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5. Análise e Discussão

5.4. Educação Ambiental e Sensibilização

5.4.1. Sensibilização e Arte

Uma das formas pela qual o grupo diz realizar sensibilização é através de atividades artísticas como teatro, música e principalmente através de danças circulares. SV11 e SV6 falam da importância das danças circulares para “trabalhar a cultura” e SV6 fala de interação. SV11 fala ainda da liberdade de expressão de forma alternativa:

Poderia ter citado ela [dança circular] na última pergunta, porque trabalha expressamente assim a cultura humana, trabalha com cultura com expressão, liberdade de se expressar de uma forma que chega a ser até alternativa, porque é diferente da forma com que elas tão acostumadas a receber pela mídia, então a dança circular nesse quesito de expressão artística e cultural cabe perfeitamente no conceito que eu tenho de cidadania e de EA também porque elas se relacionando entre si. (SV11)

E a dança circular, acho que é uma coisa fantástica, mostrando a interação assim, sem contar que tem muita cultura por trás, também, acho muito legal. (SV6)

Ainda sobre as danças circulares SV1 conta que foram incluídas entre as atividades desenvolvidas pelo grupo Semente Viva este ano (2009), e fala da ligação das danças com a questão da sensibilização e de como através das danças pode-se introduzir a idéia de ambiente coletivo. A idéia de coletividade colabora no sentido de estabelecer identidade entre os seres humanos e destes com a natureza, o que

segundo SV1 estaria relacionado à um contexto propício no que diz respeito à preservação da natureza:

...esse ano né a gente introduziu as danças circulares, que nunca teve no Semente Viva, também as atividades são propícias assim pra nossa concepção de EA [de sensibilização]. (...)

Pra questão da educação nas relações, nessa esfera da nossa vivência que é as relações sociais, ao mesmo tempo que a gente interage com o ambiente, a gente interage com a outras pessoas e com o nosso interior, ao mesmo tempo essas partes se interrelacionam né, concepção de ecologia profunda, das três ecologias, então a EA não pode esquecer do social né, o que é o ambiente, sou eu e os outros né, e a nossa relação tanto com a nossa subjetividade tanto com os nosso semelhantes pra criar um contexto propício, né pra gente preservar né, porque o ambiente é coletivo. Não é é utilitarismo, não é pra que eu vou utilizar o meio ambiente, o ambiente faz parte de mim, o ambiente é minha casa. E as danças circulares nesse sentido elas ajudam né, na questão das relações né, o contato, as próprias letras né, que a gente pega que, fala nós somos a família, nos somos a unidade (...). (SV1)

Abaixo a letra da música da dança circular usada numa das atividades. Note que a música pontua aspectos como “unidade”, ”harmonia” mesclando valores, sentimentos e sonhos:

Estamos aqui

Juntos de mãos dadas Cantando a canção A canção do coração Essa é a família Essa é a unidade Essa é a celebração Isto é sagrado. ---

Nós somos um com o infinito sol Para sempre, sempre, sempre ---

Nós rezamos pela paz Mundial Nós rezamos pela unidade

Nós rezamos para viver como um em harmonia ---

Dentro do meu coração existe Uma luz que brilha e cresce Como o sol que ilumina os demais Porque quanto mais eu dou mais eu tenho para dar É a forma de oração

Segundo Ostetto (2009, p. 179) as danças circulares trazem em si a tradição de diferentes povos que usavam a dança como encontro e reafirmação dos ciclos da vida, estando presentes em rituais de nascimento, colheita, morte, marcando o seu pertencimento ao grupo. A autora fala que na prática pedagógica o ato de estar em círculo é um movimento de encontro e reconhecimento do outro e de si mesmo no outro, onde a identidade do grupo pode ser fortalecida, num ritual de acolhimento que poderia deixar as pessoas mais disponíveis ao aprender, numa postura de rejeição à práticas pedagógicas autoritárias.

Outras formas de expressão artística também são muito valorizadas pelo grupo como possibilidade de associar informação e entretenimento. Uma delas é o teatro.

