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A Constituição Federal, em seu artigo 2º, estabelece que “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Moraes (2004, p. 382) argumenta que “a Constituição Federal, visando, principalmente evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência dos Poderes do Estado e da Instituição do Ministério Público, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as funções estatais e prevendo prerrogativas e imunidades para que bem pudessem exercê- las, bem como criando mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia da perpetuidade do Estado democrático de Direito”.

Iniciando a análise sobre as atribuições de cada um desses poderes, a Constituição Federal prevê, em seu artigo 44, que o Poder Legislativo “é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.” Já no artigo 48, a Carta Magna passa a dispor sobre as atribuições do Congresso Nacional. Moraes (2004) disse que o Poder Legislativo tem as funções típicas e as funções atípicas, sendo que as funções típicas seriam as de:

[...] legislar e fiscalizar, tendo ambas o mesmo grau de importância e merecedoras de maior detalhamento. Dessa forma, se por um lado a Constituição prevê regras de processo legislativo, para o Congresso Nacional elaborar as normas jurídicas, de outro, determina que a ele compete fiscalizar contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Executivo (CF, art. 70). (MORAES, 2004, p. 388)

No que se refere às funções atípicas do Poder Legislativo, Moraes (2004, p. 388) pontua que “constituem-se em administrar e julgar. A primeira ocorre, exemplificativamente, quando o Legislativo dispõe sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de cargos, promoções de seus servidores; enquanto a segunda ocorrerá, por exemplo, no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade”.

126 Já o Poder Executivo está previsto no artigo 76 e seguintes da Constituição Federal, nos quais se lê que: “o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.” O artigo 84 prevê quais são as atribuições do Presidente da República. Nesse ponto, Moraes (2004, p. 436) esclarece que “na estrutura do Poder Executivo verifica- se a existência de duas funções primordiais diversas, quais sejam, a de Chefe de Estado e de Chefe de Governo.” e disserta:

[...] Assim, como chefe de Estado, o representa pois nas suas relações internacionais (art. 84, VII e VIII, XIX), bem como corporifica a unidade interna do Estado.

Como chefe de Governo, a função presidencial corresponde à representação interna, na gerência dos negócios internos, tanto os de natureza política (participação no processo legislativo), como nos de natureza eminentemente administrativa (art. 84, I, II, III, IV, V, VI, IX a XXVII). Assim, o Chefe de Governo exercerá a liderança da política nacional, pela orientação das decisões gerais e pela direção da máquina administrativa [...]. (MORAES, 2004, p. 436)

O artigo 84, inciso IV, da Constituição Federal, diz que compete ao Presidente da República “sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”. Nesse ponto, Moraes (2004, p. 442) esclareceu que:

[...] O exercício do poder regulamentar do Executivo situa-se dentro da principiologia constitucional da Separação dos Poderes (CF, arts. 2º; 60, §4º, III), pois, salvo em situações de relevância e urgência (medidas provisórias), o Presidente da República não pode estabelecer normas gerais criadoras de direitos ou obrigações, por ser função do Poder Legislativo. Assim, o regulamento não poderá alterar disposição legal, nem tampouco criar obrigações diversas das previstas em disposição legislativa [...].

Destacaríamos, ainda, o disposto no artigo 84, incisos XIV, XV e XVI, da Constituição Federal, que dizem, respectivamente, que é de competência do Presidente da República: “nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; [...]”.

Por fim, o Poder Judiciário está previsto nos artigos 92 e seguintes da Constituição Federal. Moraes (2004, p. 463) pontua que “[...] o Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrados como poder autônomo e independente de

127 importância crescente no Estado de Direito, pois como afirmou Sanches Viamonte, sua função não consiste somente em administrar a justiça, sendo mais, pois seu mister é ser o verdadeiro guardião da constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, sem os quais os demais tornariam-se vazios [...]”.

No que respeita à sua função típica, portanto, compete ao Poder Judiciário aplicar a lei ao caso concreto, desde que provocado em decorrência de um conflito de interesse. Em relação à sua função atípica, Moraes (2004) afirmou que o Poder Judiciário possui as funções administrativas e legislativas. Vejamos:

[...] São de natureza administrativa, por exemplo, concessão de férias aos seus membros e serventuários, prover, na forma prevista nessa Constituição, os cargos de juiz de carreira na respetiva jurisdição.

São de natureza legislativa a edição de normas regimentais, pois compete ao Poder Judiciário elaborar seus regimentos internos, com a observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competências e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos [...]. (MORAES, 2004, p. 466)

Destaca-se que os artigos 1º e 3º da Constituição Federal trazem, respectivamente, os fundamentos e os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, os quais devem ser observados pelos três poderes. Vejamos primeiramente os fundamentos previstos no artigo 1º e incisos, que são: “I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.”

Os objetivos estão previstos no artigo 3º e incisos, quais sejam: “I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Além dos artigos da Constituição Federal propriamente ditos, temos o Preâmbulo que seria uma carta de intenções do Poder Constituinte, cuja redação é a que se segue:

[...] Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL [...].

128 Alexandre de Moraes (2004, p. 51) relata que “o preâmbulo de uma Constituição pode ser definido como documento de intenções do diploma, e consiste em uma certidão de origem e legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios,” e, arremata dizendo que:

[...] O preâmbulo, portanto, por não ser norma constitucional, não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal, e tampouco poderá ser paradigma comparativo para declaração de inconstitucionalidade, porém, por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, será uma de suas linhas mestras interpretativas. [...] (MORAES, 2004, p. 51) Não consideramos que a função administrativa de cada um dos poderes seja uma função atípica no que respeita ao Legislativo e ao Judiciário. Ao nosso entender, trata-se de função inerente à própria sistemática da Separação dos Poderes, pois não seria concebível que o Executivo administrasse os bens e pessoas ligadas ao Poder Judiciário ou ao Legislativo.

Consideramos, assim, que no Executivo a função atípica está ligada à possibilidade de edição de Medidas Provisórias e a nomeação de membros do Poder Judiciário. Em relação ao Legislativo, a função atípica estaria ligada à possibilidade de julgamento dos membros dos demais Poderes no caso de Impeachment. Já em relação ao Judiciário, não consideramos como atípica a possibilidade de edição de normas regimentais, pois, a nosso ver, essa questão está intrinsicamente ligada à capacidade de autoadministração. Assim, dos três poderes, apenas o Judiciário não teria uma função atípica propriamente dita.

Traçado esse panorama sobre a Democracia e a Separação dos Poderes, passemos a reposta da indagação feita.