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4.2 DIMENSÃO DE CONTROLES FINANCEIROS: “AGORA, COM A COVID-19, NÓS

4.2.3 Separação de Finanças Pessoais

Uma das primeiras lições transmitidas aos empreendedores está relacionada à separação por completa de suas finanças das finanças da empresa. Qualquer mentor tem essa lição como ponto de partida para falar sobre empreendedorismo. Entretanto, alguns empreendedores

acabam, ainda assim, cometendo erros como a não separação das finanças da pessoa física e pessoa jurídica, ocasionando o insucesso da organização.

Esses erros ocorrem, normalmente, com pequenos empreendedores em decorrência da ausência de conhecimento. Como startups são, na maioria das vezes, comparadas a pequenos negócios tradicionais, entende-se que essa possível junção de finanças possa ocorrer com empreendedores de startups também. Na fala do Empreendedor 2, percebe-se que, apesar de sempre ocorrer uma compensação, essa separação ocasionou problemas do início do negócio:

Nós tínhamos um problema, no começo, que era o cartão de crédito. A (NOME DA STARTUP) não tinha um cartão de crédito e nós não queríamos pagar para ter um cartão de crédito pelo fato que estamos acostumados a ter esses cartões de crédito por meio de serviços de outras startups. Então não queríamos pagar por isso, era um custo que não fazia muito sentido na época. Assim, algumas contas da empresa, acabavam caindo no meu cartão de crédito. Por exemplo, nós tínhamos que comprar um software que era pago em dólar e que era necessário comprar com cartão de crédito, então passava no meu cartão de crédito. Mas, mesmo assim, sempre existiu a compensação de “um para um”. Então, se meu cartão de crédito deu “X” de valor, eu chego no fechamento do meu cartão de crédito, vejo todas as contas que são da empresa, gero uma cobrança e faço essa cobrança para a empresa. Da mesma forma, se eu pegasse algum dinheiro para pagar qualquer coisa, eu fazia isso e depois devolvia. Então, isso tudo ficava anotado, essa separação das finanças dos sócios com o dinheiro da empresa, ela sempre foi feita, até mesmo na época que usávamos meu cartão pessoal. Hoje, nós temos vários controles [...] Então, nós temos sim essa divisão. (Empreendedor 2).

O Empreendedor 1, Empreendedor 3, Empreendedor 5, Empreendedora 6 e Empreendedor 7 manifestaram-se positivamente no que se refere à separação das finanças pessoais das finanças do negócio. O Empreendedor 5, especialmente, enfatiza que essa separação é algo obrigatório para todos aqueles que empreendem ou que buscar empreender futuramente:

Eu optei por ser separado, tenho meus bens e tem os bens da empresa. Aí como eu faço essa organização: geralmente, eu separo em três “bloquinhos”, né? O que é meu, o que é da empresa e o reserva para emergências. Tem pessoas que separam em até quatro “bloquinhos”, dividindo por setores presentes na empresa. No meu caso, startup ainda no estágio inicial, separo em apenas três: o que é meu, o que é da empresa e o que é, por exemplo, “surgiu algum imprevisto” e eu uso esse dinheiro de emergência. (Empreendedor 1).

Sempre teve (SEPARAÇÃO DAS FINANÇAS PESSOAIS), nós sempre fomos como eu te disse, criteriosos em relação a valores, né? Pois no início, eu volto a repetir que tudo é muito, muito difícil no

início da empresa. Então, nós sempre tivemos consciência que se a gente não separar, que se a gente misturar as coisas ou “é dinheiro meu, então é dinheiro da empresa” a coisa vai virar uma bagunça. Então, nós sempre procuramos separar tudo. Desde o primeiro mês da empresa, até quando ela não tinha clientes, nós tínhamos despesa, não havia clientes, mas já tínhamos despesas. Então nós sempre dividimos, eu fazia aportes e entrava como um investimento no valor de um caixa simbólico da empresa, né? Tudo isso era planilhado e dessa planilha saíam os valores para pagamento da empresa. Então, sempre foi muito dividido, desde o início a questão do que é dinheiro da empresa e o que é dinheiro dos sócios. (Empreendedor 3).

[...] isso (SEPARAÇÃO POR PARTE DO EMPREENDEDOR DAS FINANÇAS PESSOAIS) é obrigatório, né? Isso não tem como misturar. (Empreendedor 5).