SV1 considera os teatros, escritos e encenados pelo grupo, como atividades “completas” por trazerem em si não só informação, mas também valores, além de ser algo que desperta interesse, uma forma de misturar “tudo”:

Acho que os teatros [são atividades que considera de EA], né, porque eles juntam a arte, né, porque a arte é uma coisa que prende o ser humano né, a novidade tal, até por eles não terem contato né, algumas crianças não tem contato com o teatro e ver o teatro é uma coisa nova pra eles assim, eles ficam... eles realmente prestam atenção, teatro é uma coisa que você pode misturar tudo né, tanto informação, quanto questão de valores né, eu acho que o teatro é uma das atividades mais completas que a gente tem... (SV1)

SV7 também fala da importância de ganhar a atenção das crianças através da arte e desvincula as atividades artísticas da teoria dizendo que a teoria “não rende muita coisa”:

Ah, acho que é válido qualquer coisa que faça a criança se interessar assim, por exemplo ficar na teoria acho que não rende muita coisa, então sei lá, teatro, danças, essas coisas que eles se interessam mais, aí eles tem vontade de participar e de entender o que tá acontecendo. (SV7)

Duarte Junior defende que antes que o objeto a ser conhecido tenha sido significado há uma etapa que vai além do próprio ato de pensar:

Porém, antes que o pensamento possa tomar qualquer experiência como seu objeto, ocorre já um certo “colocar-se” em relação à situação, que envolve aspectos para além da consciência simbólica.

Este experienciar compreende então um envolvimento mais abrangente do homem com o mundo, em que se incluem percepções e estados afetivos anteriores às simbolizações do pensamento. (DUARTE JUNIOR, 1988, p. 16)

O autor defende, a partir destas idéias, a arte como uma forma de conhecimento daquilo que não pode ser transformado em símbolos, é uma forma de expressão daquilo que pode apenas ser sentido.

Essa perspectiva vem ao encontro da fala de SV4 que indica as atividades artísticas como formas de sensibilização e expressão de outros aspectos do conhecer que não apenas os racionais:

As [atividades] que eu considero mais amplas são as artísticas mesmo, que a criança consegue expressar de outra forma e interpretar da forma dela também e construir em conjunto com as outras, que seria reduzir muito, por isso que a gente faz um trabalho com várias atividades no mesmo dia de preferência (...).

E na questão da EA, é uma questão que... da sensibilização mesmo e da arte como uma forma de fazer a criança construir de outras formas que não sejam só conceituais, que é uma coisa que vai além do que se tem hoje, tudo muito conceitual, tudo muito racional, é uma forma de fazer a criança pensar que ela pode sentir um pouco e não só ficar pensando, pensando, aquela coisa quadrada que a gente tem hoje entendeu. Até num assunto não relacionado diretamente à EA, tem que ter mais contato com a arte, porque a gente tem mania de separar né, quando a pessoa ta envolvida com aquilo, tem uma sensibilização com aquilo ela tende a, não quer dizer que seja só por causa da arte, pode ser outras coisas, mas é um fator que ajuda a desenvolver essa nova forma de se relacionar com as coisas, sem ser só uma coisa quadradinha, escrita, conceitual, então ela vai aprendendo a se expressar de outras formas. (SV4)

Assim a arte pode se configurar como uma forma importante de expressão num primeiro momento da educação ambiental, a de sensibilização, e de um reencantamento e estetização da vida cotidiana (Tristão 2005, p. 259).

Pode-se observar que uma justificativa muito recorrente (SV1, SV4, SV7) para o trabalho com as atividades artísticas é a fascinação que estas atividades causam nas crianças, pois “prendem” a atenção para aquilo que deve ser comunicado. Este é um indício que para alguns dos membros do grupo a perspectiva dada às atividades artísticas seja apenas uma ferramenta para transmitir informação ou algum conhecimento.

Embora SV4 expresse uma forma diferenciada de ver o potencial destas atividades, isso aparece com menos clareza nas outras falas.

5.5. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A ABORDAGEM DA TEMÁTICA AMBIENTAL

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