Sentado ou em pé?

Não apenas o lugar onde se toma café pode variar com o fato de se estar acompanhado ou não. Tomar café em pé ou sentado são diferentes formas de tomar café, usualmente, relacionadas ao lugar onde se bebe o café e com quem se bebe. Conforme anteriormente mencionado, no Rio de Janeiro, é e sempre foi um costume amplamente difundido, principalmente, entre os homens, tomar um ―cafezinho‖ em pé nos botecos (local onde momentaneamente, as classes sociais se misturam) diante do balcão. É igualmente nos botecos que o carioca cultiva outro hábito: pedir uma média bem quente com um pão na chapa. Como já dizia Noel Rosa na letra da música Conversa de botequim: ―Seu garçom, faça

o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga à beça, um guardanapo e um copo d'água bem gelada‖.

BRASIL 32: Não costumo...Vem cá, sabia que os botecos eram de portugueses? Eram espaços onde vendiam diversos produtos. Depois, passaram a ser lugares boêmios, frequentados por homens e, hoje, frequentado por mulheres também... As pessoas vão lá, pedem uma média com pão na chapa... Aquele café bem quente, queimando a boca... Apesar das opções, as pessoas continuam preferindo a ―média com pão na chapa‖. É servido num copo e tomam de pé, à beira do balcão. Alguns botecos já têm mesas...

Tanto no Rio quanto em Lisboa, as entrevistas revelaram que, na maioria das vezes, as pessoas preferem tomar café sentadas em espaços públicos, num momento de pausa ou de lazer. Pela minha observação, posteriormente comprovada pelas entrevistas, trata-se de um hábito consagrado nos países ocidentais, nomeadamente Portugal, que vem sendo adotado pelos cariocas, o que reflete mudanças nos padrões de oferta e de consumo de café. No entanto, quando desacompanhados ou apressados, alfacinhas e cariocas preferem tomar café em pé.

Deve ser observado que o local de moradia e o de trabalho podem, de certa forma, ter influenciado as respostas. Por exemplo, segundo o entrevistado carioca Brasil 31, o consumo de café e o local onde este é consumido no Rio de Janeiro diferem de um bairro para outro. O porquê e as circunstâncias em que se toma café também são diferentes. Tudo isso implica a necessidade de um futuro estudo, mais aprofundado, por bairros e por classes sociais.

BRASIL 31: Porque acho que o consumo por bairros são muito diferentes [sic].

CARINA: Aí é? Por quê?

BRASIL 31: Zona norte é um tipo; zona sul é outro.

CARINA: Pode ser pela qualidade de café, mas não pelos hábitos associados? Ou acha que sim?

BRASIL 31: Na zona norte, o consumo é para alimentação. Você já foi em Madureira?

CARINA: Já.

BRASIL 31: Então... Lá pela manhã, as padarias ficam lotadas, tipo umas 6 da manhã, as pessoas vindo trabalhar aqui no Centro ou zona sul, tomam muito cafezinho normal com pão na manteiga. Já aqui no Centro é outro. Sabe por que o nome é café expresso?

CARINA: Porque sai rápido, na hora, feito na hora.

BRASIL 31: Sim, isso mesmo, mas tem todo um contexto. Aqui no Centro da cidade, no início do século XX, na cafeteria Colombo etc.

CARINA: No Centro é mais relacionado a trabalho. BRASIL 31: Sim.

CARINA: E lazer?

BRASIL 31: Tudo tem que ser rápido; tempo é dinheiro! O capitalismo estava começando etc. e tal.

CARINA: E criou-se um hábito associado a isso até hoje. BRASIL 31: Isso.

CARINA: E tomar café em lazer?

BRASIL 31: Café em lazer [é] mais em livraria café.

Quando se trata de tomar café no trabalho, normalmente, o café surge em momentos de pausa. Contudo, há quem tome em reuniões de trabalho ou enquanto trabalha no

computador, deslocando-se apenas até a divisão onde se encontra o café, para se servir, tomando um gole entre um passo e outro enquanto regressa para a sua secretária, terminando de tomar sentado, aproveitando o deslocamento para descontrair por breves minutos. Quando tomado num momento de pausa no local de trabalho, os entrevistados alfacinhas e cariocas costumam tomar com os seus colegas em pé, conversando junto à máquina de café e, até mesmo, fazendo lanchinho à tarde, acompanhando com leite, bolo e biscoitos. Os que podem ir à rua, ou no horário das refeições, sempre que têm um pouco mais de tempo, preferem tomar seu café sentados.

Nos restaurantes das duas cidades estudadas, como o café expresso é consumido após a refeição, os entrevistados costumam bebê-lo sentados à mesa, na companhia das pessoas com quem almoçaram. No entanto, há quem prefira tomá-lo numa cafeteria próxima do local de trabalho. Em restaurantes self-service do Rio de Janeiro, normalmente, estão disponíveis ―cafezinho‖ e chá em garrafas térmicas, perto da saída do estabelecimento, podendo o cliente se servir gratuitamente após ter pago a refeição. As pessoas que optam por esse tipo de café aglomeram-se junto da mesa para se servirem em copinhos de plástico, podendo escolher entre beberem seu café na hora ou saírem do restaurante, tomando seu ―cafezinho‖ enquanto caminham.

Estes são, portanto, rituais de consumo intrínsecos à cultura de consumo, os quais entre outros, voltarão a ser mencionados na seção 5.13 (Rituais de consumo).

BRASIL 10: Sim. Vou lá, pego o café e sento de novo com os meus colegas. Alguns tomam café expresso. Outras vezes, mas mais raramente, pego e tomo saindo do restaurante.

CARINA: Ah... naqueles copinhos de plástico?

BRASIL 10: Sim. Só o café expresso é que é servido pelo garçom em xícaras de louça.