que tomam ambos valores, verdadeiro e falso, em diferentes valora¸c˜oes: basta considerar uma valora¸c˜ao v tal que v( p1) = v( p4) = 1 para obter v( p1∨
p2) = v( p4) = 1. Por outro lado, uma valora¸c˜ao v tal que v( p1) = v( p2) = v( p4) = 0 produz v( p1∨
p2) = v( p4) = 0. Senten¸casdeste tipo (que n˜ao s˜ao nem tautologias nem contradi¸c˜oes) s˜ao chamadas de contingˆencias , dado que elas s˜ao contingentes: dependendo da situa¸c˜ao (do valor dado para as suas componentes atˆomicas), elas recebem ora o valor verdadeiro, ora o valor falso. Evidentemente uma proposi¸c˜ao ϕ pertence a uma e s´o uma das trˆes classes: tautologias, contradi¸c˜oes, contingˆencias. 2.2.3 Formas normais
Consideraremos nesta subse¸c˜ao a linguagem proposicional definida a par- tir da assinatura C 2. Nas f´ormulas de Prop2 podem ocorrer, portanto, os conectivos
¬
,∨
,∧
e⇒
. Veremos nesta subse¸c˜ao que ´e poss´ıvel ‘padronizar’ as f´ormulas de Prop2, obtendo a partir delas outras f´ormulas escritas numa forma padr˜ao (chamada de forma normal), que resultam ser semanticamente equivalentes `as f´ormulas originais.Antes de passar `as defini¸c˜oes, introduzimos a seguinte nota¸c˜ao: Nota¸c˜ao 2.2.13. Sejam ϕ1, . . . , ϕn f´ormulas. Por
n
i=1 ϕi e por n
i=1 ϕientendemos qualquer f´ormula obtida pela disjun¸c˜ao (conjun¸c˜ao, respectiva- mente) das f´ormulas ϕ1, . . . , ϕn. Isto ´e, n˜ao interessa a ordem e a organiza¸c˜ao
dos parˆenteses na constru¸c˜ao da disjun¸c˜ao (conjun¸c˜ao, respectivamente). Por conven¸c˜ao 1
i=1 ϕi = 1
i=1 ϕi = ϕ1. Por exemplo, 3
i=1ϕi pode representar indistintamente ϕ1
∨
(ϕ3∨
ϕ2) ou(ϕ2
∨
ϕ1)∨
ϕ3.Defini¸c˜ao 2.2.14. (i) Um literal ´e uma f´ormula da forma p (com p
∈ V
) ou¬
p (com p∈ V
).(ii) Uma cl´ ausula ´e uma f´ormula ϕ da forma ϕ =
n
i=1
ψi
onde cada ψi ´e um literal e n
≥
1.(iii) Dizemos que uma f´ormula ϕ est´a em forma normal disjuntiva (FND) se ϕ ´e da forma
ϕ =
n
i=1
ϕi
onde cada ϕi ´e uma cl´ausula (i = 1, . . . , n) e n
≥
1.Por exemplo, ϕ1 = p1
∧ ¬
p1, ϕ2 = ( p1∧ ¬
p2)∧ ¬
p7 e ϕ3 = p6 s˜aocl´ausulas. Portanto, ϕ1
∨
ϕ2∨
ϕ3 ´e uma f´ormula em forma normal.Proposi¸c˜ao 2.2.15. Toda f´ ormula de Prop2 admite uma forma normal dis- juntiva. Isto ´e, existe uma f´ ormula ψ, nas mesmas vari´ aveis que ϕ, tal que
ψ est´ a em FND, e ϕ
≡
ψ. Mais ainda, existe um algoritmo para calcular uma FND ψ para ϕ.Demonstra¸c˜ao: Suponhamos que q 1, . . . , q n s˜ao exatamente todas as vari´a-
veis proposicionais que ocorrem em ϕ. Formalmente, deve existir um n´umero i j
∈
N tal que q j = pij, para cada j = 1, . . . , n. Construimos a tabela-verdade de ϕ utilizando apenas as vari´aveis q 1, . . . , q n. Se ϕ ´e uma con-
tradi¸c˜ao, definimos ψ =
jn=1(q j∧ ¬
q j). Claramente ψ est´a em FND e ´euma contradi¸c˜ao, portanto ϕ
≡
ψ. Se ϕ n˜ao ´e uma contradi¸c˜ao, dentre as 2n linhas da tabela-verdade, escolha apenas as linhas em que ϕ recebe o valor 1 (deve existir ao menos uma, porque ϕ n˜ao ´e contradi¸c˜ao). Chamemos de L1, . . . , Lk as linhas em que ϕ vale 1 (note que 1≤
k≤
2n). Para cada linhaϕ ji =
q j se q j recebe o valor 1 na linha Li
¬
q j caso contr´arioConsidere agora, para cada i = 1, . . . , k, a cl´ausula ϕi = n
j=1 ϕ ji. Final- mente, definimos ψ = k
i=1ϕi. Resta provar que ϕ
≡
ψ (pois, claramente, ψest´a em FND).
Seja ent˜ao v uma valora¸c˜ao tal que v(ϕ) = 1. Logo, v corresponde a uma das linhas, digamos Li, da tabela-verdade construida para ϕ. Por
constru¸c˜ao dos literais ϕ ji, temos que v(ϕ ji) = 1 para todo j = 1, . . . , n. Com efeito, se v(q j) = 1 ent˜ao ϕ ji = q j, portanto v(ϕ ji) = 1. Por outro
lado, se v(q j) = 0 ent˜ao ϕ ji =
¬
q j, portanto v(ϕ ji) = 1. Assim sendo, temosque v(ϕi) = 1, pois ϕi consiste da conjun¸c˜ao dos ϕ ji com j = 1, . . . , n.
Portanto, v(ψ) = 1, pois ψ ´e uma disjun¸c˜ao de formulas, dentre elas ϕi,
sendo que v(ϕi) = 1. Reciprocamente, suponha que v uma valora¸c˜ao tal
que v(ψ) = 1. Pela defini¸c˜ao da tabela da disjun¸c˜ao, debe existir ao menos um ´ındice i tal que v(ϕi) = 1, portanto v(ϕ ji) = 1 para todo j = 1, . . . , n
(pela defini¸c˜ao da tabela da conjun¸c˜ao). Dai inferimos que o valor dado por v para as vari´aveis q 1, . . . , q n coincide com o valor dado para elas na
linha Li da tabela-verdade de ϕ, pela constru¸c˜ao dos literais ϕ ji. Portanto
o valor de ϕ (na linha Li) coincide com v(ϕ), pela Proposi¸c˜ao 2.2.4. Logo,
v(ϕ) = 1, pois Li ´e uma das linhas em que ϕ recebe o valor 1. Daqui ϕ
≡
ψ,concluindo a demonstra¸c˜ao.