[...] sempre teve essa divisão. [...] é outro banco, é outro tudo. Nunca teve esse problema, nem comigo e nem com nenhum dos sócios (Empreendedora 6).

[...] em nenhum momento nós tivemos problemas com junção de finanças de pessoa física e pessoa jurídica. Assim, são três sócios, eram dois sócios quando a empresa foi criada e entrou mais um agora e em nenhum momento. (Empreendedor 7).

O Empreendedor 4, por sua vez, destaca a ausência de conhecimento sobre gestão dos empreendedores de startups. O empreendedor menciona que apenas aqueles que possuem um mentor ou outro profissional ao seu lado conseguem fazer essa separação de finanças. A comparação com pequenos negócios tradicionais é, mais uma vez, destacada pelo entrevistado ao falar que o empreendedor de pequenos negócios e de startups fazem aquilo que é mais “conveniente”:

[...] se a gente pegar boa parte (DOS EMPREENDEDORES) que tem problemas com questões financeiras, que não entendem muito, de fato esses misturam tranquilamente. Agora, tem aqueles que são conscientes, aqueles que têm um mentor, um advisor, um conselheiro, alguém que esteja ali mais próximo e que toma a frente das finanças. [...] Mas ainda, infelizmente, fazendo sempre uma analogia com o pequeno empresário, os empreendedores acabam misturando. O próprio empreendedor de startup, assim como o do micro e pequeno negócio, ele é o que faz tudo, né? Então ele pensa: “Ah, é mais conveniente eu colocar aqui e depois eu me viro”. E aí ele acaba esquecendo e isso acaba sendo incorporado pela empresa. (Empreendedor 4).

Em um contexto geral, percebe-se que a separação das finanças pessoais das finanças da empresa por parte do empreendedor. Na concepção do negócio, em alguns casos, ocorrem

alguns obstáculos nesse processo, como foi visualizado na fala do Empreendedor 2. Porém, ao longo dos anos, participando de programas/projetos de inovação e treinamentos os empreendedores vão compreendendo a importância dessa divisão.

4.2.4 Utilização de Demonstrações Financeiras como Apoio a Tomada de Decisão

Demonstrações financeiras são relatórios contábeis que apoiam a tomada de decisão dos empreendedores dentro das organizações. Alguns dos demonstrativos mais relevantes e conhecidos são: balanço patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração do fluxo de caixa, demonstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração do valor adicionado, notas explicativas, dentre outros.

Estes relatórios detalham a situação financeira de um empreendimento de maneira geral. Possuindo-os como suporte, é possível realizar a apuração dos impostos, controlar o fluxo de caixa, realizar melhores investimentos e conseguir gerenciar melhor todos os aspectos da empresa. Ademais, demonstrações financeiras são muito relevantes para a busca por investidores. Essas demonstrações podem evidenciar se a organização é um investimento rentável e seguro ou não.

Todos os empreendedores manifestaram-se favoravelmente quanto ao uso das demonstrações financeiras como apoio à tomada de decisões. O Empreendedor 5, apesar de mencionar a utilização do fluxo de caixa direto, enfatiza que não utiliza outras demonstrações financeiras como apoio à tomada de decisões. As demonstrações mais mencionadas pelos empreendedores são: demonstração do fluxo de caixa, demonstração do resultado do exercício e balanço patrimonial:

Hoje, o que mais utilizamos (COMO APOIO À TOMADA DE DECISÃO) é a DFC. Então, hoje nós temos 3 “centros de custos” dentro da (NOME DA STARTUP): administrativo, marketing/vendas e operacional. Aí, todas as nossas contas, elas são divididas nesses três centros de custos. Então, eu analiso qual a porcentagem que está em cada centro de custo, isso eu analiso e nós utilizamos isso para a tomada de decisão para ver se, por exemplo, a nossa folha de pagamento, nosso dinheiro gasto em softwares está de acordo, né? Algumas vezes eu analisei a DRE, mas vou ser bem sincero contigo, eu não sou muito “entendido” sobre esse assunto para essa ferramenta me servir de uma maneira legal. Mas assim, eu já usei algumas vezes. Nós usamos mais a DFC mesmo, observamos onde está sendo gasto o dinheiro etc. (Empreendedor 2).

