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Para uma melhor compreensão de como se dá o desenvolvimento do processo falimentar, é importante dividi-lo em três fases: a primeira fase é chamada

de fase pré-falimentar ou pedido de falência. Tal fase se inicia com a provocação do juiz através de petição inicial, onde será analisado, de imediato, se estão presentes dois pressupostos materiais, quais sejam, a existência de devedor empresário e a existência de insolvência (impontualidade injustificada, execução frustrada ou ato de falência). Daí dizer que nessa fase ainda não há falência, não há concurso de credores, já que se o juiz verificar que não estão presentes os pressupostos citados proferirá sentença denegatória de falência, encerrando o processo ainda na fase pré-falimentar.

Ao contrário, estando presentes os pressupostos, obrigatoriamente o juiz proferirá sentença declaratória de falência, instaurando-se a segunda fase do processo falimentar, chamada de fase falimentar propriamente dita, onde haverá relação processual concursal. Nessa fase, haverá a apresentação e venda de bens, apuração do quadro geral dos credores e apuração de eventual crime falimentar.

Encerrada a falência, o juiz decretará sentença de encerramento.

Trata-se da terceira etapa, conhecida como fase pós-falimentar, fase esta que tem por objetivo a reabilitação do falido.

Partindo do que foi anotado, será analisado agora, com os devidos pormenores, como ocorre, efetivamente, a sentença declaratória de falência.

De início, é importante fazer uma ressalva no sentido de que, apesar do nome sentença declaratória da falência dado pelo legislador, esta sentença tem, para parcela dos doutrinadores, a exemplo deles Fábio Ulhoa Coelho (2011 (B), p.

206) e Amador Paes de Almeida (2012, p. 128), caráter constitutivo, já que causa mudança na situação jurídica, ou seja, cria, modifica ou extingue a relação jurídica, pois se opera a dissolução da sociedade e instaura-se o regime jurídico falimentar (a formação da massa falida). O nome declaratória refere-se apenas à declaração da falência. Quem melhor explica a situação em tela é Fábio Ulhoa Coelho (2011 (B), p.

286):

Com a sua edição pelo juiz, opera-se a dissolução da sociedade empresária falida, fincando seus bens, atos e negócios jurídicos, contratos e credores submetidos a um regime jurídico específico, o falimentar, diverso do regime geral do direito das obrigações. É a sentença declaratória da falência que introduz a falida e seus credores nesse outro regime. Ela não se limita, portanto, a declarar fatos ou relações preexistentes, mas modifica a disciplina jurídica destes, daí o seu caráter constitutivo.

Ao contrário desse entendimento, é possível citar Ecio Perin Junior (2011, p. 154):

[...] a sentença declaratória tem caráter sui generis, ou seja, seria uma espécie de sentença anormal, posto que enquanto em um processo comum a sentença é o último ato, pondo fim a instância e terminando o ofício do juiz, a falência ela inicia a execução concursal, chamando a postos todos os credores. Além disso, ela não condena. Define apenas uma situação jurídica, submetendo a universalidade dos bens do devedor comum a um regime especial e estabelecendo uma condição particular a todos os credores.

Apesar do entendimento supracitado, tem prevalecido o primeiro posicionamento doutrinário referido. Com isso, resolvida a questão quanto à nomenclatura, será estabelecida a estrutura da sentença declaratória da falência.

Assim, tem-se que a sentença declaratória da falência deve ter o conteúdo genérico, como qualquer sentença judicial, ou seja, o conteúdo disposto no artigo 458 do Código de Processo Civil6 (Relatório, Fundamentação e Dispositivo) e o conteúdo específico, determinado pelo legislador no artigo 99 da Lei n. 11.101 de 2005.

Com relação ao recurso cabível nas sentenças declaratórias de falência, diz o artigo 100 da referida lei que “da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação”. Com a leitura do dispositivo legal, nota-se que o legislador falimentar adotou um sistema recursal próprio, segundo Fábio Ulhoa Coelho (2011 (A), p. 376), diferente daquele previsto nos artigos 513 a 529 do Código de Processo Civil. Neste último, o recurso cabível contra as decisões interlocutórias é o agravo e contra as sentenças, a apelação. Portanto, no processo falimentar, contra a sentença declaratória cabe agravo.

Com relação ao estabelecido acima, conclui-se que:

A única modalidade adequada nesse caso será a do agravo por instrumento, já que não há sentido nenhuma a interposição do retido, tendo em vista que sua apreciação, a título de preliminar, no julgamento da apelação contra a sentença de encerramento da falência não poderá desconstituir a execução concursal já concluída. (COELHO, 2011 (A), P.

377).

6 Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:

I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;

II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem.

Muito apesar de a Constituição Federal assegurar a todo cidadão valer-se do Poder Judiciário para a solução de conflitos, em razão dos inúmeros efeitos negativos gerados pelo pedido de falência de uma sociedade empresária, o legislador, na tentativa de inibir o uso indevido do processo falimentar, estabeleceu no artigo 101 da Lei de Falência o direito do empresário pleitear indenização caso o autor tenha agido com dolo ao fazer o pedido de falência.

Como exemplo de efeito negativo gerado pelo pedido de falência, dizem os doutrinadores Marcelo M. Bertoldi e Marcia Carla Pereira Ribeiro (2009, p.

582) que:

Deve-se ter em conta que a atividade comercial, e, sobretudo, a dependência desta em relação ao crédito, indispensável ao desenvolvimento da economia, está pautada na confiança em relação aos seus fornecedores e consumidores, e o pedido de falência, por si só, irá modificar a situação de fato do requerido, que, sofrendo abalo em sua credibilidade, poderá ter prejuízos.

Tem-se que a verdadeira intenção daquele que age com dolo ao pedir a falência é ver a sociedade empresária pressionada a pagar a sua dívida, não importando os meios utilizados para a obtenção da sua pretensão. Por isso, o legislador falimentar estabeleceu a possibilidade do devedor empresário que tenha sido vítima de pedido de falência mediante situação dolosa pleitear indenização.