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2 ELEMENTOS PARA ANÁLISE DO TEXTO ESCOLAR

2.4 HETEROGENEIDADE TIPOLÓGICA

2.4.6 Sequência argumentativa

Para tratar da sequência argumentativa, Adam (2008, 2009c) esclarece que

há uma noção de todo argumentativo perspectivado por um nível da teoria

pragmática geral em que “um enunciado, uma descrição, uma explicação têm

frequentemente a função global de argumentar” (ADAM, 2009c). E, nesse sentido,

leva-se em conta a interação social, em que o argumento é compreendido como

construção dada por um enunciador em dada representação discursiva, formando,

através de sua visão um objeto de discurso. Sobre isso, o objeto argumentativo, em

termos de visão ilocucionária, está “posicionado”, na proposta teórica de Adam como

parte da construção pragmática do texto

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.

Esta argumentação, que existe em nível de discurso e de interação social

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difere da argumentação que se propõe observar quando o assunto é sequência

textual argumentativa, unidade inserida num parâmetro composicional de texto, em

que a argumentação, neste caso, é tratada pela sua estrutura (sequencial).

Ao tratar de sequência argumentativa, duas observações são encontradas

nas colocações de Adam: a de que se baseia num protótipo desenvolvido por

T.A.VanDijk

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, segundo Adam, compatível com a LT e ao fato de se aproximar dos

princípios de uma lógica natural, via que opõe sistema demostrativa à

lógica-processo discursiva. (ADAM, 2009c, p.136).

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A configuração pragmática do texto, delineada por Adam (1992, 2008) comporta a dimensão argumentativa; a dimensão enunciativa e a dimensão semântica.

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Segundo Adam (2009c, p.135), a hipótese do todo argumentativo insere-se no nível de uma teoria pragmática geral em que um enunciado, uma descrição, uma explicação “têm frequentemente a função global de argumentar”.

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Através da noção desenvolvida pelo autor de superestrutura textual, conceito perpassado em outros momentos da teoria de Adam, mas que aqui, em específico com a sequência argumentativa tem o particular de oferecer uma estrutura apoiada no esquema de Toulmin (ADAM, 2009c).

O esquema de Toulmin (2006), então assimilado por de Van Dijk, tem como

fundamento a noção de uma lógica que se preocupa com a funcionalidade,

colocando em pauta essencialmente a postura questionadora das relações entre

ciência e vida real, ou seja, não há dúvidas “de que o homem comum (ou o homem

não-especialista) espera que as conclusões dos lógicos tenham alguma aplicação

em sua e vida prática”. (TOULMIN,2006, p.2)

Em termos de ação argumentativa o que se visa é intervir nas opiniões,

atitudes ou comportamentos do interlocutor ou auditório (ADAM, 1992). O esquema

prototípico desta ação prevê uma combinação formada na relação dado-conclusão,

evidenciando um processo em dois movimentos:

demonstrar-justificar uma tese e refutar uma tese ou certos argumentos de uma tese adversa. Nos dois casos, o movimento é o mesmo, pois se trata de partir de premissas (dados, fatos) que não se poderia admitir sem admitir também esta ou aquela conclusão-asserção (C). Entre os dois, a passagem está garantida pelos procedimentos argumentativos que tomam a forma de encadeamentos de argumentos-provas que correspondem aos suportes de uma lei de passagem ou a microcadeias de argumentos, ou movimentos argumentativos encaixados. (ADAM,1992, p.232, grifos do autor)

Segundo Adam (1992), o processo arranja-se a partir de uma unidade de

base (dado-conclusão) e o movimento (lei de passagem ou licença para inferir) com

que se garante essa relação advém de procedimentos argumentativos (espaço das

justificativas: encadeamento de argumentos-provas, microcadeias de argumentos ou

movimentos argumentativos encaixados). É preciso levar em conta que tais

procedimentos valem também para o momento de refutação, caso em que a tese

que está sendo defendida ou uma tese adversa pode sofrer restrições.

O modelo simplificado de base tem a seguinte configuração:

Figura 6 - Modelo simplificado de base da sequência argumentativa Fonte: Adam (2008, p. 233) Asserção Conclusiva Dados/Fato(s) (Premissas) Apoio

Adam (2008) propõe uma expansão ao acrescentar um espaço para tese

anterior e a nova tese (conclusão), reconfigurando o esquema da seguinte forma:

Figura 7- Esquema da sequência argumentativa baseado em Adam (2008) Fonte: Adam (2008, p. 234)

Nesta proposta, Adam (2008) pressupõe dois níveis: o justificativo, que

compreende proposição argumentativa 1 (P.arg 1) mais proposição argumentativa 2

(P.arg 2), mais proposição argumentativa 3 (P.arg 3).

Neste nível, estão em relevo os conhecimentos colocados. O outro nível,

dialógico ou contra-argumentativo relaciona P.arg 0 e P.arg 4 do esquema e se

caracteriza pela argumentação negociada com um contra-argumentador real ou

potencial.

Tanto na relação entre dado e conclusão, como na que ocorre na refutação,

há uma transformação de conhecimentos, o que significa dizer que a tese anterior

sofre mudanças que podem levar (ou não) a outra(s) conclusão(ões)-tese(s).

Pretendendo dar mais um reforço à questão, destacamos a explicação de

Bronckart (2009, p. 226), quanto à sequência argumentativa.

O raciocínio argumentativo implica, em primeiro lugar a existência de uma

tese, supostamente admitida, a respeito de um dado tema (os seres

humanos são inteligentes). Sobre o pano de fundo dessa tese anterior, são

então propostos dados novos (os seres humanos fazem guerra), que são

objeto de um processo de inferência (as guerras são uma idiotice), que

orienta para uma conclusão ou nova tese (os seres humanos não são tão

inteligentes). No quadro do processo de inferência, esse movimento

argumentativo pode ser apoiado por algumas justificações ou suportes (as

guerras trazem morte e desolação), mas pode também ser moderado ou

freado por restrições (algumas guerras contribuíram para o

estabelecimento das liberdades individuais). É do peso respectivo dos suportes e das restrições que depende a força da conclusão.(grifos do autor) Por isso, provavelmente

+

Tese anterior P.arg.0 Dados Fatos P.arg.1 Conclusão (Nova tese) P.arg.3 Apoio (Princípios de base) P.arg.2 Restrição (a menos que) P.arg.4

O autor, na descrição reportada acima, destaca aquilo que está implicado no

raciocínio argumentativo e que, quando semiotizado no texto, efetiva-se na

sequência textual apresentada por Adam (figura 7).

A estrutura argumentativa apresentada por Adam (2008) é um dos aportes

adotados nesta pesquisa, em que um dos propósitos é analisar as possibilidades de

organização argumentativa no texto escolar dissertativo. Mas, além de Adam (2008),

as colocações de Toulmin (2006), apontados em seu modelo argumentativo,

mostraram-se também interessantes. É pertinente observar que a proposta de

sequência argumentativa de Adam advém da discussão desenvolvida por Toulmin

(1958).

O modelo Toulmin passou a ser de interesse para esta pesquisa

especialmente pelo tratamento dado à forma como se pode organizar a(s)

justificativa(s) para uma tese. A fim de agregar elementos tanto do modelo de Adam

(2008) como de Toulmin (2006) sobre processo argumentativo é que propomos, a

seguir, explorar a estrutura argumentativa, tendo em conta a concepção de Toulmin

(2006).

2.5 DIMENSÃO ESTRUTURAL DA ARGUMENTAÇÃO SEGUNDO STEPHEN E.