Hoje temos um balanço anual, que nós analisamos bem friamente, receitas, despesas, lucro médio do ano baseado no lucro básico mensal, né? Lucro líquido, obviamente, né? Depois nós temos gráficos ali na parte de receitas que são fixas, como nós temos contratos aqui de 2 e 3 anos, então essas receitas elas tendem a permanecer no decorrer dos anos, né? Também tem análises de despesas fixas no ano, o que a gente pode reduzir o que não pode, mas nós temos alguns gráficos que são gerados no próprio sistema, né? E o próprio DRE, que o nosso contador solicita, né? A gente encaminha isso para ele, mas baseados no DRE a gente consegue, também, obter algumas informações de previsão orçamentária para o próximo ano, o que a gente tem de metas, nós conseguimos emitir um relatório também de clientes que têm contratos pelos próximos 3, 5 anos, algo nessa ideia. A gente costuma realizar muito, sendo bem franco, uma análise bem simples entre lucro líquido, né? O que a gente vai faturar já líquido ao longo do próximo ano como expectativa e o que temos de despesa fixa, né? Pelo fato que sabemos que a receita bruta vai variar bastante ao longo do ano. Então, sempre temos metas de faturamento líquido e uma meta de despesa fixa, procuramos não ultrapassar essa meta de despesa para tentar ficar sempre no azul. (Empreendedor 3).

Eu tenho uma planilha que embasa a nossa DRE, né? Eu mando essa planilha para o contador e ele prepara a DRE. A dele é bem mais formal, então eu não uso a DRE que ele me encaminha depois, mas eu uso a minha planilha para tomada de decisão sim, que é bastante completa na minha opinião. Então, ela me dá a DFC, me dá o faturamento, as despesas, então sim. Eu a uso todos os dias, na verdade, para tomada de decisão, mas a que é encaminhada pelo contador não. (Empreendedora 6).

[...] acabamos utilizando mais a DFC, né? Já com relação à DRE e ao BP, nós pegamos algumas informações e jogamos para uma planilha pelo fato que essas demonstrações não atendem da forma como gostaríamos. Mas sim, as decisões elas são baseadas olhando para o nosso caixa pelo menos de agora em diante, né? Já teve algumas decisões que sim, não olhamos em lugar nenhum, pensávamos que “Tem que fazer, então vamos fazer”. Mas estamos aprendendo com os erros e agora percebemos que a nossa estratégia não pode derivar das nossas ações, tem que ser o contrário. As nossas ações derivadas da nossa estratégia. (Empreendedor 7).

O Empreendedor 5, como já evidenciado no início da seção, menciona apenas o fluxo de caixa direto, como demonstração financeira utilizada por ele e sua equipe. O que desperta a atenção é o fato da sua startup oferecer diversas demonstrações financeiras aos seus clientes, além de outros serviços por serem uma solução de Business Analytics completa e não utilizarem os serviços internamente. O Empreendedor 1, por utilizar os serviços de uma organização contábil, não possui uma relação direta com nenhuma demonstração financeira, apenas é orientado pelo profissional contábil sobre os melhores passos a serem dados:

[...] nós fazemos isso (DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS) para os nossos clientes. Internamente, só o fluxo de caixa direto. Para os nossos clientes, há o fluxo de caixa direto e indireto, demonstração do resultado do exercício e balanço patrimonial. (Empreendedor 5).

A startup (CONTRATADA DA ÁREA CONTÁBIL) oferece um contador para trabalhar conosco. Ela (STARTUP) faz toda a parte de estatística, toda a parte de contabilidade (tabelas e gráficos) e me diz: “Está acontecendo isso aqui, aquilo lá e a gente recomenda que você pare de gastar com isso, invista lá, foque mais naquilo para ter maiores retornos” e é isso. Aí, entra o meu interesse e da minha equipe: “Ah, mas nós queremos trabalhar mais com isso aqui, investir naquilo lá, o que vocês sugerem, então, para nós?”. Aí eles retornam dizendo: “Ah, então faça isso ao invés daquilo” e nós trabalhos dessa maneira. (Empreendedor 1).

Diante ao contexto apresentado, observa-se que as demonstrações financeiras são utilizadas pelos empreendedores que compuseram o grupo de sujeitos da pesquisa. Alguns empreendedores, em especial, utilizam-se de demonstrações financeiras conhecidas e de fácil entendimento por alguém que não possui formação na área contábil como, por exemplo, a demonstração do fluxo de caixa e do resultado do exercício.

Outros empreendedores possuem o auxílio de profissionais contábeis externos à organização. Esses empreendedores, por sua vez, possuem baixa familiaridade com a área contábil e justamente por este motivo decidiram contratar uma consultoria. Foi possível perceber, ainda, uma certa dificuldade na interpretação desses relatórios contábeis por parte de alguns empreendedores. Essa dificuldade justifica-se, também, pelo baixo conhecimento da área contábil.

4.2.5 Mensuração do Desempenho do Negócio

A mensuração do desempenho do negócio é indispensável para uma gestão de qualidade e para o sucesso do empreendimento. Medir o desempenho da empresa faz-se necessário para averiguar se a empresa está, realmente, trilhando o percurso desejado. Além disso, é indispensável para o empreendedor ter conhecimento do que ainda é necessário para alcançar os objetivos estabelecidos na etapa do planejamento e, consequentemente, realizar os ajustes que forem necessários.

Ao analisar as falas dos empreendedores, verifica-se a utilização de vários indicadores de desempenho, dos mais simples aos mais estruturados. Dentre eles estão: indicador de lucratividade, nível de serviço de entregas, taxa de sucesso em vendas, índice de turnover,

retorno sobre o investimento, payback, dentre outros. O Empreendedor 1, por exemplo, evidencia a taxa de sucesso das vendas como principal indicador de desempenho do seu negócio.

Por sua vez, o Empreendedor 4 menciona até o número de seguidores nas redes sociais como um dos indicadores de desempenho utilizados por startups que estão nas fases iniciais do negócio. Entretanto, o empreendedor destaca outros indicadores mais conhecidos, como: retorno sobre o investimento e payback. Outro indicador é mencionado pelo Empreendedor 5 e está relacionado aos clientes. De acordo com o empreendedor, um índice muito importante para a empresa é o turnover de clientes:

Existe sim mensuração do desempenho de uma startup. A principal maneira de saber se uma startup está tendo um bom desempenho são as vendas (DOS PRODUTOS E/OU SERVIÇOS). Você não consegue saber se uma startup está tendo bons resultados, se não com as vendas, se não com pessoas que querem pagar pelo seu produto/serviço. Ou seja, se for para resumir em uma palavra, seria “vendas”. (Empreendedor 1).

[...] hoje utiliza-se várias métricas. Estou falando no geral, se você pegar startups mais simples eles vão falar: “Ah, eu tenho tantos seguidores nas redes sociais”. [...] Então, as startups que estão um pouco mais maduras, elas de fato já buscam ter essas métricas, pelo fato que são exigências do próprio meio, do movimento de startups. Então são inúmeros índices, ROI, payback etc. (Empreendedor 4).

[...] tem um índice que é muito importante para nós, que é o turnover de clientes, né? Basicamente consiste no número de entradas e saídas de clientes em um determinado período. (Empreendedor 5).

Não somos uma empresa, hoje, que visa muito lucro. Sim, lógico que toda empresa visa lucro, né? Nós visamos lucro também, mas a gente está muito limitado a propósito. Então, trabalhamos mais no propósito do impacto social que estamos conseguindo e não necessariamente só no lucro, né? Mas a gente olha hoje para a nossa margem, o EBITDA, né? E tem o indicador de saúde financeira. Mas nós não temos um indicador que a gente está olhando e pensando: “Olha, a gente precisa muito melhorar esse indicador, essa é a nossa meta”. Não, a gente ainda não está nesse momento, estamos trabalhando, buscando investidores para ir crescendo e pensar em lucros, retornos, índices de retorno um pouco mais à frente. (Empreendedor 7).

Nesse contexto, todos os empreendedores manifestaram-se positivamente em relação à mensuração do desempenho do seu empreendimento. Alguns índices mencionados, como o número de seguidores nas redes sociais, são mais incomuns. Por outro lado, verificou-se a utilização de indicadores de desempenho mais conhecidos e utilizados, inclusive, por empresas

tradicionais, como: retorno sobre investimento, indicador de lucratividade, nível de serviço de entregas, taxa de sucesso em vendas e índice de turnover.

4.3 DIMENSÃO DE ASPECTOS MERCADOLÓGICOS: “NÓS OLHAMOS COM UM POUCO MAIS DE CAUTELA”

As proxies inseridas na dimensão de aspectos mercadológicos, que serão evidenciadas nesta seção, foram organizadas em quatro subseções e na seguinte ordem: i) Cadastro, Satisfação de Clientes e Políticas de Atendimento Estabelecidas; ii) Projetos em Parceria com Outras Startups; iii) Conhecimento dos Riscos do Mercado; e iv) O Marketing em Startups.